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Bragança em seus Aspectos Históricos, Econômicos, Sociais e Culturais

SEÇÃO II DELINEANDO CAMINHOS: PERCURSO METODOLÓGICO

2.3 Cenário Investigativo: Caracterizando o Lócus de Pesquisa

2.3.2 Bragança em seus Aspectos Históricos, Econômicos, Sociais e Culturais

Na segunda metade do século XX, um esforço maior de diversos escritores e historiadores têm sido empreendidos para abordar o período colonial na região onde está localizada a cidade de Bragança. Entre tantos desses autores, destacamos Bolívar Bordallo da Silva (advogado e historiador), que deixou inédita sua Cronologia Bragantina; e Benedito César Pereira (cronista), que inaugurou em Sinopse da História de Bragança, o debate em torno de datas fundadoras.

Muitos desses trabalhos foram referenciados pelo historiador e professor Dário Benedito Rodrigues, que tem dedicado parte de seus estudos para um conhecimento a mais sobre essa cidade, cujo início de sua colonização ainda está envolto em diversas controvérsias.

24 Dentre esses grupos, destacamos o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação na Amazônia

(GEPERUAZ), que além do comprometimento com a produção do conhecimento científico, também tem assumido frentes de trabalhos relacionadas ao fortalecimento dos movimentos sociais e da escola do campo, a partir da formação política desses coletivos.

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Ver em SANTOS, Tereza Cristina Evangelista. Imigração nordestina no Pará: a entrada de nordestinos no território paraense na última década do século XIX 1890-1899. (Monografia) Curso de História. Bragança: UFPA, 2014.

O material produzido por ele, sobre Bragança, está reunido em diversas postagens de seu blog pessoal26, cujas informações dispomos neste trabalho, para mostrar como se constituíram os aspectos históricos, econômicos, sociais e culturais da cidade.

O historiador concluiu que em alguns registros e estudos históricos, terem sido os franceses os primeiros europeus a se aproximarem da região, em julho de 1613, numa exploração marítima de reconhecimento com o objetivo de providenciar a conquista da região sul da América pelo litoral, a partir de São Luís, no Maranhão. O contato com os índios da nação tupinambá (primeiros habilitantes da região) deu a tônica do processo de envolvimentos do que viria a seguir com o início da destruição dos indígenas.

Arthur Cézar Ferreira Reis (1972), a partir de documentos e estudos, afirmou serem estes mesmos franceses a reconhecerem parte da região, reunidos da expedição chefiada por Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière, com a clara missão de conhecer, explorar e ocupar militarmente a área. A mesma era composta por homens cultos, militares e jesuítas, como cientistas, geógrafos e botânicos.

Três anos depois e com a intenção de consolidar a conquista portuguesa, Francisco Caldeira Castelo Branco, que a essa altura já se estabelecera no Maranhão e em terras da Guiana, cuidou para que a região do litoral fosse protegida de possíveis invasões estrangeiras, fundando em 1616, o forte militar que deu origem à cidade de Belém.

Dando sequência às ocupações dos espaços litorâneos da Colônia, assim como em Bragança, o português inseriu o tráfico e comércio de escravos africanos, redistribuídos de outras localidades, para auxiliar na lavoura, o que concorreu significativamente para que a vila de Bragança (e seu entorno rural) se tornasse um entreposto comercial entre São Luís e Belém.

Somente na segunda metade do século XIX, em 1854, pela Resolução de nº 252, de 02 de outubro, a Vila de Bragança tornou-se cidade, por determinação do Presidente da Província, tenente-coronel Sebastião do Rêgo Barros, tida como uma das mais importantes da Zona Bragantina e tendo como principais características a população hospitaleira, o comércio, a agricultura e a organização socioeconômica.

O negro africano que predominou na região no século XVIII, ofereceu sua contribuição com traços na língua, costumes e crendices. Outro notável grupo migrante nesse contexto foram os nordestinos advindos para o trabalho de outras regiões, como a do Almoço, Montenegro e dos Campos.

Antes da implantação da Estrada de Ferro de Bragança em 1908, as relações com Belém e São Luís eram construídas através de viagens marítimas, demoradas e perigosas; ou então pela via do rio Guamá, onde metade da viagem era feita por terra, a pé ou a cavalo, a outra metade em embarcação, rio abaixo, até a cidade de Belém.

Visitantes em geral, qualificam Bragança como uma cidade aconchegante, que alia certo progresso material com algumas tradições, especialmente na cultura e religiosidade. Sua população é originária de três grandes grupos étnicos: branco, índio e negro. A grande diversidade de hábitos materiais, espirituais e culturais é um resultado complexo de miscigenação entre esses grupos, constituindo-se em adaptações forçadas pela lógica civilizacional europeia e por lutas pela afirmação de indígenas e negros.

Esses europeus vieram para Bragança em vários processos de imigração, como afirmam os relatos de Dário Benedito Rodrigues, desde os colonos açorianos enviados por Mendonça Furtado no século XVIII, até a última grande leva de portugueses e espanhóis nos últimos anos do século XIX, sendo inseridos na recém-constituída colônia Benjamim Constant, hoje integrante do Distrito do Tijoca.

Intrinsecamente ligada à história da região Bragantina, esteve o projeto de construção da Estrada de Ferro de Bragança, concluída e inaugurada em 1908. Por meio da via férrea, a região cresceu notadamente e se desenvolveu na questão social, cultural e econômica, especialmente para atender a grupos políticos e proprietários. Assim como representou um importante fator para ligar por via terrestre, grandes extensões territoriais, vinculando regiões que até então se encontravam isoladas. E a partir da estrada de ferro, foi possível o escoamento da produção agrícola, que beneficiou o surgimento de novas cidades em seu percurso.

A cidade de Bragança instituiu uma sociedade com forte influência da educação portuguesa, que interferiu diretamente nos hábitos, costumes e na vida social de seus habitantes, que se manifesta ainda através da cultura, de exemplares do patrimônio arquitetônico de características nitidamente lusitanas e instalados nas áreas urbanas privilegiadas, fortalecendo o caráter de camada (ou classe) superior da sociedade.

Por meio de conversas informais com o professor Dário Benedito Rodrigues, podemos afirmar que Bragança era um município próspero no início do século XX, organizado a partir de uma lógica urbanística europeia, com um setor comercial que já alcançava vários ramos e que estava sendo ligado com as demandas da capital paraense através da ferrovia. A parte econômica, no entanto, não teve tantos incrementos, sendo basicamente comercial, com um entreposto que movimentava uma diversidade de gêneros dos mais variados tipos.

A estrada foi construída com o objetivo de facilitar o escoamento da produção agrícola da Zona Bragantina para a capital, assim como para abastecer o fluxo da mão de obra ligada ao ciclo da borracha, exportada para a indústria automobilística internacional. A Estrada de Ferro de Bragança representou na época um meio moderno e regular de transporte, assegurando o escoamento dos produtos locais, da roça bragantina, o que contribuiu significativamente para o crescimento econômico de grupos comerciais e políticos da cidade, acentuando nítidas diferenças sociais e legitimando um grupo de elite que deteve o poder econômico, as iniciativas intelectuais e que dominou o cenário cultural das décadas de 1920 a 1950 do século XX. A partir das iniciativas desses grupos, surgiram grêmios, associações recreativas e culturais que se tornaram em parte, referências para a sociedade dos dias atuais.

De uma sociedade constituída por índios, colonos e padres no final do século XVIII, de senhores, negros escravos e caboclos no século XIX, Bragança passou a ter na fase ferroviária (1908-1966), uma sociedade de proprietários de terras, grandes agricultores, comerciantes e de uma população com diversas contribuições culturais de seus principais grupos étnicos, criadores de ricas práticas culturais ainda presentes no cotidiano, como as festas juninas, festejos rurais, carnaval, festas de Santos e, em especial, os ritos e eventos que envolvem a Festividade de São Benedito.

Por conta do processo de educação, em parte desenvolvido sob os auspícios de padres barnabitas e com uma forte influência e controle inicial da Igreja Católica, a população da cidade de Bragança, grosso modo, manteve seus hábitos e costumes como um povo simples, provinciano e que mesmo reconhecendo sua presença, não dá a relevância merecida ao grande patrimônio cultural, material e imaterial, como prática de cidadania. Para os historiadores como o professor Dário Benedito Rodrigues, com um grande legado de atuação nas questões da História local, isso representa um “grande mal para a história recente e para a educação do povo”.

Geograficamente, segundo dados do IBGE (2010), Bragança, tem uma área de 2.090,234 km² e situa-se na mesorregião do leste paraense e microrregião Bragantina, numa zona situada entre o Pará e o Maranhão. Limita-se ao norte com o Oceano Atlântico; ao sul com os municípios de Santa Luzia do Pará e Viseu; a leste com o município de Augusto Corrêa e a oeste pelo município de Tracuateua. De acordo com estimativas do IBGE (2014), a população gira em torno de 120.124 habitantes, com densidade populacional de 57,57 hab/km².

Bragança situa-se a 30 metros de altitude em relação ao mar. Sua posição geográfica é determinada pelo paralelo 01°03’17’ de Latitude Sul, em sua interseção com o meridiano de 46°45’54’ de Longitude Oeste (Greenwich).

Quanto à climatologia, possui as características do clima amazônico, sendo que no período de janeiro a maio, as chuvas tornam-se mais intensas, causando prejuízos à agricultura, em algumas regiões; de junho a agosto, o período é estável e favorável ao cultivo; já de setembro a dezembro, é o período de maior estiagem, com o clima megatérmico e úmido.

Bragança tem sua costa marítima recortada por furos, baías e ilhas, onde desaguam inúmeros pequenos rios, importantes tanto como vias de transporte como para a pesca. No entanto, merece destaque o rio Caeté cheio de história e belezas.

O famoso rio Caeté por sofrer influência das marés, exibe pequenas ondulações e apresenta trechos com pouca profundidade. À margem esquerda do rio, numa planície de pequeno declive, está situada a histórica cidade de Bragança, distante 36,0 km de uma das mais belas praias do Brasil, Ajuruteua.

Figura 2 - Mapa da cidade de Bragança (PA)

Fonte: Google Maps, 2017.

A maior manifestação cultural da região Nordeste do Pará tem Bragança como foco e epicentro, com seu ápice nas manifestações em torno da Festividade do Glorioso São Benedito, comungando e misturando aspectos da religiosidade e da cultura em culto dedicado ao “Santo Preto”, como é chamado pelos devotos. Essas manifestações tiveram origem em 03 de setembro de 1798, quando os antigos escravos da vila de Bragança organizaram uma

Irmandade e festividade em honra ao seu Santo intercessor, que na atualidade ganha repercussão e volume, tornando-se uma das maiores festas religiosas do Pará, anualmente entre os dias 18 a 26 de dezembro, quando acontece a festa da Marujada e a solene procissão pelas ruas da cidade.

A festividade é marcada por rituais que envolvem reza, dança, música e culmina com uma grande procissão pelas ruas da cidade, onde todos se envolvem num ato de fé e expressão cultural, há mais de 200 anos, reforçando construções identitárias que são acionadas a cada dezembro.

Somado a esses ricos espaços culturais e à sua beleza natural, Bragança possui ainda diversos pontos turísticos, como o Mirante de São Benedito, inaugurado em 2009, que proporciona uma bela visão panorâmica da cidade e do rio Caeté, cuja orla é um lugar agradável para boas conversas, encontro com amigos, além de ser o espaço privilegiado de concentração da juventude, que demarca a vida e o cotidiano dos bragantinos, que têm grande orgulho do lugar onde vivem, em muito, baseados na construção de um substantivo bastante peculiar chamado de bragantinidade, herança literária da década de 1950.

A juventude de Bragança é uma parcela considerável da população do município, somando um total de 34.257 (trinta e quatro mil, duzentos e cinquenta e sete) pessoas. São jovens com projetos pessoais, coletivos e com características comuns.

Quadro 1 - Juventude Bragantina.

Fonte: IBGE (2010).

A maior parte dessa juventude está na área urbana, cercada pelo ambiente social de uma cidade com muita oferta cultural, com problemas sérios quanto à relação trabalho x qualidade de vida, com alta taxa de problemas como o uso de álcool e drogas e com a violência alarmante que assola as cidades, por conta do inchaço de áreas com e sem planejamento urbano; e onde não são sentidas as iniciativas dos poderes públicos constituídos.

FAIXA ETÁRIA

HOMENS MULHERES TOTAL

15 a 19 6.401 6.118

34.257

20 a 24 5.801 5.760

Assim, o segmento juvenil é composto de estudantes, mas também de muitos jovens que não frequentam as escolas. Os estudantes de nível superior são, em grande medida, vindos de outros municípios e/ou de outras localidades para a área urbana (muito por conta da presença da UFPA e do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA) e suas ofertas de cursos superiores).

Parte desses grupos juvenis que está nas escolas da cidade, vive a realidade de um espaço que não tem assegurado todas as garantias de uma vida mais tranquila e com oportunidades de inserção qualificada no mercado de trabalho. Essas demandas são as mais sofríveis e carecem de iniciativas do Poder Público e de forças particulares para que tenham condições de viver experiências próprias de sua idade.