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Análise e discussão dos resultados dos corpora de expressões meméticas 120

No documento Jaime de Souza Júnior (páginas 123-176)

Esquema 2 – Princípios constitutivos do processo de propagação de fenômenos

6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.1 Análise e discussão dos resultados dos corpora de expressões meméticas 120

A partir deste ponto, traremos os resultados da análise linguística deste estudo. A mesma se deu, em primeiro lugar, a partir das categorias de Avaliatividade. Assim sendo, a análise dos dados se dividiu em duas partes, a saber: a) o que foi avaliado? – elementos animados ou inanimados?; b) como ocorreu a avaliação – isto é, através de qual categoria de Atitude (Afeto, Julgamento ou Apreciação) o usuário da expressão memética apontou para o

“avaliado”? Sendo assim, a interpretação dos dados dar-se-á na ordem em que ocorreu a análise.

Em segundo lugar, para discutirmos de forma integradora os demais aspectos de propagação dos fenômenos em questão, procederemos a uma análise relacional desses aspectos, tomando por base o quadro 4, apresentado em 2.3.

Após analisar as listas de colocados e suas linhas de concordância, obtivemos os seguintes dados:

Gráfico 2: A diversidade de elementos avaliados apontados pelo usuário da expressão memética “Que deselegante”.90

Gráfico 3: A diversidade de itens avaliados apontados pelo usuário da expressão memética “#Tenso”.

90 Alertamos que todos os itens que aparecerem nos gráficos apresentados com percentual “0” (zero – uma dízima periódica) não estão sendo desconsiderados, devido à importância dessas ocorrências do ponto de vista qualitativo.

Os gráficos 2 e 3 nos mostram como os usuários das expressões meméticas “Que deselegante” e “#Tenso” se afastaram do padrão de uso e de replicação dessas unidades de propagação. Nesses padrões, ambas as expressões avaliavam um elemento animado. “Que deselegante” foi usada para avaliar os homens desconhecidos que invadiram, ao vivo, uma reportagem. Nesse sentido, apesar de o comportamento (um item inanimado) desses indivíduos também ter sido responsável por desencadear o uso da expressão, entendemos, ainda assim, os geradores de tal comportamento como os verdadeiros avaliados, uma vez que vemos tal comportamento como uma extensão dos seres animados. #Tenso”, por sua vez, fora direcionado a anônimos diante de situações embaraçosas. Tais situações eram visualizadas em uma imagem que ia sendo ampliada, aos poucos, até que se revelava o motivo da “tensão” indicada pelo internauta. Quanto à análise de todos os itens avaliados, curiosamente, pudemos observar, conforme as figuras 66 e 67, que os padrões originais evoluíram, passando a ser direcionados a itens inanimados. Vejamos os exemplos, a seguir:

Figura 66: “Que deselegante” sendo direcionada a elemento inanimado. Disponível em:<

http://topsy.com/s?q=que%20deselegante&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

Figura 67: “#Tenso” sendo direcionada a elemento inanimado. Disponível em:<

http://topsy.com/s?q=%23tenso&window=a >. Acesso em: 20 dez. 2013.

Essa evolução de uso e de propagação das expressões se localizou, mais especificamente, no que tange ao princípio constitutivo, em primeiro lugar, de “fecundidade”

(DAWKINS, 1979). Isso significou que as expressões meméticas e as práticas que estas carregaram e transmitiram mostraram-se fecundas e propícias ao surgimento de novos padrões de uso, não sendo tais padrões de natureza monolítica, por conta da recontextualização (no sentido de Fairclough, 2001) perceptível na constatação da diversidade de tipos de elementos avaliados.

Em segundo lugar, em relação ao “alcance” (RECUERO, 2006), os fenômenos investigados demonstraram ter alcance (midiático) global91. No entanto, como sugerimos expandir as análises guiadas pelo critério de alcance, informamos que não houve aplicação desse critério de investigação somente com referência aos domínios virtuais e geográficos percorridos, como Recuero (2006) o utilizara. Ademais, uma expansão de entendimento do critério de “alcance” para aquele de “alcance linguístico” se justifica pelo fato de os fenômenos meméticos poderem se expandir linguisticamente, abordando diferentes elementos animados ou inanimados, e não só por processos de propalação midiática.

O importante, nesse sentido, é notar como esse “alcance linguístico” gera uma relação simbiótica de fecundidade que promove mais alcance (midiático) e vice-versa. Outros aspectos do princípio de alcance linguístico evidenciados na propagação de ambos os fenômenos foram:

a) “Que deselegante”

* propagado majoritariamente na dimensão online e em menor escala na dimensão offline (houve produção de camisas92 referentes ao fenômeno);

* propagado em idioma nativo (Português).

b) “#Tenso

* propagado majoritariamente na dimensão online e de forma ampla na dimensão offline. Percebe-se, no dia a dia, pelo menos na cidade do Rio de Janeiro, que a expressão e as práticas de produção de linguagem incorporadas pelo uso de “#Tenso” migraram da escrita da Rede para a fala das pessoas93. Cabe também acrescentar que a expressão foi memetizada como refrão de música sertaneja94.

* propagado massivamente em idioma nativo (Português).

Em face do exposto, refletimos sobre a classificação que Recuero (2006) dá a esses tipos de fenômeno, isto é, seriam Memes Epidêmicos vistos como “modismos” e, ao mesmo

91 Para verificar o alcance do fenômeno “Que deselegante”, ver a figura 12, em 3.2; para o fenômeno “#Tenso”, ver:

http://www.youpix.com.br/memepedia/a-origem-do-tenso/

92 http://forum.jogos.uol.com.br/_t_1852750

93 Nesse tocante, “#Tenso” transpôs barreiras, migrando do substrato dos artefatos digitais para o cerebral, conforme postulações de base externalista (DENNETT, 1995). Isso nos leva a refletir acerca das postulações de Dawkins (1979; 1982), o qual teria posicionamento contrário a esse tipo de transferência. Todavia, um estudo complementar, com base em um corpus oral, seria necessário para verificar se a expressão memética continuaria apresentando um padrão de propagação externalista fora dos ambientes digitais públicos, ou assumiria mais um padrão internalista (ou homogêneo) de uso, aproximado-se mais dos bordões ou slogans, como Dawkins (1979, p. 192) classificaria tais expressões.

94 http://www.youtube.com/watch?v=YCFxT3DDscI

tempo, Memes Persistentes. Para a autora (2006) isso se justifica porque a mesma entende que um meme esteja expresso na dimensão externa de propagação desses fenômenos. Isto é, para Recuero (2006), a unidade de propagação seria o meme propriamente dito e não um veículo para o mesmo. Para nós, a dimensão interna e a externa estão conectadas. O fato de um fenômeno que é propalado a partir de uma unidade de propagação X “sumir” das redes sociais não acarretaria, a nosso ver, o término de ciclo de um complexo de memes.

Essa unidades seriam meros veículos para determinadas práticas linguístico-midiáticas. Como argumentamos, esses fenômenos são desencadeados por um complexo de práticas de produção e distribuição linguístico-midiáticas. Essas práticas, enquanto um memeplexo, podem ser alocadas em outras unidades de propagação – de fenômenos que tenham outros nomes/designações. Por isso, o complexo de memes que dá origem às referidas unidades em si não se encerra.

O que há é uma percepção cíclica de auge e queda desses fenômenos, mas as práticas estão lá para serem transmitidas pelos internautas e evoluírem, por meio de novas unidades de propagação, assim que as configurações da memesfera forem propícias. Por isso, ao longo do Capítulo 1, insistimos na diferenciação epistemológica dos termos em questão e na necessidade de considerar as dimensões interna e externa de propagação do memeplexo linguístico-midiático.

O exemplo, a seguir, na figura 68, evidencia essa percepção cíclica de auge e queda dos fenômenos e não das práticas que os sustentam:

Figura 68: Internauta indica a transferência de práticas linguístico-midiáticas para nova unidade de propagação.95 Disponível em:< http://topsy.com/s?q=que%20deselegante&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

Pela figura 68, o internauta afirma que o fenômeno memético “Hoje é dia de rock, bebê” cederá lugar para “Que deselegante” na rede social em questão. Isso sugere que um complexo de memes carregado pela primeira dessas expressões passará a ser alocado em uma nova unidade de propagação – a expressão memética “Que deselegante”. Tal substituição, conforme o internauta coloca, aparenta indicar a transferência de práticas

95 Vídeo que deu origem ao fenômeno memético local “Hoje é dia de Rock, bebê”: Disponível em: <

http://www.youtube.com/watch?v=CQYFGjQbYeE&feature=related>.Acesso em 02 jan. 2014.

midiáticas oriundas de uma unidade de propagação de um fenômeno X para outro Y. Por esse viés, vemos que os fenômenos meméticos podem ter um auge e sua queda, mas um complexo de memes que os sustenta não parece ser extinto, uma vez que esse complexo pode ser alocado em novas unidades de propagação, impulsionando o surgimento de novos fenômenos meméticos. Como esse complexo evoluirá, somente suas diferentes relações/conexões dirão.

Como etapa seguinte de nossas análises, observaremos a distribuição da ocorrência dos tipos de Atitude nas linhas de concordância dos corpora de “Que deselegante” e

“#Tenso”. Em outras palavras, os gráficos 4 e 5, a seguir, nos mostram como os internautas avaliaram os itens animados e inanimados constantes dos gráficos 2 e 3.

Gráfico 4: Detalhamento da avaliação empregada pelos internautas no uso da expressão “Que deselegante”.

Gráfico 5: Detalhamento da avaliação empregada pelos internautas no uso da expressão “#Tenso”.96

96 Decidimos não detalhar as ocorrências de Julgamento, pois, como se percebe pelo gráfico 5, é evidente e ampla a transformação de padrões que o surgimento dessa categoria agrega ao processo propagação da expressão investigada.

Para compreender a evolução da expressão memética “Que deselegante” através do gráfico 4, é preciso lembrar ao leitor que ainda na sua menção original, proferida por Sandra Annenberg, a expressão tinha um padrão de Atitude classificado como Julgamento (Condenação Social – Propriedade; polaridade negativa), porém, após ser adotada pelos internautas, os mesmos modificaram tal padrão de uso e, consequentemente, de replicação.

Assim, o referido padrão é deslocado, para outras categorias antes não verificadas, isto é:

Afeto e Apreciação, respectivamente, conforme figuras 69 e 70.

Figura 69: Evolução de padrão da expressão “Que deselegante” – de Julgamento para Afeto. Disponível em:<

http://topsy.com/s?q=que%20deselegante&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

Figura 70: Evolução de padrão da expressão “Que deselegante” – de Julgamento para Apreciação. Disponível em:< http://topsy.com/s?q=que%20deselegante&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

Para compreender a evolução da expressão memética “#Tenso”, pelo gráfico 5, é preciso ter em mente que esta unidade, ainda na sua menção original, tinha um padrão de Atitude classificado como Afeto (Insegurança – Surpresa; polaridade negativa). Ocorre que, quando a expressão passa a ser utilizada pelos internautas, os mesmos transformam por completo tal padrão de uso e, consequentemente, afetam a replicação deste. Assim, em primeiro lugar, o referido padrão é deslocado massivamente para outras categorias antes não verificadas, isto é: Julgamento e Apreciação. Em primeiro lugar, vejamos a indicação dessa evolução pela categoria de Apreciação, conforme a figura 71.

Figura 71: Evolução de padrão da expressão “#Tenso” – de Afeto para Apreciação. Disponível em <

http://topsy.com/s?q=%23tenso&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

A investigação da expressão “Que deselegante” revelou, conforme o gráfico 4, novos padrões de funcionalidade, inclusive dentro da própria categoria de Julgamento, onde se percebe uma evolução baseada em replicação (padrão inicial se mantendo), porém, tal replicação coexiste, com menor impacto, sobre as evoluções por retransmissão (evolução com reelaboração, desestabilizando o padrão inicial). Observemos tal coexistência pelas figuras 72, 73 e 74, respectivamente:

Figura 72: Evolução dentro da categoria de Julgamento - de Propriedade (-) para Capacidade (+)97. Disponível em:< http://topsy.com/s?q=que%20deselegante&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

Figura 73: Evolução dentro da categoria de Julgamento - de Propriedade (-) para Normalidade (-). Disponível em:< http://topsy.com/s?q=que%20deselegante&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

Figura 74: Evolução dentro da categoria de Julgamento - de Propriedade (-) para Tenacidade (-). Disponível em:< http://topsy.com/s?q=que%20deselegante&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

Essas evoluções por retransmissão surgem com base na estrutura das expressões que, por esse viés, permanecem fixas e assim vão sendo apropriadas, porém, seus propósitos são permeados pela reelaboração. Enquanto elementos linguísticos essas unidades de propagação evoluem por suas funcionalidades, amparado-se no critério de “design” (DENNETT, 1995), em vez de “fidelidade da cópia” (DAWKINS, 1979; 1982; RECUERO, 2006).

Os novos padrões de uso e de propagação, apontados no gráfico 5, mostram-nos que as expressões meméticas, mais especificamente o caso de ‘#Tenso”, após adentrarem a Rede, passaram a ser usadas com a função de possibilitar que, do ponto de vista da Memética, os

97 Na linguagem do futebol, na cidade do Rio de Janeiro, o termo “entortar” significa ter estilos de dribles (uma habilidade) que deixam o adversário impotente, zonzo, ou “torto”.

internautas fossem vistos, nesse contexto de propagação, mais como “designers” (DENNETT, 1995) do que como “replicadores” (DAWKINS, 1979; 1982; RECUERO, 2006).

No que concerne ao uso dessas expressões meméticas e à veiculação das práticas e unidades que elas carregam, esses internautas puderam ser vistos mais como “agentes sociais” (no sentido de Fairclough, 2003) do que sujeitos apassivados98 no processo de propagação dos fenômenos meméticos. Esse aspecto tem impacto, também, sobre o tipo de

“longevidade” apresentado por ambos os fenômenos em análise. Ou seja, tais fenômenos tiveram sua longevidade impulsionada por uma orientação de produção das unidades de propagação ao invés de uma perspectiva de recepção destas.

Baseando-nos nas postulações de Dennett (1995), a evidenciação da longevidade majoritariamente pela produção dessas unidades de propagação nos permite inferir que os padrões de uso e de propagação das expressões meméticas aqui investigadas, conforme gráficos 4 e 5, revelaram que o internauta reelaborou a funcionalidade de “Que deselegante” e de “#Tenso”. Isto é, do ponto de vista da análise relacional, a evolução dos fenômenos meméticos em questão demonstrou desenvolver um padrão de propagação externalista.

Exemplos dessa coexistência de padrões (Afeto junto com outras categorias de Atitude) e a surpreendente transformação99 das funcionalidades de “#Tenso”, representada pela maioria esmagadora de ocorrências da categoria de Julgamento, serão mostrados em todas as suas classificações, a partir das figuras 75, 76, 77, 78, 79:

Figura 75: Evolução não-algorítmica de #Tenso - de Afeto (-) para Julgamento Normalidade (-).Disponível em <

http://topsy.com/s?q=%23tenso&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

98 Sugerimos ver, também, o posicionamento de Distin (2005), citada em Fontanella (2009). Segundo o autor

mencionado(2009), Distin (2005) defende o papel da “agência humana consciente” no processo de propagação de memes.

Sugerimos, também, contrastar o posicionamento de Distin (2005) com o de Mameli (2005). Pelo presente estudo,

entendemos que a variação nos padrões de propagação se deu em função das configurações dos ambientes digitais públicos, como apontamos em 2.3.

99 Do ponto de vista das analogias meméticas, Dennett (1995, p. 218) indicaria, que houve uma adaptação dessas funções, uma vez que o autor afirma (apoiando-se na Filosofia da Biologia, na analogia original) que “nenhuma função é eterna”. Em contraste ao pornto de vista de Dennett (1995, p; 218), sugerimos ver, também, o ponto de vista da exaptação proposto por Gould e Vrba (1982).

Figura 76: Evolução não-algorítmica de “#Tenso” - de Afeto (-) para Julgamento Capacidade (-).Disponível em

<http://topsy.com/s?q=%23tenso&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

Figura 77: Evolução não-algorítmica de “#Tenso” - de Afeto (-) para Julgamento Tenacidade (-). Disponível em

<http://topsy.com/s?q=%23tenso&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

Figura 78: Evolução não-algorítmica de “#Tenso” - de Afeto (-) para Julgamento Propriedade (-). Disponível em

<http://topsy.com/s?q=%23tenso&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

Figura 79: Evolução não-algorítmica de “#Tenso” - de Afeto (-) para Julgamento Honestidade (-). Disponível em

<http://topsy.com/s?q=%23tenso&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

Vejamos, a seguir, os resultados de uma análise linguística mais refinada acerca da propagação de “Que deselegante” e “#Tenso”, respectivamente:

Gráfico 6: Itens avaliados por Afeto na propagação de “Que deselegante”.

Gráfico 7: Itens avaliados por Afeto na propagação de “#Tenso”.

A partir da comparação entre os gráficos 6 e 7, os dados mostraram que, às vezes, esses usos não estiveram gerando uma dinâmica de “postar e/para receber resposta”

propriamente dita entre o internauta e outras pessoas para as quais ele direcionaria essas unidades de propagação. Para a expressão “Que deselegante”, no gráfico 6, observemos os seguintes itens mais amplamente avaliados por Afeto: (O Eu : 10%); (O Eu, seu estado de espírito e de saúde, respectivamente: 10% e 17%). Para a expressão “#Tenso”, obtivemos majoritariamente os seguintes elementos avaliados: (O Eu e suas reações: 38%); (O Eu e seu estado de espírito ou condição existencial: 14%). Um exemplo de “Que deselegante” que

ilustra esses casos em que as expressões indicaram avaliação por Afeto, a ser visto pela figura 69, neste Capítulo, mostra que essas postagens nem sempre demandavam uma resposta. Nesse sentido, é possível que esses usos estejam ocorrendo de acordo com as configurações de produção e distribuição de linguagem desses espaços, onde a interação entre internautas apesar de ser praticamente demandada, pode, entretanto, vir a não ser estabelecida.

A seguir, pelos gráficos 8 e 9, vejamos os elementos avaliados pela categoria de Julgamento nos dois corpora.

Gráfico 8: Elementos avaliados por Julgamento na propagação de “Que deselegante”.

Gráfico 9: Itens avaliados por Julgamento na propagação de “#Tenso”.

Chama a atenção a ocorrência de Julgamento negativo dirigida aos usuários das redes sociais (gráfico 8: Usuário amigo do Twitter: 22%; Demais usuários do Twitter: 24%;

Usuários do Orkut: 1%/ Usuários do Facebook: 1% - um total de 48% dessas avaliações). Isso parece querer dizer que as relações interpessoais em ambientes digitais públicos são marcadas por uma certa desarmonia, o que ratifica percepção defendida por Recuero (2005) acerca das relações entre internautas, quando a autora nos diz que “não se pode [...] deduzir que não exista conflito em uma comunidade virtual” (RECUERO, 2005, p. 10).

Vejamos, pela figura 80, um exemplo que ilustra esse tipo de “desarmonia” entre internautas no Twitter ( o usuário do perfil @que_deselegante X a usuária do perfil

@SophiaOfDreams), através do uso da expressão em destaque, indicando Julgamento:

Figura 80: “Que deselegante” indicando desarmonia entre dois internautas pela polaridade negativa de Julgamento. Disponível em:< http://topsy.com/s?q=que%20deselegante&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

No caso de “#Tenso”, as avaliações de Julgamento apresentam outras facetas, quando se analisa seu objeto. Ou seja, enquanto a expressão “Que deselegante” foi mais usada para avaliar outros usuários que não fossem o próprio internauta, “#Tenso” foi mais direcionado para o próprio usuário da expressão (gráfico 9: O Eu: 20%), conforme exemplo na figura 81:

Figura 81: “#Tenso” avaliando o próprio internauta por meio de Julgamento, e não outros itens. Disponível em

<http://topsy.com/s?q=%23tenso&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

A diferença de uso entre “#Tenso” e “Que deselegante”, nas avaliações indicadas por Julgamento, pode ter relação com o padrão de surgimento dessas expressões.“Que deselegante” surgiu e seguiu sendo direcionada para avaliar outros itens pela categoria de

Atitude em questão, apesar de também ter seu uso com Julgamento voltado para “o Eu”

(gráfico 8: 7%). Já “#Tenso”, que também surgiu avaliando outros itens, mas por Afeto, avançou mais em dois aspectos, portanto: tipo de avaliado e tipo de avaliação.

Agora, pelos gráficos 10 e 11, vejamos, a seguir, o detalhamento dos elementos avaliados através da categoria de Apreciação.

Gráfico10: Itens avaliados por Apreciação na propagação de “Que deselegante”.

Gráfico11: Itens avaliados por Apreciação na propagação de “#Tenso”.

Por fim, pelos gráficos 10 e 11, os resultados sugerem que o internauta utiliza tais unidades de propagação para se direcionar, também, a elementos inanimados e tipos de

fenômenos naturais/semióticos (ver figura 67, neste Capítulo). Esse referido processo amplia as possibilidades de uso dessas unidades de propagação, tendo impacto sobre a carga de reelaboração percebida nos usos das expressões meméticas investigadas. Assim sendo, pela ocorrência de Apreciação – coexistindo com o padrão inicial de Julgamento, portanto –, expandem-se as funcionalidades e o alcance linguístico dessas unidades de propagação e das práticas que tais unidades carregam.

Outro aspecto observado, pelo gráfico 11, é que os usos de “#Tenso” são passíveis de indicar avaliação, também, por polaridade positiva (Produções Intelectuais/objetos: 13%).

Nesse sentido, “#Tenso” evolui de seu propósito de crítica negativa para outro de elogio, conferindo apreciação positiva ao elemento avaliado, como veremos, por exemplo, na avaliação do vídeo a que a internauta faz referência na figura 82:

Figura 82: “#Tenso” avaliando itens inanimados e evoluindo por meio de polarida positiva. Disponível em <

http://topsy.com/s?q=%23tenso&window=a>. Acesso em: 20 dez. 2013.

Autores como Carraciolo; Penner; Filho (2011) tendem a caracterizar a linguagem surgida na propagação dos fenômenos de memes como “a linguagem da diversão na Internet”

ou de cunho "humorístico e de divertimento/entretenimento”. Por outro lado, tendo em vista a complexidade da rede, nossos resultados sugerem que o uso que os internautas fazem do complexo de memes que compõe as expressões investigadas vai além do sentido da

“diversão”. Portanto, essas unidades de propagação, formadas a partir de um complexo de

“diversão”. Portanto, essas unidades de propagação, formadas a partir de um complexo de

No documento Jaime de Souza Júnior (páginas 123-176)