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ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS NARRATIVAS

Efetuada a etapa de coleta de dados com o Professor Coordenador, foram realizadas pelo pesquisador e pela orientadora diversas leituras do material produzido, processo este delicado e dedicado à apreensão de subsídios para o desenvolvimento das análises que serão expostas a seguir.

Vale destacar que a escolha do instrumento de coleta de dados caracterizou-se como um importante período de desenvolvimento11 da pesquisa (e do pesquisador), pois a escolha de um instrumento é fundamental para se atender aos objetivos enunciados pela pesquisa.

A quantidade e a qualidade das informações obtidas validaram a relevância da história de vida como instrumento de coleta de dados, pois ao registrarmos acontecimentos, fatos, conceitos, influências, crenças, negações e lembranças, podemos apreender significados e sentidos, contribuindo

11 A palavra “desenvolvimento” é visto pelo pesquisador como um processo de reflexão e amadurecimento

significativamente para a compreensão da realidade, assim como apreender expressões de pensamentos e sentimentos antes não percebidos (Cunha 1997).

Nas três entrevistas foi possível presenciar (e registrar) a sensibilidade12 do entrevistado ao abordar alguns acontecimentos de sua vida, pleno de sentidos, carregados de emoção, revelando o que se esconde por trás das aparências.

Além disso, narrar a história de vida possibilitou ao entrevistado momentos de reflexão, análise, formação; tal conclusão é plausível, pois ao final da primeira entrevista o participante revela que:

(...) lembrei de histórias muito ricas da minha vida e, ao relatar essas histórias, elas passaram a ter um outro sentido para mim. Acho que estou saindo com a sensação de alívio.

Essa questão já fora antes anunciada por outros pesquisadores que trabalham com narrativas de história de vida. Cunha (1997), ao defender as narrativas como instrumentos pedagógicos e de pesquisa, afirma que:

“Quando uma pessoa relata os fatos vividos por ela mesma, percebe-se que reconstrói a trajetória percorrida dando-lhe novos significados. Assim, a narrativa não é a verdade literal dos fatos, mas, antes, é a representação que deles faz o sujeito e, dessa forma, pode ser transformadora da própria realidade. Esta compreensão é fundamental para aqueles que se dedicam a análise de depoimentos, relatos e recuperações históricas, especialmente porque a estes se agregam as interpretações do próprio

12 Durante as entrevistas foram presenciados momentos em que o entrevistado se cala (revelando

hesitação), enche os olhos de lágrimas, canta (por diversas vezes), recita frases, enfim, revela suas emoções ao relatar sua história de vida.

pesquisador, numa montagem que precisa ser dialógica para poder efetivamente acontecer. Trabalhar com narrativas na pesquisa e/ou no ensino é partir para a desconstrução/construção das próprias experiências tanto do professor/pesquisador como dos sujeitos da pesquisa e/ou do ensino. Exige que a relação dialógica se instale criando uma cumplicidade de dupla descoberta. Ao mesmo tempo que se descobre no outro, os fenômenos revelam-se em nós.” (p. )

Assim, compreendemos que a história de vida, como recurso metodológico de coleta de dados, contribui significativamente para a investigação de caráter qualitativo, pois possibilita uma maior exploração dos elementos subjetivos que se revelam pela fala do sujeito sobre si mesmo.

A história de vida permite apreender mais concretamente a constituição do sujeito por meio das experiências vividas em sua história. Ao focar o homem como síntese de múltiplas relações, Batista contribui para nossas análises afirmando que:

“(...) os homens se realizam por intermédio da história que constroem, desenvolvendo-se a partir de condições biológicas e sociais. Essas condições representam as bases a partir das quais, ao longo de uma histórica evolução, desenvolve-se, por meio da atividade, o psiquismo humano.(...) Entendemos que a formação do ser humano representa um processo que sintetiza o conjunto de fenômenos produzidos pela história humana, de tal forma que a construção do indivíduo se situa no cerne de uma construção mais ampla: a da humanidade.” (Baptista, 2004:85)

Ciampa (1990) caracteriza a identidade como um contínuo de transformação13 que ocorre ao longo vida de cada um de nós, processo este que se inicia antes mesmo de nascermos14, contribuindo para a formação de uma singularidade que se dá por meio de processos de identificação e de diferenciação. Baptista (2003), ao discutir identidade, memória e história da psicologia, descreve com precisão o processo de constituição do “eu” na Teoria da Identidade de Ciampa, ao afirmar que:

“O eu se configura a partir das relações sociais que permitem a cada um observar papéis, assumi-los e obter a confirmação do seu exercício através de outros indivíduos significativos. Por um lado, as vivências desses papéis que se vão dando ao longo da vida necessitam ser permanentemente relembradas para constituírem o elemento que dá continuidade ao eixo das biografias individuais. Por outro lado, a possibilidade de constituição deste eu de forma mais ou menos autônoma ocorre na medida em que a vivência simultânea da teia de papéis permite que sejam exercidos de forma diferente dos modelos, estando, portanto, na questão da originalidade da vivência a possibilidade de transformações. Esta perspectiva de identidade que se aplica aos indivíduos, e conseqüentemente recebe a denominação de identidade individual, por si só já considera as questões históricas como parte de sua constituição. A memória da própria história é a condição para apreensão desse elemento de igualdade da própria identidade, que constitui o eixo da biografia pessoal”. (Baptista, 2002:34)

Assim sendo, podemos afirmar que a identidade pode ser compreendida como a síntese do social no individual, marcada por uma constante

13 Transformação caracterizada pelo autor como Metamorfose.

transformação, que deriva de processos que articulam fatores biológicos, psicológicos, culturais e sociais em permanente interação dialética (Baptista, 2003).

Para a análise dos dados, foram realizados diferentes procedimentos de sistematização. Assim, após as várias leituras das entrevistas, foram desenvolvidas categorias que pudessem contribuir para a compreensão da constituição de personagens e papéis assumidos pelo sujeito. Para isso,selecionamos trechos que tratam das seguintes questões: a mãe defensora; o pai ausente; o avô admirado; a primeira professora; as outras professoras, pelas lembranças da mãe; a auto-imagem; as análises realizadas pelo entrevistado nos momentos de entrevista; os professores do ensino médio; a atuação docente; os desafios de ser um bom coordenador; a paixão pelo ensino e pela coordenação do período noturno; as críticas à política educacional.

Tal procedimento foi adotado, pois a riqueza de informações presentes na narrativa da história de vida do entrevistado possibilitaria a abordagem e o aprofundamento da análise de vários outros pontos15 da entrevista, mas optou- se por focar a análise na constituição identitária profissional do professor coordenador entrevistado.

Realizada a etapa de preparação e seleção dos dados, foi possível iniciar o processo de análise com a colaboração do entrevistado. A participação deste no processo de análise colaborou significativamente para a elucidação dos

15 A relação familiar, a sexualidade, a luta pelo respeito à opção sexual poderiam ser pontos a serem

aprofundados nesta pesquisa; entretanto, optou-se por delimitar a análise à formação do professor coordenador pedagógico.

trechos selecionados, possibilitando com isso uma compreensão mais profunda dos dados.

Berger & Luckmann (1998), ao discutirem a sociedade como uma realidade subjetiva, revelam a exteriorização, a objetivação e a interiorização como momentos de reconhecimento e compreensão dessa sociedade. Compreender a sociedade é uma ação que ocorre por meio do processo de socialização pelo qual passamos no decorrer de nossa existência; o primeiro deles é denominado de socialização primária e se dá com a inserção do indivíduo num grupo social, logo no momento que nascemos “... o individuo não nasce membro de uma sociedade. Nasce com predisposição para a sociabilidade e torna-se membro da sociedade” (1998:176).

Na socialização primária é possível perceber um processo de interiorização que se relaciona com a identificação (esta por sua vez impregnada de emoção) da criança com os significados a ela expostos, possibilitando com isso, a apreensão de conceitos, papéis e significados que serão fundamentais para a constituição de sua identidade.

Cabe destacar que identidade e o mundo social são apreendidos subjetivamente pela criança que passa pelo processo de socialização, criando com o decorrer desse processo uma abstração16 progressiva de papéis e atitudes que darão condições mais tarde ao indivíduo de passar para a socialização secundária (a ser discutida no decorrer desta pesquisa).

Diante das considerações efetuadas, apresentamos a seguir alguns fragmentos da entrevista, que focam os personagens, mãe defensora, pai

16 A abstração progressiva é entendida nesta pesquisa segundo os conceitos defendidos por Berger &

Luckmann,, que afirmam : “Esta abstração dos papéis e atitudes dos outros significativos concretos é

ausente e o avô admirado e outros que serão apresentados juntamente com a análise.

A mãe defensora

O entrevistado por diversas vezes cita a mãe como uma figura (personagem) forte, que em sua vida teve um papel decisivo para a sua formação. Ao analisar os relatos sobre sua mãe, podemos apreender das entrevistas as seguintes falas:

“Minha mãe é uma mulher forte, é um referencial para todos de casa (...) Minha mãe (...), era muito esforçada e sempre me dizia que estava fazendo tudo aquilo, pois não queria que nada me faltasse (...) Naquela época, eu não entendi; hoje sinto orgulho pela atitude dela.”

Nosso entrevistado logo no início da primeira entrevista já começa a apontar a força da representação da figura da mãe na constituição familiar e para consolidar a figura da mãe forte ele afirma:

(...) Naquela semana minha mãe foi chamada para prestar esclarecimentos para a diretora (...) minha mãe ficou um longo tempo dentro da sala e, quando ela saiu, me pareceu muito brava, não comigo, mas com a diretora, pois agradeceu a diretora pela atenção com que havia me acolhido, porém eu não mais estudaria naquela escola. Naquela época, eu não entendi; hoje sinto orgulho pela atitude dela.

Nas três entrevistas realizadas, foi possível notar reiteradamente a participação da mãe no processo de constituição de suas lembranças. Mais do que isso, a figura materna, por seu relato, foi fundamental para que o sujeito pudesse superar as condições adversas da infância e adolescência nas conflituosas relações com um pai autoritário, punitivo e sem afeto. Foram as atitudes da mãe que permitiram que o sujeito pudesse estudar e, ao longo do tempo, estabelecer e realizar um projeto de vida. Essa participação em sua vida é evidenciada pelo reconhecimento constante da presença da mãe em sua vida, sobretudo nos momentos mais difíceis, em que ela colocou-se em sua defesa, apoio e acolhimento, o que a revela como esteio marcante para a constituição de sua identidade. Processo inverso ocorre com o entrevistado, ao referir-se às relações com o pai.

O pai ausente

(...) Meu pai é uma pessoa muito difícil, sempre ausente (...) Eu tenho muita dificuldade de me relacionar com ele e isso acontece até hoje.

(...) Ele sempre foi uma pessoa difícil, minha relação com ele é péssima! (...) era uma necessidade de impor uma posição de empregado e patrão (...), pois dizia que era assim que era a nossa relação no armazém. Assim, aos treze anos passei a conviver com um estranho pai, que impunha uma relação de patrão e empregado, me destratando diariamente em público.

Podemos observar que várias foram os fragmentos das falas para retratar o constrangimento e mágoa em sua relação com o pai. Surgi nessa relação ressentimentos que vão se constituindo cada vez mais presentes por parte de nosso entrevistado em sua relação com o pai:

(...) Tive muita vergonha dessa época, pois era tratado aos gritos, era humilhado constantemente na frente das pessoas e hoje faço questão de me destacar pela educação que meu pai nunca teve, mas, se alguém grita comigo, eu perco o controle e levanto a voz no mesmo tom (...) Era uma pessoa de pouco trato, tratava mal os clientes e quase diariamente me destratava na frente das pessoas

No parágrafo acima é possível notar que tantos constrangimentos vivenciados em sua relação com o pai contribuíram para a constituição da identidade de nosso entrevistado, pois exatamente ao identificar aspectos dignos de negação na postura do pai, esse fator contribui como um processo de negação na constituição da identidade rompendo definitivamente com papel exercido pelo pai ausente ou o pai patrão.

Ao analisar essas falas, podemos observar que a relação do entrevistado (reveladas por meio dos relatos) com o pai foi marcada por conflitos, ou até mesmo por violência psicológica, pois o pai ausente e mais tarde o pai-patrão contribuíram para constituí-lo como um personagem que em muito se diferencia e até mesmo se opõe à figura paterna, ao contrário dos modelos identitários dados pela mãe e pelo avô, a ser apresentado a seguir.

O avô admirado

Nota-se que a história de vida é um recurso riquíssimo para a realização das pesquisas que buscam desvelar aspectos constitutivos da identidade humana, pois possibilitam a apreensão uma grandiosa quantidade de informações, que podem só pode ser equiparada com a qualidade das mesmas (informações) e essas após serem exaustivamente lidas e relidas possibilitam a constituição de núcleos de análises a partir de pontos que se fizeram mais presentes no processo de coleta de dados.

Assim podemos notar que durante as falas de nosso entrevistado, no desenvolvimento do registro de sua história de vida, o avô surgiu como uma personagem vencedora, uma figura positiva, lutadora, que, apesar de todos os obstáculos (pobre, nordestino, sem estudo, sem família), consegue superar os desafios e formar sua família, criar os filhos e sempre que podia ajudava na formação dos netos, como foi possível notar-se nas entrevistas.

(...) Meu avô era nordestino (...); parecia ter orgulho, pois sempre fazia questão de contar para todos os netos que veio do nordeste de carona e, de caminhão em caminhão, chegou a Limeira, cidade que aos dezesseis anos de idade começou a fazer sua própria vida.

(...) Meu avô foi uma pessoa que considero demais, pois mesmo sem ter escolaridade nenhuma, trabalhou muito, abriu um bar, que se transformou em uma sorveteria e mais tarde se tornou uma mercearia (...). Tinha uma preocupação

em atender bem as pessoas e tinha uma boa relação no bairro em que morava.

O avô é descrito como uma pessoa educada, centrada e marcada por características muito valorizadas por nosso entrevistado. O avô ao se configurar como um vencedor (que apesar de todos os obstáculos enfrentados consegue superar as dificuldades) passa a tomar as atenções do neto, como podemos comprovar com os relatos que seguem:

(...) Era um arrimo de família, pessoa simples, sem formação, mas ponderado e educado; sabia se posicionar e, argumentando com clareza, constantemente colocava meu pai em xeque.

Os personagens que foram acima apresentadas (mãe, pai e avô) tiveram no decorrer das falas do entrevistado uma posição de destaque. Nos relatos do entrevistado, foi possível verificar que todos eles estavam carregados de emoção, esta (emoção) fundamental no processo de identificação e interiorização de papéis que a criança passa no período da socialização primária. Esse processo de identificação com os diferentes tipos de personagens com a qual a criança vive, possibilita a interiorização de papéis, tornando-os seus, num processo de apreensão de modos emocionais a si mesma, possibilitando a constituição de uma identidade subjetivamente coerente e plausível (Berger & Luckmann, 1998).

Podemos afirmar que o processo de constituição da identidade se dá por meio de uma relação dialética entre identificação e diferenciação de papéis que

ocorre durante a vida, processo este (de identificação e diferenciação) que participa do engendramento da subjetividade.

Ciampa (1990), ao definir o processo de desenvolvimento da identidade, lembra que a identidade pode ser pressuposta, posta e reposta, fases estas fundamentais para apreendermos a dinâmica da metamorfose no processo de constituição da identidade.

Ao analisarmos as falas de nosso entrevistado, podemos observar que diferentes papéis são adotados nas relações com cada um dos familiares17, revelando uma transformação da identidade inicialmente “posta” (atribuída no momento de sua inserção social) para uma identidade “reposta”, constituída a partir de sua forma de apreender os significados sociais e de atribuir sentido a eles (significados), alterando significativamente, com isso, sua formar de ser e agir no mundo.

Ao falar da mãe, o entrevistado revela o papel do filho dedicado, que assume o desejo da mãe de estudar, tomando-o para si, o que o leva à “luta” constante para continuar estudando, chegando à formação superior. Isso revela um desejo da mãe, projetado no filho, tornando-se uma luta dela para garantir a ele aquilo que para ela não foi possível, mas que ele também toma para si, tornando-se um projeto próprio de vida. Ele permanece trabalhando no armazém, poupando a mãe da difícil relação estabelecida com o marido. Em seus relatos sobre a relação com o pai, nosso entrevistado revela o papel do filho insurgente que se recusa a aceitar a postura e a profissão adotada pelo

17 Quando perguntado ao entrevistado sobre os outros parentes citados na entrevista, como tios e primos o

entrevistado revela que: “(...) todos estiveram presentes e participaram da minha formação, entretanto, a

mãe e o avô (falecido) foram as pessoas que mais marcaram a minha infância, pois ambos eram bons e a minha com ele era muito positiva. Pode até parecer relato de um menino minado, mas não é; quando era necessário eu levava bronca de ambos e até depois de formado meu avô ainda me aconselhava sobre a postura ética que eu teria que ter no magistério”. (palavras do entrevistado).

pai; tal relação contribuiu significativamente na constituição da identidade de nosso entrevistado, pois tanto a figura do pai ausente como a do pai patrão (severamente criticadas pelo filho) se constituíram como uma negação de papel, ou seja, reprovar o papel do “pai ausente” e do “pai patrão” contribuiu para a construção de um personagem muito diferente, ou mesmo oposto, à figura paterna, o que se revela no sujeito sensível, admirador e fruidor de obras artísticas, que gosta de tocar violão e cantar. Esse é um dos elementos fundamentais para a compreensão da construção do personagem professor, pois a música e a poesia são levadas para a sala de aula, tornando-o um professor diferente, preocupado com a aprendizagem do aluno e buscando maneiras de tornar suas aulas produtivas, o que consegue justamente por meio de sua sensibilidade artística.

A formação escolar

Se, por um lado, a socialização primária (Berger & Luckmann, 1998) representa a primeira fase do processo de socialização, fundamental para que o indivíduo se humanize, pela interação com o mundo social, tornando-se capaz de interiorizar, subjetivar e objetivar esse mundo, a socialização secundária é o processo que insere o indivíduo já socializado em outros setores da sociedade, extrapolando as relações do núcleo familiar, representando uma abertura para a interiorização de outros significados, representações e conceitos, próprios dos novos grupos e instituições sociais das quais poderá fazer parte.

Cabe lembrar que, de acordo com os pressupostos desses autores, nessa etapa da socialização o indivíduo já possui o “outro generalizado”, que

dará condições ao indivíduo de analisar e contestar o que lhe foi objetivado, condicionado por seu universo simbólico.

Assim, seguindo os pressupostos da socialização secundária de Berger & Luckmann (1998) e os pressupostos da Teoria da Identidade de Ciampa (1990), serão expostos, a seguir, alguns trechos selecionados das entrevistas, cujo foco serão as escolas pelas quais passou e os professores que foram lembrados nos momentos relatados em sua história de vida.

Os relatos seguem a ordem cronológica da história de vida, pois acreditamos que essa estrutura de seleção das falas possibilitará uma melhor compreensão das análises realizadas a seguir.

Referindo-se à primeira experiência escolar, o entrevistado lembra-se da primeira professora:

(...) Eu não lembro do nome dessa professora, mas consigo lembrar de sua aparência, ela era freira, jovem e magra, de pele clara, usava aqueles trajes cinzas, com aqueles lenços brancos na cabeça (...); acho que ela era deficiente, mas tinha uma vergonha enorme de perguntar.

Gostava muito dela, pois ela sempre nos contava histórias em suas aulas e constantemente falava comigo e me elogiava. Lembro-me que ela era muito educada e atenciosa, e usava uma coleção de histórias de disquinhos coloridos, eu gostava tanto daquelas histórias que minha