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1 FUNDAMENTOS QUE DISCUTEM O ENSINO E OS USOS DA LÍNGUA NA

2.3 COLABORADORES

Esta pesquisa teve como colaboradores os alunos de ensino fundamental da educação de jovens e adultos e a professora da disciplina de Língua Portuguesa que também foi responsável pelo desenvolvimento da pesquisa. O grupo, constituído de seis mulheres e seis homens, apresentou uma faixa etária que variava entre 29 e 49 anos. Destes, apenas dois eram solteiros e um deles tinha filhos; entre os casados um não tinha filhos, outro tinha cinco filhos e os demais variavam entre um e três filhos, caracterizando, em sua maioria, famílias pequenas. Todos declararam ser residentes e domiciliados no município de Currais Novos/RN sendo que um aluno morava em casa cedida, dois pagavam aluguel e os demais residiam em casa própria.

No que se refere às ocupações dos discentes, apenas um informou que não trabalhava enquanto os demais exerciam profissões diversas: mecânico, tecelão, doméstica, motorista, cozinheiro, assistente de serviços gerais, churrasqueiro e profissional liberal. Desse universo, sete trabalhavam com carteira assinada, entre os quais quatro ganhavam pouco mais que um salário mínimo, sendo que a renda de cinco informantes era complementada por programas do Governo Federal como Bolsa Família e Bolsa Escola. Os colaboradores que não tinham vínculo empregatício formalizado, ou seja, que não trabalhavam com carteira assinada, recebiam abaixo do mínimo.

A maioria desses alunos passou um tempo significativo fora da escola, entre dez e trinta anos e estavam frequentando recentemente a EJA. Dentre os motivos que provocaram esse afastamento longínquo foram elencados o trabalho, os problemas pessoais, a mudança de cidade, a falta de motivação e o próprio desinteresse pelos estudos, como afirmara o aluno mais velho da classe.

Apesar de se tratar de uma turma que se dispunha a realizar a maioria das atividades desenvolvidas em sala, a mesma disponibilidade não se aplicava às propostas para casa, sendo apresentado como principal justificativa o trabalho. Os alunos demonstravam ainda inúmeras dificuldades de leitura que incluía problemas desde a simples decodificação, identificação de informações e compreensão dos textos, às quais se refletiam diretamente na escrita e também na oralidade. Isso fazia com que se angustiassem muito durante a realização das atividades, demonstrando falta de proficiência no uso da língua, no registro escrito e na expressão oral.

Com a intenção de conhecer a opinião dos alunos em relação aos estudos de Língua Portuguesa e o que pensam sobre a leitura e a escrita, pois embora o foco dessa intervenção fosse a escrita não há como dissociar uma prática da outra, foi aplicado um questionário que contemplava questões de múltipla escolha e questões abertas. A aplicação desse questionário ajudou ainda a traçar o perfil dos colaboradores e ter uma maior percepção das expectativas e concepções de aprendizado de cada um deles.

Quando indagados sobre a utilidade da Língua Portuguesa para suas vidas, em suas respostas, alguns atribuíram à disciplina uma possibilidade de aprender a se comunicar, a falar corretamente e a escrever melhor, de aplicar os conhecimentos às práticas de “redação”, de aprendizado da escrita; uns evidenciaram a utilidade

nas situações cotidianas, e outros foram específicos, considerando-a “fundamental”, “bom”, como tendo “utilidade total”. De modo geral, as falas demonstravam a importância da referida disciplina em todos os momentos de suas vidas, como afirmara um dos alunos em sua resposta. Essas declarações foram complementadas algumas vezes nas rodas de conversa, promovidas para estabelecer um diálogo mais descontraído e efetivo entre professora e discentes, em que, por exemplo, um aluno revelara que “tinha vergonha quando ia participar de uma reunião na empresa e não sabia escrever” ou outros afirmavam que eram muito ruins de escrita.

Em relação ao questionamento sobre as expectativas de aprendizagem, em que alguns alunos afirmaram querer aprender tudo o que tivessem oportunidade, como: “aprender a ler bastante”, “escrever certo” e a “interpretar textos”, foi possível perceber a preocupação em tentar recuperar o tempo perdido.

As respostas para o item “O que mais gosta de estudar” e “O que mais tem dificuldade de apender” carregavam o mesmo teor da questão anterior: queriam aprender a ler, escrever e interpretar, destacando alguns aspectos de ordem gramatical e ortográfica, sobretudo usar os sinais de pontuação.

Quanto aos hábitos de leitura e escrita, apesar de afirmarem considerá-los importantes, tais práticas, segundo os alunos, estavam condicionadas às demandas do trabalho ou eram vivenciadas apenas quando sobrava algum tempo, tendo, portanto, um caráter secundário na vida desses sujeitos. Ainda assim, alguns afirmaram ler jornais, revistas, histórias infantis, bíblia e romances. Dessa forma, o hábito de ler estava mais ligado às necessidades imediatas, o mesmo acontecendo com as práticas de escrita. Essas informações foram imprescindíveis para o planejamento e desenvolvimento da proposta de trabalho.

Durante aplicação dos módulos, para identificar as produções dos colaboradores, seus respectivos nomes foram substituídos pela designação de estrelas ou constelações, inspirada no filme indiano de Aamir Khan “Como estrelas na terra, toda criança é especial”, pela mensagem de respeito e de credibilidade que devemos ter com o outro e, consequentemente, a importância de reconhecer o potencial que existe em cada sujeito, independente das limitações, dos obstáculos ou do próprio descrédito das pessoas, e o papel do professor enquanto mediador desse processo.

A escolha dos pseudônimos resultou de uma reflexão sobre os alunos da EJA que, embora muitas vezes estejam desmotivados e desacreditados da própria

capacidade, corajosamente retornam à escola, decididos a enfrentar as inúmeras barreiras para continuar estudando, o que os torna, de fato, muito especiais. Por isso, requerem um olhar respeitoso e práticas pedagógicas comprometidas com o exercício da cidadania, dando-lhes a oportunidade de exercer o protagonismo na elaboração e reelaboração de seus saberes.

Em relação à docente colaboradora, que também fazia a intervenção como pesquisadora, tratava-se da professora titular da turma, com vinte e um anos de docência, ao longo dos quais trabalhou com alunos de diversos segmentos e nos últimos nove anos vinha se dedicando ao ensino de jovens e adultos, público com o qual enfrentou os maiores desafios da carreira.

O envolvimento direto enquanto docente e pesquisadora, tendo, portanto, como colaboradores os próprios alunos, significou mais uma grande oportunidade de encontrar caminhos para o desenvolvimento de ações metodológicas eficazes, de modo a tornarem-se sujeitos mais ativos na reelaboração de saberes e na construção de novos conhecimentos, reconhecendo o potencial que têm para o aprendizado, valorizando as experiências e aceitando o desafio de serem protagonistas e não meros espectadores nas situações voltadas para o processo de ensino-aprendizagem.