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3 APRENDIZADO E DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS

5.1 Levantamento junto a gestores brasileiros no exterior

5.1.2 Análise de frequência

Uma vez confirmada a confiabilidade e validade dos dados coletados, procedeu-se à análise estatística de frequência. Observou-se uma avaliação que tende a ser positiva, por parte dos respondentes, quanto aos aprendizados que os credenciam a atuar internacionalmente. Predominam respostas que indicam pouca ou nenhuma dificuldade quanto ao aprendizado dos aspectos apresentados. Pode-se dizer que esta avaliação positiva os aproxima, em sua própria percepção, do conceito de super-herói de Guitel (2006). Por outro lado, confirma a relevância das lições apresentadas por McCall e Hollenbeck (2003) e a validade de sua utilização para o presente estudo. Paradoxalmente, é um dos seus limites (SELLTIZ et al., 1967; HAIR et al., 2005). A Tabela 3 apresenta a análise de frequência.

Tabela 3 - Aprendizados dos gestores brasileiros no exterior (% de concordância).

(Continua) Muita dificuldade Dificul- dade Indife- rente Pouca dificuldade Nenhuma dificuldade Não se aplica

Aprendizado de questões culturais

Aprender a falar a língua estrangeira com fluência 5,2 17,0 6,7 33,0 32,5 5,7

Aprender sobre a cultura do país 0,0 12,9 8,2 48,5 30,4 0,0

Aprender a conviver com as diferenças culturais do país de origem em relação ao estrangeiro

2,6 14,4 11,3 50,5 21,1 0,0

Aprender a conviver na nova cultura 2,1 12,9 14,4 45,9 24,7 0,0

Aprender a conviver com as diferenças culturais no trabalho

5,2 17,1 14,0 39,4 23,3 1,0

Aprender a administrar a adaptação da família no exterior

5,2 20,6 8,8 20,6 20,6 24,2

Aprendizado da condução de um negócio no exterior – estratégia, estrutura, processos; o global versus o local; o conhecimento especializado

Aprender as diferenças nas estratégias empresariais (global x local)

1,0 13,0 15,5 35,8 25,9 8,8

Aprender a conduzir os negócios no país 2,1 18,8 16,7 30,2 23,4 8,9 Aprendizado de liderança com novas equipes de trabalho – seleção, desenvolvimento, motivação, construção de equipes, desligamento

Aprender a estabelecer credibilidade com a equipe de trabalho

3,6 26,9 14,0 25,9 25,4 3,6

Aprender a selecionar os profissionais certos 4,7 22,9 14,6 31,3 16,7 9,9 Aprender a construir e manter uma equipe eficaz 4,1 20,2 13,0 34,7 18,7 9,3 Aprender a tomar decisões sobre as pessoas 2,1 16,1 16,6 33,2 25,4 6,7 Aprender a concentrar-se: mantendo as coisas simples e

estabelecendo objetivos claros

2,1 8,3 16,1 33,2 36,3 4,1

Aprender a manter as pessoas motivadas e dedicadas, o que delegar e o que não delegar

2,1 18,2 13,0 31,8 26,6 8,3

Aprender a desenvolver as pessoas e a importância desse processo

(Continuação)

Fonte: questionários

Observou-se que o aspecto em que o profissional brasileiro apresentou menor nível de dificuldade foi o aprendizado sobre a cultura do novo país (78,9% declararam pouca ou nenhuma dificuldade). Isso corrobora as descrições do perfil do gestor brasileiro delineado por Freitas (1997) e Echeveste e outros (1999), bem como as características dos gestores globais citadas por Black e Gregersen (1999), McCall e Hollenbeck (2003), Homem e Tolfo (2004), Homem e Dellagnello (2006). Eles destacam a questão da flexibilidade do profissional brasileiro. Esse resultado pode também ser reflexo do tempo vivido no exterior, uma vez que mais da metade dos respondentes está fora do país de origem há mais de cinco anos.

Vale ressaltar que 56,7% dos entrevistados se encontram no exterior há mais de 5 anos. Isso indica que possivelmente tiveram a chance de reinterpretar sua própria história em termos de carreira e relacionamento familiar. Esse fato pode ter contribuído para que a memória destacasse de maneira seletiva aspectos ligados ao sucesso, ao período de acomodação e à própria idealização do tempo vivido em outro país. Percebe-se uma tendência nos respondentes em deixar para trás as dificuldades pelas quais provavelmente passaram quando do início da carreira internacional e da adaptação familiar, aspecto destacado por diferentes autores (BLACK, MENDENHALL e ODDOU, 1991; JOLLY, 1996; PEREIRA, PIMENTEL e KATO, 2004; HOMEM E TOLFO, 2004; FREITAS, 2007).

Já os aspectos que registraram os maiores níveis de dificuldades foram os relativos à liderança e gestão. O conceito Aprender a estabelecer credibilidade com a equipe de trabalho apresentou nível de dificuldade e muita dificuldade para 30,6% dos respondentes. Pode-se relacionar esse resultado à própria aceitação do estrangeiro ao ocupar um cargo de liderança ou ainda às dificuldades linguísticas e de adaptação cultural, sobretudo considerando-se Aprender a lidar com relacionamentos problemáticos – as sedes, os chefes, os sindicatos, os governos, a mídia, a política

Aprender a lidar com os chefes imediatos e outros superiores

3,6 19,6 20,1 33,5 21,1 2,1

Aprender a administrar contatos com a sede da empresa e com a organização como um todo

3,1 11,4 20,2 31,1 30,6 3,6

Aprender a lidar com as aparições públicas e com a mídia

2,1 9,4 14,1 20,3 23,4 30,7

Aprender a lidar com os governos e os políticos (externos)

2,6 12,0 8,9 18,2 15,6 42,7

Aprender a lidar com as negociações sindicais e de outros tipos

3,6 12,4 8,8 15,5 10,9 48,7

Aprender sobre a política interna da empresa 2,1 14,5 17,1 31,1 30,1 5,2

aspectos subliminares da cultura, como abertura, formalidade, hierarquia. Uma parcela de 27,6% indicou ter tido muita dificuldade e dificuldade para Aprender a selecionar os profissionais certos. Isso pode ser atribuído às barreiras linguísticas, mas também à característica de aproximar relacionamentos pessoais e profissionais existentes na cultura do gestor brasileiro.

Esses aspectos podem ser relacionados às barreiras internas e organizacionais para a internacionalização, indicadas na pesquisa desenvolvida por SOBEET (2007), onde a ausência de experiência e conhecimentos gerenciais para se internacionalizar é indicada como a segunda barreira, ficando atrás somente da questão de custos. O estudo realizado pela Brookfield [...] (2010) aponta o preenchimento de lacunas gerenciais como um dos principais motivos que levam as empresas a investirem na movimentação de profissionais de uma localidade para outra.

A adaptação da família no exterior aparece na sequência, entre as dificuldades, com 25,8% dos respondentes avaliando este aprendizado como Muito Difícil e Difícil. Conforme apontado em diferentes estudos (FREITAS, 2000; PEREIRA, PIMENTEL e KATO, 2004; MCCALL e HOLLENBECK, 2003), aspectos familiares podem levar ao sucesso ou ao fracasso de processos de designações internacionais.

Assim, em relação às dificuldades, os brasileiros apresentam um nível menos elevado quanto à necessidade de se adaptarem à cultura do novo país, mas, em uma linha oposta, têm dificuldade em relação à liderança, gestão e para que a família se adapte à nova situação.