• Nenhum resultado encontrado

A situação social no contexto de ensino de Libras como L2 para crianças ouvintes

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais (páginas 185-188)

O Ensino de Libras como Segunda Língua para crianças

2.2 A situação social no contexto de ensino de Libras como L2 para crianças ouvintes

As situações sociais ocorrem em diferentes contextos e são como processos sociais, verbais e não verbais, nas quais diferentes sujeitos elaboram seus discur- sos. Levando em conta seus objetivos, questionam, respondem e contribuem no processo de construção de sentido do que o outro diz, bem como alternam suas posições durante a interação, em relação a quem fala, interpreta, responde, per- gunta, silencia.

Em uma sala de aula, por exemplo, ocorrem diferentes formas de interação entre alunos e professores. Nessas situações interativas, as dinâmicas verbais, cul- turais e sociais são marcadas não só pelo discurso apresentado e pelo revezamento de posições entre os interlocutores, como também por gestos, sinais e atitudes que podem revelar determinados comportamentos, concepções e identidade dos participantes.

De acordo com Goffman (2002, p. 17), situação social é definida como “[...] um ambiente que proporciona possibilidades mútuas de monitoramento, qual- quer lugar em que um indivíduo se encontra acessível aos sentidos nus de todos os outros que estão ‘presentes’, e para quem os outros indivíduos são acessíveis de modo semelhante”. No entanto, para que uma situação social aconteça, é preciso que exista um cenário e um agrupamento. O primeiro é compreendido como o local onde os participantes se encontram e onde ocorrem as situações de comu- nicação. O segundo refere-se ao conjunto de pessoas agrupadas, que podem estar conversando ou não, e que concretizam uma situação social (Goffman, 2002).

Quanto ao conceito de encontro, Goffman (2002, p. 17-18) define como uma situação social, na qual algumas pessoas confirmam “[...] conjuntamen- te uma(s) à(s) outra(s) como co-sustentadoras autorizadas de um único foco de atenção cognitiva e visual, ainda que móvel”. Para Goffman, o encontro pode en- volver todo o agrupamento, ou apenas algumas pessoas. Segundo o autor, em uma situação interacional, os participantes desempenham papéis diversos e dinâmicos durante a interação, de forma que os interlocutores se distanciam de uma visão es- tática da noção de falante e ouvinte, uma vez que existe mudança no alinhamento, ou postura, ou projeção do participante, a partir de enquadres, em uma situação comunicativa.

Em relação ao enquadre ou enquadramento, está centrado nas reflexões a respeito dos possíveis modos que cada pessoa faz uso para identificar a situação na qual se encontra. De acordo com Goffman (1986), o conceito de enquadramento está voltado para analisar como cada sujeito está envolvido subjetivamente em

uma interação, buscando compreender como os indivíduos organizam suas expe- riências na vida social. Atrelada a essa dinâmica interacional das transformações dos papéis dos participantes no decurso das situações interativas está a estrutura de participação, ou seja, a relação de todos os participantes de uma interação com um enunciado (Goffman, 2002).

Na percepção de Hanks (1990 apud Duranti, 1997), as estruturas de parti- cipação norteiam os interlocutores sobre quem está falando, bem como a opinião de quem fala de momento a momento em uma interação, uma vez que a estrutura de participação muda constantemente em uma interação e, consequentemente, o alinhamento dos participantes.

A postura e o posicionamento dos participantes engajados em uma intera- ção estão vinculados ao conceito de footing, expressão usada por Goffman (2002) para nomear o posicionamento dos sujeitos em determinada situação interativa. O

footing é produzido e transformado a partir dos discursos dos interlocutores. Uma

alteração na postura e na fala do participante implica uma mudança no modo como a situação interativa é estabelecida, caracterizando, assim, os footings como dinâmicos e discursivos, conforme afirmam (Ribeiro; Garcez, 2008, p. 107),

[...] os footings são introduzidos, negociados, ratificados (ou não), co-sus- tentados e modificados na interação. Podem sinalizar aspectos pessoais (uma fala afável, sedutora), papéis sociais (um executivo na posição de che- fe do setor), bem como intricados papéis discursivos (o falante enquanto animador de um discurso alheio).

Em outras palavras, footing seria o processo por meio do qual relacionamos os discursos aos sujeitos, situações, momentos e lugares, incluindo, neste processo, nosso próprio eu e suas diferentes formas de expressão em interação, tais como: sentimentos de emoção, distância afetiva, crença, ironia, entre outros (Duranti, 1997).

3 Metodologia

O recorte que apresentamos neste capítulo decorre de uma pesquisa que se caracteriza como qualitativa e empírica, inspirada nos passos metodológicos da pesquisa-ação, que, de acordo com a definição de Chizzotti (2001, p. 100), é “[...] uma ação deliberada visando a uma mudança no mundo real, comprometida com um campo restrito, englobado em projeto mais geral e submetendo-se a uma disciplina para alcançar os efeitos do conhecimento”. Na visão do autor, a pesqui- sa-ação é um método de pesquisa centrado em uma situação específica do mundo real, visando, sistematicamente e com disciplina, atingir os conhecimentos dessa experiência, bem como aprimorar ou mudar o cenário da situação delimitada.

Segundo Chizzotti (2006), a pesquisa-ação é um contínuo constituído de planejamento ou projeto sobre uma situação-problema, ainda sobre um objetivo que se deseja alcançar, bem como caracterizado pela execução e avaliação da ação

6 Avaliar 1 Planejamento 5 Planejar novas ações 4 Avaliar 3 Implementar 2 Dialogar

implementada. É como uma sequência em espiral, que ocorre de forma reiterada, composta pelos seguintes elementos: análise, pesquisa dos fatos, definição, ela- boração e realização dos planos de ação, seguida de avaliação, pesquisa de fatos novos, repetindo-se as etapas da espiral das atividades mencionadas, conforme a tradição lewiniana5, para que sejam alcançados resultados satisfatórios.

De acordo com Franco (2005), quando um pesquisador elege a pesquisa-a- ção é porque possui a convicção de que pesquisa e ação podem e devem caminhar juntas, quando se pretende transformar a prática. Porém, destacamos que o uso desse método em um estudo nem sempre tem que apresentar soluções, mas pode trazer esclarecimentos a respeito da prática, pois, conforme Thiollent (2011), um dos objetivos da pesquisa-ação é a resolução ou, pelo menos, a elucidação do pro- blema da situação investigada.

Para Chizzotti (2006), a metodologia da pesquisa-ação ocorre do seguinte modo:

Figura 1 – Etapas da pesquisa-ação adotadas nesta pesquisa

Fonte: Elaborado pela autora.

Na primeira fase, apresenta-se a definição do problema. Na segunda fase, trata-se da formulação do problema, composta pela coleta e análise das informa- ções, documentais ou orais, para se definir quais as melhores ações possíveis na solução desse entrave, selecionando as possivelmente adequadas para serem ex- perimentadas. Na terceira fase, implementa-se a ação, que possuirá um plano de execução que vise auxiliar nas negociações entre todos os envolvidos na pesquisa, a fim de trazer clareza a respeito dos objetivos que se quer alcançar, para posterior análise dos resultados atingidos. Na quarta fase, executa-se a ação, que correspon- derá ao seu acompanhamento em diferentes aspectos, desde a sua apresentação até os resultados alcançados. Em seguida, ela será apresentada a todos os envolvidos para avaliação e adequação, caso haja insuficiências nas ações realizadas, discutin- do e corrigindo-as.

5 Atribui-se a paternidade da pesquisa-ação a Kurt Lewin, daí o termo lewiniana (CHIZZOTTI, 2006).

Â

Â

Â

Â

Â

Â

Na quinta fase, um novo plano é produzido para uma ação posterior, que será objeto de nova análise e avaliação dos efeitos obtidos. Na sexta fase, apresen- ta-se um relatório com os impasses e as soluções encontradas, a ser discutido com o intuito de ampliar a compreensão dos participantes sobre o objetivo da pesquisa e as condições que a envolvem. Essa fase destacará também, se houver consenso entre participantes em relação aos encaminhamentos da pesquisa, a solidariedade dessas pessoas para com as ações selecionadas e implementadas, com as respostas e as consequências que delas se originam.

Dessa forma, a partir das definições e comentários apresentados, o pro- jeto assumiu seu desenvolvimento nos passos da pesquisa-ação embasados em Thiollent (2011) e Chizzotti (2001), sem, no entanto, deixar de levar em consi- deração alguns aspectos de outras abordagens aqui descritas que emergem no ci- clo da ação, avaliação, pesquisa e aprendizagem (Tripp, 2005). Assim, buscou-se aprimorar, por meio deste ciclo sistemático composto pelo planejamento da ação, pela execução, pela descrição dos seus efeitos, seguido da avaliação dos resultados e da continuidade das ações, as metodologias de ensino de Libras como L2 para crianças ouvintes.

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais (páginas 185-188)