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4. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE ARRANJOS PRODUTIVOS

4.2 Considerações sobre Tecnologia e Inovação

As grandes mudanças tecnológicas são acompanhadas por transformações econômicas, sociais e institucionais, visto que as inovações surgem a partir de uma contínua interação entre motivação e ambiente econômico, além de condições institucionais, adequadas ao seu desenvolvimento.

Conforme Silva (1995), esta influência das mudanças tecnológicas na produtividade dos fatores de produção vem sendo analisada por diversas escolas do pensamento econômico dado sua importância.

Para Karl Marx as inovações tecnológicas eram viesadas, utilizadas para garantir a formação de um exército industrial de reserva por poupar mão-de-obra, garantindo a acumulação capitalista no curto prazo, e no longo prazo ocasionava uma tendência ao decréscimo da taxa de juros (FREITAS et. al, 2004).

Entre os muitos economistas clássicos que abordaram esse tema, Adam Smith (1983), em A Riqueza das Nações, destacou que as mudanças tecnológicas associadas ao processo de divisão do trabalho constituem os fatores determinantes do aumento da produtividade. E, embora o setor agrícola pudesse se beneficiar desse processo, seus efeitos seriam menos intensos quando comparados àqueles obtidos na manufatura.

David Ricardo, outro economista clássico, era pessimista em relação à capacidade das inovações tecnológicas de promover o crescimento econômico, por não acreditar que os avanços tecnológicos pudessem trazer impactos significativos e sustentáveis na produtividade agrícola, mas reverteu seu posicionamento ao constatar que uma das formas de se evitar a estagnação econômica seriam os ganhos de produtividade do trabalho e da terra viabilizados por meio do progresso tecnológico (MATOS, 2005).

Segundo Souza (2000) Marx também acreditava que a capacidade de mudanças estruturais via inovações é endógena à economia capitalista e resulta da concorrência, que

constitui um mecanismo permanente de introdução de progresso técnico, onde a adoção das inovações tecnológicas é motivada pela competição entre os capitalistas e é responsável pela dinâmica do processo de acumulação; entretanto, o progresso tecnológico é maior na indústria porque essa apresenta maior dinamismo que a agricultura.

Joseph A. Schumpeter, no início do século XX, elaborou a teoria do desenvolvimento econômico articulando o equilíbrio Walrasiano17 com a dinâmica capitalista marxista, colocando a inovação tecnológica como fator determinante tanto do crescimento como dos ciclos econômicos. As inovações que Schumpeter se refere são aquelas capazes de ocasionar a realocação de recursos dentro do sistema econômico, podendo assumir a formação de novos produtos, novas funções de produção, novas formas de organização dos negócios e grande crescimento da economia (SILVA, 1995).

Entre essas mudanças, Schumpeter mencionou que a inovação tecnológica é um fenômeno puramente econômico da história do capitalismo, e elaborou a teoria da inovação, que em linhas gerais defende que, para a transformação do sistema econômico, é necessário que os empreendedores surjam em blocos e não distribuídos de maneira uniforme ao longo do tempo; revela ainda que o êxito do empreendimento é quem induzirá o ingresso de outros empreendedores, difundindo, assim, a inovação, o que caracterizou a divisão da teoria em três etapas: invenção, inovação e difusão (FREITAS, 2003).

Dentre os neoclássicos, Hicks, durante a década de 1930, introduziu o conceito de inovação induzida, em que a escassez dos fatores de produção constitui o elemento indutor, na medida em que o produtor busca tecnologias que economizem o fator produtivo mais escasso e, portanto, mais caro. Esse trabalho deu início a uma série de modelos que tratam a tecnologia como um componente endógeno. Na década de 1950, Solow desenvolveu um modelo em que a tecnologia é uma das variáveis determinantes do crescimento econômico, mas ele não explicou os seus determinantes. A partir da década de 1950, surgiram os modelos de economia dual, em que a adoção de inovações tecnológicas no setor agrícola é vista como condição necessária ao desenvolvimento econômico. Na década de 1970, Binswager conceituou mudança tecnológica como o resultado da aplicação de novos conhecimentos científicos às técnicas de produção. Neste modelo as mudanças técnicas são mensuradas pela redução dos custos resultante das inovações (SILVA, 1995).

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O equilíbrio geral walrasiano refere-se à noção de equilíbrio na qual há igualdade entre oferta agregada e demanda agregada nos mercados de bens e de fatores. Esse equilíbrio é garantido por um vetor de preços responsável pela igualdade.

Para Chandy e Tellis (1998), a geração de inovações envolve eventos que dificilmente podem ser atribuídos à sorte, visto que demandam contínuos recursos e esforços direcionados para o trabalho, desenvolvimento, testes e implementação. Assim, os investimentos em inovação são justificados quando há a necessidade de obtenção de resultados superiores. O processo inovativo ainda pode ser definido como a capacidade de uma empresa de criar novos produtos que incorporem tecnologias diferentes das existentes e ainda possa satisfazer as necessidades essenciais dos consumidores de modo mais efetivo que os produtos existentes.

Para Freeman e Perez (1988), as inovações podem ser classificadas em duas categorias distintas – inovações radicais e inovações incrementais. A inovação radical é apresentada como sendo o desenvolvimento e introdução de um novo produto, processo ou forma de organização da produção inteiramente nova. Este tipo de inovação caracteriza uma mudança ou ruptura estrutural com o padrão tecnológico anterior. Por outro lado, a inovação incremental se refere à introdução de melhorias em um produto, processo ou organização da produção não caracterizando uma ruptura com o padrão tecnológico vigente.

Os autores aima sugerem ainda a existência, além das inovações radicais e incrementais, de dois outros processos de mudança tecnológica: novos sistemas tecnológicos e mudanças no paradigma técnico-econômico.

Os novos sistemas tecnológicos consistem em combinações de inovações que possuem grandes ramificações e impactos sobre diversos setores produtivos e que, geralmente, geram o surgimento de novos setores na economia. Como exemplo, temos a internet, a telefonia móvel e a indústria de software pacote.

As mudanças no paradigma técnico-econômico ocorrem com o desenvolvimento e a difusão de novas tecnologias e/ou novos sistemas tecnológicos que possuem um grande e genérico conjunto de aplicações que impactam diretamente sobre as condições estruturais de produção em praticamente todos os setores da economia. Como exemplo, pode-se citar o motor a vapor e a eletricidade. Com relação direta com os objetivos deste trabalho, pode-se citar o amadurecimento do mais recente paradigma técnico-econômico, caracterizado pela revolução das tecnologias da informação e comunicação – TICs.

Os investimentos realizados em atividades inovadoras (sejam estas incrementais ou radicais) implicam na corrida contra as demandas de uso eficiente de recursos em curto prazo, por causa da natureza incerta dos retornos de investimentos e do tempo necessário para o retorno das inovações (MENDEL; FERREIRA, 2006).

De acordo com Freeman e Peres (1988), tecnologia significa um conjunto de conhecimentos sobre técnicas e é freqüentemente utilizada para abranger tanto o conhecimento por si só, bem como a incorporação tangível deste conhecimento em um sistema operacional de produção de um bem ou serviço.

Dentro do atual cenário global caracterizado por grandes transformações sociais, econômicas, políticas, institucionais e climáticas, há a possibilidade de se observar o aumento da competição por novas formas de atuação, novos insumos, novos produtos, bem como novos processos de produção que sejam capazes de atender às necessidades de nosso tempo através da evolução obtida a partir da proposição de inovações tecnológicas.