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Neste momento da pesquisa apresenta-se o desafio de analisar e considerar as informações coletadas. Segundo González-Rey (2012), o processo de análise e interpretação deve ocorrer simultaneamente à coleta de informações. Essa condição caracteriza o método que visa a ampliar o conhecimento científico que pode indicar não só uma resposta, mas novas possibilidades inteligíveis.

O sentido subjetivo [...] não aparece de forma direta na expressão intencional do sujeito, mas sim indiretamente na qualidade da informação, no lugar de uma palavra em uma narrativa, na comparação das significações atribuídas a conceitos distintos de uma construção, no nível de elaboração diferenciado no tratamento dos temas, na forma com que utiliza a temporalidade, nas construções associadas a estados anímicos diferentes, nas manifestações gerais do sujeito em seus diversos tipos de expressão etc. (GONZÁLEZ-REY, 2012, p. 116)

É o momento de se fazer uma síntese teórica em processo permanente pelo pesquisador, o que envolve: teoria, valores e também as intuições do pesquisador. Torna-se desafiador considerar o que há de fundamental no método sócio-histórico, que é a condição de desvendar os sentidos e significados por meio da subjetividade e de diversos elementos como a fala, a expressão e as atitudes do sujeito. E ainda adaptar-se à condição do tempo, de pausas necessárias para que análises mais profundas possam acontecer, pois o método está pautado no que não é obvio e declarado, e isso não ocorre no imediato.

Não está nas aparências do material empírico o objeto do pesquisador, mas nas diversas formas de organização não acessíveis da aparência sendo, no nosso caso, a organização subjetiva presente em todo tipo de comportamento ou expressão humana. Considerando que a subjetividade, segundo a nossa definição e a forma com que dela nos aproximamos, representa uma realidade complexa, impossível de ser conhecida por categorias universais a priori que frequentemente representam muito mais dogmas que construções científicas [...] (GONZÁLEZ-REY, 2012, p. 117)

Os resultados apresentados a seguir correspondem à análise dos dados do questionário objetivo, aplicado em um grupo de setenta alunos, o que corresponde a uma sala de aula padrão do curso. Essas informações têm como objetivo apresentar características mais detalhadas do perfil desses alunos e de sua particular forma de viver. Descrições sucintas, porém suficientemente ricas, que indicam questões imprescindíveis para este estudo.

8.1. Profissão dos pais

Segundo Bordieu (1930-2002), o núcleo familiar é capaz de oferecer as bases para a educação cultural. Os hábitos, os costumes e principalmente o contato com o conhecimento, por meio das artes, de viagens e experiências cotidianas, podem sustentar as atitudes e o comportamento do sujeito em situações futuras. Essa bagagem cultural pode ser capaz de fazer com que o indivíduo adote um comportamento que o diferenciará de determinados grupos sociais. E ainda conclui que a herança econômica e social pode determinar não só a chegada à universidade, mas também qual curso será permitido o sujeito frequentar com base na profissão dos próprios pais.

Ao se eleger as áreas de atuação desses pais, buscaram-se indicativos de informação que pudessem delinear de modo geral em que áreas esses sujeitos trabalham. Para esta questão os voluntários declararam as respectivas profissões por meio de uma questão aberta. As respostas foram classificadas em três subáreas: operacional; de desempregados; e administrativos. Na área operacional, as profissões mais citadas foram a de pedreiro e mestre de obras, além de motorista, vendedor e outras. Em algumas respostas aparecem também os autônomos, pessoas que vivem dos chamados “bicos”, trabalhadores informais que vivem à margem do mercado de trabalho.

Na área administrativa, surgiram apenas 7% das respostas que citaram como profissão: contador, corretor de imóveis e auxiliar administrativo. No gráfico a seguir, a proporção de 90% das respostas apresenta-se nas áreas operacionais, o que nos permite concluir que são pais trabalhadores, pobres e consequentemente com pouco acesso às opções de cultura e lazer.

90% 3% 7%

Profissão Paterna

90%Operacional 3% Não Trabalha 7% Administrativa

Quanto às profissões das mães, apenas 20% delas permanecem em casa cuidando do lar, as outras, que chegam a 80%, estão no mercado de trabalho. As profissões de doméstica e babá são as mais citadas, seguidas por costureiras, vendedoras, diaristas e faxineiras. Representando a minoria, apenas 4%, estão algumas professoras e auxiliares administrativas.

8.2. Estado civil

Quanto ao estado civil, 64% dos entrevistados se declaram casados, e logo abaixo no gráfico sobre a idade é possível afirmar que este casamento acontece antes dos 30 anos, pois a maioria tem entre 25 e 30 anos. As responsabilidades com a vida adulta, além de administrar trabalho e estudos, tornam-se complicadores para aqueles que precisam enfrentar o mercado de trabalho; o excesso de atividades os leva a dispor de menos tempo para os estudos. Além das despesas assumidas precocemente, que também podem comprometer projetos mais arrojados no futuro. Despesas fixas os desencorajam no sentido de tentar outras oportunidades de trabalho; esses indivíduos não se colocam em risco, e podem, por isso, ficar aprisionados a trabalhos pouco desafiadores e consequentemente mal- remunerados. 76% 20% 4%

Profissão Materna

76% Operacional 20% Não trabalha 4% Administrativo

8.3. Faixa etária

Segundo o MEC (2014), a idade esperada para que o jovem brasileiro esteja na universidade é entre 18 e 24 anos. Sendo assim, foram utilizados parâmetros para a classificação destes alunos. A primeira faixa propõe a idade esperada, e as outras duas faixas propõem o avanço da idade entre 25 e 30 e também para mais que 30. Alunos com mais de 30 anos são frequentes e comuns nestes cursos. Como resposta, temos mais de 70% dos alunos com mais de 25 anos de idade. O que nos permite concluir que a maior parte destes alunos se matricula um pouco mais tarde na universidade. 64% 36%

Estado Civil

64% casados 36% solteiros 29% 55% 16%

Idade

29% 18 a 24 anos 56% 25 a 30 anos 16% mais de 30 anos

8.4. Renda individual e familiar

A renda é uma das variáveis mais importantes para se traçar o perfil socioeconômico. Estar informado sobre as condições financeiras nos permitirá fazer algumas análises sobre este estudo e o perfil desse estudante. Partindo da base teórica da pesquisa e dos indicativos de valores de mensalidades e da observação do perfil socioeconômico destes alunos, traçaram-se três faixas para a resposta da renda individual e, logo depois, familiar, utilizando como referencial quantidade de salários mínimos, que variou entre um, dois e três salários.

Partindo da análise de renda individual é possível afirmar que 50% dos estudantes vivem com até dois salários mínimos. Ao avaliar as condições familiares é possível perceber que essa condição se mantém, aumentando a proporcionalidade para três salários mínimos em 44%. 31% 50% 19%

Renda individual

31% Um salário mínimo 50% dois salários mínimos 19% três salários mínimos 10% 46% 44%

Renda Familiar

10% Um salário mínimo 46% Dois salários mínimos 44% Três salários mínimos

8.5. Profissão

Na variável profissão apresenta-se uma correspondência com a herança familiar no que se refere às áreas de atuação; 65% dos pesquisados se declaram profissionais de áreas operacionais. Foram citadas funções como operadores de telemarketing, vendedores, recepcionistas, porteiros, caixas e atendentes. Os 3% que se declaram profissionais da área de Recursos Humanos são estagiários; essa área foi destacada no gráfico para não ser incluída no item administrativo, por ser um dos objetivos centrais desta pesquisa dimensionar e compreender a proporcionalidade de pessoas que estudam e trabalham na área preterida.

8.6. Moradia

A moradia, assim como as demais variáveis, configura importância para este estudo. A região e a forma como moram estas pessoas constituem também um forte indicativo das condições sociais e econômicas dos sujeitos. Dos 70 sujeitos pesquisados, aproximadamente 70% declaram morar em casa própria ou com parentes, o que indica a ausência de despesa com aluguel ou financiamento de imóvel. Além dessas informações, destaca-se que 100% dos entrevistados moram nas regiões periféricas de Santo Amaro; os bairros mais citados são Capão Redondo, Grajaú, Campo Limpo e Jardim Ângela.

65% 19% 13% 3%

Profissão

65% Operacional 19% Não trabalham 13% Administrativo 3% RH

8.7. Gênero

A questão do gênero determina para este curso uma peculiaridade, 90% dos alunos são mulheres, e como dito anteriormente a maioria são casadas com filhos. Em 2013, do total aproximado de 6 milhões de matrículas, 3,4 milhões foram de mulheres, contra 2,7 milhões do sexo oposto. Na conclusão dos estudos, 491 mil alunas formaram-se, enquanto 338 mil homens terminaram seus cursos em 2013, o estudo também apresenta uma tendência maior de mulheres matriculadas em cursos relacionados às áreas humanas. MEC (2015)

8.8. Raça

Ao analisar as questões raciais 70% dos sujeitos se dizem negros ou afros descendentes, a minoria se considera branca 10% e 20% se definem como pertencentes a outras raças. No Brasil a inclusão de negros no ensino superior ocorre moderadamente com maior incentivo de bolsas do Pro uni, o que aqui neste estudo apresenta-se de modo contraditório, pois dos entrevistados nenhum sujeito é

35% 29% 36%

Moradia

36% Própria 29% Alugada 36% Parentes 10% 90%

Gênero

10% homens 90% mulheres

bolsista, cabe ressaltar que a modalidade do curso comporta e aceita alunos nesta condição. Entre 2013 e o fim de 2014 foram constatadas aproximadamente 150 mil estudantes negros matriculados no ensino superior. Mesmo assim a desigualdade persiste, comparando as porcentagens no mesmo ano de 2013 foram 40,7% de negros matriculados para 69,4% de brancos. MEC (2015)

8.9. Síntese do perfil dos sujeitos

A partir da análise de todos esses dados foi possível definir que os sujeitos deste estudo são filhos de famílias trabalhadoras das áreas operacionais, de mães que em sua maioria também trabalham para garantir o sustento da casa. Moram em regiões periféricas em imóveis próprios ou da família. São mulheres, afros descendentes, pessoas que trabalham em áreas operacionais, como restaurantes, recepção, comércio, varejo, telemarketing. Com salários que representam em média dois salários mínimos. Utilizam o transporte público para a locomoção e são os responsáveis pelas próprias despesas, incluindo a mensalidade da universidade.

Foram eleitos doze sujeitos, entre a fase de conclusão do curso (último semestre) e os primeiros anos pós-formação.

20% 70% 10%

Raça

20% outros 70%Afros descendentes 10% brancos