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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE POLÍTICA, ECONOMIA E NEGÓCIOS - EPPEN LORRANE FERREIRA DE OLIVEIRA

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Academic year: 2022

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE POLÍTICA, ECONOMIA E NEGÓCIOS - EPPEN

LORRANE FERREIRA DE OLIVEIRA

OS DESAFIOS ENFRENTADOS POR MICROEMPREENDEDORAS DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19.

Osasco 2022

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LORRANE FERREIRA DE OLIVEIRA

OS DESAFIOS ENFRENTADOS POR MICROEMPREENDEDORAS DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19.

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado à Escola Paulista de Política, Economia e Negócios – EPPEN da Universidade Federal de São Paulo como requisito para obtenção do título de Bacharel em Administração.

Orientadora: Prof. Drª Gabriela de Brelàz

Osasco 2022

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LORRANE FERREIRA DE OLIVEIRA

OS DESAFIOS ENFRENTADOS POR MICROEMPREENDEDORAS DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19.

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado à Escola Paulista de Política, Economia e Negócios – EPPEN da Universidade Federal de São Paulo como requisito para obtenção do título de Bacharel em Administração.

Orientadora: Prof. Drª Gabriela de Brelàz Data da aprovação: 08 / 02 / 2022

BANCA EXAMINADORA

__________________________________

Profa. Dra. Gabriela de Brelàz (Orientadora) Universidade Federal de São Paulo

__________________________________

Profa. Dra. Marcia Carvalho de Azevedo (Examinadora) Universidade Federal de São Paulo

(4)

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Unifesp Osasco e Departamento de Tecnologia da Informação Unifesp

Osasco, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

O48d OLIVEIRA, Lorrane Ferreira de

Os desafios enfrentados por microempreendedoras durante a pandemia de Covid-19 / Lorrane Ferreira de Oliveira. - 2022.

59 f. :il.

Trabalho de conclusão de curso (Administração) -

Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Política, Economia e Negócios, Osasco, 2022.

Orientador: Gabriela de Brelàz.

1. Empreendedorismo. 2. Empreendedorismo - Mulheres. 3.

Pandemia. I. Brelàz, Gabriela de, II. TCC - Unifesp/EPPEN. III.

Título.

CDD: 658

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente devo agradecer aos meus pais que, com muito esforço, me criaram, me ensinaram quase tudo sobre o mundo e sempre me resgataram quando senti que não havia mais saídas. Por seu suporte incondicional, obrigada!

Ao Núcleo de Apoio ao Estudante (NAE), principalmente, Alessandra Ramada, da Matta e Carlos Eduardo Sampaio Burgos Dias, que me acolheram nesta universidade, me ajudaram a voltar a viver e sempre se dispuseram a me ouvir.

Principalmente agradeço aos meus amigos: Grazieli Santos, Thiago Aguiar, Jessica Seles, Ivã Sousa e Sulma Yogar por todo apoio emocional e estudantil. Nossa parceria em nos ajudarmos e caminharmos juntos nessa jornada acadêmica foi essencial para que eu chegasse até aqui. Não há agradecimento no mundo que consiga expressar a gratidão que sinto pelo suporte emocional que vocês me deram e me dão todos os dias, muito obrigada.

Agradeço, também, a minha professora e orientadora Gabriela de Brelàz, que me incentivou a continuar e ir além quando eu não estava bem psicologicamente. Sua compreensão e empatia foram muito importantes para que eu não desistisse.

A todos os que não foram mencionados aqui, mas me ajudaram de alguma forma, mesmo que mínima, obrigada!

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"Nada como um dia após o outro dia." (Racionais Mc’s)

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RESUMO

Muitos motivos levam os(as) brasileiros(as) ao empreendedorismo, como:

oportunidade, vontade de ter o seu próprio negócio, necessidade (desemprego), altruísmo e desejo de mudar o mundo, entre outros. A atual crise sanitária elevou o desemprego e levou milhares de pessoas ao desemprego em uma economia instável e fragilizada pela pandemia de COVID-19. Criar um negócio, se reinventar, inovar, é, muitas vezes, a principal forma de sobrevivência do(a) brasileiro(a) que, desempregado(a), precisa pagar suas contas. Dentro deste cenário, há um grupo que sempre trabalhou em tempo integral, formal e informalmente: as mulheres que possuem uma tripla jornada de trabalho (carreira profissional, afazeres domésticos e educação dos filhos). Na pandemia, muitas dessas mulheres perderam seus empregos e não tiveram com quem deixar os filhos por conta das políticas de distanciamento social que ocasionaram o fechamento de creches e escolas, como tentativa de frear a pandemia, provocando uma carga de trabalho ainda maior. Esta pesquisa analisou como a pandemia impactou a vida pessoal e os negócios de mulheres microempreendedoras e os desafios causados como, por exemplo, o desenvolvimento de problemas psicológicos tais como ansiedade e depressão. Foram analisados, por meio de entrevistas semiestruturadas, os desafios enfrentados nos negócios e nas vidas de cinco mulheres microempreendedoras da zona sul de São Paulo em decorrência da pandemia de COVID-19. Pode-se concluir partir desse estudo que a pandemia afetou negativamente a vida pessoal das entrevistadas, no entanto, afetou, em alguns casos, positivamente o faturamento dos negócios de alimentação e delivery. Já as empreendedoras entrantes, isto é, que começaram a empreender por conta da pandemia, sentiram dificuldades para prospectar clientes, principalmente no caso das atividades que exigem contato presencial. As entrevistadas com filhos enfrentaram dificuldades e desafios para conciliar o empreendedorismo e o cuidado dos(as) filhos(as), por conta do fechamento de escolas e creches – medida de restrição para prevenção da pandemia de COVID-19.

Palavras chaves: Empreendedorismo, empreendedorismo feminino, pandemia.

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ABSTRACT

Many reasons lead Brazilians to entrepreneurship, such as: opportunity, desire to have their own business, need (unemployment), altruism and desire to change the world, among others. The current health crisis has raised unemployment and pushed thousands of people into unemployment in an economy that is unstable and weakened by the COVID-19 pandemic. Creating a business, reinventing yourself, innovating is often the main way of survival for Brazilians who, unemployed, need to pay their bills.

Within this scenario, there is a group that has always worked full-time, formally and informally: women who have a triple working day (professional career, housework and children care). In the pandemic, many of these women lost their jobs and had no one to leave their children with because of the social distancing policies that caused the closure of daycare centers and schools, in an attempt to stop the pandemic, causing an even greater workload. This research analyzed how the pandemic has impacted the personal and business lives of women microentrepreneurs and the challenges caused, for example, the development of psychological problems such as burnout, anxiety and depression. Through semi-structured interviews, the challenges faced in business and in the lives of five women microentrepreneurs in the south of São Paulo as a result of the COVID-19 pandemic was analyzed. It can be concluded from this study that the pandemic affected negatively the personal lives of the interviewees, however, it affected, in some cases, positively the revenue of the food and delivery businesses. On the other hand, new entrepreneurs, that is, those who started to undertake because of the pandemic, find it difficult to prospect customers, especially activities that require face-to-face contact. The interviewees with children faced difficulties and challenges in reconciling entrepreneurship and caring for their children, due to the closing of schools and day care centers – a restriction measure to prevent the COVID-19 pandemic.

Keywords: Entrepreneurship, female entrepreneurship, pandemic.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Nuvem de palavras - Sentimentos ... 44

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Perfil das entrevistadas. ... 39 Tabela 2: Quadro comparativo entre as entrevistadas. ... 45

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

1.1 Objetivos ... 14

1.1.1 Objetivo geral ... 14

1.1.2 Objetivos específicos ... 14

1.2 Hipótese ... 14

2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 17

2.1 Empreendedorismo ... 17

2.2 Empreendedorismo no mundo atualmente ... 19

2.3 Empreendedorismo no Brasil atualmente ... 20

2.4 O perfil empreendedor ... 23

2.5 Mulheres no empreendedorismo brasileiro ... 26

3 METODOLOGIA ... 30

3.1 Caracterização da pesquisa ... 30

3.1.1 Tipos de dados ... 30

3.1.2 Tipo de pesquisa ... 31

3.1.3 Quanto aos meios ... 31

3.1.4 Técnicas de análise de dados ... 31

3.2 Entrevistas semiestruturadas ... 33

4 ENTREVISTAS ... 35

4.1 Entrevistada 1 ... 35

4.2 Entrevistada 2 ... 35

4.3 Entrevistada 3 ... 36

4.4 Entrevistada 4 ... 37

4.5 Entrevistada 5 ... 38

4.6 Panorama geral ... 39

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 40

6 CONCLUSÃO ... 47

REFERÊNCIAS ... 50

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1 INTRODUÇÃO

De acordo com Dornelas (2015), o empreendedorismo é extremamente importante, não só no Brasil como no mundo, pois é um dos principais motores de aceleração econômica de um país. O autor menciona que o é essencial para o desenvolvimento econômico, uma vez que o empreendedorismo não está relacionado apenas com a criação de novos negócios, mas também com o perfil empreendedor de otimizar os processos e nortear inovações dentro das empresas.

“Empreendedorismo e inovação estão intimamente ligados e são ingredientes fundamentais para o desenvolvimento econômico” DORNELAS (2015, p. 8).

Muitos motivos levam os brasileiros ao empreendedorismo, por não concordarem ou não se adaptarem aos modelos tradicionais das organizações e, principalmente, pelo crescente índice de desemprego. Em pesquisa publicada em março de 2020, 66,3% dos entrevistados decidiram empreender para realizar um sonho, 22,6% para ganhar mais dinheiro, 16,5% para fazer algo que possa mudar o mundo (AZULIS, 2020). Com a pandemia, surgiu um novo motivo... que está ligado a necessidade de sobreviver, mas também, em alguns casos, ao vislumbramento de oportunidades.

A pandemia de COVID-19 foi declarada pela Organização Mundial de Saúde em 11/03/2020 (OMS, 2020) e o primeiro caso no Brasil foi identificado em 26/01/2020, em São Paulo, de acordo com o Ministério da Saúde. Até 31 de dezembro de 2021 foram: 285.674.370 casos e 5.430.057 óbitos no mundo de acordo com a OMS, sendo 22.287.521 casos e 619.056 óbitos no Brasil de acordo com o Ministério da Saúde do Brasil. Em São Paulo, foram 4.456.108 casos confirmados e 155.205 óbitos, de acordo com o governo do estado.

Para conter a pandemia, o governo do estado de São Paulo determinou medidas de distanciamento social, fechamento parcial dos negócios e aumento no contingenciamento médico com a abertura de hospitais de campanha para pronto atendimento dos milhares de casos.

Atualmente, com o avanço da vacinação, o governo do estado flexibilizou medidas, retirando as restrições de abertura de negócios e aumentando o fomento das empresas para retomada da economia: “Oferta de R$ 2,3 bilhões de crédito

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subsidiado a empresas pela Desenvolve SP, Banco do Povo e Sebrae” durante o período de 13/mar, 18/mar, 02/abr e 10/ago/2020, 3 e 8/fev e 17/mar/2021; “Oferta de crédito, suspensões, isenções e empreendedorismo” e “anuncio da doação de 500 mil cestas básicas por empresas integrantes do Comitê Empresarial Solidário, ação realizada em 7/abr/2021 etc. (Governo do Estado de São Paulo, 2020-2021), entre outras iniciativas.

No Brasil, o impacto da crise da COVID-19 é bastante agravante, dada a imensa desigualdade social do país, são 66 milhões de pessoas pobres e extremamente pobres, e apenas 40% da população possui ocupação formal (ARAÚJO; BRANDÃO, 2021, p. 101).

Com base nos dados do IBGE, a taxa de desemprego – comparando de 2019 a 2021 – subiu de 11% para 12,6%, isto é, 2021 fechou com 13.453 milhões de brasileiros desempregados, sendo 54,8% mulheres. Em levantamento da agência de classificação de risco, Austin Rating, o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking no quesito taxa de desemprego comparado com as principais economias mundiais (a média da taxa de desemprego, de acordo com o relatório, é de 6,5%).

De acordo com o SEBRAE em pesquisa realizada em 2020, 31% das microempresas no Brasil tiveram que mudar seu funcionamento, adotar novos modelos de negócio e 58,9% interromperam suas atividades por conta da pandemia.

Criar um negócio, se reinventar, inovar, nada mais é que a principal arma de sobrevivência do(a) brasileiro(a) que, desempregado(a), precisa pagar suas contas.

Dentro deste cenário, há um público que sempre trabalhou em tempo integral, formal e informalmente: as mulheres. Muitas dessas mulheres perderam seus empregos, não tiveram com quem deixar os filhos por conta das políticas de distanciamento social que ocasionaram o fechamento de creches e escolas, como tentativa de frear a pandemia. De acordo com a pesquisa Gênero e Número, realizada pela organização não governamental (ONG) Sempreviva Organização Feminista (SOF), em 2020, 65,4% das mulheres entrevistadas disseram que a responsabilidade com o trabalho doméstico e de cuidado dificultava a realização do trabalho remunerado. Segundo o IBGE, “as mulheres dedicam mais horas aos afazeres domésticos e cuidado de pessoas” - 18,5 horas – “mesmo em situações ocupacionais iguais que a dos homens”. (IBGE, 2019). Algumas delas buscaram novas formas de

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sobreviver na pandemia, seja empreendendo ou adiando seus planos de empreender para retornar ao trabalho formal.

Nos próximos capítulos deste trabalho serão apresentados os objetivos dessa pesquisa de forma detalhada, a revisão bibliográfica e momentos da história de vida de cinco microempreendedoras da zona sul de São Paulo, por meio de entrevistas semiestruturadas, a fim de entender quais os principais desafios enfrentados por elas durante a pandemia. Posteriormente será a apresentada a análise e as principais conclusões do trabalho.

1.1 Objetivos

Os objetivos deste trabalho serão apresentados abaixo.

1.1.1 Objetivo geral

O objetivo deste trabalho é analisar o impacto da pandemia de COVID-19 na vida e nos negócios de mulheres empreendedoras de pequeno porte e de baixa renda na zona sul da cidade de São Paulo.

1.1.2 Objetivos específicos

● Compreender as motivações, dificuldades e desafios enfrentados por mulheres empreendedoras;

● Analisar semelhanças e diferenças entre as microempreendedoras entrevistadas;

● Compreender como a pandemia tem afetado o comércio e as microempreendedoras.

1.2 Hipótese

A principal hipótese é de que a pandemia impactou negativamente a vida pessoal e os negócios das mulheres empreendedoras e que, também por conta da pandemia,

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foram desenvolvidos problemas secundários de origem psicológica tais como burnout, ansiedade e depressão.

1.3 Justificativa

O empreendedorismo é entendido neste trabalho como bem explicita a definição do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE):

A capacidade que uma pessoa tem de identificar problemas e oportunidades, desenvolver soluções e investir recursos na criação de algo positivo para a sociedade. Pode ser um negócio, um projeto ou mesmo um movimento que gere mudanças reais e impacto no cotidiano das pessoas” (SEBRAE, 2021)

Por meio do empreendedor surgem inovações e mudanças importantes para a sociedade. Além de possibilitar criações que podem revolucionar a forma como vivemos e ditar o futuro, o empreendedorismo possibilita oportunidades e empregos.

Também, o empreendedorismo pode possibilitar a criação de renda em meio a um cenário de recessão com o qual convivemos atualmente. O perfil empreendedor dos(as) brasileiros(as), segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), ocupa a 16ª posição de potenciais empreendedores, entre as 50 economias mundiais. Trata- se de um terreno fértil para mudar a economia, hábitos e a vida em sociedade.

O empreendedorismo feminino por sua vez, além de gerar renda a mulheres que podem estar impossibilitadas de trabalhar no mercado formal por conta das inúmeras responsabilidades atribuídas no lar, como cuidar dos filhos, da casa, entre outros, é empoderador e aumenta a autonomia dessas mulheres em uma sociedade patriarcal e machista, onde as mulheres têm sido cada vez mais reduzidas a funções subordinadas e domésticas.

A pandemia de COVID-19 impactou muito a vida e a atividade econômica das famílias em geral, no entanto, no cenário empreendedor esses impactos são incalculáveis pois, sem e/ou com pouco auxílio governamental, muitas empresas não sobreviveram. Nestes casos o impacto é em cadeia: o negócio fecha, pessoas ficam

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desempregadas, famílias ficam sem renda, sem possibilidade de manter a casa e filhos(as).

Estudar esses impactos é importante para nortear empreendedoras para que possam sobreviver em cenários adversos e continuar contribuindo com a evolução da sociedade com seus negócios.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Empreendedorismo

De acordo com Dornelas (2018), a criação do termo “empreendedorismo” é creditado a Marco Polo, um mercador veneziano, que tentou designar uma rota comercial para o Oriente.

Os primeiros indícios da relação entre assumir riscos e empreendedorismo ocorreram nessa época, em que o empreendedor estabelecia um acordo contratual com o governo para realizar algum serviço ou fornecer produtos.

(DORNELAS, 2018, p. 20).

A palavra “empreendedor” é historicamente utilizada para definir as pessoas que assumem riscos, inovam e tentam algo novo. Este termo veio se modificando ligeiramente e, de acordo com Schumpeter:

O empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais.

(SCHUMPETER 1949 apud DORNELAS 2018 p. 29)

O SEBRAE (2016) define empreendedorismo como “uma maneira de agir para identificar oportunidades e assumir o risco de implementar uma ideia para aproveitar essas chances”. O SEBRAE (2016) ressalta, também, que “o empreendedor é aquele que tem disposição ou capacidade de inovar, de idealizar, de coordenar e de realizar projetos, serviços e negócios”.

Para Barros Neto (2018), o empreendedorismo é inato ao ser humano, já nascemos com espírito empreendedor no sentido de criar novos meios para mudar a realidade, inovar e fazer de forma criativa desde os primórdios, com o homo habilis, há mais de 2 milhões de anos. Para ele, o motivo por termos sobrevivido até então se dá pela nossa inteligência e capacidade empreendedora em modificar o ambiente e adaptá-lo.

A definição de Barros Neto, feita algumas décadas após,está alinhada com o pensamento seminal de Schumpeter de que o empreendedor modifica processos e inova, causando um desequilíbrio necessário para a inovação dos negócios e tecnologias como um todo.

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Para Schumpeter em seu livro Teoria do Desenvolvimento Econômico (1964), o empreendedor não necessariamente é um inventor, há mais importância na implantação das novas combinações, não à sua descoberta ou invenção em si. “O empresário pode também ser inventor e vice-versa, mas, em princípio, apenas por acaso.” (1964 p. 173), onde “o "empresário" não é aqui nenhum fator de mudança, mas, sim, o suporte do mecanismo de mudança” (SCHUMPETER, 1964, p.187).

A função de empresário está indescernivelmente entrelaçada com os demais elementos de uma posição de liderança mais geral, temos de acrescentar apenas mais duas coisas. Estamos agora a ver porque atribuímos tanta importância à implantação das novas combinações, e não à sua "descoberta"

ou "invenção". (SCHUMPETER, 1964, p. 173)

Martes (2010) ressalta o poder de pioneirismo do empreendedor, que impulsiona a economia rumo à inovação:

O empresário pioneiro é aquele que supera obstáculos e resistências para impor novos padrões de combinação dos meios de produção. A destruição de velhos padrões gera desequilíbrio entre as instituições econômicas, assim como pressões para novos padrões de conformidade — até atingir o ponto de uma nova situação de equilíbrio. (MARTES, 2010, p. 256)

Equilíbrio este que vai sendo destruído e reconstruído continuamente, uma vez que o mercado é dinâmico e surgem novos produtos e consumidores que, apesar de não afetarem necessariamente a natureza do processo, exigem certa inovação, na medida em que a procura dos consumidores muda de direção a favor da inovação (SCHUMPETER, 1964 p. 494).

Kirzner apud Dornelas (1973) tem uma definição diferente. Para o autor o empreendedor é o que identifica as oportunidades. Ambos os autores, Schumpeter e Kirzner concordam que o empreendedor é um identificador de oportunidades.

Dornelas (2018) reforça essa ideia e sumariza as ideias dos autores ressaltando as principais características de um empreendedor:

O empreendedor é aquele que detecta uma oportunidade e cria um negócio para capitalizar sobre ela, assumindo riscos calculados. Em qualquer definição de empreendedorismo encontram-se, pelo menos, os seguintes aspectos referentes ao empreendedor:

1. Iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz;

2. Utiliza os recursos disponíveis de forma criativa, transformando o ambiente social e econômico onde vive e;

3. Aceita assumir os riscos e a possibilidade de fracassar (DORNELAS, 2018, p. 30).

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Existem vários empreendedores e empresas notórias na história recente, que inovaram e revolucionaram o mercado e a sociedade. Por exemplo, a Xerox e a criação do Alto I, que viria a ser o primeiro computador; Bill Gates e a criação do Windows, entre outros. No entanto, é importante ressaltar que não necessariamente o empreendedor deve criar um novo mercado, há inúmeros empreendedores em mercados já existentes que inovam e contribuem de certa forma com a sociedade.

Como Steve Jobs que, segundo Smith e Alexander (1998) viu no Alto I uma oportunidade e levou a ideia à Apple, adaptou e melhorou toda a tecnologia e o preparou para o lançamento do primeiro computador comercial com um sistema operacional com interface gráfica e um mouse, o Macintosh, que serviu de modelo para toda a tecnologia computacional nos dias de hoje.

2.2 Empreendedorismo no mundo atualmente

De acordo com Lemes (2019), é consenso que na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, no pós 2ª Guerra Mundial em 1947, surgiu o curso de empreendedorismo, destinado aos militares que voltaram do conflito e necessitavam recomeçar suas vidas em meio ao cenário de crise decorrente da guerra. Entretanto:

[…] foi a partir de 1970 que o estudo do empreendedorismo ganhou força nos Estados Unidos e as universidades passaram a adotar definitivamente o tema em suas grades curriculares, em especial em função dos incentivos financeiros recebidos do Small Business Administration Center (SBAC) sediado em Washington-DC, que visava preparar os alunos para atuação como consultores de empresas (GUIMARÃES APUD LEMES, 2019, p. 02).

Barros Neto (2018) menciona que nos tempos atuais cada vez mais os governos têm se conscientizado da importância de promover desenvolvimento econômico e social por meio do empreendedorismo. Santos et al (2018) ressaltam a importância da criação de leis que favoreçam ao microempreendedor para que assim possam motivar o empreendedorismo. Falta atenção ao empreendedor que não é somente responsável pela sua empresa, mas também, pelo fomento da economia local e traz transformações sociais por meio de inovações, ideias, entre outros.

O relatório do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2020), onde são descritos os níveis de empreendedorismo em atividade em 2020 em comparação a 2019, concluiu que a maioria das economias tinham níveis mais baixos de adultos

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executando um novo ou estabelecido negócio em 2020, no entanto, as quedas não são universais: uma minoria de economias experimentou aumentos na atividade empresarial, especialmente na América Latina e Caribe e Oriente Médio e Economias da África. O Oriente Médio, em particular, está emergindo como uma "estufa" de empreendedorismo. O Egito, por exemplo, aumentou em níveis significativos a atividade empreendedora em estágio inicial e de negócios já estabelecidos. Havia menos otimismo sobre novas oportunidades de negócios entre proprietários de negócios estabelecidos, especialmente fora da região da América Latina e Caribe.

O relatório global do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), indica que os índices mais baixos de mulheres empreendedoras iniciantes se encontram na Itália, Polônia e Índia. Na Europa, analisando 6 economias, há menos de 1 mulher entre 20 iniciando um novo negócio. Os níveis mais altos de empreendedorismo feminino estão no Oriente Médio e África, com pouco mais da metade das mulheres adultas em Angola e mais de um terço no Togo, iniciando ou administrando um novo negócio, seguido da América Latina com mais de uma em cada cinco mulheres em cada país.

Embora seja encorajador ver seis economias em que o nível de empreendedorismo feminino corresponde ou excede a taxa masculina, e enquanto a lacuna de gênero é pequena em alguns outros, ainda há muitas economias nas quais os homens são muito mais prováveis de iniciar um novo negócio do que mulheres, incluindo nove economias nas quais os homens eram pelo menos duas vezes mais prováveis. (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2020).

2.3 Empreendedorismo no Brasil atualmente

O apoio a políticas de empreendedorismo no Brasil é relativamente recente. De acordo com Dornelas (2001) a criação de instituições como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) ocorreu apenas na década de 1990.

Antes não havia amparo e nem ambientes político e econômico, no país propícios ao empreendedorismo. O Sebrae democratizou o conhecimento e é uma entidade de suporte extremamente conceituada no auxílio da jornada empreendedora. A Sociedade Brasileira para Exportação de Software (SOFTEX), também, possibilitou a criação de programas para facilitação de todo o processo empreendedor.

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Para Barros Neto (2018) o verdadeiro "sopro empreendedor" veio no governo do Juscelino Kubitschek (1956-1960) que permitiu a abertura econômica para o capital estrangeiro isentando o pagamento de tributos de importação para máquinas e equipamentos, permitindo uma maior industrialização e aumento dos empreendimentos em todo país. Apesar da pouca ajuda e interesse governamental nos governos seguintes José Sarney (1985-1990) e Fernando Collor (1990-1992), e mesmo no de Itamar Franco (1992-1995), era de conhecimento geral a importância do empreendedorismo, tanto que surgiram cursos relacionados ao empreendedorismo nas faculdades de Administração.

A partir de meados da década de 1990, por fim, o empreendedorismo no Brasil começa a obter o reconhecimento e destaque que merece, principalmente devido à abertura da economia nacional aos mercados externos e aos programas de desestatização levados a cabo nos dois mandatos do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), que abriram muitas oportunidades de novos empreendimentos para empreendedores dispostos a assumir riscos. (BARROS NETO, 2018, p. 164)

Dornelas (2013) menciona em sua obra “Empreendedorismo para Visionários - Desenvolvendo Negócios Inovadores para um Mundo em Transformação” a crescente participação das mulheres no mercado empreendedor:

Um aspecto positivo do empreendedorismo brasileiro tem sido a efetiva participação das mulheres na criação e gestão de negócios. As brasileiras estão à frente praticamente da metade das iniciativas empreendedoras no Brasil (GEM Brasil, 2012), e pesquisas internacionais cada vez mais mostram maior participação das mulheres no empreendedorismo do próprio negócio.

Isso se deve não só ao seu perfil empreendedor, mas a uma mudança de comportamento e da realidade das famílias. No mundo (com raras exceções) e também no Brasil, as mulheres já têm plena inserção no mercado de trabalho, e o empreendedorismo do próprio negócio naturalmente se apresenta como opção de carreira. (DORNELAS. 2013, p. 28)

Atualmente, de acordo com os dados disponibilizados pela Receita Federal do Brasil compilados pelo SEBRAE, no município de São Paulo, há 1,23 milhões de microempreendedores e microempresas, das quais 858,7 mil são de setores vulneráveis como serviços e comércio (dados atualizados até 08/08/21).

De acordo com relatório do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) (2020/2021), a taxa total de empreendedorismo da população adulta – de 18 a 64 anos – no Brasil em 2020 foi de 31,6%, isto é, estimadamente, 44 milhões de brasileiros adultos realizavam alguma atividade empreendedora, como o envolvimento na criação ou na consolidação de um novo negócio ou na manutenção

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de um empreendimento já estabelecido, 20% a menos que em 2019. Mais da metade dos brasileiros, adultos (18 anos a 64 anos), entrevistados conhece alguém que começou um negócio por conta da pandemia e mais de 60% dos entrevistados conhecem alguém que tenha parado um negócio por conta da pandemia. Na mesma pesquisa, a percepção de oportunidade para abertura de um novo negócio aumentou em 2020 em comparação a 2019 e por volta de 40% dos entrevistados tem a intenção de iniciar um novo negócio nos próximos 3 anos.

Para cinco economias, a pandemia parece ter tido pouca influência na intenção de iniciar um negócio, com dois em cada cinco adultos ou menos relatando alguma influência em Angola, Burkina Faso, Brasil, Noruega e Estados Unidos. Por outro lado, para 32 das 43 economias, mais da metade dos adultos relataram que a pandemia havia influenciado sua intenção de começar um negócio, incluindo mais nove em cada 10 adultos na Índia, Indonésia e a Federação Russa. Esta influência pode refletir novas oportunidades devido à pandemia e a resposta a ela, ou a diminuição das perspectivas de emprego. (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2021, p. 35)

A pandemia levou milhares de brasileiros ao empreendedorismo, conforme cita Carlos Melles (2021), diretor-presidente do Sebrae: “O desemprego está levando as pessoas a se tornarem empreendedoras. Não por vocação genuína, mas pela necessidade de sobrevivência”. Contudo, Melles ressalta, também, que:

A taxa total de empreendedorismo no Brasil sofreu uma redução nunca vista antes. A pandemia do coronavírus veio e derrubou o mercado todo, em especial os mais antigos. Por outro lado, por causa do desemprego, entrou muita gente nova e inexperiente que tenta sobreviver, por meio de um pequeno negócio. O mundo inteiro sentiu esse impacto, mas, no Brasil, os efeitos sobre o empreendedorismo foram mais fortes ainda. (MELLES, 2021, não paginado)

A fala de Melles é endossada se compararmos os dados estatísticos do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2019 e 2020. A taxa de empreendedorismo total reduziu de 38,7%, 53,4 milhões de empreendedores, para 31,6%, 44 milhões de empreendedores. No entanto, a taxa de empreendedores iniciais subiu de 23,3% para 23,4%, isto é, de 32,2 milhões para 32,6 milhões, sendo que os empreendedores por necessidade representam 50,4%, ao contrário de 2019 onde representavam 37,5%.

Aqui é importante ressaltar que a taxa de empreendedores já estabelecidos, em atividade a mais de 3,5 anos, despencou durante a pandemia. Em 2019 os negócios estabelecidos representavam 16,2% da taxa de empreendedorismo, em 2020 essa taxa caiu para 8,7%, o que reduziu a taxa total de empreendedorismo.

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Ou seja, muitos negócios que já eram estabelecidos antes da pandemia, fecharam. Outro dado importante que vale ser ressaltado é a intenção de empreender:

a pesquisa de 2019 indica que 30,2% tinham intenção de empreender, já em 2020 essa porcentagem sobre para 52,7.

Segundo dados da Receita Federal (2022), a quantidade de empresas registradas como microempreendedores nas três primeiras semanas de janeiro de 2022 foi 40% maior que o mesmo período em 2020. O perfil do empreendedor vem mudando e cada vez mais brasileiros pretendem empreender.

2.4 O perfil empreendedor

Schumpeter (1964) ressalta que “ser empresário não é uma profissão nem, em regra, um estado permanente.” Logo, o empreendedor precisa sempre estar inovando e revendo a forma como trabalha. O empreendedor não necessariamente precisa ser proprietário de um negócio, uma vez que o espírito empreendedor é uma característica, um traço de personalidade. Conforme já mencionado nesse referencial, para Schumpeter, o empreendedor é o motor de inovação do mundo.

Segundo Lemes (2018), o empreendedor é um observador do cotidiano que identifica oportunidades nas necessidades não supridas, avalia o desenvolvimento de um novo produto e negócio que possa atender essa lacuna e transforma em algo lucrativo. Esse processo de identificação é interessante aqui, pois teoricamente a realidade está disponível para todos, mas somente alguns conseguem enxergar a oportunidade.

Langrafe (2018) ressalta, também, os empreendedores corporativos, ou intraempreendedores, que inovam dentro das empresas puramente por ter o perfil empreendedor.

Dornelas (2020) reforça a ideia, mencionando que o perfil empreendedor vai além de ter o próprio negócio, lembrando que um ator ao encenar uma peça pode agir como empreendedor, no planejamento, na preparação do papel, na execução e na entrega da peça. Um funcionário público pode ser empreendedor otimizando os recursos disponíveis e melhorando o atendimento à população. Pessoas insatisfeitas e inconformadas com os problemas de sua comunidade podem promover atividade

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empreendedora se unindo para estabelecer planos de ação, angariar apoio, divulgar suas ideias e melhorar a vida do entorno, nascendo assim uma organização não governamental (ONG).

O SEBRAE (2016) ressalta que para entender o perfil entre as gerações no mercado de trabalho é preciso conhecer como o contexto histórico-econômico influencia o perfil das pessoas e, consequentemente, os empreendedores. A geração nascida entre meados da década de 1960 e o final da década de 1970 faz parte da Geração X e normalmente valoriza a estabilidade financeira e de carreira. Os nascidos no final dos anos 1970 e início dos anos 1990 representam a Geração Y. Eles não se importam muito com a estabilidade financeira. Eles procuram uma fonte de satisfação e aprendizado no trabalho. Os nascidos entre 1990 e 2010 formaram a Geração Z, marcada pelos avanços tecnológicos. As principais características desta geração são o imediatismo e a impaciência: eles têm dificuldade em esperar pelos resultados de suas ações. Todas as gerações têm características empreendedoras, cada uma com pontos fortes distintos. É importante entender o perfil empreendedor a fim de melhorar e se atentar às potencialidades e fragilidades.

Para Chiavenato (2021), os empreendedores são pessoas que tentam fazer as coisas acontecerem, são sensíveis ao mercado, ao negócio e são capazes de identificar oportunidades que nem sempre são claras e definitivas. Empreendedores transformam ideias em benefício próprio, para benefício da sociedade e da comunidade, cuja combinação pode transformar uma simples ideia em algo que entrega resultados concretos e de sucesso no mercado.

Para Martes (2010) há alguns pontos fundamentais da relação entre o empreendedor e a economia, onde a inovação promovida pelo empreendedor “é fundamental para o desenvolvimento econômico; o empreendedor é guiado pela paixão (desejos e conquistas), diferente do capitalista, pois ele decide com base em seus valores”. E cita que, para Weber, e para Schumpeter (apud Martes, não paginado), “o indivíduo — o empresário concebido como um tipo ideal, portador de interesses, vontade e intencionalidade — é a unidade básica de análise.”.

Langrafe (2018) ressalta, também, que há diferentes fatores que motivam o empreendedorismo, em suma, podemos ressaltar a busca pela realização financeira e/ou mais autonomia e flexibilidade e acabam descobrindo que trocaram chefes por clientes. Em pesquisa realizada por Vale et al (2014), “a busca da autonomia individual

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e a identificação de uma oportunidade de negócios foram os motivos principais para começar a empreender.”. De acordo com o autor, 74% dos empreendedores entrevistados consideraram o desejo de ter o próprio negócio/tornar-se independente como muito importante.

Para Chiavenato (2021), um dos principais motivadores para o empreendedorismo é a independência laboral e financeira, a busca por ser dono do próprio negócio e construir algo totalmente seu.

Lemes (2019) conceitualiza o empreendedorismo por necessidade, também como um grande fator motivador para a entrada de novos empreendedores no mercado.

O empreendedorismo por necessidade, normalmente decorre de uma situação típica de alguém que está desempregado, sem atividades remuneradas e não consegue recolocar-se no mercado. Pela falta de opção, torna-se obrigado a desenvolver alguma forma de obtenção de renda para contornar seus problemas financeiros. [...] Os empreendedores por necessidade são aqueles que iniciam seu próprio negócio, geralmente de maneira informal, motivados pela falta de opções satisfatórias de trabalho e renda. O que se observa, nos casos de empreendedorismo por necessidade, entretanto, é que a maioria dos negócios não sobrevive, pois falta ao empreendedor os conhecimentos básicos e até mesmo as características para levá-lo adiante (LEMES, 2019 p.

15).

O relatório do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2021 contextualiza os empreendedores por necessidade como sendo “aqueles que iniciam um empreendimento autônomo por não terem melhores opções de trabalho e, portanto, abrem um negócio a fim de gerar renda para si e suas famílias”. Já os empreendedores por oportunidade optam por iniciar um negócio, mesmo que tenha opções de emprego e renda para manter ou aumentar sua renda e desejar ser independente no trabalho. De acordo com pesquisa neste mesmo relatório, Em 2020, 63% dos brasileiros adultos (de 18 a 64 anos) relataram que tiveram perda de renda familiar como resultado da pandemia.

A taxa de brasileiros declarando pretendiam abrir um negócio nos próximos três anos aumentaram notavelmente, de 30% em 2019 para 53% em 2020.

O que está impulsionando o aumento, senão a pandemia? Total da atividade empreendedora em estágio inicial do Brasil (TEA) taxa permaneceu estável, aumentando ligeiramente de 23,3% em 2019 para 23,4% em 2020. (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2021, p. 89).

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Dornelas (2020) dá como exemplo de empreendedorismo de necessidade quando o empreendedor informal, muitas vezes sozinho, empreende em busca de melhores condições e tem como objetivo básico a própria subsistência.

2.5 Mulheres no empreendedorismo brasileiro

Cada vez mais as mulheres assumem um papel diferente do doméstico e familiar inicialmente atribuído a elas. A feminização do mercado de trabalho é uma pauta cada vez mais importante e impulsiona empresas a repensarem a forma como enxergam as mulheres dentro das organizações, conforme menciona Villas Boas:

A cada geração, novos padrões de comportamento vão se tornando aceitáveis. A sociedade evolui e com isso diminuem as diferenças entre o que as mulheres podem fazer e o que está reservado aos homens (VILLAS BOAS, 2010, p. 35).

No entanto, muitas delas insatisfeitas por serem subestimadas em um ambiente empresarial misógino, recorrem ao empreendedorismo para ter independência.

Dornelas (2019, p. 53-56) ressalta que o processo empreendedor para o surgimento de uma nova empresa ocorre devido a vários fatores, onde ele recorda esses fatores considerando o “empreendedor por necessidade” e o “empreendedor por oportunidade”. Empreendedores de necessidade, os fatores em comum são: “Falta de acesso a oportunidades de trabalho formal como empregado; necessidade de recursos financeiros mínimos para arcar com as demandas da sobrevivência;

demissão e desemprego.”. Já quando aos empreendedores por oportunidade, os fatores comuns são: “decisão deliberada e/ou planejada; ideia, descoberta, inovação;

desejo de autonomia; ganhar um recurso inesperado”; dentre outros.

Para Natividade (2009) “muitas mulheres são motivadas para empreender pela dificuldade de empregar-se ou em função dos cuidados necessários a outros membros da família”. E ressalta também, o dilema da mulher brasileira em se dividir entre trabalho e família e a dificuldade de gestão do negócio decorrente de empreender para a própria sobrevivência e demais responsabilidades a ela atribuída:

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Considerando uma forte participação feminina nesse contexto de empreendimentos orientados por sobrevivência, observa-se o dilema da mulher brasileira, na elaboração da sua vida profissional e familiar. A partir dos dados obtidos do comportamento da mulher brasileira motivada para empreender por sobrevivência, é possível considerar no seu perfil uma capa de insegurança em manter-se no processo de gestão de seu negócio e conseguir sobressair por intermédio de sua orientação empreendedora.

Como contribuição dessa faceta, pode-se pensar na falta de orientação efetiva para sua permanência. (NATIVIDADE, 2009, não paginado)

Lemes (2018) ressalta a importância estatal no investimento na atividade empreendedora:

A geração de empregos e a estabilidade da renda impulsionaram a economia e, com isso, a ação do governo e de outras instituições para manter e fomentar o empreendedorismo, com o qual o país poderia contar para gerar mais emprego e renda. Apesar dos esforços, a disponibilidade de capital para investimento ainda é escassa. Também perdura no Brasil a percepção dos empreendedores de que crédito e financiamento são muito difíceis e burocráticos, fora do alcance das pequenas empresas (LEMES, 2018, p. 14).

No empreendedorismo brasileiro, as mulheres representam 13,9% de empreendedores iniciais segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) Brasil de (2019), e os homens representam a grande maioria, também estando à frente de negócios já consolidados. O GEM menciona como um dos argumentos para esse dado o tipo de motivação para abertura do negócio, no caso das mulheres, constatou- se, no passado, “uma participação maior de empreendedoras por necessidade, quando comparado aos homens”. Nesse caso, fica claro que algumas mulheres veem o empreendedorismo como temporário quando a renda familiar se deteriora, mas abandonam as atividades empreendedoras quando a renda melhora. Conforme dados do IBGE, a presença de filhos afeta a inserção ou manutenção da mulher no mercado de trabalho, a taxa de ocupação é de 54,6% para mulheres de 25 a 49 anos com crianças de até três anos em casa, contra 67,2% das mulheres desta mesma faixa etária, mas sem filhos. Adicionalmente, em 2019, as mulheres dedicaram,em média, 21,4 horas semanais aos cuidados de pessoas e afazeres domésticos, enquanto os homens dedicaram, apenas, 11 horas.

No caso das mulheres pretas ou pardas com crianças, o nível de ocupação fica abaixo de 50%. A dificuldade que essa população enfrenta não é só em relação ao acesso ao mercado de trabalho, mas também no acesso à

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educação e aos serviços de saúde. É uma questão estrutural em nossa sociedade (SIMÕES, 2021).

Como vimos anteriormente, há indícios de que a falta de oportunidade, flexibilidade de horário e autonomia são fatores determinantes para a decisão de empreender. Assim, podemos inferir, que o aumento da atividade empreendedora feminina está ligado aos salários inferiores, aumento da autonomia e flexibilidade além do desemprego crescente no país que, segundo dados do IBGE, atingiu 14,6% no primeiro trimestre de 2021, correspondendo a 14,8 milhões de brasileiros(as). De acordo com Gomes & Santana, 2004, p. 5, “uma das principais razões para que a mulher venha a ter o próprio negócio é a flexibilidade de horários, pois dessa forma poderá compatibilizar o trabalho e a família”. Para Strobino et al.:

São raras as empreendedoras, em particular as pequenas empreendedoras, que têm a fronteira entre o trabalho e a vida pessoal, ou a vida em família, bem-definida. Essa situação geralmente leva essas pequenas empresárias a defrontarem-se com conflitos entre o trabalho e a família. (STROBINO;

RIVARDA, 2014, p.60)

O SEBRAE (2019) reforça o crescimento do empreendedorismo feminino:

O aumento de mulheres empreendedoras também está associado a uma outra realidade: a de que o número de lares brasileiros chefiados por mulheres saltou de 23% para 40% entre 1995 e 2015. Dados do último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2010, revelam que cerca de 40,9%

das mulheres contribuem para a renda das famílias do País. No campo, o índice chega a 42,4% (SEBRAE, 2019, p.07).

O relatório finaliza concluindo que:

O empreendedorismo feminino é uma realidade crescente, mas ainda há muito a ser conquistado. O que importa é as mulheres tomarem conhecimento do próprio potencial e do mercado que está aberto para que elas continuem expandindo seus territórios, rompendo barreiras.

(SEBRAE, 2019)

Para Teixeira et al. (2021) “a inserção feminina no mercado permite destruir vários paradigmas, sobretudo a hegemonia masculina, pois as mulheres possuem habilidades interpessoais, grupais e gerenciais, além de transparência e motivação”.

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Santos et al (2018) pontuam os principais motivos que levaram mulheres a decidirem empreender. Em seu estudo, “Empreendedorismo Feminino: Um Estudo sobre as Motivações e Características das Empreendedoras da CMEG de Toledo – PR”, entre as entrevistadas, a principal questão foi a independência financeira, seja para sustento próprio, seja para sustento de sua família. Outros motivos mencionados foram crescimento pessoal, reconhecimento, liberdade e, ainda, oferecer qualidade de vida e melhorias sociais, como a preservação do meio ambiente.

Podemos considerar, também, o desemprego, como fator motivador, como mencionado no tópico anterior de empreendedorismo por necessidade. Segundo Costa (2020), “além da crise sanitária, uma das consequências da pandemia é o aumento do desemprego”. E, por conseguinte, a elevação da informalização do trabalho.

Além das dificuldades que podem ter motivado a entrada dessas mulheres ao empreendedorismo, ainda é preciso enfrentar a dificuldade de se manter no mercado.

Por conta da jornada dupla, tripla de trabalho é difícil conciliar o empreendedorismo.

Em estudo realizado por Ana Heloísa Lemos et al (2020, p. 396), “a quarentena trouxe mais sobrecarga para as entrevistadas, posto que, além de se dedicarem ao trabalho remoto, tiveram que cuidar da casa e dos filhos, simultaneamente.”.

Para melhor compreender como tem sido a vida das empreendedoras e como tem conciliado todas as funções, utilizei a metodologia que será apresentada no capítulo 3, a seguir.

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3 METODOLOGIA

3.1 Caracterização da pesquisa

Essa pesquisa é caracterizada como qualitativa, que, segundo Taquette e Minayo apud Minayo (2015, p. 408) é “aquela que se ocupa do nível subjetivo e relacional da realidade social e é tratada por meio da história, do universo, dos significados, dos motivos, das crenças, dos valores e das atitudes dos atores sociais.”.

Yin (2016) diz que a pesquisa qualitativa se difere pois além dos dados quantitativos, leva em consideração a narrativa dos entrevistados e todo o ambiente.

“Seu objetivo é coletar dados suficientemente ricos para que seu estudo aprecie plenamente e compreenda melhor o contexto para os eventos que você está estudando”. (YIN, 2016, 2016, p. 312)

Neste estudo será utilizado, a história de vida dessas empreendedoras a fim de entender melhor o contexto de suas vidas no empreendedorismo. De acordo com Becker:

A história de vida não é um "dado" para a ciência social convencional, embora tenha algumas de suas características por se constituir numa tentativa de reunir material útil para a formulação de teoria sociológica geral. Tampouco é ela uma autobiografia convencional, ainda que compartilhe com a autobiografia (BECKER,1993, p. 101).

Conforme MARCONI et al, 2017, p. 135, na técnica história de vida, “o investigador, por meio de uma série de entrevistas, procura fazer a reconstituição global da vida desse indivíduo, tentando evidenciar aqueles aspectos em que está mais interessado.” Neste trabalho o foco será no momento da vida na pandemia e o impacto no dia a dia do trabalho e das relações familiares.

Yin (2016, p. 31), descreve a técnica história de vida em coletar e narrar a história de vida de alguém, capturando seus pontos de virada e temas importantes.

3.1.1 Tipos de dados

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Os dados que serão utilizados e explorados nesta pesquisa serão de origem primária, obtidos por meio de entrevistas, visitas de acompanhamento e compreensão das técnicas utilizadas e secundários, sobre o papel do empreendedorismo, indicadores sociodemográficos e dados estatísticos sobre a pandemia de COVID-19 e outros dados decorrentes de pesquisas sobre o tema

3.1.2 Tipo de pesquisa

O tipo de pesquisa a ser abordado nesta pesquisa será exploratória e descritiva. Vergara (2013, p. 42) define que "investigação explicativa tem como principal objetivo tornar algo inteligível, justificar lhes os motivos". Gil (2002) relata:

"têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses" e afirma que "esse é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas" (GIL, 2002, p. 41)

Assim, será utilizada a história de vida que é uma técnica que permite interpretar e reinterpretar os eventos a fim de compreender as ações, conceitos e valores adotados por um grupo e/ou indivíduo em pauta. É também:

Uma técnica de campo que permite ao pesquisador maior controle sobre a situação ou as motivações do entrevistado. Tem como função básica estimular a pessoa, visando conseguir respostas claras e precisas sobre determinado estudo. (MARCONI; LAKATOS 2017 p.136).

3.1.3 Quanto aos meios

Os meios utilizados para a obtenção dos dados serão: pesquisa de campo, documental, bibliográfica e entrevistas em profundidade.

3.1.4 Técnicas de análise de dados

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A técnica a ser utilizada para coleta dos dados serão entrevistas semiestruturadas e etnográficas. O roteiro da entrevista será norteado pelas pautas:

motivações para abrir uma microempresa, se houve impacto da pandemia nessa decisão, como a pandemia afetou o negócio e como afetou a vida pessoal no geral, se há histórico desse negócio no pré pandemia para comparação, quais atores ajudaram, fizeram parte, quais prejudicaram, como e foi conciliar com família e demais trabalhos que não são remunerados, tais como: cuidar da casa, dos filhos, entre outros, e quais os sentimentos nesse cenário.

As entrevistadas foram abordadas por WhatsApp e Instagram por meio do modelo de texto a seguir:

Olá! Meu nome é Lorrane e estudo na Universidade Federal De São Paulo.

Estou pesquisando sobre os impactos da pandemia de COVID-19 na vida das microempreendedoras da zona sul de São Paulo para o meu trabalho de conclusão de curso e gostaria de te entrevistar para esse estudo! Para participar é simples: Me informe o melhor dia e horário para conversarmos e eu vou até você ou conversamos remotamente por vídeo. Entender os impactos é muito importante para estudarmos melhorias e saídas para retomarmos a economia e nossa saúde mental. Gostaria de me ajudar? Fico no seu aguardo! (2021)

A entrevista com as mulheres empreendedoras levou em média 25 minutos e foi dividida em duas partes. Uma mais aberta onde a entrevista conta, livremente, a sua história de vida e como chegou ao momento de empreendedora e outra, onde foram feitas perguntas orientadas pelos seguintes roteiros:

Perguntas às microempreendedoras sobre o trabalho:

1) Quando você criou a sua empresa?

2) Quais as principais motivações para empreender?

3) Com o que você trabalhava antes de decidir empreender?

4) Como foi empreender na pandemia?

5) A demanda foi afetada por conta da pandemia?

6) Seu negócio melhorou ou piorou? Seu negócio fechou por conta da pandemia? O seu negócio cresceu durante a pandemia?

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7) Você tem funcionários e/ou ajudantes?

8) A pandemia afetou o faturamento?

9) Consequentemente, a pandemia afetou a remuneração dos funcionários e/ou ajudantes? (se houver)

10) Como era o seu negócio antes da pandemia? Foi necessário alterar processos e formas de trabalho devido à pandemia?

Perguntas às microempreendedoras sobre a vida pessoal:

1) Qual é o seu estado civil?

2) Você tem filhos(as)?

3) Se sim, como têm sido os cuidados? Houve alguma dificuldade causada pela pandemia e medidas de restrição?

4) Como tem sido a sua vida fora do trabalho?

5) Você recebeu algum tipo de auxílio do governo federal e/ou estadual?

6) Como tem sido a vida em casa? Há quem te ajude nas tarefas diárias?

7) Você trabalha no mercado formal?

8) Como você tem administrado a vida pessoal e o empreendedorismo?

9) Você é a principal provedora de renda na sua casa?

10) Como você tem se sentido durante a pandemia?

3.2 Entrevistas semiestruturadas

Para Marconi et al. (2017, p. 337) “o objetivo da entrevista é obter informações importantes e compreender as perspectivas e experiências das pessoas entrevistadas.”.

A entrevista semiestruturada, é quase uma conversa, porém com o objetivo de recolher dados e são recomendadas para estudos exploratórios. Esta auxilia o pesquisador a obter informações para sua investigação que ajudarão no diagnóstico do problema social.

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A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas, mediante conversação, obtenha informações a respeito de determinado assunto. É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados, ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social. (MARCONI et al. 2017, p. 213)

De acordo com Yin (2016, p.62) “os pesquisadores precisam demonstrar que não há coações implícitas sobre a decisão de um participante em participar e que a decisão é verdadeiramente voluntária.”

As diretrizes para o comitê institucional de ética (CIE) abrangem quatro procedimentos principais que as submissões devem abordar:

1. obter consentimento informado voluntário dos participantes, geralmente fazendo-os assinar uma declaração escrita (“informado” indica que os participantes compreendem o propósito e a natureza da pesquisa);

2. avaliar os danos, os riscos e os benefícios da pesquisa, e minimizar qualquer ameaça de dano (dano físico, psicológico, social, econômico, legal e dignitário) aos participantes; selecionar os participantes equitativamente, de modo que não haja grupos de pessoas que sejam injustamente incluídos ou excluídos da pesquisa; e

3. assegurar o sigilo das identidades dos participantes, inclusive daquelas que aparecem em registros em computador e em gravações de áudio e vídeo.

(NATIONAL RESEARCH COUNCIL apud YIN, 2016, p. 62)

O questionário foi avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de São Paulo e foi aprovado em 30 de setembro de 2021 sob o Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE) número 51390621.2.0000.5505.

Para atestar a participação voluntária das entrevistadas, todas assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido e o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de São Paulo. Foi utilizado o Software de análise de dados Atlas Ti para análise das entrevistas e classificação das respostas.

Com esta metodologia procurou-se entender quais foram as consequências causadas pela pandemia na vida das mulheres como empreendedoras e em seus negócios e entender como tem sido a administração entre vida pessoal, empreendedorismo e rotina doméstica.

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4 ENTREVISTAS

As entrevistas foram realizadas entre novembro e dezembro onde duas delas foram realizadas pessoalmente e três foram realizadas remotamente. A transcrição de exatas 1 hora 49 minutos e 44 segundos de entrevista totalizou 22 páginas. A seguir, optou-se por apresentar um panorama geral das entrevistas e os principais pontos relatados a fim de auxiliar na compreensão das respectivas histórias e momentos de vida e, posteriormente, uma matriz de análise.

4.1 Entrevistada 1

A entrevistada 1 tem 32 anos e tem um estúdio de design de sobrancelhas no Campo Limpo, extremo sul de São Paulo onde atende na garagem de casa. Teve de suspender as atividades por cinco meses durante a pandemia, o que afetou drasticamente o faturamento. Empreende há cerca de sete anos, quando deixou seu emprego em uma clínica odontológica onde trabalhava como auxiliar de laboratório após fazer um curso de estética, por não aguentar a pressão do trabalho formal, começou a atender com a irmã e hoje trabalha sozinha. Casada, contou com a ajuda do marido para pagar as contas. Houve queda no faturamento pois muitas das clientes não voltaram, com medo, mas vem melhorado recentemente ao começar a dar cursos.

Não houve muitas mudanças no atendimento por conta da pandemia, já que a utilização de álcool e máscaras já era frequente. Desde o início da pandemia, ela não tem saído de casa, ficando apenas assistindo séries em uma rede de streaming, tem sido mais antissocial, segundo ela.

Mora com a mãe, a irmã mais nova e o marido, dos quais a ajudam com as tarefas diárias. Agora, que vê as coisas melhorando, tem se sentido mais relaxada.

Teve dias ruins e hoje prefere ficar distante das pessoas, valoriza mais seus momentos sozinha e evita sair.

4.2 Entrevistada 2

A entrevistada 2 tem 24 anos e tem uma padaria e confeitaria no Jardim Noronha, extremo Sul de São Paulo. Por conta da pandemia e planos frustrados na

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faculdade – pretendia concorrer a uma bolsa de estudos na Itália – decidiu entrar de cabeça no negócio da família, criada em sociedade com sua mãe e sua tia. Sua última colocação no mercado formal foi como estagiária na universidade onde estudava. Viu sua demanda aumentar muito, o que ela atribuiu a ter mais pessoas em casa e dependentes do delivery e à implantação da padaria, uma vez que as pessoas consomem itens como café e pão com mais frequência. No entanto, com o delivery recém implantado e o aumento desproporcional da demanda levou a entrevistada a diversas crises de ansiedade. Teve de aumentar os funcionários para conseguir dar conta da demanda, aumentou o faturamento, teve de rever processos para atender às normas de combate a COVID-19 impostas pelo estado quanto ao atendimento presencial. Com o tempo, foi se adaptando e o impacto da pandemia no negócio foi positivo, na questão financeira e demanda. Hoje conta com 18 pessoas trabalhando na loja e quatro motoboys entregando no delivery. Não tem filhos e no momento tem sido não absorvida pelo trabalho que não tem tido vida pessoal, porém pretende voltar a socializar por orientação médica. Apesar de tocar o negócio, não é a principal provedora de renda da casa, no entanto, o principal provedor sofreu reduções no salário por conta da pandemia. Ela considera ter tido muitos impactos negativos psicologicamente, seus planos mudaram completamente e a falta de controle a levou a crises de ansiedade. Agora, acompanhada por médicos e psicólogos, se sente melhor e motivada, acredita no que faz e pretende seguir empreendendo, além de ter planos de abrir uma escola de empreendedorismo para os moradores da periferia.

4.3 Entrevistada 3

A entrevistada 3 tem 26 anos e faz doces em sua casa – no Cantinho do Céu, extremo sul de São Paulo – para vender no delivery. Já vendia doces na academia onde trabalhava como recepcionista de forma a complementar a renda, já que a carga horária foi reduzida assim como o salário e viu nos doces uma saída após perder o emprego por conta da pandemia. Sua principal motivação para empreender foi perder o emprego na academia onde trabalhava como recepcionista durante a pandemia e ela acredita que a desconfiança das pessoas no seu trabalho a dá forças para dar o seu melhor. Mora com a mãe, que também é autônoma e juntas cuidam das tarefas domésticas de acordo com a disponibilidade de cada uma. Se considera casada, não

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tem filhos e tem uma adega com o seu marido, onde estoca seus doces a pronta entrega. A principal reclamação é o aumento no preço dos insumos que, de acordo com a entrevistada, está insustentável usar bons produtos e manter o preço baixo, em contrapartida seu público-alvo não tem poder aquisitivo para comprar doces mais caros. Não é a principal provedora de renda em sua casa e não recebeu auxílio do governo federal e/ou estadual. Hoje em dia, apenas empreende.

A entrevistada acredita ter ansiedade, apesar de não ter sido diagnosticada por um médico, já que ela se sente insegura, se sente insuficiente e tem crises de choro frequentes. Perdeu um primo para a COVID-19 há quatro meses, o que a deixou um mês sem trabalhar por conta do luto. Se sente sozinha por não poder sair de casa, o que tem piorado o seu psicológico.

4.4 Entrevistada 4

A entrevistada 4 tem 25 anos e é cabeleireira. Atende na sala da sua casa no Jardim Casto Alves, extremo sul de São Paulo. Sempre teve o sonho de ser cabeleireira, no entanto nunca teve condições financeiras de comprar um curso. Era garçonete e seu marido cozinheiro, ambos perderam o emprego na pandemia – a empresa onde trabalhavam fechou. Passou por um período de dificuldade, mora com seu filho – de 14 anos – e seu marido, tendo sido ajudada por amigos até que conseguisse, judicialmente, receber auxílio do governo federal. Durante esse período, ela abriu um brechó online onde vendia suas roupas para conseguir pagar as contas – este foi seu primeiro contato com o empreendedorismo. Posteriormente, seu esposo conseguiu emprego em um Hortifruti no Grajaú, onde trabalha até hoje e é o principal provedor de renda da casa, e ela em uma loja na 25 de março. Eram mais de duas horas de viagem e acabou desistindo, pois conseguiu outro emprego de garçonete na região onde mora. Economizou dinheiro e comprou o curso especializado em cabelos cacheados de uma cabeleireira e blogueira a qual acompanhava. Ao finalizar o curso, pediu demissão e montou seu espaço – humilde – na sala da sua casa. Para ela, a principal dificuldade é não poder dar ao filho o que ele pede, que são coisas simples, como bolachas, iogurtes e deixá-lo sair de casa para brincar. Não aguentava mais ser garçonete, viu na carreira de cabeleireira uma chance de mudar de vida, no entanto,

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na pandemia é um desafio. Por atender em casa, tem medo de acabar se contaminando e contaminando seu filho, mas, conforme ela mesmo menciona, as contas não esperam. Ela não tem ajudantes quanto ao trabalho, mas conta com a ajuda do esposo e filho nas tarefas domésticas. Apesar do fechamento das creches, não enfrentou dificuldades com o seu filho, o deixava sozinho por breves momentos uma vez que ela e seu esposo trabalhavam em horários diferentes.

Não tem tido vida pessoal, por medo de contaminação. Desenvolveu crises de ansiedade por conta de todo ambiente incerto por conta da pandemia. No dia da entrevista, ela havia sido convidada para uma confraternização na empresa do esposo, da qual disse que ia, mas com medo. No começo da pandemia, ela sentia falta de ar, insônia, crises de choro. Hoje em dia ela diz estar mais tranquila por estar se dedicando ao que gosta, acredita que o pior já passou.

4.5 Entrevistada 5

A entrevistada 5 tem 36 anos e tinha uma esmaltaria no Parque Residencial Cocaia, extremo sul de São Paulo. Casada e com três filhas, não viu outra opção a não ser sair do emprego, recepcionista de uma clínica de estética, para conseguir ficar com as filhas já que as escolas e creches fecharam por conta da pandemia. Por conta da sobrecarga de trabalho proveniente da demissão de várias pessoas na empresa, ela pediu para ser demitida e viu uma oportunidade para começar a empreender. Com a rescisão comprou os itens necessários para abrir o seu espaço de manicure. Ela mora em uma vila de casas, onde alugou umas das casas da vila onde mora para atender, onde permaneceu por aproximadamente um ano. Essa movimentação afetou drasticamente o faturamento da família, sendo seu esposo o principal provedor de renda.

O principal desafio segundo a entrevistada foi ser notada pelas pessoas, conquistar e fidelizar clientes. No entanto, se assustou, positivamente, quando a demanda foi maior do que ela esperava. Depois, a falta de respeito das pessoas que insistiam em não usar máscara. Seu espaço contava com uma ajudante, onde 50%

do que ela recebia ficava para o salão uma vez que os materiais e espaço eram da entrevistada. Ao abrir o espaço, ela pensou que teria mais tempo para ela – mas

Referências

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