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Análise Empírica Discursiva

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais (páginas 50-53)

2 Desenvolvimento da Pesquisa

2.2 Análise Empírica Discursiva

Nesta seção, tem-se a continuidade do desenvolvimento da análise aplicada nesta pesquisa. Neste ponto, buscamos aprofundar o estudo com todo o movi- mento originário das relações provenientes das percepções dos profissionais e/ou representantes: o que eles pensam, observam e sabem sobre a Política Educacional e Linguística na Educação dos e para os Surdos, relacionando-os com as ações em suas respectivas instituições. Diante disso, apresento a análise empírica discursiva de forma articulada, associando as falas orais e/ou sinalizadas dos profissionais e/ ou representantes, na sua singularidade, aos sentidos e aos conceitos, bem como, às ações e programas desenvolvidos pelas IES e pelas Instituições de Surdos.

As entrevistas foram realizadas com os profissionais e/ou representantes das instituições de Surdos e das IES. Vale mencionar que tudo foi devidamen- te submetido ao CEP10. Tendo em vista que as instituições contam com grandes

números de profissionais e/ou representantes, os agrupamos em dois grupos, a partir do seguinte critério de seleção: (a) 6 gestores, sendo um presidente, diretor e/ou coordenador, de cada instituição selecionada; e (b) 6 participantes, sendo um colaborador de cada instituição, que estive a frente na elaboração de projetos e/ou documentos, tendo participado das discussões, das reuniões e de outros eventos promovidos pela instituição.

10 Comitê de Ética da Universidade Federal de Uberlândia – Regimento interno de Resolução nº 196/96/CNS sendo reestruturado para a Resolução nº 466, de 12 de Dezembro de 2012. Mais informações no link: <http://www.comissoes.propp.ufu.br/CEP>.

De acordo com Gil (1999, p. 42), o procedimento da entrevista deve favo- recer a interação entre o pesquisador e os participantes da pesquisa, bem como, a observância dos objetivos. Nessa perspectiva, estimulou-se o uso da entrevista, de acordo com: (i) sua atribuição atual na instituição de Surdos ou IES com ações na formação de Surdos e ouvintes para atuar na Educação de Surdos; (ii) seu papel e colaboração frente à elaboração de documentos da Política Educacional e Lin- guística relacionados à formação para Surdos e ouvintes; e (iii) sua visão acerca da política pública atual.

Ao saber que as análises empíricas articulam-se entre si o tempo todo, fa- zendo emergir interpretações similares que podem ser registradas de diferentes formas, tornando o texto e o posicionamento enfático e radical, estabelecemos os seguintes eixos de discussão para análise: (i) discernimento dos discursos dos par- ticipantes acerca do conceito de Educação Especial, Educação Inclusiva e Educa- ção dos Surdos; (ii) compreensão do olhar teórico às construções da formação dos Surdos e ouvintes e os seus desdobramentos nas ações pedagógicas e estruturas; (iii) discussão da constituição do ensino da Libras e da Língua Portuguesa como segunda língua na formação; (iv) assimilações dos participantes sobre a política educacional e a política linguística no processo de escolarização dos Surdos; e (v) identificação de suas percepções sobre as implantações, das ações e/ou reformula- ções a serem desenvolvidos pelas instituições no que tange à Política Educacional e Linguística na Educação dos e para os Surdos.

Os dados coletados acerca da situação dos trabalhos e envolvimentos dos participantes na Política Educacional e Linguística na Educação dos e para os Sur- dos, como também, as atribuições, problemas e dificuldades enfrentadas por cada um, nas respectivas instituições que, de forma breve, foi fundamental para com esta pesquisa, apresentou-se a nós que o envolvimento dos participantes na ela- boração de documentos nacionais ainda ocorre de forma simplista e ineficiente, através de reuniões e participações como “ouvintes” sem poder de implicações di- retas e fortes e de influência e transformação na política de Educação dos Surdos. Consideramos isso um agravante, pois não conta prioritariamente com o olhar e a experiência dos participantes que estão mais envolvidos e próximos à realidade da Educação dos Surdos. Isso é um caso comum em todas as instituições, mas não deveria ocorrer, por simbolizar um papel importante na colaboração das políticas públicas de Educação, principalmente, na dos Surdos.

Se considerarmos os depoimentos emitidos pelos participantes, podemos considerar que esse fato se deve à falta de: (i) diálogo e espaço de negociação e abertura ativa à participação dos líderes representantes da Comunidade Surda nas reuniões e propostas das/com as secretarias de ensino; (ii) práticas e de ações pedagógicas que centralizem a Libras na formação dos Surdos e ouvintes; e (iii) formação adequada aos profissionais para atuar com a Educação dos Surdos.

Ressalta-se que os mesmos participantes que relataram a insatisfação e as poucas mudanças que a instituição realiza tem indicado, em seus relatos, a impor- tância e o destaque deles na política da Educação dos Surdos, pois promoveram

uma nova discussão, no que concerne à Política Educacional e Linguística para com a Educação dos e para os Surdos, oferecendo em seus relatórios as reivindica- ções e explicitações de alguns determinados documentos que instigaram o norte de referência às demais legislações elaboradas.

Outro ponto observado com os participantes nesta análise de que é preciso se manter vigilante, pois o fato de haver algumas conquistas no campo das políti- cas afirmativas estas estão sempre em processo de ataque por aqueles grupos pri- vilegiados que não estão propensos a ter profissionais para os questionar, portanto, não querem manter as conquistas ocorridas, frutos de concessões momentâneas, apesar de a natureza das políticas afirmativas terem tempo definido, poderão ser abortadas antes de seus objetivos e compromissos serem atingidos.

Enfim, os dados coletados nos documentos e nas entrevistas, confirmam o pouco avanço das políticas públicas direcionadas aos Surdos pelos governos fe- deral, estadual e municipal, o mesmo se estende as IES e Instituições de Surdos, quando desconsideram a importância de se pensar melhor a inserção efetiva da Política Educacional e Linguística que contorna a formação dos Surdos e ouvintes. Percebe-se que mesmo que possua as ações de implementação, a política ainda se encontra longe do ideal da Inclusão, que visa a uma educação de Ensino Bilíngue/Pedagogia Surda, exigindo-nos uma discussão sobre a necessidade de se reestruturar a política pública na Educação dos e para os Surdos, em consonância com as propostas do Relatório do GT (2014) que determina que a instituição deve promover: (a) a oferta e difusão da Libras em todo o ambiente escolar a fim de via- bilizar e assegurar a Política Educacional e Linguística aos estudantes Surdos; (b) formação e qualificação dos Surdos e ouvintes no ensino de/em Libras, com o uso de metodologias instrumentais para o ensino de Libras e Língua Portuguesa como segunda língua; (c) adequação e criação de ambientes linguísticos e do currículo escolar visando às especificidades da Política Educacional e Linguística destinada aos estudantes Surdos; e (d) definir a participação das duas línguas na escola em todo o processo de escolarização de forma a conferir legitimidade e prestígio da Libras como língua curricular e constituidora da pessoa Surda.

Apesar de considerar o fato de as transformações do sistema educacional de ensino serem lentas e gradativas, na qual a formação dos Surdos e ouvintes, continua sendo submetida a um processo formal de ensino e de aprendizagem insuficientes sem quaisquer possibilidades de viabilização e obtenção de uma for- mação satisfatória a este grupo, vemos a necessidade de fomento de uma política pública que efetive a realização de educação de qualidade. Essa política precisa ser induzida pelos governos no exercício da governabilidade e promover ações que possibilitem as condições condizentes e adequadas à Política Educacional e Linguística, na Educação dos e para os Surdos, em todos os seus aspectos orga- nizacionais, estruturais, pedagógicos, estratégicos, entre outras correlacionadas.

A partir disso, foram direcionadas as questões que generalizam impasses na Educação dos e para os Surdos com as discussões de suas configurações que a

mesma necessita para efetivar a promoção da Política Educacional e Política Lin- guística que melhor é proposta e descrita no texto a seguir.

3 Ponto de Negociação: possibilidade de relação entre a Inclusão

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais (páginas 50-53)