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Altitude, exposição

4. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E DE OCUPAÇÃO NA ÁREA DE ESTUDO

5.4 As características térmicas e higrométricas do ar na bacia do rio do Aricanduva e a sua relação com a sucessão dos tipos de tempo.

5.4.1 As situações marcadas por relativa homogeneidade térmica e higrométrica do ar

5.4.1.1 As situações marcadas por inversões térmicas do ar

As características de relevo e do clima da bacia do Aricanduva propiciam o acúmulo de ar frio nos fundos de vales (fenômeno conhecido como inversão térmica), principalmente durante os períodos de outono e inverno (embora ocorra em qualquer estação do ano) marcado pelo declínio da temperatura sob situações de estabilidade atmosférica, detectadas, principalmente, sob tipos de tempo estáveis, associados ao estabelecimento de sistemas anticiclonais polares (Sistema Polar Atlântico e Continental e os seus desdobramentos em Sistema Polar em Processo de Tropicalização e/ou Tropicalizado) e os tipos de tempo associados.

Isso não quer dizer, evidentemente, que esses sistemas não atuem nas outras estações do ano. Verificou-se, inclusive, uma incursão maior do Sistema Polar Atlântico no período de primavera-verão, após a passagem dos Sistemas Frontais (três vezes por semana, nesse período, contra uma por semana no inverno de 2000). Entretanto, o impacto nas condições de tempo, oriundas da repercussão desses sistemas atmosféricos, também variam com o decorrer das estações do ano. Enquanto o estabelecimento desses sistemas no outono-inverno é seguido de um forte declínio da temperatura do ar, principalmente nos estados do sul, a sua atuação no período de primavera-verão traz apenas um ligeiro declínio da temperatura, concernente à estação do ano (considerar a inclinação do eixo da Terra nessa ocasião, e a sua situação frente à entrada de energia solar), coincidindo com o enfraquecimento desse sistema.

Sob tais condições, o resfriamento do ar, associado à perda de radiação por emissividade noturna (condições de balanço negativo de radiação), é denunciado, muitas vezes, pela formação de orvalho sobre as folhas das plantas, neblina nos fundos de vales ou pelo teto relativamente baixo de altitude (< 2000 m) de nuvens delgadas e estratificadas, indicativas de ausência de movimentos internos de turbulência, observadas mais freqüentemente ao fim da madrugada ou logo nas primeiras horas do dia. Excepcionalmente, se o resfriamento for muito intenso, podem ocorrer episódios de geada.

Assim que o sol elevava-se em relação ao horizonte, através do seu movimento aparente, e a inclinação dos raios solares diminuía, aumentava a quantidade de calorias ganha por unidade de área da superfície terrestre. Ao aquecer, parte do calor dessa superfície é transferida para a camada de ar sobrejacente, inicialmente por contato e depois por mecanismos de turbulência atmosférica (convecção e advecção do ar). À medida que o dia avançava e os valores das

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temperaturas aumentavam, o conteúdo de água disperso na superfície, na forma de orvalho, e no ar, na forma de nevoeiro e nuvens baixas estratificadas, era paulatinamente reabsorvido pela parcela de ar aquecida em ascensão. Nessas condições voltavam a predominar condições de céu claro, ensolarado, sem nuvens, com temperaturas altas (às vezes próximos ou superiores a 30,0ºC, tanto em Morrinhos quanto em São Paulo), acompanhado de baixos valores de umidade relativa do ar (não raramente inferiores a 35%, no horário da tarde, principalmente no auge da seca durante nos meses de agosto e setembro).

A formação de nevoeiros e nuvens baixas está ligada ao conteúdo de vapor d’água na atmosfera e tende a diminuir à medida que o inverno avança, mesmo que a temperatura do ar registrasse quedas consideráveis durante a noite.

Como eram previstas, as inversões térmicas ocorreram principalmente no inverno. Durante o período de 26/07 a 02/09/2000 na bacia do Aricanduva, a seqüência horária registrou, pelo menos, dez ocasiões quando a temperatura do posto da Vila Manchester (730 m) indicou valores inferiores aos do Jd. Iguatemi, situado a 825 m de altitude. Há que se destacar que as diferenças de temperatura registradas, nessas condições, entre esses dois postos, não excederam 1,0ºC. O motivo pelos quais os valores de inversão foram baixos refere-se ao resfriamento, não tão acentuado já a essa altura do inverno, e aos ventos (todos os dias eram observados bruscas inversões associadas à ação da Brisa Oceânica).

Isso também foi observado no dia 19/06/2004, num trabalho de campo no estado de Goiás, rumo à Serra de Caldas, sob condições de tempo estável, com fraca nebulosidade, sob influência de um tipo de tempo Anticiclônico Polar em Processo de Tropicalização, associado ao Sistema Polar Atlântico, às 08 h e 20 min, a 850 m de altitude, praticamente no topo do divisor de águas entre o córrego das Éguas e o rio Piracanjuba, quando foi registrado 19,0oC. Logo em seguida, já ás margens do rio Piracanjuba, às 08 h e 38 min, a 590 m de altitude, registrou-se 17,0oC (portanto, uma inversão térmica de 2,0oC). O gradiente médio de variação da temperatura do ar com a altitude é de - 0,6oC/100m, ou seja, fora das condições de inversão, a temperatura do topo do divisor deveria ser menor do que aquelas verificadas às margens do rio Piracanjuba, haja vista a diferença de 260 metros entre um ponto e outro.

O mesmo fenômeno foi verificado na área urbana de Morrinhos no dia 04/09/2004. Às 08 h foi registrado no posto situado às margens do córrego Maria Lucinda, a 745 m de altitude,

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20,0oC. No mesmo instante, em outro ponto, na Praça do Cristo, um dos pontos locais mais altos da cidade (805 m), foi registrado 24,3oC. Portanto, uma inversão térmica de 4,3o C, muito maior do que aquela do dia 19/06 às margens do rio Piracanjuba e motivada por uma diferença menor de altitude entre um ponto e outro.

Além do acúmulo de ar frio no fundo de vale, durante a noite, deve-se lembrar que a Praça do Cristo, por estar situada numa cota altimétrica superior, recebe os primeiros raios solares no início da manhã, antes dos pontos situados no fundo de vale, dada à sua relativa situação de abrigo. Acrescentar, também, que as condições atmosféricas no dia 04/09, em pleno inverno, fizeram parte de uma seqüência de dias muito secos, com forte aquecimento diurno e quedas significativas da temperatura durante a noite, diferente das condições que antecederam o campo do dia 19/06, na transição do outono para o inverno, quando o ar ainda estava mais úmido, percebido pela presença de nuvens cúmulos no decorrer do dia. Nessas condições, a amplitude térmica diária seria menor. Em outras palavras, embora se tratasse de um mesmo fenômeno nas duas situações descritas, o tipo de tempo e os controles de superfície envolvidos eram diferentes. E isso não se restringiu apenas à altitude: a largura do vale constituiu-se num outro fator importante, capaz de condicionar o volume de ar a ser aquecido ou resfriado. O vale do Piracanjuba, à altura de onde foi realizada a observação, de um topo ao outro, possui mais de 15 km, enquanto o Maria Lucinda não possui mais do que 4 km. A mesma coisa vale para o Rio Aricanduva, à altura do posto do Jd. São Cristóvão, no médio vale, num setor formado por pequenas bacias e vales profundamente dissecados, a largura do vale do Aricanduva não ultrapassa 4 km, enquanto nos demais setores, a largura varia de 6-7 km no baixo vale e 5-6 km no alto vale.

O fato de esse posto (Jd. São Cristóvão) ter apresentado os valores mais contrastantes de temperatura do ar (os valores de temperatura mais e menos elevados foram aí registrados), quando comparados aos demais, foi atribuída, principalmente, ao menor volume de ar contido nesse setor, capaz de realizar trocas mais rápidas com o ambiente ao redor. As diferenças diárias máximas e mínimas da temperatura do ar, verificadas no Jd. São Cristóvão (dias 12, 13, 22 e 24/08) é característica de espaços mais restritos. A localização desse posto, na parte onde o vale afunila-se, as vertentes da margem direita do Rio Aricanduva terminam junto ao seu leito numa

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forte ruptura de declividade (superior a 45°). Nesses espaços, o pequeno volume de ar aquece e resfria-se mais rapidamente.

Em termos de repercussão junto à superfície, a capacidade de dispersão dos poluentes do ar, sob as condições de inversões registradas, é fraca ou nula. Um fato que atesta a influência desse fenômeno é o odor exalado pelo curtume, localizado a jusante da área urbana de Morrinhos, no baixo vale do córrego Maria Lucinda. A própria UEG, localizada no limite entre a área urbana e rural, no baixo vale desse córrego, é uma das primeiras a sentir os efeitos desagradáveis disso. E como as aulas nessa unidade concentram-se no período noturno, quando o ar já está suficientemente frio devido às perdas radiativas e, conseqüentemente, mais denso dada à perda de energia cinética sob condições de estabilidade atmosférica, ao escoar vertente abaixo, carreavam consigo os gases oriundos dessa atividade.

As situações descritas associadas à exposição das vertentes, escoamento do ar frio e canalização dos ventos, acenam para a importância do relevo na estruturação dos microclimas, topoclimas e mesoclimas e à necessidade de se compreender tais fenômenos para um planejamento urbano que leve em consideração as características do meio físico.

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