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4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS POLÍTICAS DE AVALIAÇÃO DA

4.5 Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior

Todavia, a proposta apresentada pela Comissão de Notáveis não atendia às expectativas do governo em termos de regulação e controle do ensino superior, de modo que o documento produzido pela Comissão acabaria por ser profundamente modificado pelo Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior (GERES) (ZAINKO, 2008b). Criado em 1986 como um grupo interno ao MEC, o GERES tinha como finalidade a elaboração de uma proposta de reforma universitária, adotando como ponto de partida o relatório desenvolvido pela Comissão (BARREYRO; ROTHEN, 2008a).

A conclusão dos trabalhos do GERES gerou outro relatório, que apresentava um texto com as conclusões e recomendações da equipe e dois anteprojetos de lei (um de alteração do sistema federal de ensino superior, e outro para a reestruturação das atribuições do CFE) (BARREYRO; ROTHEN, 2008a). Segundo Zainko (2008b), os membros do GERES concebiam os representantes dos órgãos governamentais como os principais condutores do processo de avaliação da ES, embora pudessem receber a colaboração da comunidade acadêmica.

Barreyro e Rothen (2008a) afirmam que o GERES entendia que a Reforma Universitária de 1968 limitava a autonomia das instituições, restringindo seu desempenho. Assim, o documento elaborado pelo grupo pretendia ampliar a eficiência das instituições federais. Nessa concepção, o controle das instituições não deveria se restringir ao cumprimento da legislação, propondo-se assim que a averiguação do desempenho das instituições fosse um dos mecanismos para a regulação (BARREYRO; ROTHEN, 2008a). Para tanto, segundo Zainko (2008a),

[...] a proposta de avaliação fundamenta-se em uma concepção regulatória da educação superior, dando enfoque às dimensões individuais (do alunado, dos cursos e das instituições). A avaliação de desempenho cumpre papel importante tanto do ponto de vista do controle social da utilização de recursos, como também no processo de formulação de políticas e de estabelecimento de normas para o sistema educacional (p. 18).

Outra proposta do GERES dizia respeito à flexibilização institucional, marcada pela dissociação entre pesquisa e ensino e pela ideia de que o ensino superior não deveria

necessária e exclusivamente desenvolver-se em instituições universitárias. Por esse prisma, o conceito de autonomia poderia ser desvinculado como exclusividade da universidade, passando a ser um status a ser obtido por instituições que alcançassem a “excelência acadêmica”, de modo que até institutos isolados, se avaliados de forma plenamente satisfatória e se comprovassem excelência em termos de pesquisa, poderiam receber o status de instituição universitária gozando assim de plena autonomia (BARREYRO; ROTHEN, 2008a).

Dessa forma, a proposta para a reestruturação do CFE divergia da proposta da Comissão de Notáveis, por não conceber o CFE como uma “agência de avaliação”, pois o GERES postulava o papel deste como um órgão colegiado com poder deliberativo que utilizaria os resultados do processo avaliativo, realizado no âmbito da Secretaria da Educação Superior (SESu) no MEC, como subsídio para a regulação do sistema federal e da manutenção de sua unidade (BARREYRO; ROTHEN, 2008a).

Zainko (2008a) afirma que a avaliação preconizada pelo GERES possibilitaria a aplicação dos recursos públicos em função do desempenho da instituição, de modo que aqueles seriam dirigidos a instituições com padrões de pesquisa e de produção acadêmica reconhecidos internacionalmente, constituindo-se assim como “centros de excelência”. Por seu turno, Lima (2005) considera que o GERES, representando uma consequência ampliada da Comissão de Notáveis, trazia a proposta de individualização do objeto do processo avaliativo, vinculando-o à avaliação do corpo discente, dos cursos e das instituições, cujos resultados abriam espaço para uma concorrência interinstitucional. Desse ponto de vista,

O relatório do GERES antecipou em dez anos a proposta do Exame Nacional de Cursos (ENC) e a Análise das Condições de Oferta (ACO) e depois Análise das Condições de Ensino (ACE), “como sendo o núcleo do modelo de avaliação representativo dessa lógica da eficiência, e do atrelamento da educação ao projeto neoliberal” (DIAS SOBRINHO, 2003, p. 75 apud LIMA, p. 86).

Zainko (2008a) esclarece que a intensa mobilização do movimento docente, desconfiado das reais intenções da proposta do GERES, desestimulou o governo a enviá-la ao Congresso Nacional, mantendo-a, contudo, como orientação para suas políticas públicas para a ES.

Embora a consolidação de uma legislação específica para a avaliação do ensino superior brasileiro tivesse sido frustrada ao longo dos anos 1980, a noção de que a avaliação poderia render bons frutos às instituições universitárias, em termos de gestão e planejamento, consolidou-se, de modo que algumas delas, como a UnB, UNICAMP, UFRN e UFPR

ensaiaram alguns passos nesse sentido (LIMA, 2005). Segundo Lima (2005), dentre essas instituições, a UnB e a UNICAMP teriam se destacado por desenvolverem sistematicamente uma discussão e a implementação de todo um sistema de autoavaliação com participação de toda a comunidade acadêmica dessas universidades.

Mesmo não apresentando mais nenhuma proposta de implementação de avaliação do ensino superior, o governo federal manteve a ideia de concepção de um sistema com essa finalidade no final da Gestão Sarney e na de Fernando Collor de Melo, a ponto de o MEC haver patrocinado seminários e grupos de trabalho com esse fim, como o “Institutional Evaluation in Higher Education”, promovido pelo British Council em 1988 (LIMA, 2005).

No Governo Collor (1990 – 1992), na esteira da promoção de medidas para a Reforma do Estado, ao MEC incumbiu-se a tarefa de elaborar, implementar e consolidar ações de controle, regulação e centralização das políticas públicas de ES numa perspectiva supostamente consensual, conforme nos informam Zainko (2008a), Shiroma, Moraes e Evangelista (2007). É nessa perspectiva que se instituíram as Comissões de Especialistas de Ensino, cuja tarefa era pensar e elaborar um plano de sistema de avaliação do ensino superior que averiguasse níveis de eficiência e produtividade das instituições públicas federais, assim, preocupando sobremaneira as organizações representativas dos docentes, temerosas de medidas punitivas e classificatórias das instituições (ZAINKO, 2008a; BERTOLIN, 2004).