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6.2 Veículos Radiofônicos Comerciais

6.2.1 Rádio Marconi FM – Sintonia do seu coração

6.2.1.1 Nas ondas da programação informativa

6.2.1.1.1 Marconi Cidade

“Gostaria de saber sobre a falta de água na Vila Ildemar”68. A participação diária dos

ouvintes com indagações e, ao mesmo tempo, denúncias é um elemento marcante do “Marconi Cidade”. Aproximadamente há dez anos no ar, é veiculado de segunda a sexta-feira, das 8h às 10h, mescla informações e músicas, enquadra-se como um programa informativo/opinião. Durante esse tempo de existência, sempre foi apresentado por Rair Silva.

As reclamações por parte dos ouvintes são registradas a cada ligação, os telefonemas são atendidos fora do ar, durante as músicas ou intervalos, posteriormente, o locutor repassa as questões. Durante a semana verificada, a maioria das reivindicações foram sobre a falta de água nos bairros e a violência na cidade. Mas nem todas as ligações são divulgadas. Um exemplo: a reclamação de um ouvinte quanto aos gastos públicos no “Açai Folia”, um evento anual da cidade apoiado pela rádio, não foi repassada para os demais ouvintes.

67 Verificar a programação da Rádio Marconi no anexo 1. 68 A ligação de um ouvinte, no dia 23 de maio de 2016.

PERIODICIDADE PROGRAMA HORÁRIO

Segunda - Sexta-feira

Marconi Cidade 8h - 10h

Ação Popular 12h - 14h

Tudo Conectado 15h - 17h

O apresentador sempre chega alguns minutos depois das 8h e passa direto para o estúdio, abre as páginas de alguns sites informativos, define as notícias a serem expostas, quando chega na rádio ele já acessou essas páginas, porque, segundo ele, acorda por volta das 5h para pesquisá-las. Durante o programa, abre-se uma página em branco no editor de texto para registrar o nome dos ouvintes que participam e depois mencioná-los. Os programas da emissora têm pastas plásticas específicas com os anúncios que devem ser transmitidos, o locutor procura a sua pasta que fica na mesa próxima ao profissional e, ao final, coloca-a no mesmo local. Esse ritual é realizado por todos os locutores.

As ligações são constantes durante as duas horas no ar e em grande volume. O radialista atende aos dois telefones pessoais, os dois celulares da rádio e o telefone fixo do veículo, ao mesmo tempo verifica as mensagens de WhatsApp em três aparelhos, porque um celular da emissora é destinado apenas para receber ligações. Na web, o apresentador acessa o seu perfil pessoal no Facebook e também o da rádio, somente no dia 25 de maio ele verifica o e-mail pessoal durante o programa. É preciso controlar todas essas ferramentas, em alguns momentos dois e até três aparelhos tocam ao mesmo tempo, “Tá vendo aí, locutor trabalha”, expressões como essa são proferidas por Rair Silva, ao externar que é necessário observar a quantidade de atividades ao mesmo tempo executadas por ele. Esses instantes levam a crer que o locutor realmente verificou algumas notícias antes de sair de casa, do contrário seria difícil procurar tudo em meio às demais ações.

Um diferencial do “Marconi Cidade” é a participação do repórter. Diariamente, o profissional passa informações ao vivo sobre os acontecimentos da cidade e região, não existe uma hora pré-definida, por exemplo: no dia 23 de maio de 2016, o repórter participa às 8h39 e no dia 27, já nos últimos minutos do programa, às 9h57 tem a participação dele. O tempo da fala do repórter é livre, mas chega no máximo a dez minutos. O apresentador do informativo anseia que aumente o número de repórteres na rádio para pelo menos três, diante do volume de informações que ele percebe no município.

Geralmente, com uma expressão facial séria e em alguns momentos indícios de cansaço, o apresentador comanda o informativo mais vigiado pela direção. Diariamente, o senhor Dorgival Silva vai até o estúdio durante essa produção, trata-se de uma visita com alguns minutos de conversa com o apresentador. É possível perceber, nos dias analisados, que os assuntos geralmente estão ligados à política em nível nacional, regional ou local. Compreende- se que esses diálogos servem de orientação para o que será dito ou o que já foi divulgado. Nos dias 24 e 25 de maio, solicitam que a pesquisadora se retirasse do estúdio e aguardasse até ser chamada, esperas que duraram entre 10 a mais de 15 minutos. Para o locutor, essas orientações

são muito importantes “[...] porque a gente nem sempre consegue ver os dois lados da situação, então quem tá de fora costuma dá uma resposta muito mais qualitativa”.

Quanto à presença da diretora administrativa no estúdio durante o programa, destaca- se: no primeiro dia, em 23 de maio, ela solicitou ao radialista que inserisse uma música da cantora Claudia Leite no programa, isso porque a rádio anuncia o “Açai Folia” e a artista seria uma das convidadas; no segundo dia, novamente ela enfatiza a necessidade de veicular a música da artista citada e pede que seja informada também a promoção que dará acesso ao camarim da cantora; no terceiro dia, os comentários da diretora são acerca da notícia do irmão do apresentador de uma emissora televisiva de Açailândia; no quarto e último dia, ela requere que o apresentador mencione que, no dia 27 de maio, é comemorado o dia mundial dos meios de comunicação e indica o site da própria rádio para essa informação.

A justificativa da diretora de ser um ano eleitoral e por isso a inferência em alguns programas não parece válida, quando se observa o teor do conteúdo transmitido por ela. O comportamento é analisado por ser um programa de responsabilidade da rádio, com um funcionário contratado, em um horário de maior audiência no rádio, logo, essa intervenção parece rotineira, independente de período eleitoral. O que certamente compromete a condução das notícias veiculadas. Quando indagado se as condições da rádio favorecem um jornalismo com qualidade, Rair Silva afirma que sim, e pelo discurso se verifica que a linha editorial do veículo deve ser seguida:

A nossa equipe é muito pequena para o que a gente faz, sabe? Mas no geral, as condições aqui são muito boas, a liberdade, a qualidade de fazer um trabalho de uma equipe muito coesa, o pessoal trabalha muito tempo junto, o que cada um precisa, na hora que precisa, é muito interativo, há uma sinergia muito boa entre os profissionais daqui. Além disso, a gente já sabe a linha editorial da empresa, sabe exatamente como colocar algumas situações e eu acho que isso facilita as coisas, a gente é cobrado, mas a gente sabe exatamente como funciona as coisas por aqui (RAIR SILVA).

Ao acompanhar o pai na escuta de emissoras de rádio, o radialista aprendeu a gostar de rádio desde a infância, ouvia as rádios Clube do Pará, Brasil Central, Rádio Nacional de Brasília, Educadora de São Luís, entre outras que permanecem vivas em suas memórias radiofônicas. Com essa admiração, no início dos anos de 1990, passou seis meses em um curso técnico de radialista, ao final do curso, foi estagiar na Rádio Marconi, em 1991, e desde então permanece na emissora.

Nesses 25 anos de rádio, comandou vários programas de entretenimento em diferentes horários, também atuou como operador de áudio, sobretudo no “Bom dia Açailândia”, foi a partir dessa experiência na parte técnica e também da atuação no jornalismo de uma emissora

televisiva que o locutor iniciou o trabalho no “Marconi Cidade”. Hoje, Rair Silva é licenciado em História e graduado em Marketing, além da Rádio Marconi, atua na TV Difusora como ancora de um informativo, é proprietário de uma empresa de marketing e presta assessoria para outras empresas e também possui uma produtora de vídeo.

A quantidade de atividades desenvolvidas justifica a aparência constante de cansaço do locutor durante o programa da Rádio Marconi. Por outro lado, torna-o conhecido no meio empresarial e político, algo que favorece no contato com os representantes das secretarias municipais e demais empresas da cidade. Isso foi averiguado na observação da comunicação direta com a secretária de educação por meio do WhatsApp pessoal do locutor, ao tentar solucionar a denúncia de uma ouvinte quanto à falta de cadeiras em uma escola municipal.

As formações do apresentador parecem contribuir para os comentários das notícias, as opiniões após a leitura das matérias são contextualizadas e a leitura é feita de maneira clara. Para o locutor, ficar longe do meio radiofônico é algo fora de cogitação:

O jornalismo no rádio, ele é dinâmico, direto, ele é fácil, muito entendível e principalmente ele consegue atingir as pessoas que não tem muito tempo. Que às vezes tá fazendo algumas coisas, mas tá ouvindo o rádio e essa questão da internet facilitou muito, hoje a gente tem uma grande demanda de pessoas que tá ouvindo no celular, na internet, a gente tem tido uma mudança de comportamento, mas em Açailândia [o rádio] continua sendo uma grande referência pra cidade (RAIR SILVA).

Essa percepção do apresentador quanto à importância do jornalismo veiculado no rádio representa a consciência da capacidade que o meio tem na veiculação de informações, a fala nos leva a perceber o potencial do rádio na cidade de Açailândia, algo notado por meio das ligações de diferentes bairros, em apelos que acreditam ser ouvidos e terão soluções após a divulgação na rádio. Pela predominância da divulgação de notícias, considera-se esta produção um informativo.