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A maioria das emissoras radiofônicas mapeadas dispõe de poucos profissionais, levando-se em consideração que sobressaem as emissoras comunitárias que não podem contratar profissionais. Alguns comunicadores desses veículos atuam na condição de voluntários e outros recebem remuneração por meio dos apoios culturais. Quanto à qualificação, alguns locutores investiram no curso fornecido pelo Instituto Brasileiro de Estatística, Cultura, Educação e Comunicação (IBECEC), são 132 horas de aulas teóricas e práticas com aprendizados sobre a produção de material para o jornal impresso, rádio, televisão e mídias digitais. O instituto tem sede em São Luís, mas forma turmas em diferentes cidades do

Maranhão. A Delegacia Regional do Trabalho no Maranhão reconhece os certificados do IBECEC para solicitação do registro profissional. Mas a maioria ainda atua sem registro profissional. Os radialistas ligados à igreja católica já passaram por algum curso de formação proporcionado pela Pastoral de Comunicação (PASCOM). Nas 61 emissoras mapeadas, apenas dois profissionais são formados em Comunicação Social, um com habilitação em Rádio e TV e o outro em Jornalismo46, atuantes, respectivamente, nas rádios Sumaúma FM, de Ribamar Fiquene, e Boa Notícia, localizada em Balsas.

Em meio a essa configuração profissional no universo pesquisado é importante ressaltar as definições de radialista e radiojornalista. De acordo com a Lei nº 6.615, de 16 de dezembro de 1978, que regulamenta a profissão de radialista, compete a esse profissional as atividades de administração, produção e técnica. A atividade de produção compreende: “a) autoria; b) direção; c) produção; d) interpretação; e) dublagem; f) locução; g) caracterização; h) cenografia”47. A parte técnica abrange: “a) direção; b) tratamento e registros sonoros; c)

tratamento e registros visuais; d) montagem e arquivamento; e) transmissão de sons e imagens; f) revelação e copiagem de filmes; g) artes plásticas e animação de desenhos e objetos; h) manutenção técnica”48. Para o registro de radialista, a lei permite a apresentação de diploma de

curso superior, diploma ou certificado equivalente às habilitações profissionais ou básicas de 2º Grau, ou ainda “[...] atestado de capacitação profissional”49.

Por sua vez, os jornalistas graduados que atuam no meio radiofônico são denominados de radiojornalistas, profissionais responsáveis pela preparação das pautas, apuração, elaboração textual, entre outras competências ligadas a questão jornalística. Ao discutir sobre as novas requisições que o mercado de trabalho impõe aos radiojornalistas a partir do ciberespaço, Rodrigues e Soares Jr. (2010), verificam um novo perfil de profissional.

Assim, o radiojornalista continuará tendo que dominar técnicas específicas de redação de texto e de entrevistas, mas a esses atributos cada vez mais será necessário incorporar novas habilidades. De uma maneira geral, o que as NTICs indicam é que as necessidades de formação do jornalista dificilmente poderão ser resolvidas apenas dentro do curso de Comunicação Social. As exigências para quem trabalha com o ambiente web são amplas a ponto de incluir desde noções de telecomunicações e transferência de dados, passando por arquitetura de redes informatizadas, usabilidade e design, até o acompanhamento das transformações tecnológicas que, dada a sua velocidade, se tornam um desafio a mais dentro da universidade (RODRIGUES; SOARES JR, 2010, p. 428).

46 Na rádio comunitária Sumaúma FM, de Ribamar Fiquene, atua o jornalista Marcelo Rodrigues, formado pela

Universidade Federal do Maranhão em São Luís. Em Balsas, na Rádio Boa Notícia, encontra-se Carlos Airton Rocha, formado pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (Unifmu), de São Paulo.

47Lei disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6615.htm. Acessado em 02 de fevereiro de 2017. 48 Id.

Ao verificar os aspectos das emissoras Sulmaranheses encontra-se a figura do radialista operando além das competências que lhe são atribuídas, alguns cumprem o papel que deveria ser desenvolvimento por um radiojornalista. Esse fato vai ao encontro de dados citados nos estudos de Sant’Anna (2008), ao averiguar que o rádio emprega poucos radiojornalistas, “[...] que nos leva a intrigante situação da existência média de um terço de jornalista, 0,35%, por emissora legalmente em operação. Isto desprezando-se as rádios comunitárias, caso contrário a proporção cai para menos de um quarto (0,21%) de jornalista/emissora” (SANT’ANNA, 2008, p.76).

A ausência de profissionais para comandar programas jornalísticos é indicada como uma das maiores dificuldades para os projetos de algumas rádios, na área de jornalismo. A falta de profissionais qualificados é uma das justificativas dos representantes de emissoras que ainda não possuem uma produção jornalística local. Nessa linha de raciocínio, o diretor de formação da Abraço-MA, Ed Wilson Araújo, comenta sobre a realidade encontrada nos cursos de formação e na relação com os veículos comunitários:

[...] as pessoas que fazem rádio comunitária no interior, no continente, a maioria são pessoas que não têm a formação adequada, têm um conhecimento empírico muito grande, mas não têm uma formação adequada do ponto de vista das técnicas da produção jornalística.

A Rádio Arca FM, que todos os anos promove cursos de capacitação, também no

intuito de trazer a comunidade para dentro da rádio, também passa por esse dilema. “Antes a gente não tinha recurso pra trabalhar, a gente não tinha computador suficiente pra

fazer as redações, não tinha transporte pra ir atrás da informação, aí hoje tem, mas não tem as pessoas pra poder ocupar o espaço”, comenta o secretário da emissora, Alisson Oliveira da Silva.

Quando a referência diz respeito às rádios comunitárias, parece compreensível essa ausência de profissionais, que geralmente abandonam as atividades das rádios devido a oportunidades de trabalho com renumeração ou mesmo a chance de ganhar um pouco mais em outras atividades. Mas se nota também a ausência de radialistas nas rádios comerciais, sobretudo para conduzir programas radiojornalísticos. Conforme pontua Sant’Anna (2008), as emissoras de rádio brasileiras empregam poucos radiojornalistas, um fator que impacta na escassa produção de conteúdo jornalístico.

Algumas das emissoras mapeadas funcionam com apenas uma pessoa, é o caso das rádios comunitárias Rio Farinha, de São Pedro dos Crentes, e Rádio Líder, de Itinga do Maranhão. Os profissionais atuam mais como programadores na seleção de músicas para essas rádios, que não apresentam uma grade de programação, do que como locutores. A locução geralmente é realizada para a transmissão de avisos, anúncios publicitários, divulgação de eventos e alguma utilidade pública - destacando perdas de documentos.

Na Rádio Azeitão FM, de São Domingos do Azeitão, o locutor apresenta os dois programas da emissora, um da igreja católica, o “Boa Notícia”, ouvido de segunda a sexta, das 06h às 07h, e o “Ponto de Encontro”, também transmitido de segunda a sexta, das 16h às 18h30. “A hora do Angelus” é o único programa da Rádio Jitirana, de Barra do Corda, de responsabilidade da igreja católica, veiculado de segunda a sexta.

Outro fator verificado é a disparidade quanto à atuação de homens e mulheres no trabalho de locução, principalmente, nos programas informativos. Registraram-se 377 comunicadores atuando na locução dos veículos radiofônicos mapeados; desse total, 312 são locutores, indicando 83% de homens, que também ocupam espaços de apresentadores de informativos, correspondentes e diretores administrativos. Ao passo que são apenas 65 mulheres, representando 17%. Entre as locutoras, durante o mapeamento, apenas uma assumia o cargo como diretora administrativa. Destaca-se que 12 são apresentadoras de programas com veiculação de informação. A maioria dos programas apresentados por elas são musicais, de variedades ou religiosos.

Maria Inês Santos (2004) analisou as representações sociais de gênero nos discursos de dois programas radiofônicos de Fortaleza, Ceará. Entre as constatações da autora, está a relação dos sujeitos envolvidos nos processos de produção dos programas radiofônicos, seja para reforçar estereótipos, preconceitos, noções de espaços ocupados por homens e mulheres, além do poder simbólico exercido pelos radialistas:

Quando o locutor fala aos ouvintes, ele exerce um poder que lhe é conferido socialmente, apresentando, através de sua fala, pontos de vista de classe, sexo, idade, etnia, etc., utilizando-se de discursos produzidos por contextos estruturados desigualmente e permeados por relações de poder (SANTOS, 2004, p. 169).

Quem fala e a partir de que local fala tem influência direta nas mensagens transmitidas. Em locais onde as emissoras de rádios se apresentam como único meio de comunicação local, a figura dos locutores e locutoras é ainda mais permeada de simbolismos. Representam a voz de uma determinada cidade, estabelecendo, quase sempre, uma representação de respeito e confiança (SANTOS, 2004).

Os informativos transmitidos pelas locutoras apresentam características diferentes da maioria das produções comandadas por homens. Com exceção do programa “Alô Clube”, que tem uma atuação significativa das locutoras em termos de horário e dias da semana, pois é veiculado pela manhã, considerado o horário nobre do rádio e por ser de segunda a sexta, os outros informativos merecem uma reflexão quanto aos espaços dentro das programações das emissoras radiofônicas. O “Jornal Central Cordina de Notícia” e “Boletim de Notícia” também são transmitidos de segunda a sexta, mas vale destacar que, no primeiro, a locutora divide espaço com um apresentador, que também é o diretor da rádio, e o boletim tem uma duração pequena, somente de 15 minutos.

Os demais programas informativos apresentados por elas são transmitidos uma vez, no máximo três vezes na semana e estão relacionados a temas específicos, ou seja, comumente têm um público também específico. Quase todas são produções com o objetivo de orientar os ouvintes sobre questões de saúde, direitos humanos, orientações aos trabalhadores rurais, entre outras informações.

Por outro lado, a maioria dos programas com informação são representados como o carro-chefe, ou seja, a produção que tem mais audiência relativa a cada rádio, e são de responsabilidade de homens. Locutores que são considerados críticos e polêmicos, que geralmente, veiculam as informações seguidas de comentários. Assim, o trabalho desses profissionais gera uma imagem positiva e dá autoridade e legitimidade aos seus discursos.

Em função de a maioria das cidades ser geograficamente pequenas, os locutores são conhecidos por praticamente toda a população e alguns adjetivos são atribuídos a eles: “ele fala bem”, “é muito polêmico”, “é generoso”, entre outros. Nestas falas, expressam-se confiança e satisfação quanto ao trabalho dos locutores, que têm mais visibilidade e, em nenhum momento, registraram-se elogios quanto à atuação do trabalho jornalístico das locutoras. Cabe explicar que não foi realizada pesquisa de recepção, mas, durante o mapeamento, foram feitos contatos com muitas famílias, além de mototaxistas, taxistas, motoristas de van e o discurso dos próprios funcionários das rádios quanto ao trabalho dos colegas. Opiniões que corroboram com os números quanto ao trabalho dos homens e mulheres nos veículos radiofônicos Sulmaranhenses. Citar neste tópico o trabalho de locutoras e locutores nos programas com espaços para veiculação de notícias não compreende uma oposição entre homens e mulheres, mas ponderações quanto aos lugares ocupados por ambos os gêneros50 nesses veículos. Portanto, o meio radiofônico na região pesquisada continua dominado pela presença masculina, sobretudo

no universo pesquisado, a partir de dados numéricos e a verificação de programas. E, quando se trata de radiojornalismo, a figura masculina é ainda mais marcante, são vozes que mediam e conduzem os programas, que, de alguma maneira, irão exercer poder sobre os ouvintes. O relacionamento com os ouvintes constitui relações simbólicas atribuídas socialmente aos profissionais que utilizam diariamente os microfones das emissoras radiofônicas.