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As entrevistas foram realizadas entre novembro e dezembro onde duas delas foram realizadas pessoalmente e três foram realizadas remotamente. A transcrição de exatas 1 hora 49 minutos e 44 segundos de entrevista totalizou 22 páginas. A seguir, optou-se por apresentar um panorama geral das entrevistas e os principais pontos relatados a fim de auxiliar na compreensão das respectivas histórias e momentos de vida e, posteriormente, uma matriz de análise.

4.1 Entrevistada 1

A entrevistada 1 tem 32 anos e tem um estúdio de design de sobrancelhas no Campo Limpo, extremo sul de São Paulo onde atende na garagem de casa. Teve de suspender as atividades por cinco meses durante a pandemia, o que afetou drasticamente o faturamento. Empreende há cerca de sete anos, quando deixou seu emprego em uma clínica odontológica onde trabalhava como auxiliar de laboratório após fazer um curso de estética, por não aguentar a pressão do trabalho formal, começou a atender com a irmã e hoje trabalha sozinha. Casada, contou com a ajuda do marido para pagar as contas. Houve queda no faturamento pois muitas das clientes não voltaram, com medo, mas vem melhorado recentemente ao começar a dar cursos.

Não houve muitas mudanças no atendimento por conta da pandemia, já que a utilização de álcool e máscaras já era frequente. Desde o início da pandemia, ela não tem saído de casa, ficando apenas assistindo séries em uma rede de streaming, tem sido mais antissocial, segundo ela.

Mora com a mãe, a irmã mais nova e o marido, dos quais a ajudam com as tarefas diárias. Agora, que vê as coisas melhorando, tem se sentido mais relaxada.

Teve dias ruins e hoje prefere ficar distante das pessoas, valoriza mais seus momentos sozinha e evita sair.

4.2 Entrevistada 2

A entrevistada 2 tem 24 anos e tem uma padaria e confeitaria no Jardim Noronha, extremo Sul de São Paulo. Por conta da pandemia e planos frustrados na

faculdade – pretendia concorrer a uma bolsa de estudos na Itália – decidiu entrar de cabeça no negócio da família, criada em sociedade com sua mãe e sua tia. Sua última colocação no mercado formal foi como estagiária na universidade onde estudava. Viu sua demanda aumentar muito, o que ela atribuiu a ter mais pessoas em casa e dependentes do delivery e à implantação da padaria, uma vez que as pessoas consomem itens como café e pão com mais frequência. No entanto, com o delivery recém implantado e o aumento desproporcional da demanda levou a entrevistada a diversas crises de ansiedade. Teve de aumentar os funcionários para conseguir dar conta da demanda, aumentou o faturamento, teve de rever processos para atender às normas de combate a COVID-19 impostas pelo estado quanto ao atendimento presencial. Com o tempo, foi se adaptando e o impacto da pandemia no negócio foi positivo, na questão financeira e demanda. Hoje conta com 18 pessoas trabalhando na loja e quatro motoboys entregando no delivery. Não tem filhos e no momento tem sido não absorvida pelo trabalho que não tem tido vida pessoal, porém pretende voltar a socializar por orientação médica. Apesar de tocar o negócio, não é a principal provedora de renda da casa, no entanto, o principal provedor sofreu reduções no salário por conta da pandemia. Ela considera ter tido muitos impactos negativos psicologicamente, seus planos mudaram completamente e a falta de controle a levou a crises de ansiedade. Agora, acompanhada por médicos e psicólogos, se sente melhor e motivada, acredita no que faz e pretende seguir empreendendo, além de ter planos de abrir uma escola de empreendedorismo para os moradores da periferia.

4.3 Entrevistada 3

A entrevistada 3 tem 26 anos e faz doces em sua casa – no Cantinho do Céu, extremo sul de São Paulo – para vender no delivery. Já vendia doces na academia onde trabalhava como recepcionista de forma a complementar a renda, já que a carga horária foi reduzida assim como o salário e viu nos doces uma saída após perder o emprego por conta da pandemia. Sua principal motivação para empreender foi perder o emprego na academia onde trabalhava como recepcionista durante a pandemia e ela acredita que a desconfiança das pessoas no seu trabalho a dá forças para dar o seu melhor. Mora com a mãe, que também é autônoma e juntas cuidam das tarefas domésticas de acordo com a disponibilidade de cada uma. Se considera casada, não

tem filhos e tem uma adega com o seu marido, onde estoca seus doces a pronta entrega. A principal reclamação é o aumento no preço dos insumos que, de acordo com a entrevistada, está insustentável usar bons produtos e manter o preço baixo, em contrapartida seu público-alvo não tem poder aquisitivo para comprar doces mais caros. Não é a principal provedora de renda em sua casa e não recebeu auxílio do governo federal e/ou estadual. Hoje em dia, apenas empreende.

A entrevistada acredita ter ansiedade, apesar de não ter sido diagnosticada por um médico, já que ela se sente insegura, se sente insuficiente e tem crises de choro frequentes. Perdeu um primo para a COVID-19 há quatro meses, o que a deixou um mês sem trabalhar por conta do luto. Se sente sozinha por não poder sair de casa, o que tem piorado o seu psicológico.

4.4 Entrevistada 4

A entrevistada 4 tem 25 anos e é cabeleireira. Atende na sala da sua casa no Jardim Casto Alves, extremo sul de São Paulo. Sempre teve o sonho de ser cabeleireira, no entanto nunca teve condições financeiras de comprar um curso. Era garçonete e seu marido cozinheiro, ambos perderam o emprego na pandemia – a empresa onde trabalhavam fechou. Passou por um período de dificuldade, mora com seu filho – de 14 anos – e seu marido, tendo sido ajudada por amigos até que conseguisse, judicialmente, receber auxílio do governo federal. Durante esse período, ela abriu um brechó online onde vendia suas roupas para conseguir pagar as contas – este foi seu primeiro contato com o empreendedorismo. Posteriormente, seu esposo conseguiu emprego em um Hortifruti no Grajaú, onde trabalha até hoje e é o principal provedor de renda da casa, e ela em uma loja na 25 de março. Eram mais de duas horas de viagem e acabou desistindo, pois conseguiu outro emprego de garçonete na região onde mora. Economizou dinheiro e comprou o curso especializado em cabelos cacheados de uma cabeleireira e blogueira a qual acompanhava. Ao finalizar o curso, pediu demissão e montou seu espaço – humilde – na sala da sua casa. Para ela, a principal dificuldade é não poder dar ao filho o que ele pede, que são coisas simples, como bolachas, iogurtes e deixá-lo sair de casa para brincar. Não aguentava mais ser garçonete, viu na carreira de cabeleireira uma chance de mudar de vida, no entanto,

na pandemia é um desafio. Por atender em casa, tem medo de acabar se contaminando e contaminando seu filho, mas, conforme ela mesmo menciona, as contas não esperam. Ela não tem ajudantes quanto ao trabalho, mas conta com a ajuda do esposo e filho nas tarefas domésticas. Apesar do fechamento das creches, não enfrentou dificuldades com o seu filho, o deixava sozinho por breves momentos uma vez que ela e seu esposo trabalhavam em horários diferentes.

Não tem tido vida pessoal, por medo de contaminação. Desenvolveu crises de ansiedade por conta de todo ambiente incerto por conta da pandemia. No dia da entrevista, ela havia sido convidada para uma confraternização na empresa do esposo, da qual disse que ia, mas com medo. No começo da pandemia, ela sentia falta de ar, insônia, crises de choro. Hoje em dia ela diz estar mais tranquila por estar se dedicando ao que gosta, acredita que o pior já passou.

4.5 Entrevistada 5

A entrevistada 5 tem 36 anos e tinha uma esmaltaria no Parque Residencial Cocaia, extremo sul de São Paulo. Casada e com três filhas, não viu outra opção a não ser sair do emprego, recepcionista de uma clínica de estética, para conseguir ficar com as filhas já que as escolas e creches fecharam por conta da pandemia. Por conta da sobrecarga de trabalho proveniente da demissão de várias pessoas na empresa, ela pediu para ser demitida e viu uma oportunidade para começar a empreender. Com a rescisão comprou os itens necessários para abrir o seu espaço de manicure. Ela mora em uma vila de casas, onde alugou umas das casas da vila onde mora para atender, onde permaneceu por aproximadamente um ano. Essa movimentação afetou drasticamente o faturamento da família, sendo seu esposo o principal provedor de renda.

O principal desafio segundo a entrevistada foi ser notada pelas pessoas, conquistar e fidelizar clientes. No entanto, se assustou, positivamente, quando a demanda foi maior do que ela esperava. Depois, a falta de respeito das pessoas que insistiam em não usar máscara. Seu espaço contava com uma ajudante, onde 50%

do que ela recebia ficava para o salão uma vez que os materiais e espaço eram da entrevistada. Ao abrir o espaço, ela pensou que teria mais tempo para ela – mas

estava enganada. Ela diz que não sobrava tempo e, o principal objetivo que era cuidar e ficar mais próxima das filhas não foi atingido como ela pensava. No entanto, ela julga que é melhor do que seria se tivesse continuado no emprego.

Cuidar dos filhos foi um desafio em sua vida pessoal, pois esses se estressam no isolamento. Apesar de ter a ajuda de sua mãe, a entrevistada sentia dificuldades de manter a presença materna na vida das crianças. Sua mãe e seu esposo a ajudam nas tarefas domésticas.

Com o tempo e avanço da pandemia, a demanda caiu muito e a entrevistada preferiu fechar o espaço e voltar ao mercado formal, como atendente de pós-venda em uma concessionária online. Hoje ela se sente muito preocupada, apreensiva, angustiada e cansada. Com medo do que vai acontecer nos próximos meses.

4.6 Panorama geral

Estado civil Casada Solteira Solteira Casada Casada Ramo de

atuação Beleza Alimentício Alimentício Beleza Beleza Nicho da

empresa

Design de Sobrancelhas

Padaria e

Confeitaria Confeitaria Cabeleireira Esmaltaria Última Fonte: Dados obtidos através das entrevistas.

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Em termos de análise das entrevistas, foi possível identificar que algumas entrevistadas começaram a empreender durante a pandemia para sobreviver por conta do cenário econômico de recessão e desemprego, como a Entrevistada 3, a Entrevistada 4 e a Entrevistada 5. Foi possível observar durante as entrevistas, alguns desafios e dificuldades que podem ser justificados pelo empreendedorismo “forçado”

pela necessidade de sobrevivência tais como controle orçamentário, controle de demanda, administração dos insumos etc., não houve tempo para planejamento pois a sobrevivência tem pressa.

É inevitável, eu tenho medo, mas eu sinto medo de pegar alguma coisa, meu filho em casa, passa tudo isso na cabeça..., Mas é Deus na frente e vamo lá, que as contas não esperam né. (ENTREVISTADA 4, 2021)

A Entrevistada 2 é uma exceção por conta do ramo em que atua. Empresas do ramo alimentício aumentaram a demanda durante a pandemia devido à mudança das empresas para o regime de home office. Conforme pesquisa de novembro de 2020 o aumento da demanda por delivery foi 71% a mais que o mesmo período em 2019 e

“os gastos com pedidos de comida por delivery cresceram 530% entre janeiro e novembro” (VEE, 2020). Em outro estudo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2021) conclui que 7,3 milhões de brasileiros começaram a trabalhar em home office devido à pandemia, destas, 57,8% eram mulheres.

[...] no final de 2019 a gente implantou o delivery e em fevereiro de 2020 a gente passou a ser padaria além de confeitaria. Então isso também teve um impacto muito grande, eu acredito que esse tem sido o principal motivo pelo qual a gente conseguiu aumentar o movimento, porque a gente passou a ser um serviço essencial né. Eu acho que isso teve um impacto bem grande.

Muita gente não estava saindo de casa, o movimento no delivery aumentou absurdamente. (ENTREVISTADA 2, 2021)

Por conta da alta demanda, um aumento repentino que a empresa não estava preparada para receber, houve um momento de crise de gestão de demanda e a saída encontrada foi o aumento da equipe de entregas e delivery próprio. A empresa já era uma marca criada antes da pandemia, apesar de não atender como padaria antes da pandemia, a empresa atendia como confeitaria e já era consolidada na região.

No atendimento senti bastante o impacto da pandemia mesmo, porque como aqui a gente está no extremo sul, na periferia, então as pessoas que a antes estava no centro passaram a ficar mais em casa, então com a gente na

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