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6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.6. Análise Fatorial

6.6.1. Identificação de fatores comuns relacionados à inovação e tecnologia apícola paraense

A Análise Fatorial foi conduzida de modo a agregar as observações feitas para os 8 indicadores de inovação e tecnologia, com vistas a identificar o seu potencial inovativo e tecnológico vinculado à expansão da apicultura nos 3 municípios estudados.

Um dos procedimentos iniciais foi a verificação da consistência dos dados originais quanto seu suporte a uma Análise Fatorial, onde a partir do índice Kaiser-Mayer-Olkin, cujo valor foi de 0,778, observou-se que os dados são consistentes. Posteriormente realizou-se a análise da matriz de correlações entre as variáveis, com o teste estatístico de esfericidade de Bartlett. Esse teste permite examinar a probabilidade estatística da existência de correlações significativas entre pelo menos algumas variáveis. No caso, o valor que se obteve (371,982) mostrou-se significativo a 1%. Significa dizer que ocorreu a rejeição da hipótese nula de que a matriz de correlação é uma matriz identidade, ou seja, de que as variáveis são não- correlacionadas (TABELA 12).

Tabela 12 - Teste de KMO (Kaiser-Mayer-Olkin) e BTS (Teste de Esfericidade de Bartlett)

KMO 0,778

Teste de Esfericidade de Bartlett 371,982

Sig 0,000

Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa.

A partir da aplicação da análise fatorial pelo método dos componentes principais, foram extraídos dois fatores com raízes características (λ) maiores que 1, como pode ser observado na Tabela 13, com os valores de 4,019 e 1,923. De posse dessa informação, os dois fatores mantidos contribuíram com, respectivamente, 50,237% e 24,038% para a explicação da variância, de modo que eles, em conjunto, explicam os 74,274% da variância total, o que é um percentual bastante significativo.

Tabela 13 - Valores das raízes características e percentagem da variância total explicada pelos dois fatores identificados na análise fatorial

Fator Raiz Característica Variância explicada pelo fator (%)

Variância acumulada (%)

1 4,019 50,237 50,237

2 1,923 24,038 74,274

Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa.

Os fatores foram submetidos a uma rotação ortogonal pelo método Varimax, com vistas a se obter melhor interpretação deles sem, contudo, modificar a sua contribuição conjunta para a variância total. Após a rotação, a contribuição dos fatores F1 e F2 para a explicação da variância total dos indicadores foi de 40,636% e 33,638%, respectivamente. Em conjunto, continuam explicar 74,274% da variância total (TABELA 14).

Tabela 14 – Fatores extraídos pelo método de componentes principais e percentagem da variância explicada antes e após a rotação.

Fator Raíz característica λ Solução

Inicial (%) Rotação (%)

1 4,019 50,237 40,636

2 1,923 24,038 33,638

Total 74,274 74,274

Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa.

Em seguida, observam-se na Tabela 15 as cargas fatoriais ou coeficientes de correlação entre os fatores de cada uma das variáveis e as respectivas comunalidades. Lembrando que o valor da comunalidade é obtido pelo somatório do quadrado das cargas fatoriais de cada variável.

Tabela 15 - Cargas fatoriais após a rotação ortogonal e comunalidades. Variáveis Fator 1 Fator 2 Comunalidades

ITUE ,777 ,365 ,736 ITM ,665 ,350 ,565 ITC ,856 ,069 ,737 ITPC ,850 -,113 ,734 ITG ,826 ,196 ,721 III ,061 ,898 ,811 IIR ,211 ,904 ,862 IFI ,142 ,869 ,775

Os indicadores que mais se associam com os fatores apresentam cargas fatoriais com valor superior a 0,600, ou seja, as cargas fatoriais mais elevadas são indicativas de maiores coeficientes de correlação entre cada fator e cada um dos 8 indicadores de inovação e tecnologia.

A comunalidade representa a proporção da variância captada pelos dois fatores para cada indicador, ou seja, o poder de explicação dos fatores em relação a cada variável. Em termos práticos, apontam as variáveis mais representativas e que concebem significativamente a ideia original das dimensões do uso de inovações e do uso de tecnologias. Assim, 86,2% da variância da variável IIR; 81,1% de III; e, 77,5% de IFI foram as mais bem explicadas pelos dois fatores. Ainda, das 8 variáveis, sete (87,5%) tiveram sua variabilidade explicada entre 72,1% e 86,2% pelos dois fatores.

O primeiro fator (F1) está positivamente correlacionado com as variáveis indicadoras de tecnologia: ITUE (índice de tecnologia do uso de equipamentos), ITM (índice de tecnologia de manejo), ITC (índice de tecnologia de colheita), ITPC (índice de tecnologia de pós-colheita) e ITG (índice de tecnologia de gestão). Assim, nomeou-se F1 como aspectos tecnológicos.

Analisando-se o Fator 2 (F2), constata-se que o mesmo encontra-se fortemente correlacionado com III (índice de introdução de inovações entre 2010 e 2012), IIR (índice de inovações realizadas) e IFI (índice de fontes de informações importantes). Desta forma, o fator 2 pode ser descrito como aspectos inovativos e de informação.

6.6.2 Construção do Índice de Inovação e Tecnologia (IIT) e tipificação da apicultura no Nordeste Paraense.

Após a aplicação da análise fatorial e de posse dos novos fatores extraídos pelo método Varimax, procedeu-se a construção do Índice de Inovação e Tecnologia (IIT) para os apicultores dos 3 municípios do nordeste paraense analisados. Em seguida foi feita a padronização do índice de forma que o mesmo pudesse variar entre 0 e 1.

Feita a hierarquização e a análise de agrupamentos, foi realizada a classificação do Índice de Inovação e Tecnologia (IIT) em três grupos com os seguintes intervalos: valores do IIT iguais ou superiores a 0,70 classifica o apicultor no grupo de níveis mais elevados de inovação e tecnologia, valores situados entre 0,4 e 0,69 reúnem os apicultores no grupo de níveis intermediários, e valores inferiores a 0,4 classificam os apicultores no grupo de baixos níveis. Ou seja, conforme as características semelhantes entre os apicultores, através da análise de clusters pelo método das k – médias (método não hierárquico), ressalta-se que

quanto mais próximo da unidade, melhor é a situação do apicultor com relação à propensão à inovação e tecnologia.

Assim, conforme observado na Tabela 16, verificou-se certa predominância de uma apicultura de baixo nível de inovação e tecnologia nos três municípios paraenses estudados. No entanto o percentual de apicultores entre o cluster 1 (baixo nível inovador e tecnológico) e o cluster 2 (médio nível inovador e tecnológico) foi próximo, com respectivamente, 44,87% e 38,4% do total de produtores em cada.

Dentre as variáveis que mais contribuíram para formação dos clusters, observadas através da análise da ANOVA, podem ser destacadas as: inovações realizadas, Introdução de inovações e as fontes de informação.

Tabela 16 – Número de clusters e seus limites elaborados a partir do Índice Geral de Inovação e Tecnologia.

Grupo IIT Limites de cada classe

Nº de apicultores

Freq.

Rel. Média Mínimo Máximo Coef.Var. 1 Nível baixo 0 ≤ x ≤ 0,4 35 0,4487 0,326 0,18 0,4 12,488 2 Nível

intermediário 0,41 ≤ x ≤ 0,61 30 0,3846 0,499 0,41 0,61 18,362 3 Nível elevado 0,62 ≤ x ≤ 0,86 13 0,1667 0,728 0,62 0,86 11,796 Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa.

No que se refere às características, o grupo 1 é composto por 35 apicultores , ou seja, possui maior percentual de produtores, o que configura uma propensão baixa ao uso de inovações e tecnologias (0,00-0,40) por grande parte dos apicultores. O cluster 2 possui o maior coeficiente de variação dos clusters analisados com valor de aproximadamente 18,36% o que caracteriza uma dispersão média entre os produtores. O cluster 3 foi o que se mostrou mais propenso ao uso de inovações e tecnologias e é o mais homogêneo entre os grupos, porém é o que possui menor número de produtores.

Analisando a Tabela 17, observou-se que o cluster de baixo nível de inovações e tecnologias é formado por todos os tamanhos de produtores, tendo como principais membros os pequenos produtores (46%) seguidos dos médios produtores (34%). O cluster de nível intermediário também apresentou maiores percentuais de pequenos produtores (49%), porém, diferente do grupo anterior, apresenta a segunda maior participação dos mini produtores (37%). Já o grupo de níveis mais elevados é formado por 54% dos grandes produtores, 13% de médios e 3% de pequeno produtor.

Percebe-se que os mini produtores aparecem com maior frequência no grupo de nível intermediário, isto porque, em sua maioria, são produtores que entraram mais recentemente no segmento apícola, herdando com maior abertura os conhecimentos já existentes em seu arranjo como informações e técnicas. Os pequenos e médios produtores mostram-se como grupos intercessores à aquisição de inovações e tecnologias. Quanto aos grandes produtores, estes informaram, durante as entrevistas, que se preocupavam com seu espaço no mercado o que, consequentemente, acarreta na necessidade da busca de novas tecnologias e inovações, aparecendo portanto quase a totalidade dos seus membros no grupo de níveis mais elevados de inovação e tecnologia.

Tabela 17 – Composição dos clusters quanto ao porte das empresas.

Cluster Mini Pequeno Médio Grande

Total % Total % Total % Total %

Nível baixo 6 17 16 46 12 34 1 3

Nível Intermediário 11 38 13 49 6 13 0 0

Nível Elevado 0 0 1 8 5 38 7 54

Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa.

Conclui-se que os grupos de nível baixo e intermediário podem ser considerados mistos, mas tipicamente caracterizados por mini, pequenos e médios produtores. Já o grupo de nível elevado é mais representativo dos grandes produtores.

No que tange às características mais gerais do produtor no Cluster 1, como pode ser observado na tabela 18, percebe-se que a média deles conta com o ensino fundamental completo, possuindo no máximo o ensino médio; apresentam a menor produtividade de mel em relação aos outros grupos com 25,58 quilogramas de mel por caixa, no entanto possui membros que chegam a produzir 38,85 quilogramas por caixa; possui alto coeficiente de variação quanto aos gastos com inovação e quanto à renda bruta anual. Sendo assim, destaca- se a variação de renda neste grupo de produtores, onde alguns ganham anualmente apenas R$ 720,00 e outros faturam até R$ 22.500,00 (TABELA 18).

Tabela 18 – Características Gerais do produtor inserido no cluster 1(nível baixo)

Variáveis Média CV Máximo Mínimo

Escolaridade 3 45,560 5 1

Produtividade (Kg/cx) 25,58 31,666 38,85 10,00

Quantidade de empregados 2,20 18,493 3 2

Gastos com inovações (R$) 261,50 133,698 1.800,00 70,00 Custos Anuais insumos agrícolas (R$) 612,10 75,317 1.720,00 43,00 Custos anuais mão de obra (R$) 1.059,33 74,585 2.800,00 200,00 Renda Bruta Anual(R$) 4.959,17 107,098 22.500,00 720,00 Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa.

Ainda para o primeiro grupo, quanto às inovações e tecnologias introduzidas e praticadas no último ano, mostrou-se possuir um alto coeficiente de variação relacionado aos gastos com inovações, detendo apicultor que investiu apenas R$ 70,00 à medida que há outro que emprega cerca de R$ 1.800,00. Entre seus membros apenas 18% introduziram inovações e 29% indicaram ter obtido conhecimentos importantes para a atividade no último ano. Ressalta-se que neste grupo os apicultores, em média, utilizam apenas 55% do total de equipamentos tecnológicos apícolas e possuem a menor renda bruta anual (quando comparado aos outros dois grupos). Vale ressaltar que muitos apicultores revelaram em entrevista, não possuir certos equipamentos devido suas baixas condições financeiras, o que consequentemente pode ocasionar redução na sua produtividade de mel.

Tabela 19 – Características relacionadas às inovações e tecnologias do produtor inserido no cluster 1 (nível baixo).

Variável Média CV Máximo Mínimo

Gastos realizados com inovações (R$) 261,50 133,70 1.800,00 70,00 Introduções de Inovações 0,18 101,97 0,56 0,00

Inovações realizadas 0,16 73,00 0,43 0,00

Fontes de informações importantes 0,29 19,54 0,45 0,21

Tecnologia de gestão 0,44 54,62 1,00 0,20

Tecnologia do uso de equipamentos 0,49 22,95 0,67 0,30

Tecnologia de manejo 0,72 15,60 0,88 0,50

Tecnologia de colheita 0,77 16,90 1,00 0,50 Tecnologia de pós-colheita 0,62 34,88 1,00 0,25 Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa.

Quanto às características mais gerais do produtor referente ao grupo 2, a Tabela 20 mostra a presença de maior heterogeneidade entre os membros, dispondo portanto maior número de variáveis com altos coeficientes de variação. Nota-se que neste grupo há

produtores que gastaram apenas R$ 75,00 com inovações no ano anterior, enquanto há outros que investiram até R$ 7.000,00. De forma semelhante ocorre com a renda bruta anual, com os custos anuais com insumos agrícolas e com os custos com mão-de-obra.

Tabela 20 – Características do produtor inserido no cluster 2 (nível intermediário).

Variáveis Média CV Máximo Mínimo

Escolaridade 4 32,295 7 2

Produtividade (Kg/cx) 26,35 32,998 41,80 9,74

Quantidade de empregados 2,60 21,272 4 2

Gastos com inovações (R$) 1.411,14 133,765 7.000,00 75,00 Custos Anuais insumos agrícolas (R$) 1.261,43 103,821 4.200,00 50,00 Custos anuais mão de obra (R$) 2.248,43 102,918 8.000,00 250,00 Renda Bruta Anual(R$) 11.490,57 125,189 49.500,00 1.265,00 Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa.

Ainda para este grupo, no que se refere às inovações e tecnologias (Tabela 21), o grupo mostrou-se possuir coeficiente de variação menos elevado em comparação ao grupo anterior, tendo como o único item diferencial os gastos realizados com inovações. As médias de uso de tecnologias se mostraram maiores, porém próximas ao primeiro grupo, por conseguinte também há a proximidade com a produtividade de tal.

Tabela 21 – Características relacionadas às inovações e tecnologias do produtor inserido no cluster 2 (nível intermediário).

Variável Média CV Máximo Mínimo

Gastos realizados com inovações (R$) 1.411,14 133,7653 7.000,00 75,00 Introduções de Inovações 0,58 40,30974 0,89 0,11

Inovações realizadas 0,39 25,0246 0,57 0,14

Fontes de informações importantes 0,39 17,20155 0,52 0,27 Tecnologia de gestão 0,46 46,59911 1,00 0,20 Tecnologia do uso de equipamentos 0,55 19,09216 0,80 0,33 Tecnologia de manejo 0,77 15,20872 0,96 0,58 Tecnologia de colheita 0,80 11,74171 1,00 0,60 Tecnologia de pós-colheita 0,64 22,12758 1,00 0,25 Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa.

Já o cluster 3 (níveis mais elevados de inovação e tecnologia), é o que apresenta maior homogeneidade entre as características gerais de seus membros, possuindo, portanto, menores coeficientes de variação quando comparado aos dois grupos anteriores. Seu destaque principal está na média de produtividade de mel por caixa de 37,61 quilogramas, chegando a

alcançar 44,66 quilos (o que é considerado um ótimo rendimento para o setor). Neste grupo há membros que chegam a alcançar até R$145.424,00 de renda bruta anual, o que daria uma quantia de aproximadamente R$ 12.000,00 por mês para o produtor. Nota-se também que é nesta categoria onde o grau de escolaridade é a maior, com a média de produtores possuindo o ensino médio (TABELA 22).

Tabela 22 – Características do produtor inserido no cluster 3 (nível elevado).

Variáveis Média CV Máximo Mínimo

Escolaridade 4,92 32,607 7 3

Produtividade (Kg/cx) 37,61 16,758 44,66 23,75

Quantidade de empregados 3,62 28,874 6 2

Gastos com inovações (R$) 11.173,08 86,950 35.000,00 800,00 Custos Anuais insumos agrícolas (R$) 6.079,23 69,016 15.400,00 750,00 Custos anuais mão de obra (R$) 11.568,85 79,944 31.220,00 1.300,00 Renda Bruta Anual(R$) 64.197,62 69,620 145.424,00 5.100,00 Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa.

É este grupo que mais investe em inovações e detém o maior percentual de uso de tecnologias (Tabela 23). Observa-se que seus membros utilizam 93% das práticas de manejo (com baixíssimo coeficiente de variação) e 78% das práticas de colheita, o que reflete evidentemente na alta produtividade do grupo.

Tabela 23 – Características relacionadas às inovações e tecnologias do produtor inserido no cluster de alto índice.

Variável Média CV Máximo Mínimo

Gastos realizados com inovações (R$) R$ 11.173,08 86,95 35.000,00 800,00 Introduções de Inovações 0,87 4,79 0,89 0,78

Inovações realizadas 0,63 20,56 0,79 0,43

Fontes de informações importantes 0,51 20,57 0,73 0,36

Tecnologia de gestão 0,78 25,94 1,00 0,40

Tecnologia do uso de equipamentos 0,75 15,65 1,00 0,50

Tecnologia de manejo 0,93 6,20 1,00 0,83

Tecnologia de colheita 0,90 10,14 1,00 0,80

Tecnologia de pós-colheita 0,77 18,58 1,00 0,50 Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa.

Por fim, deduz-se que, entre os dois primeiros grupos (níveis baixo e intermediário) há uma proximidade entre as suas produtividades, porém diferenciam-se quanto aos investimentos praticados em inovação, tecnologia e na renda bruta obtida. O último grupo

(nível mais elevado de inovação e tecnologia) é o único que apresenta maior homogeneidade entre seus membros, maior qualificação tecnológica, maior nível de escolaridade e incremento significativo de renda proveniente da atividade.