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Numa manhã de maio de 2006, após um primeiro contato, tive a possibilidade de entrevistar o professor coordenador, sujeito desta pesquisa.

Essa entrevista ocorreu em uma casa de café, localizada num Shopping Center. A escolha do local foi proposital, pois uma casa de café poderia romper com o cotidiano da escola e evitar interrupções, já vivenciadas por outros pesquisadores, como relata Christov, em seu artigo “Garota Interrompida: uma metáfora a ser enfrentada”.

Na casa de café, escolhemos a mesa mais distante possível da movimentação e optamos por pedir dois chocolates quentes e dois pães de queijo para nos aquecer naquela gélida manhã. Nesse momento, iniciei os trabalhos, ligando o gravador e informando meu propósito, relatando que se tratava de uma pesquisa sobre Identidade, por mim desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação: Psicologia da Educação, da PUC São Paulo. Além disso, ressaltei que aquele poderia não ser o único encontro, pois como se tratava de história de vida, possivelmente não teríamos condições de dar conta de concluir o tema numa única entrevista; atento a minha fala, o entrevistado demonstrava certa tranqüilidade e, muito sorridente e solicito, transmitia uma calma que muito ajudou o entrevistador.

Cabe informar ao leitor que todos os nomes citados nas entrevistas foram substituídos com o propósito de se manter em sigilo a identidade do participante. As alterações aconteceram com a ajuda do entrevistado, que ao demonstrar um profundo interesse nesse processo, sugeriu todos os nomes registrados nas entrevistas.

Após tecer essas considerações, iniciamos a entrevista, conforme segue:

Entrevistador: Hoje seria interessante iniciar com as histórias de sua infância, sua adolescência, a família, os colegas, a escola, enfim, me fale sobre juventude.

W: Acho difícil lembrar das histórias da minha juventude, pois aos quarenta e dois anos fica complicado lembrar da infância, mais vou relatar o que acredito serem momentos que ficaram marcados na minha memória.

Sabe, Marcel, eu vim do interior do Estado (São Paulo), morávamos em Bauru, minha família era muito pobre, e eu fui por treze anos o filho único da família, depois tive uma irmã. Minha mãe me dizia que éramos de família rica, pois meu avô, por parte de mãe, era funcionário da FEPASA e, após sua morte, a estabilidade pouco a pouco

desaparecendo e a minha avó e os meus tios se tornaram alcoólatras, tornando a situação familiar cada vez mais difícil.

Minha mãe é uma mulher forte, é um referencial para todos de casa. Ela estudou somente até o primeiro grau, e me lembro sempre que ela queria ser enfermeira, era o sonho dela, mas meu avô dizia que se ela quisesse estudar teria que sair de casa, pois filha (mulher) não tinha que estudar, pois isso era coisa de mulher sem vergonha.

Às vezes ela me dizia que, após casada, até tentou voltar a estudar para fazer enfermagem, mas nunca dava certo, pois meu pai também reprimia tal escolha, até o momento em que ela desistiu do sonho de ser enfermeira.

Acho que ela seria uma ótima enfermeira, pois sempre se mostrou muito prestativa e atenciosa e sempre que tinha alguém doente, precisando de uma ajuda na vizinhança, minha mãe era chamada. Lembro-me, como se fosse ontem, quando minha mãe foi ajudar uma vizinha que estava com o pai na fase final da vida, ela ajudava no banho, no tratamento, e até na hora morte daquele homem ela estava presente ajudando a família.

Meu pai é uma pessoa muito difícil... sempre ausente [nesse momento surge

um momento de silêncio, como se o entrevistado estive refletindo para avaliar cuidadosamente as palavras a serem registradas na entrevista; percebe-se no entrevistado uma certa hesitação ao relatar a postura do pai]. Eu tenho muita

dificuldade de me relacionar com ele e isso acontece até hoje. Ele sempre foi uma pessoa difícil, minha relação com ele é péssima! Porém, isso vou te relatar mais em frente.

O meu avô por parte de pai é nordestino, e teve uma vinda muito parecida com as histórias que conhecemos, marcada por muita pobreza. Na família, diziam que minha avó era filha de índios, de uma tribo localizada no interior de São Paulo e próximo ao Paraná.

Meu avô era nordestino e fazia questão de ser conhecido como “Zé Baiano”, parecia ter orgulho, pois sempre fazia questão de contar para todos os netos que veio do nordeste de carona e, de caminhão em caminhão, chegou a Limeira, cidade onde aos dezesseis anos de idade começou a fazer sua própria vida.

Sabe, Marcel, meu avô foi uma pessoa que considero demais, pois mesmo sem ter escolaridade nenhuma, trabalhou muito, abriu um bar, que se transformou em uma sorveteria e mais tarde se tornou uma mercearia. Era uma pessoa de pouca conversa, mas muito educado com as pessoas de fora (fregueses). Tinha uma preocupação em atender bem as pessoas e tinha uma boa relação no bairro em que morava. Todos o

conheciam. Lembro-me que meu pai dizia que meu avô até tinha sido convidado para se candidatar a vereador, mas ele não queria, pois dizia que política não era coisa boa.

Eu era o neto mais velho, e por essa razão eu acho tinha algumas regalias. Lembro-me que quando íamos visitar o meu avô, eu ia correndo ao bar, pois lá meu avô estava esperando para me deixar escolher todos os doces e balas que estavam em exposição no balcão; era uma delícia, pois lá tinha um suspiro quadrado e de diferentes cores e eu toda vez pegava de uma cor diferente.

Acho que posso a relatar a minha vida a partir dos cinco ou seis anos, momento em lembro de algumas coisas que posso contar. Eu me lembro que quando pequeno, quando tinha mais ou menos cinco ou seis anos de idade, nós morávamos numa rua onde as casas eram todas iguais. As casas tinham a mesma forma, era uma pequena vila, todas pertenciam ao dono da fazenda para a qual o meu pai trabalhava, localizada numa cidadezinha chamada Paraguaçu Paulista. Essas casas tinham em seus quintais uma grande plantação de trigo, é... ora era trigo, ora era milho, na safra de milho; comíamos o milho verde durante semanas, e acho que por essa razão, hoje não posso ver milho na minha frente.

Minha mãe nunca teve um trabalho, porém sempre procurava fazer alguma coisa para ganhar um dinheirinho extra. Ela cortava cabelo, vendia maçã do amor e sorvete nos finais de semana num campo de futebol, enquanto meu pai jogava bola. Ela sempre me levava junto com ela e sempre estava procurando algo para complementar a renda, era muito esforçada e sempre me dizia que estava fazendo tudo aquilo, pois não queria que nada me faltasse.

Fui sempre uma criança bastante gordinha, tinha muito problema de saúde, tinha muitas crises de bronquite e minha mãe me dizia que essa doença era por causa dos venenos que eram pulverizados pelos aviões na lavoura de milho e de trigo e que infestavam todas as casas da vila. Era uma fase difícil, pois me lembro que quando os aviões passavam veneno na lavoura, parecia estar serenando e logo depois tínhamos que tomar muito cuidado, pois as cobras invadiam as casas para fugir do veneno. Eu mesmo cheguei a achar uma [cobra] dentro do tanque de roupas. Quando minhas crises de bronquite começaram a se complicar, minha mãe e meu pai decidiram mudar de serviço e de casa, com o propósito de fugir do veneno que era passado naquelas lavouras.

Mudamos de cidade e fomos morar numa cidade chamada Jacarezinho, localizada no Paraná. Lá fomos morar numa casa de madeira. Era uma casa grande, que tinha um porão onde guardávamos as galinhas que a minha mãe criava. Lembro- me que nessa casa tivemos a vinda de uma tia (cunhada da minha mãe), que trouxe

três primos para morar com a gente, pois meu tio (irmão da minha mãe) estava trabalhando com o meu pai e naquela casa vivíamos em duas famílias.

Foi uma fase da minha vida de que tenho ótimas recordações, pois era eu, o André, a Tatiana e o Jean. O Jean e a Tatiana tinham quase a mesma idade que eu, assim tínhamos a agenda lotada, brincávamos o dia todo, sempre que podíamos íamos para sítios que se localizavam próximo de casa para colher frutas, legumes, milho, mandioca, fazíamos a feira, era uma farra. Dividíamos roupa, quarto, cama (mesmo porque os recursos eram poucos); tinha esses primos como irmãos e gostava de ter a casa sempre cheia.

Tínhamos ali uma vida boa, sem regalias, porém não me lembro de passarmos por grandes privações. Desse período, me lembro claramente da boa vida que tinha ao lado dos meus primos, pois todos nós tínhamos quase a mesma idade, e das discussões entre meu pai e minha mãe, em que meu pai culpava a minha mãe de gastar boa parte do nosso orçamento familiar para tratar dos meus tios e primos que viviam em nossa casa. Minha mãe tentava esconder a todo o momento essa situação e, para tentar reduzir essas reclamações, minha mãe e minha tia começaram a vender sorvete aos finais de semana no campo de futebol.

Eu adorava os finais de semana, pois íamos todos para o campo, minha mãe, minha tia, meus primos, era uma farra, corríamos ao redor do campo, chupávamos sorvete (nem sei se minha mãe tinha lucro, pois todos nós chupávamos sorvete), fazíamos de tudo e até de vez em quando brigávamos.

Você sabe... coisas de crianças.

Essa atitude foi ainda mais criticada pelo meu pai, que alegava que minha mãe e minha tia estavam biscateando, proibindo-a de vender sorvete. A implicância aumentava a cada momento, até o ponto em que os meus tios perceberam o quanto minha mãe estava sofrendo com aquela situação, que resolveram mudar de emprego e de cidade.

Ficamos pouco tempo em Jacarezinho, pouco mais de um ano. O meu pai fora despedido, pois não era uma pessoa de bom relacionamento no emprego e estava sempre sendo despedido; ele é competente, sabe trabalhar, porém chato, discordava das pessoas e constantemente estava destratando patrões e colegas de trabalho. Ali, naquela cidade, ninguém conhecia a nossa família, não tínhamos parentes próximos e começamos a passar por uma situação muito difícil, só não passamos fome por causa da minha mãe, que voltara a vender sorvete (agora com o consentimento do meu pai) enquanto o meu pai ia jogar futebol.

O tempo foi passando e a situação foi ficando cada vez mais difícil, meu pai não conseguia um outro emprego na cidade de Jacarezinho e o que a minha mãe ganhava não dava conta de sustentar as contas e eles chegaram a precisar da ajuda do meu avô (paterno) para as despesas da casa.

Graças a Deus, essa situação não demorou muito e novamente meu pai estava empregado. Dessa vez, fomos morar numa vila localizada num distrito próximo de uma usina de álcool, perto da cidade de Jacarezinho. Lá, fomos morar numa casa muito velha, sem forro, e víamos as teias de aranha que se formavam junto do telhado; a rua era de terra vermelha (não era asfaltada), e a rua toda era tingida de vermelho da terra que subia com os caminhões de cana, que passavam o dia todo.

Desse local tenho algumas lembranças que permanecem vivas até hoje, mesmo eu tendo sete anos. Consigo lembrar bem da minha idade, porque foi lá que eu entrei na escola.

Lá, nesse distrito, tinha uma escola de ciclo-I (naquele tempo chamado de 1o Grau) e eu entrei direto na primeira série (não fiz a pré-escola, porque a minha mãe achava que era desnecessário) e tinha uma professora. Eu não lembro do nome dessa professora, mas consigo lembrar de sua aparência, ela era freira, jovem e magra, de pele clara, usava aqueles trajes cinzas, com aqueles lenços brancos na cabeça (estranho descrever uma freira, pois todas são iguais); acho que ela era deficiente, mas tinha uma vergonha enorme de perguntar. Gostava muito dela, pois ela sempre nos contava histórias em suas aulas e constantemente falava comigo e me elogiava. Lembro-me que ela era muito educada e atenciosa, e usava uma coleção de histórias de disquinhos coloridos, eu gostava tanto daquelas histórias que minha mãe até comprou alguns deles para mim. Nessa coleção tinha a estória do velho, o menino e o burro que eu até hoje recordo. Fui um dos alunos alfabetizados com a cartilha Caminho Suave; sei disso porque minha mãe guardou por anos essa cartilha e acho que até hoje ela deve ter esse material guardado.

Desse período da escolaridade, me lembro bem que tive muita dificuldade de escrever, pois era canhoto e minha professora dizia que isso era errado e me pedia para usar uma régua e escrever com a mão direita. Adaptei-me ao pedido da professora e levei anos para me libertar da régua. Minha letra não é bonita até hoje; porém, com a régua ela era pior, tinha uma vergonha enorme de levar a régua para todos os cantos que sabia que teria de escrever.

Desse período me lembro pouco da escola, não tinha muitos amigos, pois me acho muito tímido, jeito este que trago desde criança. Dessa etapa da escolaridade me lembro somente de uma amiga, não me lembro do nome dela, porém me lembro de

sua fisionomia, me lembro da fisionomia da mãe dela. Essa minha amiga era minha vizinha e me lembro que ela não ia para a escola porque a família dela dizia que isso não era necessário para eles. Diziam que não era necessário estudar, pois quem daria um emprego bom para um negro formado? Essa fala ficou marcada na minha mente, pois minha mãe criticava muito essa atitude, pois aqueles pais impediam o desenvolvimento dos filhos, tal qual o meu avô impediu o desenvolvimento dela em seu sonho de ser enfermeira.

Desse período, tive uma experiência que gostaria de contar, uma coisa que aconteceu comigo (e se não tiver nada a ver com a pesquisa, você pode tirar) e que até hoje eu me recordo. Sabe, Marcel quando eu morava nessa cidade, na esquina da minha casa tinha um cinema.

Você pode imaginar um cinema antigo, com as paredes externas com a pintura já descascando e a poeira sempre presente na rua, alterando a cor daquele cinema, já quase desativado?

Você assistiu o filme “Cinema Paradiso”? (Marcel) Sim, lindo.

Pela primeira vez que assisti ao filme tive a sensação de que era o personagem principal e fiquei maravilhado por assistir (anos depois ) um filme que registrasse uma paixão infantil com tal harmonia. Era algo tão parecido, um cinema muito antigo e que hoje eu me pergunto o porquê daquele cinema ter sido construído naquele local, que era quase um “nada”. Mas, com tudo isso, eu tinha uma vontade de ir naquele cinema, que você não pode imaginar. Era algo que me fazia ter aquelas birras de criança, mas não era uma simples birra, era algo a mais, eu queria ir de qualquer jeito ao cinema, pois mesmo sem conhecer, eu já tinha a certeza de que iria gostar. Eu só sabia que queria ir ao cinema!

Lembro-me que minha família não tinha dinheiro para essas coisas, mas a minha mãe (acho que incomodada com as birras) começou a ajudar uma cabeleireira da rua e logo arrecadou um dinheirinho para que eu pudesse ir ao cinema. Fui sozinho, pois ela não tinha condições para pagar as duas entradas, então ela pediu para o dono do cinema permitir a minha entrada e ficou do lado de fora esperando a seção acabar e, enquanto isso, meu pai estava jogando futebol e acho que ele não sabe disso até hoje.

Naquela noite eu assisti ao filme “O menino da Porteira”. Lembro-me que chorei um rio naquele filme, fui envolvido pela história, morava num local que era semelhante ao do filme, tudo era muito familiar, mas mesmo assim fiquei fascinado com o que vi, não imaginava que era tão grande e escuro, o tamanho da tela era algo inimaginável.

Um tempo mais tarde, fui assistir um outro filme, era à tarde, e o filme era com os Trapalhões, foi bom, mas aquela experiência ficou marcada para sempre em minha memória e sou grato até hoje a minha mãe por aquela oportunidade.

Algum tempo depois, mudamos de cidade, não sei bem a causa, e com nove anos de idade fomos morar em Carapicuíba, pois meu pai havia sido selecionado para trabalhar numa multinacional que fabricava tratores, na região do grande ABC.

Ao me lembrar dessa fase, me recordo de muitas coisas, da casa onde morávamos, que era bem localizada e ficava numa avenida movimentada e muito conhecida até hoje. Minha mãe me dizia que era uma casa também muito segura, pois éramos vizinhos de um quartel, localizado próximo ao bairro de Quitaúna.

É um lugar que consigo descrever com precisão cada quarteirão, pois me adaptei muito bem ali, me sentia mais livre (tinha uma certa autonomia), pois andava pelos quarteirões (que naquele tempo eram mais seguros) e conhecia todos da minha quadra. Inclusive tem um fato que lembrei agora e gostaria de te contar.

Minha mãe é uma ótima cozinheira (aprendi muito com ela, sei fazer uma comida caipira como ninguém, sabe: arroz caipira cozido com gordura de torresmo, feijão com folha de louro e pernil, torresmo, couve, bisteca de porco) e logo que fomos morar nesse bairro minha mãe conheceu os vizinhos, e na esquina de casa tinha um centro de umbanda, que uma vez ao ano fazia uma festa para as crianças, e ela recebeu uma encomenda de maçãs do amor, doce que ela fazia para vender nos campos de futebol, juntamente com os sorvetes. Nisso eu fiquei conhecido dos integrantes desse centro e sempre participava das coisas que aconteciam de dia. Lembro-me de muitas mulheres negras e muitos homossexuais que de dia estavam na casa preparando os materiais (as oferendas) que seriam servidos à noite (e me lembro que sempre eles me davam uma porção das comidas que ali eram preparadas).

Você sabe que nesse mesmo período eu estava fazendo a primeira comunhão (que não terminei até hoje) e esse curso acontecia numa escola de freiras, aos sábados pela manhã. Não sei se minha mãe treinava minha autonomia, ou se era louca mesmo, pois eu tinha quase nove anos e ela me colocava num ônibus em um ponto perto de casa e pedia para o motorista para me deixar num ponto em frente à escola das freiras, que ficava em outro bairro.

Essa escola era bem grande, bem conceituada e seletiva e ela me colocou lá para fazer a primeira comunhão, pois uma das freiras havia informado a ela (minha mãe) que eu só poderia estudar lá se tivesse feito a primeira comunhão e a crisma por aquela escola. Freqüentei por alguns meses essa escola e a freira sempre pedia para

todos nós da turma relatarmos a nossa semana e nossos pecados cometidos para participarmos da missa principal que acontecia às oito horas da manhã.

Na última semana em que fui à escola de catecismo, inocentemente relatei para os colegas da minha turma que participei de uma festa realizada no terreiro próximo a minha casa e contei que lá tinham muitas coisas, mulheres e homens cantando, com roupas brancas, onde alguns deles rodavam pelo salão até ficarem tontos, até serem amparados pelos colegas, e que, depois disso, todos nós comíamos (acho que feijoada) para comemorar, até fiz a bobagem de falar que a minha mãe doou para eles as maçãs do amor que foi servida de sobremesa.

Naquela semana minha mãe foi chamada para prestar esclarecimentos para a diretora. Lembro-me que fui com ela e eu tive que ficar num banco do lado de fora da diretoria; minha mãe ficou um longo tempo dentro da sala e, quando ela saiu, me pareceu muito brava, não comigo, mas com a diretora, pois agradeceu a diretora pela atenção com que havia me acolhido, porém eu não mais estudaria naquela escola. Naquela época, eu não entendi; hoje sinto orgulho pela mãe que tenho.

Não éramos umbandistas, não tínhamos nenhum interesse em seguir aquela