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Análise de Discurso Documental

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais (páginas 48-50)

2 Desenvolvimento da Pesquisa

2.1 Análise de Discurso Documental

No estudo com foco no discurso documental, foram introduzidas uma aná- lise descritiva e uma discussão de legislação – documentos internacionais e nacio- nais, e institucionais – sobre a Educação dos Surdos. Esse estudo teve a finalidade de investigar e, posteriormente, verificar e compreender a ação da política pública sobre o objeto deste estudo: a Política Educacional e Linguística na Educação dos e para os Surdos.

No entanto, o trabalho desta análise foi estruturado em três grandes di- mensões institucionais: legislação governamental, programa/proposta das IES e de Instituições de Surdos – agrupados no total de 22 documentos nacionais e in- ternacionais; e, dos projetos e programas elaborados pelas Instituições, IES e Ins- tituição de Surdos, agrupados em 23 documentos. Totalizando-se 45 documentos selecionados para a análise.

Dentro do corpus de estudos documentais, foram selecionadas as três IES: UFU, UFSC e DESU/INES8, que são vistas como importantes instituições que

ofertam um curso de formação para atuar com a Educação de e para os Surdos e que tem envolvimento com a política pública através de trabalhos e/ou proje- tos que impactaram a política educacional e linguística na educação das pessoas Surdas. Além das IES, foram acrescidas as instituições de Surdos no corpus de estudos, com as entidades renomeadas e referenciadas com os seus trabalhos sobre a Educação dos e para os Surdos constantemente requisitados para representar a política pública, sendo elas: FENEIS, INES e WFD9.

Ressalta-se que a análise de fontes primárias relacionadas às políticas edu- cacionais em qualquer nível (federal, estadual ou municipal), utilizada nesta pes- quisa, envolve a capacidade de entendimento dos contextos nos quais elas foram produzidas. Assim, entende-se que o contato inicial com um documento legal par- te de uma reflexão sobre o tempo histórico de sua produção, os embates políticos

8 UFU – Universidade Federal de Uberlândia; UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina e DESU/INES – Departamento de Ensino Superior/INES.

9 FENEIS – Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos; INES – Instituto Nacional de Educação dos Surdos; WFD – World Federation Deaf (Federação Mundial de Surdos).

deste momento histórico e, consequentemente, as arenas de lutas que o envolvem, definindo-o (Garcia, 2007).

Diante deste envolvimento, foram organizados os dados. Para melhor reali- zar a análise com base em legislações referentes à política educacional, estabelece- mos o agrupamento dos objetivos nas seguintes categorias: (i) detectar a Educação dos Surdos presente na esfera da política pública; (ii) verificar os tipos de formação que são destinadas aos Surdos e ouvintes em uma perspectiva de Ensino Bilíngue/ Pedagogia Surda; (iii) discutir sobre a implantação da oferta do ensino de/em Li- bras e de Língua Portuguesa como segunda língua aos Surdos e como primeira aos ouvintes. Com enfoque na política linguística, foram determinadas as categorias: (i) aceitação, garantia, uso e difusão linguística entre as pessoas Surdas no âmbito social e escolar; (ii) promoção da Libras nos projetos e/ou ações pedagógicas e estruturas de formação, avaliação, entre outros; e (iii) políticas que asseguram e possibilitam o uso da Libras como língua de instrução e do português como se- gunda língua.

Enfim, destaco que a realização das análises e discussão dos dados das legis- lações governamentais, dos projetos e dos programas das IES e Instituições de Sur- dos, foram explorados de forma articulada com o Relatório do GT (2014) sobre a Política Linguística de Educação Bilíngue – Libras e Língua Portuguesa, tendo em vista que este relatório representa o documento mais atual contendo propostas inovadoras que se aproxima do ensino dito como ideal na Educação dos e para os Surdos.

Como resultados dos dados na análise documental, identificou-se que os principais embates encontrados na legislação, nos projetos e nos programas são elaborações acerca da formação dos Surdos e ouvintes que são baseados na pers- pectiva de Educação Especial e não na Educação dos e para os Surdos, o que de- sencadeia a efetiva ação pedagógica nas instituições de ensino e formação, retar- dando a oferta da educação por meio do Ensino Bilíngue/Pedagogia Surda.

Outro ponto da análise, no que se refere à formação dos Surdos e ouvintes, nos permitiu inferir que não existe uma política regulamentada de formação dos Surdos e ouvintes para atuar na educação de e para Surdos, porque a sua formação não foi universalizada e continua escassa, sendo apenas debatidas e discutidas por alguns. Contudo, é preciso repensar a formação deles, a qual implica numa reor- ganização da política pública de forma a romper com o discurso da “normalidade” que ainda classifica, ordena, hierarquiza, seleciona e exclui aqueles que não aten- dem aos seus princípios.

Em relação às Políticas Institucionais, no Brasil, observa-se nas análises que não há uma legislação nacional para normatizar e orientar a garantia da for- mação dos Surdos e ouvintes voltadas ao contexto bilíngue e que contemplam a Política Educacional e Linguística. Portanto, é necessário um respaldo legal para balizar essas ações e uma política interna traduzida em medidas e orientações que afetem estruturas e práticas, construindo referenciais importantes para a ação.

Por outro lado, encontram-se as ações e os encaminhamentos das IES e das Instituições de Surdos para garantir a Política Educacional e Linguística com um Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) que tem por finalidade garantir o uso linguístico da Libras às pessoas Surdas, como também assegurar a formação dos Surdos e ouvintes no ensino de/em Libras e Português como segunda língua. Entretanto, infelizmente os seus discursos são permeados da contradição com a prática, pois não determina a ementa, carga horária ou ampliação da formação para com a Educação Básica em seus programas que acabam por limitar as ações e autonomia da Instituição.

Enfim, encerramos a análise documental, a qual nos possibilitou ter uma visão geral da legislação e dos documentos elaborados pelos órgãos e entidades governamentais e nos proporcionou impulsionar a problematização abordada neste estudo, verificando, esclarecendo e respondendo todas as questões apresen- tadas. Também, diante de todo o exposto no decorrer desta análise, ficou evidente, nos documentos apresentados, que ainda há muito a ser feito para articular as políticas públicas à sua implementação na prática, pois as políticas públicas ainda se apresentam desarticuladas para efetivar a Política Educacional e Linguística na Educação dos e para os Surdos.

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais (páginas 48-50)