• Nenhum resultado encontrado

Após a inserção em campo, com descrições densas da rotina produtiva das sete rádios selecionadas41 e a gravação dos áudios dos programas acompanhados, parte-se para a análise do produto jornalístico com foco na linguagem radiofônica, a partir das estratégias metodológicas da Análise de Conteúdo em Jornalismo. Para Bardin (2004), é necessário sistematizar as informações coletadas, aparentemente desordenadas, para tornar os materiais de pesquisa de campo acessíveis e facilitar as análises.

Esse método é indicado por Bardin (2004, p. 33) como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Entre as vantagens estabelecidas por Herscovitz (2008, p. 138) na utilização do método, está a ausência de interferência do pesquisador no objeto a ser analisado, “[...] embora possa falhar na sua interpretação. Os textos já foram escritos, os programas de rádio e televisão já foram ao ar e as homepages e websites não são alteradas por estranhos”.

A análise de conteúdos tem sido utilizada nos estudos de comunicação desde as pesquisas da communication research até os atuais estudos sobre novas tecnologias, de acordo com Júnior (2010, p.280). Acredita-se, conforme argumenta Herscovitz (2008), que a análise de conteúdo é útil para as pesquisas em jornalismo, na compreensão de quem produz, recebe e na lógica de produção embrenhada nos produtos jornalísticos.

Pode ser usada para detectar tendências e modelos na análise de critérios de noticiabilidade, enquadramentos e agendamentos. Serve também para descrever e classificar produtos, gêneros e formatos jornalísticos, para avaliar características da produção de indivíduos, grupos e organizações, para identificar elementos típicos, exemplos representativos e discrepâncias e para comparar o conteúdo jornalístico de diferentes mídias em diferentes culturas (HERSCOVITZ, 2008, p. 123).

41 São elas: Rádio Marconi, Rádio Nativa, Rádio Rio Corda, Rádio Cidade, Rádio Aliança, Rádio Fronteira, Rádio

Entre as etapas do método, está a codificação do material bruto coletado em campo, a partir de recortes para a escolha das unidades de registros. Segundo Bardin (2014), essa unidade de registro é o segmento de conteúdo que fará parte da categorização e posterior contagem frequencial. Para este estudo, as unidades de registro são as informações e as sonoras que compõem as produções radiofônicas maranhenses. As inferências realizadas, ou seja, as interpretações, foram focadas no emissor e nas mensagens. As entrevistas realizadas com os profissionais que colaboram nos programas de rádio observados serão utilizadas como complemento para as análises dos conteúdos.

Assim, para analisar o conteúdo jornalístico, optou-se pelas produções que priorizam, de alguma forma, a veiculação de notícias. Para mensurar a frequência do conteúdo, a partir das categorias de análise, elencadas a seguir, selecionaram-se os programas com a mesma periodicidade para garantir a validade do procedimento metodológico. Assim, optou-se pelas produções de segunda a sexta-feira, que ainda apresentam uma quantidade de edições superior às demais, algo que possibilita uma verificação mais ampla quanto ao produto. Selecionaram- se os seguintes programas:

Tabela 3 – Programas selecionados para análise de conteúdo.

Fonte: Nayane Brito

A sistematização dos dados conta ainda com a categorização, uma etapa que, segundo Júnior (2010, p.298), consiste em classificar e reagrupar as unidades de registros “[...] com o objetivo de tornar inteligível a massa de dados e sua diversidade”. Nesse sentido, definem-se cinco categorias para analisar os conteúdos dos programas radiofônicos: 1) Temas abordados, 2) Formatos radiofônicos, 3) Relação de proximidade com as informações veiculadas, 4) Origem das informações, 5) Gêneros jornalísticos no rádio e 6) Utilização de sonoridade.

RÁDIOS Rádio Nativa Rádio Marconi Rádio Boa Notícia Rádio Cidade Rádio Rio Corda Rádio Aliança Rádio Fronteira Rádio Alternativo (7h-11h) Marconi Cidade (8h-10h) Radar 770 (7h30-9h) Conversando com a Comunidade (10h10- 11h10) Jornal Cordina de Notícia (12h-12h30) Rádio Notícia (11h-12h) Momento do Esporte (12h-13h)

1) Temas abordados

Na categorização dos temas presentes nas produções radiofônicas maranhenses, almeja-se analisar a frequência das pautas sobre política, polícia, geral, esporte, educação, economia, saúde e cultura. Os resultados dessa categoria levarão ao entendimento dos assuntos considerados noticiosos, os critérios utilizados pelos locutores na preferência de determinadas temáticas e o sentido dessas escolhas para os profissionais.

Ferraretto (2014), em seus estudos, compreende que os produtos radiofônicos, a partir da atuação de um bom profissional de rádio, direcionam o intelecto do público, pois “[...] parte de um conceito em relação ao que pretende produzir e, com base nessa definição, planeja e executa o seu produto, tendo claro o papel de cada elemento da linguagem em relação aos objetivos pretendidos” (FERRARETTO, 2014, p. 32).

2) Formatos radiofônicos

A análise leva em consideração a classificação realizada porAndré Barbosa (2003), em que descreve os gêneros radiofônicos relacionados aos objetivos das expectativas de audiência. Entre eles, está o Gênero Jornalístico e seus formatos. Os formatos verificados neste estudo são a nota, notícia, reportagem, entrevista, boletim, comentário e crônica. Os dados dessa categoria colaboram para conferir as estratégias adotadas pelas rádios na veiculação de notícias.

3) Relação de proximidade com as informações veiculadas

Considera-se, para a contagem frequencial, a abrangência dos conteúdos nas escalas – internacional, nacional, regional e local. O princípio que define o enquadramento dos textos nessa categoria é a proximidade geográfica dos assuntos abordados nas matérias com as localidades das rádios observadas. Para “regional”, leva-se em conta as notícias sobre qualquer uma das 49 cidades localizadas no território Sulmaranhense.

Na década de 1980, Carlos Eduardo Lins da Silva elabora sua tese sobre a audiência do Jornal Nacional da Globo entre trabalhadores; durante a pesquisa-ação, o pesquisador esteve em duas comunidades, uma no Rio Grande do Norte e outra em São Paulo. Entre as suas constatações, o teórico verificou que os telespectadores compreendem e se interessam por temas mais próximos a eles, assuntos lembrados pelo público com mais facilidade do que os demais (SILVA, 1985).

A partir dessa categoria, a intenção é verificar o espaço destinado para as informações locais e a manifestação da percepção dos profissionais que comandam os programas analisados quanto à importância de notícia local.

4) Origem das informações

O material jornalístico veiculado nas emissoras Sulmaranhenses surge de diferentes locais e pessoas: apuração própria por um profissional da emissora ou por meio da atuação do radialista responsável pelo programa; internet e suas possíveis fontes (sites de jornais impressos e noticiosos, blogs, agência de notícias e e-mail); rede social (WhatsApp); informantes ocasionais (ouvintes, fontes e demais funcionários da rádio ou sistema de comunicação); e jornal impresso.

A internet pôs fim à antiga técnica da rádio-escuta. Disponibiliza de maneira muito mais rápida e prática acesso às informações, que podem, inclusive, ser lidas diretamente da tela do computador, uma prática que está se tornando comum nas emissoras, inclusive nos demais noticiários (COMASSETTO, 2007, p. 176).

Comassetto (2007) evidencia a utilização excessiva da internet no meio jornalístico, um uso que ultrapassou a barreira de apoio para fazer parte de todas as etapas produtivas, inclusive na reprodução de conteúdo. Nesse sentido, esta categoria irá analisar o fluxo de informações que não são produzidas pelas emissoras e suas respectivas origens.

5 - Gêneros jornalísticos no rádio

Ferraretto (2014) os define em: gênero informativo, interpretativo, opinativo, utilitário e diversional. “É instrumento de comunicação social e meio de liderança social, através do jornalista que se faz um líder autêntico” (BELTRÃO, 2013, p. 34), esse é um dos itens listados pelo autor na indicação da proeminência da função social da mídia local. Assim, verificam-se com essa categoria a postura do programa quanto ao conteúdo jornalístico e posição dos apresentadores frente às informações que são divulgadas.

6 - Utilização de sonoridade

No rádio, predomina a linguagem sonora; as músicas, trechos de músicas, efeitos sonoros, vinhetas, locução, ente outros, separados ou associados, transmitem mensagens e

sugerem interpretações. Na concepção de Marchamalo e Ortiz (2005), a combinação entre música, efeitos e palavras, se organizada corretamente, gera códigos suficientes para compreensão do público quanto ao que se pretende transmitir:

Por meio dos sons somos capazes de transmitir sensações, conceitos ou representações. Ou, com outras palavras, por intermédio do som codificamos uma série de sinais com os quais o receptor cria determinadas situações e imagens. Esse código de comunicação apresenta diferentes níveis de percepção e interpretação, dependendo dos mecanismos – racionais ou emocionais – que intervêm em seu processo de decodificação (MARCHAMALO E ORTIZ, 2005, p. 57).

No radiojornalismo, o som também é informação. Meneses (2016, p. 53), na obra “Jornalismo radiofônico”, afirma que no contexto jornalístico os sons são identificados por depoimentos/entrevistas, som-ambiente, efeitos sonoros e músicas. “Um som informa quando acrescenta elementos novos relativamente àqueles que estão no texto do editor ou, se for uma peça, no lead/corpo” (MENESES, 2016, p.53). É presumível ainda constatar sons que não foram editados junto com os textos jornalísticos, mas são veiculados antes ou depois das matérias divulgadas. Um exemplo são os trechos de músicas utilizadas no informativo “Rádio Alternativo” pela Rádio Nativa como complemento das notícias. Igualmente, procura-se averiguar como a sonora é utilizada nas demais produções radiojornalísticas.

Efetuou-se uma análise do conteúdo jornalístico presente nos programas selecionados, a partir dessas categorias de análise indicadas. Na verificação, também se considerou o agir dos profissionais envolvidos diretamente nessas produções. A averiguação das unidades de registro exigiu a escuta das produções radiofônicas, organizadas posteriormente em tabelas e gráficos. Dados que possibilitaram, principalmente, examinar o local ocupado pelas notícias e os assuntos indicados pelos apresentadores como relevantes para o público.