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O Problema de Pesquisa e o Campo Teórico Metodológico de Sustentação

SEÇÃO I – INTRODUÇÃO

1.2 O Problema de Pesquisa e o Campo Teórico Metodológico de Sustentação

Um estudo acerca das juventudes na atualidade demanda um desafio grandioso que não pode ser perseguido de qualquer forma. O teórico Boaventura de Souza Santos (2006, p. 31) nos provoca para a necessidade imprescindível do constante exercício no “reconhecimento crescente do caráter parcial do conhecimento científico e da necessidade de procurar diálogos entre ele e os conhecimentos não científicos”, ao que ele denomina “Ecologia dos Saberes”, que são determinantes para a evolução humana.

Ao partimos desse enunciado e na perspectiva de que o conhecimento não se dá somente nas formulações científicas, mas acontecem e se cristalizam no interior dos grupos sociais a partir das crenças, culturas e apreensões que os sujeitos sociais têm sobre si e sobre o mundo que os cerca, é que a Teoria das Representações Sociais (TRS) de Serge Moscovici, bem como as contribuições de Denise Jodelet21 se solidificaram como matriz teórica deste estudo, que demanda um exercício transdisciplinar, tanto no que tange ao tratamento das temáticas que dão origem ao objeto de investigação, quanto ao aparato metodológico (SPINK, 1993). Tendo em vista que essa teoria trabalha levando em consideração a forma de pensar, de

20 É dessa autora, o único trabalho que encontramos que trata especificamente da juventude na Amazônia. 21

Jodelet é considerada uma das principais colaboradoras de Moscovici, pois sistematizou o campo teórico das RS e analisou a evolução dos seus conceitos até os nossos dias, destacando sua complexidade, vitalidade e transversalidade no campo das ciências humanas (ALVES-MAZZOTTI, 1994, p. 65).

agir e de sentir dos grupos sociais. A preocupação da TRS é abarcar pessoas comuns, comunidades e instituições que a constroem. Por essa razão:

O desafio atual deste campo teórico é analisar o caráter construtivo das RS, não como distorções de pensamento, mas como um campo teórico que permite pensar o grupo social de maneira diferente e de aprender a inovação social (MOSCOVICI, 2009, p. 50).

Destarte, a TRS se ocupa de uma forma particular do estudo das teorias do senso comum, ou seja, “conjuntos de conceitos articulados que têm origem nas práticas sociais e diversidades grupais cuja função é dar sentido à realidade social, produzir identidades, organizar as comunicações e orientar as condutas” (SANTOS e ALMEIDA 2005, p. 22).

No tocante à temática Juventudes, Escolarização e Projetos de Vida, o objetivo primeiro deste nosso estudo é entender, a partir da TRS, as representações desses sujeitos sobre seu período de escolarização, bem como as interconexões dessas representações com seus projetos de vida, por meio das redes internas de sentidos e significados dados pelos jovens, a partir de seus grupos de pertencimento, pois o objeto das RS, necessariamente, apresenta a característica de ser polissêmico ou seja, passível de uma diversa gama de sentidos, oriundos das comunicações e práticas dos grupos.

Consideramos que é a partir da apreensão das imagens e sentidos, que correspondem às objetivações e ancoragens que organizam as RS é que poderemos caracterizar as orientações dos fazeres sobre a escolarização dos jovens do Ensino Médio da escola pública. Aí destacam-se a objetivação e a ancoragem, como os dois elementos fundantes das RS.

A objetivação que segundo Moscovici tem a finalidade de “transformar algo abstrato em algo concreto, transferir o que está na mente em algo que exista no mundo físico” (2009, p.72). E a ancoragem como “um processo que transforma algo estranho, que nos intriga, em nosso sistema particular de categorias e o compara com um paradigma de uma categoria que nós pensamos ser apropriada” (MOSCOVI, 1978, p. 61).

O sentido e o significado no campo da TRS não são termos de pouca relevância, haja vista que o sentido “não está ‘colado’ na palavra, é um elemento simbólico, não é fechado nem exato, portanto sempre incompleto; por isso o sentido pode escapar. O enunciado não diz tudo, devendo o analista buscar os efeitos dos sentidos e, para isso, precisa sair do enunciado e chegar ao enunciável através da interpretação” (CAREGNATO; MUTTI, 2006). No sentido, temos a experiência pautada na empiria, ou seja, trata-se de uma produção simbólica, oriunda

da relação entre o que está estabelecido em termos de significado e a leitura desses significados à luz do lugar, a partir do qual cada sujeito produz a sua “verdade”.

No que concerne ao significado, este assume uma posição de construção mais genérica, enquanto uma produção alheia ao sujeito que influencia na percepção de mundo (DORSCH et al, 2008). Em termos de RS, é justamente essa relação entre o que está socialmente constituído e operando na individualidade do sujeito: os significados, na relação direta e ininterrupta com a capacidade de cada um de ressignificar, ou seja, os sentidos que possibilitam pensar em processos psicossociológicos, constituídos na relação entre sujeito e grupo, por meio dos processos comunicacionais.

Os conhecimentos experenciados, a maneira de pensar e de agir desses jovens, que embora alvo de pesquisas no contexto da escola, estão para além dessas vivências, têm posturas oriundas, sobretudo das relações construídas com seus pares. Nascimento (2014), vai dizer que o senso comum é parte fundante nas formas de pensamento que condicionam e justificam as práticas sociais. As RS que um determinado grupo elabora a respeito do que deve fazer para criar uma rede de relações entre seus membros, faz com que determine os mesmos objetivos e procedimentos específicos.

A escolha da TRS como matriz teórica para a consolidação desta pesquisa se dá à medida que aspiramos trabalhar, não a partir de uma visão exterior, mas com a visão dos próprios jovens. São suas falas, crenças, comportamentos e compreensões que irão direcionar as proposições deste trabalho em termos de temáticas analíticas, fundantes para as argumentações que sustentam a tese, uma vez que a visão deles e por eles mesmos, no contraponto das históricas formulações literárias sobre juventudes, é que vai dar corpo a este estudo.

Retomando a ideia de que as RS são princípios de interpretação que conduzem a nossa relação como o mundo e com os outros. Ter conhecimento sobre a forma como esses jovens pensam e sentem o processo de escolarização, equivale saber de suas relações, suas formas de apropriações, perspectivas e significações a partir de suas próprias experiências, nos aspectos sociais e culturais.

O estudo da escolarização e do projeto de vida, como objetos socialmente representados pelos jovens, têm uma importância sem medida, por contribuir com uma aproximação real das elaborações desses sujeitos, o que pode cooperar para uma análise de variadas questões como por exemplo, políticas de educação para juventudes, dentre outros.

A aposta na TRS se dá, sobretudo, em virtude da dinâmica social que envolve a temática. Existem discursos e representações que circulam na sociedade sobre juventudes,

advindos dos variados campos do saber, da economia, da mídia, das políticas públicas, da educação, das falas cotidianas e de outros setores; logo, trata-se de um fenômeno socialmente representado em diferentes contextos, com representatividade para a coletividade.

Partindo desse entendimento, no exercício de construções e desconstruções, buscamos pensar um objeto a ser estudado, que evidenciasse os sentidos e significados dados pelos jovens para a escola. Assim, com base na TRS, formulou-se a questão problema que norteou todo o processo de elaboração deste estudo, qual seja: Quais as Representações Sociais de jovens sobre sua escolarização e as implicações em seus projetos de vida?

A partir do mote central apresentado como indagação, construímos um conjunto pormenorizado de questões que conjuntamente contribuíram para chegar aos elementos que corroborem a escritura e sustentação da tese. São elas:

 Qual o perfil de jovens do Ensino Médio de uma escola pública de Bragança (PA)?  Como se constituem as imagens e os sentidos que compõem as RS de Jovens sobre

seus processos de escolarização?

 Como se caracterizam os projetos de vida de jovens de escolas públicas do município de Bragança (PA)?

 Quais as implicações das RS de jovens sobre a sua escolarização para os seus projetos de vida?

A questão central foi pormenorizada no sentido de alcançar a amplitude desta tese e a partir daí, construímos quatro outros direcionamentos, no formato de objetivos, para garantir satisfatoriamente que os resultados fossem alcançados.

Objetivos:

Geral

 Analisar as Representações Sociais de jovens do Ensino Médio da escola pública sobre sua escolarização e as implicações em seus projetos de vida.

Específicos

 Caracterizar o perfil de jovens do Ensino Médio de uma escola pública de Bragança (PA);

 Destacar as imagens e os sentidos que compõem as Representações Sociais de Jovens sobre seus processos de escolarização;

 Caracterizar o projeto de vida de jovens de escolas públicas do município de Bragança (PA); e

 Analisar as implicações das Representações Sociais de jovens sobre a sua escolarização para os seus projetos de vida.

O estudo construído ao longo dos quatro anos de doutorado se organiza em cinco seções assim delineadas: A primeira seção é precedida daquilo que denominamos prólogo. PRÓLOGO, ist. teat no antigo teatro grego, a primeira parte da tragédia22, em forma de diálogo entre personagens ou monólogo, na qual se fazia a exposição do tema da tragédia. Como primeiro movimento deste estudo, procuramos explicitar que a construção de um trabalho que versasse sobre juventude e escolarização, carrega uma espécie de identificação profissional, acadêmica e pessoal da autora.

Esta primeira seção, denominada de INTRODUÇÃO, aborda o objeto, objetivos e problemática, bem como a própria tese na qual se sustenta toda a pesquisa. Assim, foi feita uma inserção na realidade da sociedade contemporânea, buscando incluir a juventude, enquanto categoria histórica e social nesse contexto. Por fim, buscamos demonstrar a TRS como a base teórica de sustentação de todo o trabalho.

Na segunda seção denominada DELINEANDO CAMINHOS - CAMINHOS METODOLÓGICOS, descrevemos os caminhos percorridos para a feitura desta tese. Como primeiro passo, foi feita uma apresentação do tipo e abordagem de investigação utilizada, na perspectiva do privilegiamento da pesquisa qualitativa bem como, a exposição das técnicas de produção e coleta de dados. E por fim, foi apresentada a forma de tratamento dos dados da pesquisa. Então, partimos dos pressupostos teóricos da análise do conteúdo em Bardin (2011), em uma relação com a ideia de tematização de Nascimento (2011). Esses passos objetivaram a partir de Jodelet, perceber as imagens e os significados dados pelos jovens aos seus processos de escolarização.

Na terceira seção intitulada APROXIMANDO A TEMÁTICA COM OUTRAS PRODUÇÕES, buscamos empreender um trabalho do tipo Estado da Arte, com seu caráter bibliográfico, que consiste em mapear e discutir uma determinada produção acadêmica em um único, ou diferentes campos do conhecimento, no sentido de responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares. As formas e em que condições têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em periódicos e comunicações em anais. No caso deste estudo, o propósito foi

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A tragédia aqui é assumida como um monólogo referenciado por outras vidas e que, não necessariamente prescinde de fatos, exclusivamente trágicos, mas de vivências que foram forjadas, no contexto de muitos desafios, mas que guardam substâncias vívidas de afetividade, pertencimento, solidariedade e vitórias.

perceber que caminhos foram feitos por outros autores no que tange a pesquisas sobre juventudes, escolarização e projetos de vida. O objetivo de um estudo deste tipo é também perceber as lacunas deixadas por outros pesquisadores, que possam orientar a definição de “novos” objetos de investigação.

A quarta seção, À LUZ DAS TEORIAS: JUVENTUDE, ESCOLARIZAÇÃO E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS de cunho teórico, apresenta uma discussão sobre Juventude, Escolarização e Representação Social, em um entrelaçamento dessas três temáticas produtoras de elementos teórico-conceituais, tidos como conceitos chave para este estudo. Partimos da ideia, de que a palavra juventude é uma categoria histórica e social e a compreensão da mesma, só ganha sentido se estiver imersa em um determinado contexto. Nessa seção, delimita-se o uso do conceito de juventude no plural, por entendermos que existe uma infinidade de juventudes, em função das diversas situações que afetam esses sujeitos.

A quinta seção, denominada REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS JOVENS SOBRE SUA ESCOLARIZAÇÃO: ENTRE O OUVIR E O FALAR. O primeiro passo consiste em apresentar o perfil dos sujeitos da pesquisa, em seus aspectos sociais, econômicos, culturais e educacionais, com base no questionário aplicado. Logo após, é trazido à baila a partir do processo de objetivação e ancoragem, os sentidos e significados dados pelos próprios jovens ao seu período de escolarização, bem como a caracterização dos projetos de vida dos jovens sujeitos da pesquisa. E por fim, as implicações entre as RS de jovens sobre a sua escolarização para os seus projetos de vida.

Na sexta seção, se encontram as possíveis conclusões, é neste momento que são feitas as inferências da autora sobre a temática pesquisada. As descobertas feitas durante o tempo de pesquisa serão compartilhadas, para confirmar, ou não, a hipótese apresentada no início deste trabalho.

Após a parte textual, encontram-se os elementos pós-textuais, compreendidos entre: referências, apêndices e anexos.