• Nenhum resultado encontrado

4 OS CONCEITOS UTILIZADOS NA ENGENHARIA DE TRÁFEGO E NA INDÚSTRIA DA MOBILIDADE

4.2 OS CONCEITOS UTILIZADOS NA INDÚSTRIA DA MOBILIDADE

4.2.6 Analogia dos conceitos da indústria da mobilidade com a engenharia de t ráfego

Mesmo que as vias públicas já existissem antes dos automóveis, sendo o nome técnico de leito carroçável, foi só após à produção em massa dos veículos automotores que surgiu a especialidade de engenharia de tráfego, que completa 100 anos em 2020.

Realizando uma pesquisa entre os desenvolvedores da engenharia de tráfego e os da indústria da mobilidade, que são os engenheiros da mobilidade, a riqueza de oferta de dados históricos disponíveis na web é ainda maior quando se estuda a indústria da mobilidade do que quando a engenharia de tráfego. O fato é que, na prática, uma depende da outra.

Claro que as vias públicas foram se aperfeiçoando e as cidades que nasceram após os automóveis, foram concebidas no planejamento urbano preponderando esta variável. Cidades, por exemplo, como Belo Horizonte, Brasília e, recentemente, Palmas, passaram por este processo inicialmente, mas na prática, como descrito nos capítulos anteriores, não é a melhor solução para o transporte das pessoas.

A partir deste ponto, é possível afirmar que analogamente aos conceitos de manufatura enxuta, o propósito fim do automóvel na circulação de vias públicas nos centros urbanos não teve os cuidados de se ter o fluxo contínuo, lead time reduzido, o que poderia ter significativamente contribuído no deslocamento diário dos veículos. Por mais que há diferenças nestas comparações, os propósitos tendem a ser os mesmos.

Na manufatura enxuta o ambiente é controlado, enquanto que no ambiente de vias públicas há um grau de liberdade que dificulta atender os mesmos princípios, salvo os transportes de massa como o metrô, VLT e BRT. Para isso, o modelamento de um ambiente ciber-físico podem ser a alternativa para identificar e se adequar a um ambiente controlável, ao invés de um ambiente aleatório.

Referente ao takt time, fazendo um paralelo à engenharia de tráfego, é como se cada via e faixa de rolagem tivessem foco no cliente; no caso, o usuário. Para ofertar a demanda necessária, o fluxo de veículos deve estar abaixo do takt time para se ter um fluxo contínuo. Assim como usualmente o takt

time utiliza a unidade de segundos por peça/ produto, na engenharia de tráfego, é utilizado veículos por

A partir deste ponto entra a hipótese desta tese, que é substituir a medição de veículos por hora para pessoas por m²/h, com a finalidade de otimizar a métrica e, consequentemente, ter um indicador de desempenho das vias.

Na figura 4.16 há a comparação de uma linha de produção com fluxo contínuo e um determi- nado ponto do Takt time com uma via convencional, utilizando os mesmos pontos de medição [196].

Figura 4.16: comparativo na unidade de medição de uma linha de produção na indústria da mobilidade com uma via na engenharia de tráfego e hipótese da tese.

Outra comparação está nas atividades incidentais da manufatura enxuta com a engenharia de tráfego. O tempo de Setup impede o fluxo contínuo, mas é necessário para a mudança na manufatura de uma determinada peça ou produto. O tempo de Setup pode ser comparado aos tempos semafóricos do modelo de Webster. Outra atividade incidental está na inspeção de peças ou produtos em uma linha de produção, a qual pode ser comparada aos sistemas de fiscalização e monitoramento do tráfego.

No quadro 4.2 é feita a analogia dos conceitos implementados na fábrica por meio do VSM para serem mapeados em relação ao tráfego urbano.

Utilizando o quadro 4.2 no mapeamento da mobilidade urbana e empregando a engenharia de tráfego para os conceitos estabelecidos na via, pode se separar o deslocamento e três macros processos conforme é mostrado na figura 4.17.

Figura 4.17: mapeamento da mobilidade urbana.

Analisando a proposta da figura 4.17, cada etapa da mobilidade urbana é medida em tempo, que impacta diretamente na escolha, no ato de se deslocar e na análise no encerramento do trajeto. Cada etapa macro pode ser aberta em detalhes na condução, quer seja na escolha de via a via, dependendo da modalidade escolhida. Considerando a multimodalidade, cada mudança de meio de transporte, um novo mapeamento de processo pode ter início e as avaliações são feitas segmentadas por modal ou de forma consolidada no final do deslocamento total.

Se considerarmos a mesma analogia utilizada no capítulo 4, é como se a meta fosse que, a cada trajeto da via, em um determinado ponto de monitoramento, um tempo de deslocamento menor que o

takt time. Estas medições dariam subsídios para o balanceamento das linhas, como um VSM, mas neste

caso, com modalidades de transportes diferentes utilizando nas vias públicas.

Na figura 4.18 é mostrado a produção empurrada e a puxada, associando o gráfico de fluxo em relação a velocidade de uma determinada via.

Figura 4.18: conceitos de produção empurrada e puxada associado com o gráfico fluxo e velocidade.

Continuando a análise, a produção em excesso é o que gera a sobre demanda nas vias públicas e, consequentemente, os congestionamentos.

A movimentação e o transporte não agregam valor segundo a base da manufatura enxuta, fato este em que as pessoas que conduzem os veículos e estão em tempo de espera, procuram realizar ativi- dades adicionais, que infringem a lei e aumentam os riscos de acidente, como exemplo, na utilização dos smartphones.

Os estoques e os processamentos desnecessários e as correções podem ser associados a uma atividade na manufatura enxuta, o qual está ligado ao dimensionamento dos estoques, muitas vezes reduzidos dependendo de outras variáveis de produtividade. Em contrapartida, alterações de estoque estão associados às reduções de lotes e, consequentemente, com aumento de frequência de entrega.

Analogamente, a redução de lotes pode ser comparada à otimização de pessoas por área ocu- pada no deslocamento. Um ônibus convencional, na via pública, pode transportar até 83 pessoas [197], enquanto que um automóvel pode transportar até 5 pessoas. Mesmo que um ônibus possa transportar 16,6 vezes mais que um automóvel, considerando as referidas lotações, um automóvel tem a possibili- dade de ser mais assertivo no destino de apenas 5 pessoas, que um trajeto fixo por linha com 83 pessoas que, obrigatoriamente terá outra modalidade para se chegar ao destino fim.

A qualidade do transporte público deve ser assegurada, sendo que alguns modais acabam se destacando. Exemplo do automóvel próprio em relação ao transporte público por ônibus. De 2017 para 2018, segundo a satisfação dos usuários de ônibus, 54% disseram que a qualidade se manteve, 31% melhorou e 15% piorou [197].

O lead time total deve ser o menor possível para cada modalidade de transporte, que tem natu- ralmente as restrições no deslocamento.

Outro conceito da manufatura enxuta é que os tempos automáticos estejam superpostos a tem- pos manuais e a produtividade, assim como os custos, estejam sob controle. Pode-se comparar com os transportes que utilizam motoristas contratados.

Tanto as equações básicas da engenharia de tráfego como, a manufatura enxuta, são de primeiro e segundo grau, não havendo uma complexidade no segmento fabril e de tráfego.

Para este fim, destaque aos veículos que são conduzidos por terceiros, sejam em táxis, trans- porte por aplicativo individual ou compartilhado por trajeto ou o próprio ônibus. Para os passageiros que utilizam o smartphone para trabalhar ou para o entretenimento no trajeto, a contratação de motorista impacta diretamente na produtividade no caso do smartphone estar conectado com a web durante o deslocamento.

Assim como o ônibus, os custos por deslocamento em automóvel compartilhado tendem a ser vantajosos, principalmente, por serem divididos os valores de deslocamento por trajeto.

E para finalizar, na teoria das restrições, analogamente à gestão da engenharia de tráfego, as vias apresentam os gargalos e estão associadas à modalidade de transporte, sendo que as variáveis como o limite de velocidade, largura das faixas e controles semafóricos, devem ser analisadas para a aplicação deste conceito.

Segundo as pesquisas de monitoração da mobilidade no sistema viário principal [97,198], que são as vias do planejamento feito pelo Plano de Avenidas de 1927, é feito a contagem dos veículos e quais são os principais gargalos na cidade de São Paulo. Este item será apresentado no capítulo 6, resultados e discussões.