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Em termos de análise das entrevistas, foi possível identificar que algumas entrevistadas começaram a empreender durante a pandemia para sobreviver por conta do cenário econômico de recessão e desemprego, como a Entrevistada 3, a Entrevistada 4 e a Entrevistada 5. Foi possível observar durante as entrevistas, alguns desafios e dificuldades que podem ser justificados pelo empreendedorismo “forçado”

pela necessidade de sobrevivência tais como controle orçamentário, controle de demanda, administração dos insumos etc., não houve tempo para planejamento pois a sobrevivência tem pressa.

É inevitável, eu tenho medo, mas eu sinto medo de pegar alguma coisa, meu filho em casa, passa tudo isso na cabeça..., Mas é Deus na frente e vamo lá, que as contas não esperam né. (ENTREVISTADA 4, 2021)

A Entrevistada 2 é uma exceção por conta do ramo em que atua. Empresas do ramo alimentício aumentaram a demanda durante a pandemia devido à mudança das empresas para o regime de home office. Conforme pesquisa de novembro de 2020 o aumento da demanda por delivery foi 71% a mais que o mesmo período em 2019 e

“os gastos com pedidos de comida por delivery cresceram 530% entre janeiro e novembro” (VEE, 2020). Em outro estudo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2021) conclui que 7,3 milhões de brasileiros começaram a trabalhar em home office devido à pandemia, destas, 57,8% eram mulheres.

[...] no final de 2019 a gente implantou o delivery e em fevereiro de 2020 a gente passou a ser padaria além de confeitaria. Então isso também teve um impacto muito grande, eu acredito que esse tem sido o principal motivo pelo qual a gente conseguiu aumentar o movimento, porque a gente passou a ser um serviço essencial né. Eu acho que isso teve um impacto bem grande.

Muita gente não estava saindo de casa, o movimento no delivery aumentou absurdamente. (ENTREVISTADA 2, 2021)

Por conta da alta demanda, um aumento repentino que a empresa não estava preparada para receber, houve um momento de crise de gestão de demanda e a saída encontrada foi o aumento da equipe de entregas e delivery próprio. A empresa já era uma marca criada antes da pandemia, apesar de não atender como padaria antes da pandemia, a empresa atendia como confeitaria e já era consolidada na região.

No atendimento senti bastante o impacto da pandemia mesmo, porque como aqui a gente está no extremo sul, na periferia, então as pessoas que a antes estava no centro passaram a ficar mais em casa, então com a gente na

verdade o que aconteceu foi que o nosso movimento aumentou muito. A gente tava no começo do Delivery, então foi uma loucura pra gente se adaptar. (ENTREVISTADA 2, 2021)

Ao contrário da Entrevistada 3, uma vez que sua empresa foi criada na pandemia e ela luta para alcançar o público com preços não necessariamente atrativos por conta da alta dos preços dos insumos.

Estou enfrentando dificuldades no momento! Agora com as coisas aumentado as pessoa reduziram o consumo de doces artesanais e acabam fazendo em casa ou procurando o produto mais barato. Eu moro em comunidade, e vejo todos moradores estão com dificuldades em casa.

(ENTREVISTADA 3, 2021)

A Entrevistada 1 também reclama do preço dos insumos, que, de acordo com Rodrigues (2020): “no caso dos impostos sobre produtos, a indústria de transformação” – sistemas de produção que transformam um elemento – “é a grande responsável por sua retração. Sozinha, a queda em sua produção corresponde por 82,1% de toda diminuição no ICMS e 69,8% no total dos impostos sobre produtos.”.

(RODRIGUES, 2020, p. 13)

Mudou o preço das coisas, risos. Mas assim, eu sempre usei alcool gel e líquido né, mas às vezes né, num lugar e no outro e tal. Agora não, agora eu uso em tudo: Na maca, nos móveis, em tudo que eu uso aqui.

(ENTREVISTADA 1, 2021)

A maioria das entrevistadas não conseguiu auxílio emergencial e/ou auxílio empreendedor. A Entrevistada 4 enfrentou dificuldades e custou a receber o auxílio emergencial, apesar de ter direito. Desempregada e com filho, recorreu da decisão por vias legais e recebeu retroativamente, no entanto passou dificuldades para suprir a sua alimentação e pagar o aluguel, tendo sido ajudada por amigos e familiares. Sua principal indignação neste caso foi ver conhecidos recebendo auxílio sem necessidade e seu auxílio ter sido negado, reclamando da desorganização do governo federal na distribuição dos auxílios emergenciais. HENRIQUES et al (2020, não paginado) menciona esse ambiente de turbulência e desinformação como uma das responsáveis por essa desorganização.

A tal fenômeno, a literatura em Comunicação em Saúde, assim como a de outros campos, tem denominado “infodemia”, que consistiria num excesso de informações sobre um mesmo tema. Tal excesso, também referente à grande quantidade de fontes de informação, implica desorientação por parte das

pessoas, que perdem ou minimizam a capacidade de reconhecer fontes e conteúdos confiáveis. Com isso, ficam propensas aceitar como verdade aquilo que corresponde aos seus valores ou crenças. (HENRIQUES et al, 2020, não paginado).

Houve uma queda no faturamento no caso da Entrevistada 1, cujo trabalho exige contato presencial. Durante o lockdown, teve que fechar a empresa por aproximadamente 6 meses até que se traçassem estratégias e protocolos de cuidados para que o atendimento presencial fosse possível.

Eu fiquei 5 meses sem trabalhar e voltei em setembro do ano passado. Para mim o psicológico ficou horrível, fiquei bem mal, mas financeiramente Graças a Deus eu tinha meu marido que manteve. (ENTREVISTADA 1, 2021).

As Entrevistadas 3, 4 e 5 tiveram uma queda no faturamento por terem perdido seus empregos por conta da pandemia. Apesar de toda dificuldade que uma crise econômica proporciona, Rodrigues sabiamente sinaliza que:

A pandemia da COVID-19 é, antes de tudo, uma crise sanitária e de saúde pública e esse deve ser o foco de seu enfrentamento. Ações para limitar seu contágio e diminuir as mortes decorrentes da doença são urgentes e deveriam ser buscadas de maneira irrestrita. A economia é fator secundário, que apenas toma o primeiro plano na ausência de medidas efetivas do poder público. (RODRIGUES, 2020, p. 14).

No caso da Entrevistada 5 houve uma redução da procura no decorrer do ano, seguida de uma queda no faturamento que a levou a desistir do negócio e retornar ao mercado formal.

Depois de um tempo né, porque eu abri ela foi em fevereiro, aí quando foi em outubro mais ou menos, novembro e aí quando foi para o final do ano eu fui percebendo que foi caindo, caindo, ainda consegui ficar no final do ano com algumas clientes, mas aí depois eu vi que não era o momento né, não era aquele momento. (Entrevistada 5, 2021).

Em pesquisa do SEBRAE realizada em março de 2020, houve queda de 46% na demanda por serviços de beleza e até 26% em itens de beleza. Já na 9ª edição da mesma pesquisa. publicado com dezembro de 2020, 42% das empresas do ramo de beleza entrevistadas tinham alguma dívida ou empréstimo em atraso para manter o funcionamento do negócio.

A Entrevistada 1 também sofreu com a redução na demanda, o que vem melhorando aos poucos ao iniciar um novo nicho – dar aulas em cursos para formar outros designers de sobrancelhas.

Muita gente que vinha não voltaram. Mas graças a deus eu não posso reclamar voltou uns 80%. Só as que ficaram com mais medo que demorar um pouquinho mais mas graças a Deus veio bastante cliente nova. [...] melhorou porque eu agora tô dando aula de sobrancelha, de curso de sobrancelha.

(Entrevistada 1, 2021).

Uma manifestação comum entre todas é sobre saúde mental. A ansiedade é bastante citada nas entrevistas, sendo que um dos casos foi agravado durante a pandemia e outros ocasionados pela pandemia. Já vínhamos enfrentando um cenário de recessão econômica, segundo MINEIRO, 2019:

Os dados da Pnad Contínua divulgados pelo IBGE no período mais recente mostram a estagnação da renda (o rendimento médio trimestral caiu ligeiramente nos últimos dois trimestres medidos, entre dezembro/2018-janeiro/2019-fevereiro/2019 e fevereiro/2019-março/2019-abril/2019) e a manutenção do alto desemprego (a taxa de desocupação oscila entre os valores de 12,4% e 12,7% no mesmo período). (MINEIRO, 2019, p.4).

Tudo foi agravado pela pandemia, que, segundo análise da BBC (2021),

“agravou o que já seria a pior década de crescimento no Brasil em mais de um século.”. Segundo Carrança (2021) “a paralisação da atividade econômica durante parte do ano, como forma de conter a propagação do vírus, provocou a terceira maior queda já registrada pela economia brasileira em 120 anos.”. Além de outras preocupações provenientes desta: preocupação com o vírus e cuidados para sobreviver, preocupação com a vacinação e preocupação com a inflação, que é a maior dos últimos 19 anos de acordo com dados fornecidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e a Folha de São Paulo. Todos esses problemas somados resultam em uma grande onda de ansiedade e gatilhos emocionais nas entrevistadas e seus efeitos podem ser observados em toda sociedade.

Não sei se é porque a gente fica tão atenta os cuidados tipo a máscara, mão, não toca no olho, fica mais cansado porque tipo pensa mais, agora eu tô mais relaxada mas eu estava assim, eu não queria nem ficar perto de ninguém, mas hoje em dia eu to mais relaxadinha. Mas essa loucura de não encostar em nada e não ficar com pessoas eu ainda tenho [...] Hoje em dia eu to mais tranquila, eu to um pouco anti social, um pouco mais do que eu era. To gostando de ficar sozinha. Mas às vezes a sensação é ruim, querer estar com as pessoas mas não ter vontade. (Entrevistada 1, 2020).

Cara, eu comecei me sentindo mal por conta da ansiedade né, de ter visto meus planos mudaram completamente, parecia que eu não tinha controle

daquilo. Então foi bem complicado pra mim as crises psicológicas, eu cheguei a achar até que estava com depressão. No fim, conversei com a psiquiatra e não era depressão, era ansiedade mesmo, então foi bem complicado. Agora eu tenho me sentido bem, eu tenho me sentido feliz, satisfeita com o que eu faço. Eu vejo o impacto positivo que a gente tem na vida das pessoas daqui do bairro e de outros bairros. (Entrevistada 2, 2021)

Olha, eu acredito que eu tenha ansiedade, por motivos de me sentir insegura, de não me sentir o suficiente pra alguém, medo de algo dar errado!

Então várias vezes eu me pego chorando por alguma coisa que nem eu sei.

Aí acabo ficando triste e pensando em coisas que já passou. Faz 4 meses que perdi um primo meu. E acabei ficando quase um mês sem trabalhar direito porque isso me machucava muito. Ainda machuca um pouco, mas agora estou aprendendo a lidar. Durante a pandemia também me senti muito sozinha por não poder sair e ver as pessoas que estava acostumada (Entrevistada 3, 2021).

Analisando a nuvem de palavras criada a partir das entrevistas, quando a pergunta se tratava dos sentimentos durante a pandemia, podemos observar a repetição de palavras como ansiedade, preocupada, psiquiatra, mal, psicológico.

Figura 1: Nuvem de palavras - Sentimentos

Fonte: Dados da pesquisa, elaborados no software Atlas.ti

Com o apoio da tabela comparativa abaixo, é possível observar que, apesar de serem casos diferentes e negócios totalmente diferentes, a sobrecarga emocional, ansiedade, impactos psicológicos são reclamações feitas por todas as entrevistadas.

Entrevistadas

Principais pontos Entrevistada 1 Entrevistada 2 Entrevistada 3 Entrevistada 4 Entrevistada 5 1. Motivações para

a pandemia Caiu Aumentou Empresa criada

depois da pandemia.

Entrevistadas

Principais pontos Entrevistada 1 Entrevistada 2 Entrevistada 3 Entrevistada 4 Entrevistada 5 7.Trabalho no

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