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Cada vez mais as mulheres assumem um papel diferente do doméstico e familiar inicialmente atribuído a elas. A feminização do mercado de trabalho é uma pauta cada vez mais importante e impulsiona empresas a repensarem a forma como enxergam as mulheres dentro das organizações, conforme menciona Villas Boas:

A cada geração, novos padrões de comportamento vão se tornando aceitáveis. A sociedade evolui e com isso diminuem as diferenças entre o que as mulheres podem fazer e o que está reservado aos homens (VILLAS BOAS, 2010, p. 35).

No entanto, muitas delas insatisfeitas por serem subestimadas em um ambiente empresarial misógino, recorrem ao empreendedorismo para ter independência.

Dornelas (2019, p. 53-56) ressalta que o processo empreendedor para o surgimento de uma nova empresa ocorre devido a vários fatores, onde ele recorda esses fatores considerando o “empreendedor por necessidade” e o “empreendedor por oportunidade”. Empreendedores de necessidade, os fatores em comum são: “Falta de acesso a oportunidades de trabalho formal como empregado; necessidade de recursos financeiros mínimos para arcar com as demandas da sobrevivência;

demissão e desemprego.”. Já quando aos empreendedores por oportunidade, os fatores comuns são: “decisão deliberada e/ou planejada; ideia, descoberta, inovação;

desejo de autonomia; ganhar um recurso inesperado”; dentre outros.

Para Natividade (2009) “muitas mulheres são motivadas para empreender pela dificuldade de empregar-se ou em função dos cuidados necessários a outros membros da família”. E ressalta também, o dilema da mulher brasileira em se dividir entre trabalho e família e a dificuldade de gestão do negócio decorrente de empreender para a própria sobrevivência e demais responsabilidades a ela atribuída:

Considerando uma forte participação feminina nesse contexto de empreendimentos orientados por sobrevivência, observa-se o dilema da mulher brasileira, na elaboração da sua vida profissional e familiar. A partir dos dados obtidos do comportamento da mulher brasileira motivada para empreender por sobrevivência, é possível considerar no seu perfil uma capa de insegurança em manter-se no processo de gestão de seu negócio e conseguir sobressair por intermédio de sua orientação empreendedora.

Como contribuição dessa faceta, pode-se pensar na falta de orientação efetiva para sua permanência. (NATIVIDADE, 2009, não paginado)

Lemes (2018) ressalta a importância estatal no investimento na atividade empreendedora:

A geração de empregos e a estabilidade da renda impulsionaram a economia e, com isso, a ação do governo e de outras instituições para manter e fomentar o empreendedorismo, com o qual o país poderia contar para gerar mais emprego e renda. Apesar dos esforços, a disponibilidade de capital para investimento ainda é escassa. Também perdura no Brasil a percepção dos empreendedores de que crédito e financiamento são muito difíceis e burocráticos, fora do alcance das pequenas empresas (LEMES, 2018, p. 14).

No empreendedorismo brasileiro, as mulheres representam 13,9% de empreendedores iniciais segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) Brasil de (2019), e os homens representam a grande maioria, também estando à frente de negócios já consolidados. O GEM menciona como um dos argumentos para esse dado o tipo de motivação para abertura do negócio, no caso das mulheres, constatou-se, no passado, “uma participação maior de empreendedoras por necessidade, quando comparado aos homens”. Nesse caso, fica claro que algumas mulheres veem o empreendedorismo como temporário quando a renda familiar se deteriora, mas abandonam as atividades empreendedoras quando a renda melhora. Conforme dados do IBGE, a presença de filhos afeta a inserção ou manutenção da mulher no mercado de trabalho, a taxa de ocupação é de 54,6% para mulheres de 25 a 49 anos com crianças de até três anos em casa, contra 67,2% das mulheres desta mesma faixa etária, mas sem filhos. Adicionalmente, em 2019, as mulheres dedicaram,em média, 21,4 horas semanais aos cuidados de pessoas e afazeres domésticos, enquanto os homens dedicaram, apenas, 11 horas.

No caso das mulheres pretas ou pardas com crianças, o nível de ocupação fica abaixo de 50%. A dificuldade que essa população enfrenta não é só em relação ao acesso ao mercado de trabalho, mas também no acesso à

educação e aos serviços de saúde. É uma questão estrutural em nossa sociedade (SIMÕES, 2021).

Como vimos anteriormente, há indícios de que a falta de oportunidade, flexibilidade de horário e autonomia são fatores determinantes para a decisão de empreender. Assim, podemos inferir, que o aumento da atividade empreendedora feminina está ligado aos salários inferiores, aumento da autonomia e flexibilidade além do desemprego crescente no país que, segundo dados do IBGE, atingiu 14,6% no primeiro trimestre de 2021, correspondendo a 14,8 milhões de brasileiros(as). De acordo com Gomes & Santana, 2004, p. 5, “uma das principais razões para que a mulher venha a ter o próprio negócio é a flexibilidade de horários, pois dessa forma poderá compatibilizar o trabalho e a família”. Para Strobino et al.:

São raras as empreendedoras, em particular as pequenas empreendedoras, que têm a fronteira entre o trabalho e a vida pessoal, ou a vida em família, bem-definida. Essa situação geralmente leva essas pequenas empresárias a defrontarem-se com conflitos entre o trabalho e a família. (STROBINO;

RIVARDA, 2014, p.60)

O SEBRAE (2019) reforça o crescimento do empreendedorismo feminino:

O aumento de mulheres empreendedoras também está associado a uma outra realidade: a de que o número de lares brasileiros chefiados por mulheres saltou de 23% para 40% entre 1995 e 2015. Dados do último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2010, revelam que cerca de 40,9%

das mulheres contribuem para a renda das famílias do País. No campo, o índice chega a 42,4% (SEBRAE, 2019, p.07).

O relatório finaliza concluindo que:

O empreendedorismo feminino é uma realidade crescente, mas ainda há muito a ser conquistado. O que importa é as mulheres tomarem conhecimento do próprio potencial e do mercado que está aberto para que elas continuem expandindo seus territórios, rompendo barreiras.

(SEBRAE, 2019)

Para Teixeira et al. (2021) “a inserção feminina no mercado permite destruir vários paradigmas, sobretudo a hegemonia masculina, pois as mulheres possuem habilidades interpessoais, grupais e gerenciais, além de transparência e motivação”.

Santos et al (2018) pontuam os principais motivos que levaram mulheres a decidirem empreender. Em seu estudo, “Empreendedorismo Feminino: Um Estudo sobre as Motivações e Características das Empreendedoras da CMEG de Toledo – PR”, entre as entrevistadas, a principal questão foi a independência financeira, seja para sustento próprio, seja para sustento de sua família. Outros motivos mencionados foram crescimento pessoal, reconhecimento, liberdade e, ainda, oferecer qualidade de vida e melhorias sociais, como a preservação do meio ambiente.

Podemos considerar, também, o desemprego, como fator motivador, como mencionado no tópico anterior de empreendedorismo por necessidade. Segundo Costa (2020), “além da crise sanitária, uma das consequências da pandemia é o aumento do desemprego”. E, por conseguinte, a elevação da informalização do trabalho.

Além das dificuldades que podem ter motivado a entrada dessas mulheres ao empreendedorismo, ainda é preciso enfrentar a dificuldade de se manter no mercado.

Por conta da jornada dupla, tripla de trabalho é difícil conciliar o empreendedorismo.

Em estudo realizado por Ana Heloísa Lemos et al (2020, p. 396), “a quarentena trouxe mais sobrecarga para as entrevistadas, posto que, além de se dedicarem ao trabalho remoto, tiveram que cuidar da casa e dos filhos, simultaneamente.”.

Para melhor compreender como tem sido a vida das empreendedoras e como tem conciliado todas as funções, utilizei a metodologia que será apresentada no capítulo 3, a seguir.

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