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2 O PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA AVALIATIVA

2.3 O desenho da pesquisa

2.3.4 Análise dos dados

Fundamentando-me na intenção de compreender as experiências dos gestores acadêmicos pesquisados acerca da avaliação da universidade e seus cursos de graduação pelo ENADE, busquei não me restringir à simples descrição de resultados. Ao analisar os dados, sob a perspectiva de uma avaliação em profundidade, objetivei assumir uma conduta de

trabalho inter e multidisciplinar. Essa atitude propiciou condições para uma compreensão densa e multidimensional de meu objeto avaliativo.

Assim, depois da coleta, organização e estruturação dos dados, comecei o processo de análise e compreensão destes para responder aos questionamentos da pesquisa e, então, cumprir os objetivos propostos. A fase da análise, que, para mim, foi o momento em que me senti como um artesão em busca de dar forma ao do bloco de dados, foi o momento de organização, tomada de decisão diante do que excluir e do que manter e inventário das informações para que eu pudesse construir minhas respostas e delinear minha interpretação à procura de compreender as respostas obtidas num sentido mais ampliado no quadro investigativo, como reflete Gil (2007). Nesse processo, agreguei e readequei a maioria dos conhecimentos que vim adquirindo sobre o objeto da pesquisa avaliativa desde que a iniciei.

Posto isso, realizei a análise confrontando e articulando os diversos dados recolhidos por meio da triangulação das técnicas acima descritas, tendo como estratégia interpretativa a triangulação dos dados com os conceitos trabalhados e as categorias empíricas utilizadas no trabalho de campo. Com isso, busquei visualizar como os diferentes dados poderiam me auxiliar a apreender as concepções e compreensões sobre o ENADE em jogo.

Dessa forma, para analisar e interpretar os dados obtidos, busquei realizar a triangulação destes, que, segundo Minayo (2005, p. 199), “processa-se por meio do diálogo de diferentes métodos, técnicas, fontes e pesquisadores”. Para isso, empreendi a triangulação de técnicas, marcos teóricos, dados e minha própria experiência na vivência (entendida aqui na perspectiva de Lejano) nos contextos dos sujeitos da pesquisa. A triangulação em minha pesquisa avaliativa se desenvolveu por meio do diálogo de diferentes métodos, técnicas, fontes e perspectivas experienciais para me possibilitar distintas articulações entre os dados, os marcos teóricos, as categorias empíricas, as percepções e concepções numa tentativa de compreensão caleidoscópica do objeto avaliativo.

Por meio da triangulação de técnicas, métodos e dados, por mim entendida como a construção de interseções entre as múltiplas percepções e concepções, as informações, os dados, as categorias empíricas, os marcos teóricos, as técnicas e os métodos, eu pude analisar como as experiências dos sujeitos envolvidos se imbricaram com as minhas próprias, então vivenciadas nas atividades de campo e, dessa forma, construí o percurso que leva a análise ao atendimento dos objetivos da pesquisa e às respostas às questões de partida. Nesse sentido, os dados foram articulados às categorias empíricas numa perspectiva dialógica.

Essa escolha metodológica me possibilitou a elaboração de uma rede de sentidos sobre os usos, objetivos e significados atribuídos ao ENADE como instrumento de avaliação, de auxílio à gestão acadêmica e, num quadro geral, como política de avaliação, supervisão e regulação da Educação Superior e suas implicações nos cursos de graduação. Com isso em mente, triangulei, na análise, os dados qualitativos e quantitativos sobre as percepções dos gestores acerca de universidade, avaliação de IES e seus processos, os dados sobre estes construídos no levantamento bibliográfico e documental nacional e institucional e os dados sobre o perfil institucional, profissional e acadêmico dos gestores sujeitos da pesquisa.

Feito esse procedimento, articulei as concepções percebidas a partir da análise triangulada dos dados com o conceito de universidade e avaliação institucional elaborado para o desenvolvimento da pesquisa. Tendo os objetivos e questões da pesquisa como orientação, elaborei as categorias analíticas para agrupar elementos, ideias e expressões com características comuns ou que se relacionavam em torno dos dois conceitos acima.

Com isso, pude identificar as contradições, divergências e conflitos entre a proposição inicial, regulamentação e implementação do ENADE como instrumento e suas implicações nos cursos de graduação e nas IES, como parte da política de avaliação e regulação de IES, até sua efetivação e vivência nos cursos e IES pelos coordenadores de graduação e demais gestores acadêmicos.

A pesquisa avaliativa foi limitada a dois segmentos da instituição, os coordenadores de cursos de graduação e gestores da PROGRAD, pois não participaram demais docentes e gestores, nem técnico-administrativos e nem estudantes. Essa escolha metodológica se deve ao foco da pesquisa, que era avaliar o ENADE como instrumento vinculado à gestão e ao planejamento acadêmico, à avaliação da instituição e seus cursos sob a ótica da gestão do ensino de graduação. Com isso, pretendi avaliar os usos, sentidos e objetivos atribuídos pelos gestores diretamente implicados na realização do exame.

Os coordenadores de cursos de graduação e os gestores da PROGRAD operacionalizam o ENADE na instituição e manuseiam seus resultados de modo mais permanente que outros grupos na UFC, de modo que circunscrevi a avaliação do ENADE como instrumento de gestão de cursos de graduação no quadro geral da avaliação na UFC. E, para isso, os gestores diretamente concernidos seriam os sujeitos mais apropriados para avaliar o ENADE como instrumento avaliativo e suas consequências e implicações na gestão dos cursos de graduação.

Além disso, também excluí metodologicamente os membros da CPA, pois, embora diretamente relacionados aos processos avaliativos do SINAES na UFC, eles não operacionalizam o ENADE nos cursos e nem se apropriam diretamente dos resultados do certame, visto que, institucionalmente, toda a análise individualizada e pormenorizada do ENADE por curso e seus resultados está a cargo da PROGRAD, cabendo à CPA uma análise global dos resultados dos processos avaliativos da instituição para a elaboração dos relatórios finais, além da operacionalização da autoavaliação institucional e da análise de seus resultados, conforme orientações do PDI 2013-2017 e do regimento interno da CPA.

Dessa forma, a realização da pesquisa com parte do grupo de gestores acadêmicos foi bastante importante para dar subsídios concretos e fundamentados para uma posterior avaliação ampliada sobre o ENADE, com o envolvimento de todos os segmentos da instituição, e sua grande influência em todo o processo avaliativo de IES e de regulação da ES, trabalhando-se com diferentes perspectivas e mapeando os atuais limites e possibilidades do SINAES na universidade.

No capítulo seguinte, apresento as concepções de avaliação institucional e de universidade, que serviram para analisar os dados levantados segundo as categorias empíricas6 construídas para a realização da pesquisa e para a compreensão dessas categorias a partir dos contextos dos próprios sujeitos envolvidos.

6 As categorias empíricas utilizadas na pesquisa e na dissertação, como indicado acima, são: concepção,