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SEÇÃO II DELINEANDO CAMINHOS: PERCURSO METODOLÓGICO

2.6 Análises dos Dados

Após a aplicação do questionário e do grupo focal, já de posse dos dados fornecidos pelos sujeitos da pesquisa, o passo seguinte consistiu em buscar as formas cabíveis e propícias de análises desses dados, sempre no sentido de alcançar os objetivos propostos para este estudo. Dessa forma, optamos pela técnica de análise de conteúdo, que de acordo com Laurence Bardin (2011), consiste num conjunto de técnicas de cunho metodológico, utilizadas comumente no campo das ciências humanas, na definição do conteúdo das comunicações.

Ao optarmos por essa técnica de análise e tratamento de dados, nos inserimos em uma perspectiva dialética de educação, com ênfase nos pressupostos da abordagem qualitativa, no sentido de elucidarmos as representações dos jovens sobre seu processo de escolarização, no âmbito da Educação Escolar.

A técnica de análise de conteúdo, em seu período de estruturação, sofreu consideráveis perseguições, sendo que foi somente através das formulações da teórica Laurence Bardin (1977), que começou a ganhar popularidade e também confiabilidade, concatenando à sua volta pesquisadores das mais diversas áreas, como a Linguística, Etnologia, História, Psiquiatria, Psicologia, Ciências Políticas e Jornalismo.

Entre os objetivos propostos por essa técnica de análise, está o de empreender um trabalho de ligação entre os conceitos e categorias na perspectiva de dar condições ao pesquisador de levantar hipóteses teóricas consistentes e que possam propiciar algumas generalizações.

Para o trabalho com essa técnica de análise e tratamentos de dados, Bardin (2011) recomenda a necessidade de determinados “pressupostos” metodológicos, são eles: um corpus consistente e representativo; uma categorização sistemática de todo o conteúdo com relevância para o estudo; e a triangulação dos resultados combinando as técnicas de análise qualitativas com os procedimentos quantitativos. Ainda no tocante à estruturação dessa metodologia, essa autora aponta que caminhos devem ser trilhados no trabalho de interpretação dos dados a partir dessa técnica.

Estabelece então três fases distintas, mas, complementares entre si para a efetivação desse trabalho:

A primeira fase, denominada de pré-análise, tem como característica principal o trabalho de estruturação e sistematização do material coletado durante o processo de pesquisa, tendo em vista que são esses dados que comporão a posteriori o corpus que será analisado. Esta fase também traz como proposição, a sistematização das ideias iniciais na construção dos

primeiros indicadores para a interpretação das informações coletadas. Assim, esta primeira fase perpassa pela leitura geral do material eleito para a análise - em se tratando de análise de entrevistas, estas já deverão estar transcritas. Como parte desse primeiro movimento, Laurence Bardin aponta quatro caminhos para consolidação dessa fase:

a) Leitura flutuante: é o primeiro contato com os documentos da coleta de dados, momento em que se começa a conhecer os textos, entrevistas e demais fontes a serem analisadas;

b) Escolha dos documentos: consiste na definição do corpus de análise; c) Formulação das hipóteses e objetivos, a partir da leitura inicial dos dados; d) Elaboração de indicadores: a fim de interpretar o material coletado;

Ainda de acordo com as orientações de Bardin (2011), é importante ressaltar que a escolha dos dados a serem analisados, obedeça a orientação das seguintes regras:

 Exaustividade: refere-se à deferência de todos os componentes constitutivos do corpus. Bardin (1977) descreve essa regra, apoiando-se no fato de que o ato de exaurir significa não deixar fora da pesquisa qualquer um de seus elementos, sejam quais forem as razões;

 Representatividade: no caso da seleção de um número muito elevado de dados, pode efetuar-se uma amostra, desde que o material a isto se preste. A amostragem diz-se rigorosa se a amostra for uma parte representativa do universo inicial (BARDIN, 2011);

 Homogeneidade: os documentos retidos devem ser homogêneos, obedecer a critérios precisos de escolha e não apresentar demasiada singularidade fora dos mesmos.

 Pertinência: significa verificar se a fonte documental corresponde adequadamente ao objetivo suscitado pela análise (BARDIN, 1977), ou seja, esteja concernente com o que se propõe o estudo.

A segunda fase é denominada por Bardin (2011), de exploração do material e versa sobre a constituição das operações de codificação, tendo em vista os recortes dos textos nas chamadas unidades de registros. Definem-se regras de contagem e classificação, criando então as primeiras categorias. Uma das características desta fase é justamente a passagem dos dados brutos que estão nos documentos para as unidades de sentido, na perspectiva de chegarmos a um conteúdo representativo, que nos leve à significação do texto, estabelecendo unidades de referência. A materialização desse processo se dá mediante um tema, palavra ou frase, buscando a categorização e a contagem frequencial. Para Bardin (2011) e Franco (2008), essa

fase corresponde à etapa da descrição analítica, no que diz respeito ao corpus orientado pelo problema de estudo, objetivos e hipóteses.

A terceira e última fase da análise de conteúdo denominada de tratamento dos resultados, se dá primeiramente com o processo de categorização, ou seja, aqui o objetivo é qualificar elementos em categorias; congregar as unidades de contexto por aproximação semântica, pelos sentidos dos fragmentos dos textos com similaridades. Essas unidades que apresentam relações aproximadas, são extraídas do texto e organizadas em categorias que passarão por interpretações inferenciais, análise reflexiva e crítica. De acordo com (BARDIN, 2011), existem cinco formas de se construir a análise de conteúdo: a análise categorial, análise de avaliação, análise de enunciação, análise de relação e análise do discurso.

Conforme dito anteriormente, este estudo se apoiará nas proposições de Laurence Bardin, especialmente no que tange as suas três fases de análises, porém, trabalharemos com a ideia de Tematização em Nascimento (2011). Nas formulações dessa autora, a categorização aborda os dados do objeto em estudo como algo mensurável, cujas ocorrências dos sentidos sofrem contagem frequencial.

Nessa perspectiva, ao tratarmos os dados do corpus desta pesquisa, a partir da análise do conteúdo de Bardin, em uma interface com a ideia de tematização em Nascimento (2011), acreditamos na possibilidade do diálogo direto com a TRS, a partir de sua abordagem processual elaborada por Denise Jodelet (2001), que elucida a compartilhamento dos conhecimentos que entrelaçam os grupos, destacando os sistemas de valores firmados nas relações sociais.

Ainda uma vez, cabe destacarmos a pertinência do uso da ideia de tematização elaborada por Nascimento (2011), como um desenho de análise de conteúdo que cria temáticas de análise, contribuindo para a ampliação do fenômeno em estudo, com privilegiamento dos aspectos subjetivos a partir das imagens, sentidos e significados dos sujeitos. Essas características garantem uma aproximação com a abordagem processual ou dimensional da TRS (SILVA, 2016).

Continuamos nos apoiando nas proposições de Nascimento (2011), para pensarmos os sentidos simbólicos imbricados nos conteúdos dos discursos dos sujeitos, dialogando com a ideia de objetivações e ancoragens. A percepção das objetivações e ancoragens na perspectiva da TRS utiliza como base para análise de enunciado, a técnica de análise de conteúdo, cujo material verbal extraído e coletado através dos discursos, discorre sobre as imagens e sentidos de um determinado objeto, que precisam ser classificados por meio de um método.

Essa teoria destaca os discursos, imagens, significados, percepções dos sujeitos que, individualmente ou nos grupos de pertencimento sofrem influência das RS. Coexiste um pensamento individual, mas que está intimamente relacionado com o ambiente social, no qual esses sujeitos se sociabilizam. Nessa lógica, parte-se do pressuposto de que os jovens que estão inseridos na escola formal, em suas vivências individuais ou coletivas, dão sentido e possuem uma representação sobre seu processo de escolarização, bem como compreendem a importância desse período, como fundamental na sua trajetória de vida.

Destarte, os dados deste estudo são analisados através da técnica de análise de conteúdo, que é frequentemente feita através de registros, expressões verbais a partir das falas e opiniões do sujeito emissor, permitindo através de uma análise exaustiva e criteriosa inferir percepções sobre os dados analisados, de forma a apreender as imagens e os sentidos dados por eles a um determinado fenômeno. Segundo Nascimento (2011); e Franco (2008); esse processo pressupõe o que se define como as objetivações e ancoragens, meio pelo qual é possível se apreender fenômenos e dimensões das RS através da análise inferencial.