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2 O PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA AVALIATIVA

2.3 O desenho da pesquisa

2.3.3 Entrevistas semiestruturadas

Numa avaliação com finalidade hermenêutica, o uso de entrevistas é fundamental para que possamos mapear e construir subsídios para a compreensão da visão de mundo dos entrevistados. As entrevistas podem gerar uma fonte rica de dados que, inseridos em esquemas interpretativos mais abstratos e conceituais de compreensão das narrativas dos atores, podem ser relacionados de diversas formas a outros métodos da pesquisa (GASKELL, 2002). Para o tipo de avaliação que realizei, as entrevistas possibilitaram, dessa forma, “compreensões ricas das biografias, experiências, opiniões, valores, aspirações, atitudes e sentimentos das pessoas” (MAY, 2004).

Utilizei as entrevistas para tratar da realidade das pessoas em sua dinamicidade e obter informações acerca de aspectos subjetivos, como crenças, atitudes, valores, condutas, motivações, expectativas, visando apreender dos entrevistados dimensões não evidentes sobre o ENADE. Para tanto, entendi a entrevista “como uma ação, ou, melhor dizendo, uma interação [...] que se dá em um certo contexto, numa relação constantemente negociada” (PINHEIRO, 2004), considerando a entrevista como prática discursiva empreendida no contexto de experiência do entrevistador e do entrevistado.

Assim, optei por trabalhar com entrevistas semiestruturadas para ter perspectivas ampliadas sobre meu problema avaliativo. Para Boni e Quaresma (2005), esse tipo de entrevista

[...] atende principalmente finalidades exploratórias, é bastante utilizada para o detalhamento de questões e formulação mais precisas dos conceitos relacionados. Em relação a sua estruturação o entrevistador introduz o tema e o entrevistado tem liberdade para discorrer sobre o tema sugerido. É uma forma de poder explorar mais amplamente uma questão. As perguntas são respondidas dentro de uma conversação informal. A interferência do entrevistador deve ser a mínima possível, este deve assumir uma postura de ouvinte e apenas em caso de extrema necessidade, ou para evitar o término precoce da entrevista, pode interromper a fala do informante (p.74).

Esse tipo de entrevista contribui, segundo May (2004), para prover

[...] profundidade qualitativa ao permitir que os entrevistados falem sobre o tema nas suas próprias estruturas de referência. Com isso, quero dizer baseados em ideias e significados com os quais estão familiarizados. Isso permite que os significados que os indivíduos atribuem para os eventos e relacionamentos sejam entendidos nos seus próprios termos (p. 150).

Assim, foi possível obter informações aprofundadas, ricas e contextuais, permitindo-me construir um quadro interpretativo com alguma densidade. Segundo Minayo

(2005), a entrevista semiestruturada possibilita a combinação entre questões fechadas e abertas, permitindo ao entrevistado discorrer sobre o assunto escolhido sem se prender à indagação inicialmente proposta. A autora também afirma que as qualidades desse tipo de entrevista consistem em enumerar de modo mais abrangente possível as questões que o pesquisador deseja abordar no campo, a partir de suas hipóteses ou pressupostos provenientes da definição do objeto da pesquisa.

Desse ponto de vista, Trivinos (2009) traz reflexões muito interessantes ao afirmar que a entrevista semiestruturada permite aos entrevistados relativo grau de liberdade e espontaneidade, fundamentais para uma compreensão mais aprofundada, por parte do entrevistador, das visões de mundo dos sujeitos entrevistados.

Para a realização das entrevistas, elaborei previamente um roteiro com questões estruturadas para que a conversação pudesse fluir dentro do tema proposto e o entrevistado fosse refletindo sobre seu conhecimento, vivências e experiências sobre o ENADE (vide APÊNDICES B e C). Embora procurasse circunscrever o desenrolar das entrevistas dentro dos marcos previamente selecionados, busquei dar relativa liberdade aos entrevistados para que pudessem discorrer à vontade sobre o tema em pauta. Assim, produzi entrevistas cuja duração variou bastante em decorrência da maior ou menor experiência e envolvimento do entrevistado com o assunto abordado.

Como reflete Minayo (2005), o roteiro da entrevista possui uma lista de tópicos que transitam pelo tema da pesquisa. Assim, a lista, para ter alguma eficácia, deve abordar, como substrato, um conjunto de conceitos que orientam a relação com o objeto da pesquisa e visa, em sua elaboração, à instrumentalização da abordagem empírica do ponto de vista dos entrevistados. O uso adequado do roteiro deve propiciar o seguinte: as questões devem fazer parte do delineamento do objeto; possibilitar ampliação e aprofundamento da conversação; contribuir para que venham à tona os juízos e as concepções sobre os fatos e relações acerca do objeto, a partir das referências dos entrevistados. Para Minayo (2005),

Um roteiro difere do instrumento questionário. Enquanto este último pressupõe hipóteses e questões bastante fechadas, cujo ponto de partida são as referências do pesquisador, o roteiro tem outras características. Visa a compreender o ponto de vista dos atores sociais previstos como sujeitos/objeto da investigação e contém poucas questões (p. 190).

A elaboração do roteiro levou em conta as categorias empíricas (processo, participação, resultados, mudanças e concepção) trabalhados no desenvolvimento dos questionários. As questões elaboradas tinham como objetivo tratar sobre o perfil acadêmico e

profissional dos entrevistados, tempo de trabalho na instituição, eventuais experiências com qualquer tipo de avaliação, e tópicos referentes ao conhecimento sobre o ENADE, seus processos, resultados, objetivos e implicações para os cursos avaliados e para a instituição; o roteiro também tratou sobre a comunicação institucional, a forma como o entrevistado avalia o ENADE e sua própria concepção de avaliação para uma IES. Meu objetivo com isso foi construir dados empíricos, a partir das entrevistas, que fossem confrontáveis com os levantados pela aplicação dos questionários. Dessa forma, me foi possível relacionar dados de natureza diferente e triangular minimamente os dados e a análise destes.

Assim, as colocações acima apresentam questões referentes à finalidade, aos usos, às estruturações e aos procedimentos que busquei observar na realização das entrevistas. Embora tenha trabalhado com perguntas definidas previamente e de significação predeterminada, a utilização das entrevistas me possibilitou um contexto de aprendizado e de diálogo de experiências, de modo que me propiciou desvelar, refletir e compreender aspectos do objeto em avaliação em conjunto com o entrevistado.

Para a realização das entrevistas, que ocorreram nos meses de outubro e novembro de 2014, selecionei os sujeitos conforme o nível de espontaneidade, apresentado no período de aplicação dos questionários, e pela disponibilidade dos sujeitos para o agendamento da entrevista. Esse procedimento apresentou algumas dificuldades, visto que a agenda de muitos coordenadores, em final de semestre, apresentava restrições de horário, além de alguns deles terem de desmarcar e remarcar entrevistas.

Assim, realizei, na própria instituição, 13 entrevistas, das quais 10 com coordenadores de cursos presenciais de graduação dos campi do Pici, do Benfica e do Porangabussu, em Fortaleza, e 3 entrevistas com gestores da PROGRAD. Durante as entrevistas, utilizei gravador, com o consentimento dos entrevistados, para a transcrição posterior das entrevistas.