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Limites do método: levantamento e análise de conteúdo

3 APRENDIZADO E DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS

4.3 Limites do método: levantamento e análise de conteúdo

Por fim, todo método e toda fonte apresentam em si limites. Na sequência, serão apontados aqueles relacionados ao levantamento e à análise documental, bem como ao instrumento de coleta e documentos pesquisados.

A escolha de uma escala para medir determinados conceitos em um levantamento, em especial, os que buscam conhecer percepções, estão sujeitos à colaboração, perfil e predisposição dos respondentes, bem como a aspectos situacionais, mecânicos, relacionais, crenças, valores e momentos pessoais (SELLTIZ et al., 1967). Para este estudo, ressalta-se ainda que foi adotada uma escala para medir a percepção referente ao nível de dificuldade das lições aprendidas pelos gestores brasileiros que trabalham no exterior, o que reflete uma realidade específica desses respondentes, sem possibilidade de serem estendidas a todos os profissionais brasileiros que trabalham no exterior.

Selltiz e outros (1967) apontam algumas características que podem contribuir para provocar vieses em levantamentos que adotam escalas para medir percepções. Segundo os autores, algumas formas de responder estão relacionadas ao valor social que a resposta envolve, ou seja, adotar uma posição favorável ou desfavorável pode ser a expressão não de uma opinião individual, mas do que é socialmente aceito como padrão para determinado grupo de pessoas. Destacam também que o estado de ânimo do respondente pode influenciar

suas posições no momento do preenchimento, bem como condições de operacionalização (funcionamento do questionário, interrupções, dúvidas, etc). Em relação ao momento pessoal, a amostra foi composta por profissionais com uma situação estável no exterior (conforme será detalhado adiante), com tendência a avaliar a experiência a partir de um processo de memória seletiva, onde aspectos mais complexos do processo de adaptação foram deixados propositalmente de lado, com destaque para os casos de sucesso.

Hair Junior e outros (2005) apontam para a própria característica do levantamento ou survey, em que o respondente sabe que está avaliando algo e pode tomar uma decisão tendendo para um dos extremos, como forma de seguir a orientação do grupo do qual faz parte.

Em relação à análise fatorial, resultante do agrupamento dos conceitos, os autores alertam para as decisões tomadas pelo pesquisador ao nomear fatores, que são subjetivas, mesmo ao se partir do princípio de que são construídas, tomando-se como orientação o referencial teórico, os próprios dados, a vivência do pesquisador e a lógica. Existe a possibilidade da ocorrência de vieses ou construtos que podem ser considerados equivocados em algum momento ou contexto. Isso acontece, especialmente, quando um conceito possui cargas semelhantes em mais de um fator, e o pesquisador precisa fazer escolhas específicas sobre o grupo que será criado e como será nomeado.

O aspecto inferencial da análise de conteúdo é ponto forte na construção de conhecimento, mas, paradoxalmente, pode representar sua falácia (BAUER, 2002). Para o autor, o pesquisador que utiliza essa metodologia pode obter resultados apenas por agregação e probabilisticos, não podendo afirmar quais foram as reais intenções de quem elaborou o discurso objeto da análise. O processo é sujeito às interferências de crenças, valores e percepções anteriores do pesquisador, que pode apresentar dificuldade em se manter neutro para a consecusão de suas análises.

Bauer aponta ainda algumas considerações importantes relativas ao processo, que aqui são relacionados ao corpus deste estudo:

1) O corpus de um texto nunca está completo porque sempre serão acrescentados novos textos. No caso das ementas disponibilizadas pelas IES pesquisadas, observou-se que alguns materiais são mais atuais, outros mais antigos, e outros sem data, conforme descrito no Apêndice B. Alguns, ainda, disponibilizaram o material por email. Pode ser que, em um novo levantamento, se tenha acesso a material diferente do levantado neste momento, em função de atualizações e mudanças na estrutura curricular dos cursos, por exemplo;

2) Análise de Conteúdo é usada para construir índices. Eles representam a interpretação dada pelo pesquisador, mas deve-se levar em consideração que o texto das ementas foram produzidos por diferentes instituições, relativas a projetos pedagógicos também diferentes. Dessa maneira, uma determinada palavra pode ter sido interpretada de acordo com um tipo de índice na percepção do pesquisador, quando na percepção do autor da ementa e do professor que aplica a disciplina em sala de aula, poderia ser diferente.

Em relação às fraquezas do método, Bauer(2002) destaca o cuidado que deve ser tomado com os conteúdos textuais, no sentido de analisá-los e categorizá-los. A separação, classificação e categorização representam processos-chave para o uso da técnica, e decisões erradas de pesquisa podem conduzir a resultados equivocados. Outro ponto destacado pelo autor é o fato de a análise de conteúdo focar-se nas frequências, ou seja, naquilo que existe, descuidando do que é raro ou se encontra ausente. Neste estudo, optou-se por avaliar os extremos (maiores e menores índices). Algumas ausências são apontadas a partir das inferências, mas não houve aprofundamento neste aspecto das discussões, uma vez que isso envolveria um maior nível de conhecimento acerca da estrutura curricular dos cursos de Administração, por meio da análise de documentos mais completos. Isso pode indicar a possibilidade para estudos futuros.

Ao segregar as ementas para análise, deixou-se de enxergá-las no contexto do Projeto Pedagógico, documento que reflete de maneira mais explícita a complexidade do modelo de aprendizagem por competências adotado pela instituição. Como foram identificados apenas quatro documentos na íntegra, em um universo de 24, vários aspectos deixaram de ser avaliados, o que pode ser feito também futuramente, a partir de um aprofundamento sobre esses cursos, especificamente.

As ementas foram coletadas nos websites dos cursos selecionados e algumas vezes, enviadas por email, conforme descrito no Apêndice B. Em alguns casos, parte dos documentos pesquisados apresentavam unicamente as disciplinas obrigatórias, sem elencar as optativas. Em outros, foi possível perceber que as ementas poderiam estar desatualizadas, visto suas datas de referência (2004, 2007, 2009). Em muitos cursos, identificou-se também uma nomenclatura vaga, normalmente Tópicos Especiais em [...] onde não havia descritivo do conteúdo. Sabe-se também que as ementas não disponibilizam todas as informações referentes aos cursos, papel melhor desempenhado pelos programas, que representam conteúdos mais aprofundados. No entanto, apenas oito dos 24 cursos pesquisados divulgaram seus programas completos.

No próximo capítulo, apresentam-se os resultados de cada etapa, de acordo com o resumo dos aspectos metodológicos apresentado no Quadro 14.

RESUMO DOS ASPECTOS METODOLÓGICOS

Pergunta Objetivo Específico Procedimento

de coleta

Técnica de análise Autores de referência Quais as

competências do gestor global?

(1) Identificar as características e aprendizados percebidos por gestores brasileiros que atuam no contexto global, a partir de um grupo de lições identificadas previamente (MCCALL e HOLLENBECK, 2003) Levantamento Bibliográfico Levantamento junto a gestores brasileiros no exterior Revisão da literatura Análise descritiva dos dados, análise de freqüência e análise fatorial Citados nos quadros 4 e 5 McCall e Hollenback (2003) Qual a relação entre as características e aprendizados identificados e as competências indicadas pela literatura?

(2) Relacionar essas características e aprendizados às competências necessárias para a atuação desse profissional (ECHEVESTE et al., 1999) Cruzamento entre os resultados do levantamento e o referencial bibliográfico

Análise de conteúdo Citados no capítulo 3, relativos ao campo das competências Como as ementas dos cursos de Administração podem ser analisadas em relação às competências necessárias ao gestor global?

(3) Propor parâmetros que permitam verificar a frequência com que essas competências estão presentes nas ementas dos curso de graduação em Administração que obtiveram conceito 5 no ENADE e na avaliação in loco das instituições brasileiras pesquisadas Cruzamento entre os resultados das etapas anteriores

Análise de conteúdo Bardin (1988); Triviños (1990); Bauer (2002) As competências necessárias ao gestor global encontram-se presentes nas ementas dos cursos de Administração? (4) Verificar e quantificar a aderência das competências necessárias ao gestor global nas ementas analisadas.

Análise comparativa

Análise de conteúdo Citados no capítulo 3, relativos ao ensino de Administração no Brasil e às DCNs Existem diferenças significativas entre os cursos analisados, comparando-se os cliclos de avaliação do ENADE?

Comparar os resultados das avaliações divulgadas em 2006 e 2009 e verificar se houve mudanças significativas de um período avaliativo para o outro.

Análise comparativa

Análise de conteúdo Bardin (1988); Triviños (1990); Bauer (2002)

Quadro 14 - Resumo dos aspectos metodológicos Fonte: elaboração nossa.

5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS