• Nenhum resultado encontrado

4 RODA DE CONVERSA COMO EVENTO DE LETRAMENTO PARA

5.1 ANÁLISES DAS PRODUÇÕES COM VISTAS A ASPECTOS DE SUA CONSTRUÇÃO

5.1.1 Análise das produções de Beta

Figura 24 - Produção inicial de Beta

Fonte: Arquivos da pesquisa (2015)

A aluna começa o texto evidenciando no título em que gênero pretende desenvolver sua produção, organizando suas ideias em apenas um parágrafo. No início cita objetos que compõem um espaço, a princípio não especificado, mas que pode ser identificado pela referência feita aos objetos, bem como pela locução adverbial “na vitrine” que denota se tratar de uma loja.

O plano geral do texto é construído com a introdução de uma sequência narrativa em que são inseridos personagens – duas crianças, uma jovem - reforçado o cenário onde os fatos se delinearão – a vitrine – utilizando modalizadores verbais para indicar diversas ações e o estado das personagens – “passou”, “parou”, “ficou olhando”.

Apesar de praticamente não usar sinais de pontuação, os mecanismos de conexão são assegurados pelo uso de uma série de verbos que mostram toda a sequência dos acontecimentos e, consequentemente, a dinâmica da narrativa. A

Crônica

Equipamentos Eletrônicos, na vitrine / tinha uma linda guitarra , Passou / uma jovem com duas crianças em / frente, só uma criança parou e ficou / olhando, a vitrine a mãe não percebeu / que ele tinha ficado pra traz, voltou e / chamou vamos filho ta tarde e eu tou / com sono, amanhã ajente vem, o / menino começou a chorar porque queria / a guitarra, a irmazinha quando percebeu que seu irmao queria uma / guitarra também queria, a mãe com / muita paciência convenceu ir embora / que voltava no dia seguinte, eles foram / mais ele foi chorando... será que ela vai / voltar mesmo ou mentiu pra ele?????

situação de conflito se dá a partir do momento em que uma das crianças fica parada, admirando o objeto que desencadearia toda a tensão: a guitarra.

Quando o problema surge, os personagens ganham voz através de um ligeiro diálogo que, apesar de não estar sinalizado, torna-se perceptível pelo uso do verbo “chamou”. O uso do dêitico temporal “tarde”, da frase “estou com sono” e do outro dêitico “amanhã” nos faz deduzir que o fato ocorre bem depois do horário comercial.

Podemos identificar o clímax da narrativa com a introdução da locução verbal “começou a chorar” referindo-se à menina, no momento que percebeu a resistência do irmão em se afastar da loja. Certamente, a compreensão de que o irmão insistia em ganhar a guitarra foi gerada por uma reivindicação expressa oralmente pelo menino, pois, mesmo que essa fala não esteja explícita, levando em consideração a referência “irmãzinha” para citar a criança, podemos inferir que se trata de alguém bem novo, que não conseguiria ler a cena do irmão desejando ardentemente a guitarra se estivesse apenas observando tudo que passava.

O desfecho se dá quando a mãe conseguiu convencê-los, argumentando que voltaria no dia seguinte. Nesse momento, podemos dizer que a aluna estabelece um diálogo com o interlocutor, deixando que ele tire suas próprias conclusões, embora, ao afirmar que as crianças saíram chorando, nos dê evidência de que elas, assim como a autora, não acreditaram nos argumentos utilizados pela mãe.

Como podemos perceber, apesar de ser curto, o texto traz todas as características próprias de uma crônica narrativa, apesar da opção por introdução descritiva que se delineia naturalmente para uma crônica predominantemente narrativa.

5.1.1.2 Atividade de reescrita de Beta

Figura 25 - Atividade de reescrita de Beta

Fonte: Arquivos da pesquisa (2015)

Apesar de a organização do texto continuar se limitando a um parágrafo, já é possível perceber avanços no título que demonstra preocupação em evidenciar a temática que será abordada. Ao contrário do que aconteceu na primeira escrita em que o narrador se comportou como um observador que apenas registrava o que se passava, resolvendo se posicionar apenas no final da narrativa, nessa versão decide indicar sua presença na cena: “Estava sentada no banco da praça” ampliando para o leitor o contexto situacional que, quanto ao acontecimento que desencadeia o processo composicional, é especificado pela utilização do dêitico de lugar “em frente”.

De igual modo, o enunciador deixa explícito o local em que se encontram os objetos – uma loja de equipamentos. No entanto, a compreensão do contexto imediato ou desenvolvimento do tópico frasal fica comprometida pela omissão de um elo coesivo entre a locução adverbial e a utilização de sinal de pontuação que pudesse indicar o término ou continuidade do período no trecho “Em frente uma loja de equipamentos eletrônicos ia passando uma jovem com seus dois filhos pela calçada”, dando margem à dupla interpretação, tendo em vista a possibilidade das seguintes inferências:

a) Em frente (à praça) havia uma loja de equipamentos eletrônicos e ia passando uma jovem com seus dois filhos, pela calçada;

b) Em frente a uma loja de equipamentos eletrônicos, ia passando uma jovem com seus dois filhos, pela calçada.

Mãe e filhos

Estava sentada no banco da / praça Em frente uma loja de / equipamentos eletrônicos ia / passando uma jovem com seus / dois filhos Pela calsada O menino / parou e ficou olhando os aparelho / a mãe dele não percebeu que ele / ficou pra traz voltou e chamou / o garoto ele sem querer ir começou / chorar Porque queria uma guita- / rra. a mãe com muito carinho / chamou vamos filho tá tarde / amanhã ajente vem o menino / não queria acordo queria levar / a guitarra a irmãzinha também / queria uma em fim a mãe conse- / guiu convencer as crianças. e foi / embora com os dois ainda choran- / do.

Na ausência da pontuação e dos parágrafos, os verbos de ação garantem a progressão temática, o que demonstra que embora haja insegurança quanto ao uso adequado dos sinais de pontuação e das letras maiúsculas e minúsculas, a aluna busca meios de suprir essa dificuldade, preocupando-se em tornar o texto compreensível.

A sequência textual não apresenta mais nenhuma alteração em relação à primeira produção, a não ser no final em que foi retirado o questionamento, uma espécie de convite para o leitor dialogar com o narrador, o que acaba se constituindo na perda do recurso da ironia.

5.1.2 Análise das produções de Órion