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4.3 Newsmaking a partir da rotina das emissoras do Sul do Maranhão

4.3.3 Estratégias e instrumentos de pesquisa

Ao iniciar a observação em uma rádio, sempre era solicitado que a pesquisadora fosse apresentada para os profissionais do veículo, para que eles soubessem quem era aquela estranha que estaria no estúdio, recepção, cozinha/copa, transitando pelos ambientes. Inicialmente, alguns pensavam que era uma estagiária, estudante de graduação ou convidada, porque certos profissionais iam sendo apresentados à medida que chegavam nas emissoras. Mesmo explicando, era perceptível que nem todos compreendem o que é uma pesquisa de mestrado.

Pensando nos estranhamentos, uma tática foi iniciar os registros fotográficos e as entrevistas aos apresentadores das produções e aos demais profissionais dos veículos radiofônicos, no terceiro ou quarto dia de observação. A exceção se deu em determinados programas veiculados apenas uma vez durante a semana, porém naqueles em que o profissional estava na emissora em dias diferentes do seu trabalho, foi possível seguir a estratégia indicada.

38 A verificação nessas instituições ocorreu nos dias 15 e 16 de setembro de 2016, após o período definido para a

pesquisa de campo, mas diante de uma passagem rápida da pesquisadora na cidade, aproveitou-se o momento para ir até a biblioteca desses estabelecimentos de ensino superior, visitas que não foram possíveis durante os dias 15 a 26 de agosto de 2016.

Na Rádio Boa Notícia, devido ao número elevado de profissionais, alguns foram entrevistados antes do terceiro dia.

Ao acompanhar os programas dentro dos estúdios, buscava-se um canto que a pesquisadora não fosse vista com facilidade, que tivesse uma visão da tela do computador e das ações dos apresentadores dos programas. Porém, devido à estrutura desses espaços, às vezes fica-se bem próximo do profissional, em outras se posicionava mais distante, mas sempre registrando o que os olhos e os ouvidos conseguiam captar.

Constatou-se que a estrutura física das rádios também tem relação com as produções jornalísticas e a rotina da emissora. Quanto maior o ambiente, melhor será a circulação. Por outro lado, lugares pequenos recomendam permanências de poucas pessoas ao mesmo tempo. Essas apreensões, além de fazerem parte dos conhecimentos da engenharia e arquitetura, também podem ser observadas dentro da rotina das rádios. Nos espaços físicos, foi possível verificar os movimentos e traçar conversas informais. Nas recepções, um espaço de passagem, a pesquisadora permaneceu por minutos e horas em algumas circunstâncias, algumas com maior espaço físico onde era possível ficar mais tranquila sem atrapalhar o movimento e outras com pequenas dimensões, em que continuar durante muito tempo causaria incômodo.

As pausas no trabalho geralmente são realizadas nas cozinhas ou copas das empresas. Esse era outro local estratégico para observar as relações entre os funcionários - os ditos e os não ditos nos diálogos informais são importantes para revelar hábitos. Diante dessas verificações, elaborou-se um croqui de cada rádio, sem escala de medidas. O layout dos ambientes dá a proporção dos espaços e facilita a percepção. Essas imagens compõem a análise da rotina e dos programas dos veículos radiofônicos pesquisados, no capítulo 5.

No conjunto de imagens, estão as fotografias desses espaços físicos que comprovam situações de desconforto em alguns locais de trabalho, visualizações das atividades dos profissionais, realização de coberturas jornalísticas, entre outras fotos. O registro fotográfico como uma representação da realidade dessas emissoras.

No que diz respeito às entrevistas, a maioria ocorreu no próprio ambiente de trabalho, antes ou depois do programa a ser apresentado por aquele locutor, nos escritórios, em algumas residências, locais sempre indicados pelos entrevistados. À mão, sempre um roteiro como guia para as conversas, olhar para o papel a cada pergunta não era uma obrigação, porque as narrativas fluíam conforme o protagonista, verificações disfarçadas ao roteiro eram feitas

apenas para confirmar se a conversa estava indo no “rumo certo”39. Papel em uma mão e o

gravador próximo eram os recursos para registrar as narrativas, essas com tempo mínimo de 20 minutos até duas horas. Todo esse material foi transcrito em páginas do Word, o que facilita as análises e os retornos aos dados durante a escrita da dissertação.

O gravador não pode ser utilizado para registro de dados em todos os momentos da pesquisa. Os entrevistados, por alguns instantes, solicitaram que o instrumento fosse desligado para confidenciar ou opinar sobre algo que não foi permitido ser divulgado. Às vezes, ao finalizar e desligar o gravador, outras revelações apareciam. Nesses momentos, o diário de campo permaneceu fechado até chegar ao local em que se poderia escrever o que foi ouvido. Apesar de não poder mostrar essas falas, respeitando a ética necessária à pesquisa, elas são importantes para constatações quanto à rotina de trabalho das rádios. Houve momentos em que só foi possível conversar com determinados sujeitos quando se estava “desarmada”, na percepção deles, sem gravador e diário fechado. Nesses instantes, o ouvir supera o ver, a posteriori vem o esforço de rememorar aqueles diálogos.

Quanto à materialidade dos programas, alguns áudios precisaram ser gravados no gravador digital, porque nem todas as emissoras têm o hábito de gravar as produções. Alguns veículos disponibilizaram todos os áudios dos programas, outros passaram apenas algumas edições.

Um importante instrumento de pesquisa foram os diários de campo, “cúmplices” em todos os momentos. As páginas em branco eram preenchidas semanalmente, ao transformar os olhares do que estava observando, no contexto de cada rádio, em escrita. Datas, horários, ações, reações, nomes, percepções, rascunhos de plantas baixas, organogramas, contatos, programações, o maior número de informações possíveis para uma descrição etnográfica (WINKIN, 1998), (TRAVANCAS, 2006).

Do ponto de vista empírico, facilita para o pesquisador se hospedar na residência de moradores das cidades, por dois motivos: 1 – você terá informações da rádio ou do seu objeto de pesquisa por alguém que já conhece e convive na cidade, algumas opiniões emitidas sobre os profissionais e os programas facilitaram determinadas compreensões; 2 – em cidades do interior, é comum que os moradores se conheçam, estar entre uma família da localidade transmite para os sujeitos da pesquisa uma certa confiança40.

39 Nessa etapa, também se solicitou aos profissionais a assinatura do termo de autorização para se utilizarem as

informações gravadas e as imagens do entrevistado, quando registradas.

40 No meu caso, das sete cidades em que as rotinas das emissoras foram analisadas, em quatro fiquei na residência

de pessoas da localidade. Estive hospedada em casa de moradores nas cidades de Açailândia, Barra do Corda, Balsas e Grajaú, nos municípios de Itinga do Maranhão e Fortaleza dos Nogueiras fiquei em hotel.

As constatações desta etapa do estudo indicam a importância das pesquisas in loco, apenas a verificação dos áudios dos programas não teria proporcionado uma compreensão da realidade das rádios, que implica nas características dos programas de informação. As alterações desenvolvidas após a escolha das rádios para observação, diante das campanhas políticas, são indícios do quanto a política está entrelaçada com os meios de comunicação, nesse caso o rádio local, que tem um alcance ainda mais significativo em determinadas localidades.