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6 O ENADE NA UFC: UMA AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL?

6.1 Breve histórico e caracterização da UFC

Para compreender a implementação de processos avaliativos na UFC, apresento um breve relato histórico sobre seu desenvolvimento. De início, posso dizer que ainda são escassas as obras que analisam a história da ES no Ceará, tornando difícil o acesso a fontes secundárias para a pesquisa.

A história da ES no Ceará se desenrola completamente ao longo do século XX, diferentemente de outros estados nordestinos, como Pernambuco e Bahia, que tiveram inauguradas suas instituições superiores ainda no século XIX, respectivamente tais como a Faculdade de Direito e a de Medicina (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 2012a). No Ceará, a primeira instituição desse nível, a então Faculdade Livre de Direito, foi criada em 1903, sob a responsabilidade do governo estadual, e com o apoio de vários intelectuais cearenses (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 2012a).

Ao longo da primeira metade do século XX, seriam fundadas as seguintes escolas e faculdades, todas mantidas pela iniciativa privada: a Faculdade de Farmácia e Odontologia (1916), a Escola de Agronomia (1918), a Faculdade de Ciências Econômicas (1936), a Escola de Enfermagem (1943), a Faculdade Católica de Filosofia (1947), a Faculdade de Medicina (1948) e a Escola de Serviço Social (1950) (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 2012a).

Segundo Martins Filho (1996), a UFC surgiu como fruto da mobilização de professores e estudantes cearenses, sendo cogitada pela primeira vez em relatório do médico Antonio Xavier de Oliveira ao Ministério da Educação e Saúde, em 1944, em que ele

analisava a refederalização da Faculdade de Direito. Com a visita do então Ministro da Educação e Saúde a Fortaleza em meados dos anos 1940, representantes dos estudantes da Faculdade de Direito entregaram-lhe um abaixo-assinado com 10 mil assinaturas solicitando a criação de uma universidade no Ceará pelo Governo Federal (MARTINS FILHO, 1996).

Professor catedrático da Faculdade de Direito, Antônio Martins Filho, como representante de acadêmicos interessados na instalação de uma universidade no Ceará, requereu apoio ao Governador Faustino de Albuquerque para a viabilização política desse empreendimento (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 2012a). Conquistado o apoio político do governo estadual, por meio de técnicos e representantes políticos com ligação junto ao governo federal, Martins Filho pôde dar início à articulação necessária ao processo de implantação de uma universidade pública no Ceará, efetivada com a Mensagem Presidencial nº 391, de 1953, de Getúlio Vargas, enviada ao Congresso Nacional. A lei que criou a instituição foi sancionada em 16 de dezembro de 1954, sob o número 2.373, pelo Presidente Café Filho, criando assim a Universidade do Ceará (MARTINS FILHO, 1996).

Conforme L. A. Cunha (2007b), a criação da Universidade do Ceará, que ocorreu pela federalização e agregação de escolas superiores isoladas, tal qual acontecera à maioria das instituições federais de ensino superior no país, se inseriu numa política nacional do governo federal de expansão da educação básica e do ensino superior. No contexto do que o autor denomina política populista, a criação e ampliação de vagas no ensino superior atendiam ao projeto do Estado em formar mão de obra qualificada para a indústria e para o atendimento à expansão da educação básica, num movimento em que também se cuidava em satisfazer as demandas das classes trabalhadoras e de extratos da classe média.

Instalada oficialmente em 25 de junho de 1955, a Universidade do Ceará, segundo Martins Filho (1996) a sétima universidade federal então criada, foi constituída inicialmente pela agregação da Escola de Agronomia, Faculdade de Direito, Faculdade de Medicina e Faculdade de Farmácia e Odontologia.

Na gestão de seu primeiro reitor, Antônio Martins Filho, que dirigiu a instituição por quatro mandatos consecutivos, de 1955 a 1967, a UFC conheceu um forte processo de expansão de sua estrutura física e de suas atividades acadêmicas, contando com a aquisição do Palacete do Benfica para sediar a Reitoria, a construção de prédios para abrigar novos cursos como os de engenharia, a interiorização das atividades da universidade, com a abertura de cursos nas cidades do Crato e de Sobral, a criação do Museu de Arte, das Casas de Cultura, e

diversos outros empreendimentos, que mudaram completamente a face da instituição em uma década de atividades (MARTINS FILHO, 1996).

Entretanto, com o advento da Lei n° 5.540/68, que tratava da reforma universitária e que aumentou a destinação de recursos para a expansão de algumas universidades federais, a UFC passou a ter um desempenho meio modesto em sua expansão. No período posterior à reforma de 1968, não se observou o mesmo ritmo expansionista ocorrido nos primeiros dez anos da instituição, de modo que o crescimento da UFC se tornou vegetativo, com abertura lenta e gradual de novos cursos. Nos anos 1980 e 1990, como as demais universidades federais, a instituição sofreu grande restrição orçamentária, dificultando-lhe sobremaneira tanto novos processos de expansão como até mesmo a manutenção de suas atividades acadêmicas (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 2012a).

Foi a partir de 2006 que o processo de expansão das atividades da universidade, na capital do Estado e no interior, se reiniciou, tendo como sustentação financeira e política o REUNI. A partir daí foram instalados os campi de Sobral, Quixadá, Crateús, Russas e Cariri, sendo este desmembrado e transformado em Universidade Federal do Cariri pela Lei nº 12.826, de 5 de junho de 2013. Em Fortaleza, a UFC possui os campi do Pici, do Benfica e do Porangabuçu.

Atualmente, a UFC possui 106 cursos presenciais de graduação distribuídos entre seus sete campi, 64 cursos de mestrado, 41 cursos de doutorado, 41 cursos presenciais de especialização e 32.843 alunos. Para desenvolver suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, a UFC conta atualmente com 2.152 docentes, dos quais 1.436 são doutores e 1.714 trabalham em regime de dedicação exclusiva. E, para dar suporte às atividades da instituição, o quadro de 3.407 servidores técnico-administrativos, dos quais 1.093 estão em cargos de nível superior e 1.322 em cargos de nível médio (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 2014a).

O Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) de 2013-2017, aprovado pelo Conselho Universitário (CONSUNI), define que a missão da UFC é “formar profissionais da mais alta qualificação, gerar e difundir conhecimentos, preservar e divulgar os valores éticos, científicos, artísticos e culturais, constituindo-se em instituição estratégica para o desenvolvimento do Ceará, do Nordeste e do Brasil” (UFC, 2014a, p. 77). A visão estratégica da instituição é consolidar-se como referência no ensino de graduação e pós-graduação (stricto e lato sensu), de preservação, geração e produção de ciência e tecnologia, e de integração com o meio, contribuindo para a superação das desigualdades sociais e econômicas

pela promoção do desenvolvimento sustentável do Ceará, do Nordeste e do Brasil (UFC, 2013a).

Para isso, a UFC está estruturada em administração superior e acadêmica, em que a primeira é realizada pelo CONSUNI, Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), Conselho de Curadores e Reitoria. Esta é constituída pelos seguintes órgãos:

1) Órgãos de Assistência Direta ao Reitor: Gabinete, Procuradoria Geral;

2) Órgãos de Assessoramento ao Reitor: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional, Coordenadoria de Assuntos Internacionais, Secretaria dos Órgãos Deliberativos Superiores, Ouvidoria Geral, Auditoria Interna, Coordenadoria de Concursos, Editora da UFC;

3) Órgãos de Planejamento e Administração: Pró-Reitoria de Planejamento, Pró- Reitoria de Administração, Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas, Superintendência de Infraestrutura, Superintendência de Hospitais Universitários;

4) Órgãos de Atividades Específicas: Pró-Reitoria de Graduação, Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Pró-Reitoria de Extensão, Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis;

5) Órgãos Suplementares: Biblioteca Universitária, Seara da Ciência, Casa de José de Alencar, Museu de Arte da UFC, Secretaria de Tecnologia da Informação, Secretaria de Acessibilidade, Secretaria de Cultura Artística, Imprensa Universitária, Memorial da UFC.

Por outro lado, a administração acadêmica é exercida pelos Centros, Faculdades, Institutos e os Campi do interior, que são responsáveis pela organização didático-científica das atividades básicas da instituição. Os Centros e as Faculdades têm como unidade básica de administração os departamentos, que congregam os docentes por área de conhecimento. Por sua vez, os Institutos e Campi do interior têm como unidade básica de sua administração as coordenações de curso de graduação, que também reúnem os docentes por área de conhecimento (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 2013a).

Essa apresentação elementar da instituição, obviamente, não nos dá a conhecer aspectos sobre como a UFC tem estabelecido práticas de avaliação de suas próprias atividades. Contudo, alguns dados citados e passagens já permitem vislumbrar o tipo de avaliação que a administração superior da universidade tem preferido empreender “como instituição de referência no ensino de graduação e pós-graduação (stricto e lato sensu), de

preservação, geração e produção de ciência e tecnologia” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO

CEARÁ, 2013a, p. 29), quando essa busca é pautada pela ideia de se destacar diante de outras instituições a partir do posicionamento em rankings organizados com dados de agências

externas. Na próxima seção, apresento um breve histórico de práticas de avaliação para auxiliar na compreensão das concepções atuais de avaliação na UFC.