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Análise dos Relatórios de Estágio Supervisionados

1.3 Construção da pesquisa

1.3.1 Análise dos Relatórios de Estágio Supervisionados

Nesta etapa, foi realizado um estudo dos relatórios de estágios dos acadêmicos participantes dos grupos focais. Os Relatórios são documentos propostos para registrar as impressões dos estagiários em formação partindo dos momentos de análise daquilo que foi observado e vivenciado por ele no contexto escolar. O aluno-professor tem a oportunidade de analisar, organizar, direcionar ou reorganizar sua prática, num processo permanente de ação- reflexão-ação. Os mesmos, observam as situações presentes naquele contexto e se posiciona de acordo com as necessidades encontrados, possibilitando examinar, questionar, refletir e avaliar. Produzir não é tarefa fácil, o que compete inicialmente aos estagiários aprender a relatar as situações de maneira condizente, ou como enfatiza Pimenta (2010, p. 76), os futuros professores devem fazer a leitura da realidade, o que exige competências para “saber observar, descrever, registrar, interpretar e problematizar e, consequentemente, propor alternativas de intervenção e de superação”.

A utilização dos relatórios de estágio é assinalada como uma atividade técnica e significativa de reflexão sobre a construção da formação, evidenciando a reflexão sobre a ação, se alarga um distanciamento da mesma, pois surgem pontos impossíveis de serem observados durante a ação. O relatório tem como objetivo descrever com detalhes o local em que foi realizado, o período de duração e as atividades desenvolvidas pelo estagiário. Ao mesmo tempo, deve apresentar também, observações e análises do que foi vivenciado pelo estagiário durante o período de realização do mesmo. Nesse sentido, os relatórios foram estudados e analisados para identificar relações existente entre o discurso e o escrito, bem como, que sentido e contribuições estão registrados nos relatórios sobre o período de estágio. Segundo Araújo (2016):

Considerado como elemento mediador do diálogo entre supervisor e os estagiários, pode proporcionar ao supervisor uma prática marcada pela reflexão. Desta forma, pede-se ao estagiário que ultrapassem a descrição do ensino que praticaram, e, no próprio relatório questionem, critiquem e analisem o trabalho realizado, relacionando-o as suas teorias, consistindo, assim, em atividades propiciadora da produção de novas teorias. (ARAÚJO, 2016, p.201).

Os Relatórios evidenciam a realização do Estágio pelo estagiário. Essa obrigatoriedade sobre o cumprimento do Estágio está estabelecida na Lei Federal 11. 788, de 25 de setembro de 2008; pela Resolução CNE/CP26 de 19 de fevereiro de 2002 – na qual institui o tempo de duração e carga horária destinadas aos cursos de graduação e formação de professores.

Os Relatórios de Estágio são entregues no final do semestre aos professores orientadores para apreciações e, depois, repassam ao coordenador de Estágio, os quais são arquivados e podendo ser consultado posteriormente. Correspondem a um registro com apresentação de relatos dos estagiários sobre as experiências vivenciadas; descrições dos ambientes e/ou situações com os quais se depararam; registro das impressões acerca das aulas observadas e ministradas, como também das diversas situações vivenciadas neste período. Para Zabalza (2014, p. 83) durante a produção dos relatórios, “O registro de descrições e comentários [...] tendem a captar “o erro”, “as falhas”, “os limites”, “a falta de fundamentos” da pratica pedagógica observada. Ao dirigir o olhar para “o que não esta bom” revelam, também, uma visão distorcida sobre o seu papel no estágio”. Ou seja, se todo o processo de estágio não for bem planejado, haverá diversa rupturas na aprendizagem dos estagiários, bem como, criará situações desagradáveis diante os professores regentes, pois enquanto profissionais são

responsáveis pela sua prática e precisamos aprender a respeitar os professores enquanto profissionais. Assim, a escrita dos relatórios ainda Zabalza (2014, p.92) “escrever permite a compreensão do que se passa. E no estágio arriscar-se a ousar escrever resulta em experiências extremamente significativa, pois supera a expectativa, [...] de aprender tão somente instrumentos ou formas didáticas a ser aplicadas”.

As impressões captadas, permitem difundir reflexões do estagiário acerca da formação e prática docente. Sobre este aspecto, Tardif (2014, p. 289) acrescenta ao dizer que “a inovação, o olhar crítico, a “teoria” devem estar vinculados aos condicionantes e às condições reais de exercício da profissão e contribuir, assim, para a sua evolução e transformação”.

Os relatórios se apresentam como um espaço, que permite recordar situações vivenciadas nas atividades de Estágio, contribuindo para que os fatos significativos sejam ressignificados e reconstruídos a partir das reflexões. A elaboração do Relatório de Estágio contribui para que as práticas sejam repensadas, renovadas, aperfeiçoadas e confrontadas com as teorias estudadas. Estudar esses Relatórios significa buscar compreender a formação docente numa perspectiva analítica e reflexiva diante dos diversos aspectos: o ambiente escolar e da sala de aula, a relação teoria e prática, a postura e sentimentos dos professores regentes; as atitudes dos alunos, as propostas de ações, intervenções e perspectivas alternativas; dentre outros. Sobre a análise dos relatórios, Pimenta e Lima (2008) destacam que:

Possibilitem o conhecimento, a análise, a reflexão do trabalho docente, das ações docentes, nas instituições, a fim de compreendê-las em sua historicidade, identificar seus resultados, os impasses que apresenta, as dificuldades. Dessa análise crítica, à luz dos saberes disciplinares, é possível apontar as transformações necessárias no trabalho docente, nas instituições. (PIMENTA; LIMA, 2008, p. 55).

Os relatórios possibilitam também o contato com as diferentes vozes sociais e a apropriação destas através da experiência vivenciada dentro do contexto escolar, o que imprime ao documento um caráter crítico porque possibilita analisar as situações vividas na prática docente através do Estágio. Estes registros são relevantes enquanto material e espaço de estudo e reflexão, permitindo não apenas ao estagiário e professor orientador, mas especialmente a escola campo de estágio perceber os olhares diante sua atuação enquanto espaço de formação. Segundo Ostetto (2011):

Além das discussões e trocas de ideias, ponto de vista, sugestões ao longo do estágio, é deveras importante socializar a análise da experiência vivida pelas

estagiárias, disponibilizando à instituição uma cópia da produção final das estagiárias. [...] simbolicamente, fecha-se um ciclo deixando rastros, marcando os deslocamentos vividos no encontro com outros tão significativos. (OSTETTO, 2011, p. 94).

Nesse sentido, os relatórios se apresentam como recurso de estudo para reflexão das situações descritas e analisadas por profissionais em processo de formação e que ao olhar de fora, percebem situações que para os inseridos na escola cotidianamente estão invisíveis. Assim, os relatórios tornam-se extremamente importantes para a escola refletir e ressignificar sua atuação, bem como, retroalimentar suas ações.