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As relações sociais e a competência comportamental

5. O conceito de competência e a relação trabalho versus ensino superior

5.2. As relações sociais e a competência comportamental

Apesar de o ambiente organizacional e o da educação formal não serem responsáveis pelo desenvolvimento pleno das competências, o mercado de trabalho, com toda a sua instabilidade, tende a preferir pessoas com maior capacidade de tomar decisões. Condição subjetiva que faz com um sujeito seja considerado mais competente do que outro.

A subjetividade, no entanto, é complexa, contraditória, e se apresenta de modo velado. O subjetivo é construído, e compreender essa construção determina as bases objetivas do processo. Isso significa que ao mesmo tempo há o subjetivo, que é individual, e o coletivo, que é o objeto. Consequentemente o subjetivo determina qualitativamente um espaço, um momento histórico, uma sociedade que se fez com o passar do tempo. Consideram-se, para o conceito subjetividade, portanto, o sistema capitalista e a relação que se estabelece com o trabalho, fundamentado no princípio da competitividade e na divisão de classes. (BOCK; GONÇALVES, 2009)

A construção da subjetividade acontece de modo dinâmico, interativo e no constante ir e vir, ou seja, o sujeito afeta e é afetado por outras pessoas, situações das mais diversas possíveis, e todo esse movimentar constitui uma forma única e, ao mesmo tempo, representa o cenário em que está inserido. Vale ressaltar que a expressão “fenômeno social” se refere, na relação dialética, entre suas múltiplas determinações, em última instância, às bases objetivas e às bases subjetivas. As bases objetivas estão representadas pelo que é vivido coletivamente, e as bases subjetivas são tudo aquilo que gera algum sentido emocional ao indivíduo. Pode-se, portanto, considerar a subjetividade social e a subjetividade individual.

A subjetividade está constituída tanto no sujeito individual como nos diferentes espaços sociais em que este vive, sendo ambos constituintes da subjetividade. O caráter relacional e institucional da vida humana implica a configuração subjetiva não apenas do sujeito e de seus diversos momentos interativos, mas também dos espaços sociais em que essas relações são produzidas. Os diferentes espaços de uma sociedade concreta estão estreitamente relacionados entre si em suas implicações subjetivas. É esse nível de organização da subjetividade que denominamos subjetividade social. A subjetividade social apresenta-se nas representações sociais, nos mitos, nas crenças, na moral, na sexualidade, nos diferentes espaços em que vivemos etc. e está atravessada pelos discursos e produções de sentido que configuram sua organização subjetiva. (GONZÁLEZ-REY, 2005, p. 25)

Cada uma das formas de expressão da subjetividade social expressa a síntese, simbólica e, por isso, também subjetiva, do conjunto dos aspectos objetivos responsáveis pela articulação do funcionamento social. É esse conjunto que também será responsável, quando articulado, pela formação da subjetividade dos indivíduos que fazem parte dessa sociedade.

Constrói-se, então, considerando o social, o histórico, o sistema econômico, e tudo o que constitui o momento vivido, “a dimensão subjetiva da realidade”, que estabelece a síntese entre as condições materiais e a interpretação subjetiva dada a elas. Ou seja, representa a expressão de experiências subjetivas num determinado campo material, num processo em que tanto o polo subjetivo como o objetivo se transformam.

Assim, a realidade é a expressão do campo de valores que a interpretam (suas bases subjetivas) e ao mesmo tempo o desenvolvimento concreto das forças produtivas (suas bases objetivas). Há uma dinâmica histórica que coloca o plano subjetivo e objetivo em constante interação, sem que necessariamente se possa indicar claramente a fonte de determinação da

realidade. Isso nos leva a afirmar que a realidade é um fenômeno multideterminado, o que inclui uma dinâmica objetiva (sua base econômica concreta) e também uma subjetiva (o campo de valores). O indivíduo é o sujeito singular dessa dinâmica e, assim como recebe prontos a base material (dada pela sua inserção de classe) e os valores (o plano da socialização), também é agente ativo da transformação social, independente de ter ou não consciência do fato. (FURTADO, 2001, p. 91)

Entende-se por dimensão subjetiva da realidade as construções da subjetividade, que também são constitutivas dos fenômenos. Os produtos subjetivos têm o mesmo caráter social, processual e dialético da constituição da subjetividade. A subjetividade não se esgota em seus elementos individuais: o indivíduo age sobre o mundo, relaciona-se e realiza, objetivamente, o que elaborou subjetivamente.

É a partir da consciência de si e da consciência do outro que o plano singular da subjetividade se imbrica com o plano social da subjetividade. Ao mesmo tempo, a partir da atividade concreta do sujeito, ele se inclui num campo objetivo da sociedade (sua base material, a relação de classes, a força de trabalho etc.) e age objetivamente no plano individual de acordo com essa demanda social objetiva. É essa mesma relação objetiva que estará sendo interpretada a partir das inúmeras representações, permitindo a constituição da concepção de realidade.

É exatamente essa relação que nos permitirá dizer que é possível para a Psicologia Social enfocar a gênese das representações, das construções ideológicas, a partir do estudo da subjetividade social que aqui denominamos Dimensões Subjetivas da Realidade. A Dimensão Subjetiva da Realidade é correlata à Configuração Subjetiva do Sujeito e denota como a subjetividade se configura socialmente. Está presente no repertório cultural de um povo, constitui a sua identidade social, é matriz da constituição de suas representações sociais. Sua dinâmica internacional, de base objetiva material (os determinantes sociais e econômicos) e campo da configuração subjetiva do sujeito, é o elemento dialético que nos permite considerar a relação dialética entre a produção singular de determinado sujeito e a produção de um conteúdo que representa o repertório cultural de um povo e que se constitui historicamente. (FURTADO, 2001, p. 92)

Do ponto de vista ontológico, a realidade, independentemente do ser humano, é objetiva e concreta, quando mencionamos a relação entre causalidade e conhecimento, é preciso apontar a mediação que permite estabelecer uma nova qualidade: a consciência do mundo vivido. Essa capacidade determina aos sujeitos condições para agir de modo intencional, com motivação subjetiva dos sentidos, condições emocionais que tenham significados específicos para cada ser.

A subjetividade legitima-se por ser uma produção de sentidos subjetivos que transcende toda a influência linear e direta de outros sistemas da realidade, quaisquer que estes sejam. O sentido subjetivo está na base da subversão de qualquer ordem que se queira impor ao sujeito ou à sociedade desde fora. As formas de comportamento social explícito diante de situações externas de marcada pressão e repressão, mais que uma via de expressão de sentidos subjetivos, representam uma via de ocultamento.

A sociedade, encarada sob essa perspectiva, não representa uma dicotomia com a subjetividade; na verdade, a subjetividade desdobra-se e desenvolve- se no interior do universo de realidades e de processos objetivos que caracterizam a organização social. Em relação aos complexos processos de organização social e às estruturas sociais, o sentido subjetivo representa uma forma a mais pela qual essa complexa realidade afeta as pessoas. (GONZÁLEZ-REY, 2005, p. 22)

A motivação não é específica de uma atividade, mas sim de um sujeito; é uma maneira exclusiva de pensar, que participa da produção de sentido de uma atividade concreta, mas que age de forma simultânea em outras esferas da vida de determinada pessoa. É a integração de emoções de origens diversas a formas simbólicas e às condições de vida, na delimitação de um espaço da experiência desse sujeito, produzindo sentido, que é, naturalmente, subjetivo.

Toda ação é planejada, contém uma intenção, uma razão de ser na história humana. Sendo assim, as competências se apresentam como condições próprias dos sujeitos, construídas desde o nascimento, na educação formal, mas principalmente na educação informal, o que torna este desenvolvimento fruto das condições ambientais, sociais, econômicas e culturais nas quais estes sujeitos estão inseridos.

As competências no Ensino Superior são complementares à formação porque proporcionam a aquisição de novos conhecimentos. Essa condição pode direcionar o indivíduo para diversos e diferentes rumos. Mas a história de vida vem antes do Ensino Superior e, por isso, tem maior peso, afetando comportamentos, o que poderá definir uma contratação, uma inclusão ou exclusão do mercado de trabalho.

Sabe-se que o ambiente é capaz, por meio de estímulos, de permitir o desenvolvimento ou não de um sujeito, e que isso envolve as universidades, as empresas, a economia e as relações sociais. Sendo assim, as competências são de modo resumido, uma construção social ideológica capaz de motivar as pessoas a tomar determinadas atitudes.