• Nenhum resultado encontrado

6 Considerações finais

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais (páginas 155-159)

Com o surgimento de novas demandas sociais, profissionais e acadêmicas, as línguas de sinais têm sido, cada vez mais, reconhecidas e vistas como um pro- fícuo campo de estudos e de reflexões. Partindo dessa realidade, defendemos que o estudo do aprendizado de Libras precisa acompanhar o desenvolvimento dos estudos sobre aquisição e aprendizado de L2, campo disciplinar em que se insere, e que pesquisas empíricas oferecem novas possibilidades de se pensar o ensino e a aprendizagem de língua.

A relevância acadêmico-científica desta pesquisa consiste no fato de ela ter investigado elementos relacionados ao processo de aquisição de Libras como L2, um campo ainda pouco explorado. Ademais, a pesquisa contribui com a amplia- ção da inserção das línguas de sinais na área da linguística, mais especificamen- te, na investigação sobre o uso de expressões referenciais por aprendizes de L2, podendo levar a uma melhor compreensão do modo como as próprias línguas de sinais são estruturadas e usadas por sinalizantes nativos e aprendizes. Pode-se afirmar, também, que a relevância social da pesquisa está no fato de ela contribuir com a promoção das línguas de sinais, na academia e na sociedade.

Com base nos resultados apresentados, observamos que aprendizes de lín- guas de sinais como L2, que têm uma língua falada como L1, precisam lidar com o fato de que ambas as línguas são distantes devido à diferença de sua modali- dade, mas próximas quando consideramos sua coexistência social e geográfica. Neste estudo, os aprendizes construíram narrativas em uma língua de modalidade gestual-visual, sua L2, já possuindo um conjunto completo de habilidades para controle de referência em sua primeira língua, no caso uma língua de modalidade vocal-auditiva.

Para estudar o controle de referência em narrativas por aprendizes de Li- bras como L2, os princípios de acessibilidade do referente foram considerados no uso de expressões referenciais na introdução, manutenção e reintrodução de referentes. Os resultados mostraram, de forma geral, que os aprendizes seguem esses princípios de acessibilidade de forma semelhante aos sinalizantes nativos. No entanto, observamos uma diferença entre os dois grupos: um número maior de marcadores não manuais de role shift e classificadores foi usado pelos sinalizantes nativos em comparação àqueles dos aprendizes. Embora isso possa corroborar a ideia de que os sinalizantes nativos usam mais mecanismos específicos à modali- dade, dados mostram, ainda que de forma limitada, que aprendizes gradualmente passam a lançar mão desses mecanismos à medida em que avançam nos anos de seu curso de graduação.

Outro achado importante é que os aprendizes não foram sobreexplícitos com o uso de pronomes plenos como forma de compensar sua falta de conhe-

cimento da L2. Na verdade, o estudo confirma o que já havia sido apontado por pesquisas sobre controle de referência por aprendizes de L2 de outras línguas de sinais, que é o baixo uso de pronomes plenos. Resultados, no entanto, evidenciam que os aprendizes usam excessivamente as expressões nominais quando compara- dos aos sinalizantes nativos, o que de fato pode ser uma estratégia de compensa- ção. Como é possível que os alunos de outras línguas de sinais se comportem da mesma maneira, seria importante expandir esse tipo de estudo para os alunos de L2 de outras línguas de sinais.

Por fim, qualquer pesquisa futura interessada em replicar este estudo ou em realizar uma análise sob a mesma perspectiva deve considerar ter uma amos- tra maior e trabalhar com dados mais representativos para que possa conduzir uma análise estatística mais significativa. Além disso, seria importante realizar uma pesquisa longitudinal com os mesmos participantes em diferentes anos, le- vando a uma melhor comparação da evolução do processo de aquisição de lin- guagem e, por sua vez, a influência que esse desenvolvimento pode ter no uso de mecanismos empregados no controle de referência numa língua de modalidade gestual-visual.

Referências

ARIEL, M. Accessibility theory: An overview. In SANDERS, T.; SCHILPE- ROORD, J.; SPOOREN, W. (Org.), Text representation: Linguistic and psycho- linguistic aspects. Amsterdam: John Benjamins. p. 29-87, 2001.

BARBERÀ, G.; QUER, J. Nominal referential values of semantic classifiers and role shift in sign narratives. Linguistic Foundations of Narration in Spoken and Sign Languages. p. 1-21, 2018.

BEL, A.; ORTELLS, M.; MORGAN, G. Reference control in the narratives of adult sign language learners. International Journal of Bilingualism, 19(5). p. 608-624, 2014. doi: 10.1177/1367006914527186.

CELAYA, M. L. Transfer in English as a foreign language: A study on tenses. Barcelona: PPU, 1992.

EMMOREY, K.; BORINSTEIN, H. B.; THOMPSON, R. Bimodal bilingua- lism: Code-blending between spoken English and American Sign Language. In COHEN J, MCALISTER, K., ROLSTAD, K., AND MACSWAN, J. (Org.), Proceedings of the 4th International Symposium on Bilingualism. Somerville, MA: Cascadilla Press, 2005.

EMMOREY, K.; BORINSTEIN, H. B.; THOMPSON, R.; GOLLAN, T. H. Bimo- dal bilingualism. Bilingualism, Cambridge, Inglaterra. 11(1). p. 43-61. 2008. doi: 10.1017/S1366728907003203.

FREDERIKSEN, A. T.; MAYBERRY, R. I. Tracking Reference in Space: How L2 Learners Use ASL Referring Expressions. Proceedings of the 39th Annual Bos- ton University Conference on Language Development. p. 165-177, 2015.

FREDERIKSEN, A. T.; MAYBERRY, R. I. Who’s on First? Investigating the refe- rential hierarchy in simple native ASL narratives. Lingua, 180. p. 49-68, 2016. doi: 0.1016/j.lingua.2016.03.007.

FREDERIKSEN, A. T.; MAYBERRY, R. I. Reference tracking in early stages of different modality L2 acquisition: Limited overexplicitness in novice ASL signers’ referring expressions. Second Language Research. p. 1-31, 2018. doi: 10.1177/0267658317750220.

GIVÓN, T. (Ed.). Topic continuity in discourse: A quantitative cross-language study. Amsterdam: John Benjamins, 1983.

GULLBERG, M. Handling Discourse: Gestures, Reference Tracking, and Commu- nication Strategies in Early L2. Language Learning, 56(1). p. 155-196, 2006. LILLO-MARTIN, D. Utterance reports and constructed action. Sign Language – An International Handbook. (1). p. 365-387, 2012.

LILLO-MARTIN, D.; QUADROS, R. M. de. Acquisition of the syntax-discourse interface: The expression of point of view. Lingua, 121(4). p. 623-636, 2011. doi: 10.1016/j.lingua.2010.07.001.

MAYER, M. Frog, where are you?. New York: Dial, 1969.

MCBURNEY, S. L. Pronominal reference in sign and spoken language: are grammatical categories modality-dependent? In MEIER, R. P; CORMIER, K.; QUINTO-POZOS, D. (Org.), Modality and structure in sign and spoken lan- guages. Cambridge: Cambridge University Press. p. 329-369, 2004.

MONTRUL, S. Multiple interfaces and incomplete acquisition. Lingua. 121(4). p. 591-604, 2011. doi: 10.1016/j.lingua.2010.05.006.

MORGAN, G. The development of discourse cohesion in British Sign Langua- ge. Unpublished doctoral dissertation, University of Bristol, UK, 1998.

MUÑOZ, C. Markedness and the acquisition of referential forms. Studies in Second Language Acquisition. 17, p. 517-27, 1995.

PADDEN, C. Interaction of morphology and syntax in American Sign Lan- guage. New York: Garland, 1988.

PERNISS, P.; ÖZYÜREK, A. Visible cohesion: A comparison of reference trac- king in sign, speech, and co-speech gesture. Topics in Cognitive Science. 7(1). p. 1-25, 2015. doi: 10.1111/tops.12122.

PFAU, R.; QUER, J. Nonmanuals: their grammatical and prosodic roles. Sign Languages. p. 381-402, 2010. doi: 10.1017/CBO9780511712203.

PFAU, R.; STEINBACH, M.; WOLL, B. (Org.). Sign language: An international handbook. Berlin: Mouton de Gruyter, 2012.

PICHLER, D. C.; KOULIDOBROVA, H. Acquisition of Sign Language as a Second Language. The Oxford Handbook of Deaf Studies in Language, p. 218- 220, 2015.

QUADROS, R. M. de. Phrase Structure of Brazilian Sign Language. Tese de Dou- torado. PUC/RS. Porto Alegre, 1999.

QUADROS, R. M.; QUER, J. Back to back (wards) and moving on: On agree- ment, auxiliaries and verb classes in sign languages. In QUADROS, R. M. (Org.), Theoretical Issues in Sign Language Research 9. Sign languages: Spinning and unraveling the past, present and future. Petrópolis: Arara Azul. p. 530–-551, 2006.

QUER, J. When agreeing to disagree is not enough: Further arguments for the linguistic status of sign language agreement. Theoretical Linguistics, 37. p. 3-4, 2011.

QUER, J. Attitude ascriptions in sign languages and role shift. Texas Linguistics Forum: Proceedings from the 13th Meeting of the Texas Linguistics Society. p. 12-28, 2013.

QUER, J.; CECCHETTO, C.; DONATI, C., et al. (Org.). SignGram Blueprint. A Guide to Sign Language Grammar Writing. Berlin, Boston: De Gruyter Mou- ton, 2017.

SANDLER, W. The phonological organization of sign languages. Language and linguistics compass, 6(3). p. 162-182, 2012. doi:10.1002/lnc3.326.

SIMOENS, R. M. Second Language Acquisition of Role Shift and Classifiers for Reference Control in Catalan Sign Language (LSC) narratives. Dissertação de mestrado. Departament de Traducció i Ciències del Llenguatge. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra, 2017. 49 p.

SORACE, A. Pinning down the concept of “interface” in bilingualism. Linguistic Approaches to Bilingualism, p. 1-33, 2011.

SORACE, A.; SERRATRICE, L. Internal and external interfaces in bilingual lan- guage development: Beyond structural overlap. International Journal of Bilin- gualism, 13(2). p. 195-210, 2009. doi: 10.1177/1367006909339810.

SORACE, A.; SERRATRICE, L.; FILIACI, F.; BALDO, M. Discourse conditions on subject pronoun realization: Testing the linguistic intuitions of older bilingual children. Lingua, 119. p. 460-477, 2009.

SUPALLA, T. The classifier system in American Sign Language. In CRAIG, C. (Org.). Noun Classification and Categorization. Philadelphia: John Benjamins. p. 181-213, 1986.

YOSHIOKA, K. Gesture and information structure in first and second language. Gesture, 8. p. 236-55, 2008.

8

Flexão de plural ou nominalização?

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais (páginas 155-159)