• Nenhum resultado encontrado

5 AS RESTRIÇÕES DE CIRCULAÇÃO DE VEÍCULOS NAS VIAS URBANAS

5.3 RESTRIÇÕES POR INSPEÇÃO VEICULAR

5.3.1 Inspeção veicular na cidade de São Paulo

No ano de 1995, a prefeitura da cidade de São Paulo lança Edital de Licitações estabelecendo critérios e condições para implantação e execução do Programa de I/M [239]. Esta inspeção também foi conhecida como Inspeção Ambiental Veicular, pois era restrita a análise de emissão de poluentes.

Em 1996 ocorre a assinatura do contrato de concessão entre a Secretaria do Verde e Meio Am- biente (SVMA) e a empresa Controlar S/A. Este formato por concessão foi amplamente debatido na época, devido aos riscos eminentes de fraudes na inspeção quando utilizado o credenciamento de ofi- cinas [237]. Isto é, a descentralização dos serviços de inspeção poderia resultar em algumas oficinas credenciadas a não padronização dos serviços. Por outro lado, ter uma única empresa por concessão, levou desconfiança e descrédito por parte dos paulistanos, podendo ter sida dividida entre três ou quatro empresas para esta finalidade.

No ano de 1997, um novo Código de Trânsito Brasileiro é publicado e determina claramente duas modalidades de inspeção veicular, que eram [240]: Inspeção Técnica Veicular (ITV), art. 104 e Inspeção de Segurança Veicular (ISV), art. 106.

Somente no ano de 2008, doze anos após efetivada a ordem de serviço na cidade de São Paulo, há o início das operações na modalidade ITV, art. 104 do CTB, começando com a frota de motores ciclo Diesel registrada na cidade. Por determinação da prefeitura, não houve cobrança da tarifa direta- mente ao munícipe. A modalidade ITV por concessão não inspecionou itens de segurança em todo período de operação.

No ano de 2009 é publicada a Resolução, que dispunha sobre critérios para a elaboração do PCPV e para a implantação de Programas de I/M pelos órgãos estaduais e municipais de meio ambiente e determina novos limites de emissão e procedimentos para a avaliação do estado de manutenção de veículos em uso [241].

Neste mesmo ano, iniciou-se a inspeção da frota com motores ciclo Otto fabricados entre 2003 e 2008 na cidade de São Paulo. A prefeitura definiu reembolsar os proprietários de veículos que fossem aprovados na inspeção ambiental.

Em 2010 foi publicada a Instrução Normativa nº 06 do IBAMA em consonância com as lições aprendidas na inspeção veicular na cidade de São Paulo e com a definição da metodologia da medição de ruído em centros de inspeção da empresa Controlar S/A [242]. Também ocorreu a expansão do programa para toda a frota registrada no município de São Paulo. Não havia mais reembolso para a inspeção ambiental veicular.

O fato é que a inspeção veicular em São Paulo, assim como ocorre nos outros países, se tornou um método restritivo na circulação dos veículos com a retenção da documentação em dia. Nos casos em que o veículo analisado tivesse sido rejeitado ou reprovado na inspeção, automaticamente se impe- dia o licenciamento do veículo era bloqueado até que uma nova inspeção fosse feita. Uma vez feito os reparos, o veículo passava pela segunda inspeção e, aprovado, o veículo poderia ser licenciado. Caso o proprietário ignorasse a realização da inspeção, ficava com a documentação impedida de licenciamento para o ano posterior.

Como visto no histórico, as indefinições de responsabilidade, ora pelo CONTRAN, subordi- nado ao Ministério dos Transportes com inspeção ambiental e segurança, ora CONAMA, subordinado ao Ministério do Meio Ambiente com inspeção ambiental, possibilitaram desentendimento até os dias atuais. A restrição do veículo por falta de inspeção foi outro item relevante e impopular à gestão do poder público.

Em 2012 foram definidos os novos limites para motocicletas fabricadas no ano de 2010 em diante, sendo aplicado na cidade de São Paulo, que gerou insatisfação aos proprietários de motocicletas que já haviam passado com outro limite em ano anterior, sendo restritivo ao ano de 2012 [243].

Em paralelo às atividades da ITV, ocorriam os serviços realizados pelos Organismos de Inspe- ção pela modalidade ISV. Não por concessão, mas por credenciamento de empresas para este fim desde o ano de 1983, havendo alterações nas metodologias ao longo do tempo com a acreditação pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO).

Outra modalidade, com início de atividade avaliativa dos veículos, foi a vistoria veicular, defi- nida no Brasil desde 2007, com a publicação da Resolução nº 282 do CONTRAN [244] e, atualmente, pela Resolução nº 466 do mesmo órgão em 2013 [245]. A vistoria é um processo que possibilita a permissão/autorização à iniciativa privada, sob o entendimento de que a vistoria veicular não é uma atividade fim do Estado, mas uma forma de garantir a segurança no registro de veículos, processos de transferências e outros, com o objetivo de validar o licenciamento pelos órgãos de trânsito dos estados e do Distrito Federal.

A modalidade ITV foi encerrada em janeiro de 2014 na cidade de São Paulo e atualmente ape- nas a modalidade ISV está em operação para a inspeção veicular, que representa uma inspeção apenas para veículos modificados em grande parte e não contempla a frota de veículos na totalidade. A moda- lidade de vistoria é utilizada para transferência de veículos usados, sendo obrigatório para a efetivação de mudança de proprietário.

Após quatro anos de inspeção de toda a frota na cidade de São Paulo, a população cobrava os benefícios desta necessidade restritiva de cada veículo registrado no município, seja veículo particular

ou de empresa, assim como as motocicletas, os ônibus e caminhões, todos passavam pela avaliação anualmente.

No ano de 2013, foram publicados os resultados referentes à inspeção. O primeiro foi um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que mostrou que o Programa I/M de São Paulo possibilitou, nos anos de 2010 a 2012 que, aproximadamente 1.400 vidas fossem salvas e evitou quase 2.000 internações, com economia estimada de R$ 320 milhões em gastos em saúde [246].

O segundo estudo foi apresentado pela empresa Enviromnentally, que analisou em 2012 os veículos reprovados e logo em seguida aprovados, e constatou que o montante de redução da emissão de gases poluentes, se equiparou a retirada de 1,4 milhão de veículos equivalentes [247].

Outro benefício neste período foi no consumo de combustível. Veículos que emitem menos poluentes têm uma eficiência energética compatíveis aos índices em que o veículo foi projetado ao sair da concessionária. Se for admitido uma economia média em torno de 2% para a frota inspecionada na cidade de São Paulo, o gasto evitado em 2012 com gasolina e etanol foi de cerca de R$ 150 milhões [95].

Além disso, um veículo aprovado na inspeção apresentava condições adequadas de operação e de segurança, com menor probabilidade de panes e acidentes por falha mecânica ou elétrica e, conse- quentemente, menos trânsito gerado e menor emissão de gases poluentes na atmosfera [95].

Para que a inspeção alcançasse a frota total, foi executada de forma gradativa. Em 2008 foram somente os veículos ciclo Diesel, o segundo ano, todos os veículos ciclo Diesel, motocicletas e auto- móveis de ano de fabricação 2006 a 2008. No último ano de implantação, foi considerada a totalidade, de modo que a frota parcial, possibilitou que houvesse um aprendizado nos dois primeiros anos.

No ano de 2011 na cidade de São Paulo, passaram 2.718.860 automóveis pelo Programa de I/M, destes, 21% não foram aprovados na primeira inspeção. E deste total, somente 0,4% não conseguiram a aprovação até a quinta inspeção como mostrado na figura 5.7 [95].

Figura 5.7: número de inspeções até a conformidade no ano de 2011.

Analisando os dados da Tabela 5.1, verifica-se que os índices de não aprovações de veículos na primeira inspeção veicular apresentaram queda de 2010 a 2012, que tende a ser um aprendizado da população ao passar pelo Programa de I/M. Parte dos proprietários e condutores naturalmente fazem a cada ano uma pré-inspeção, que reduz as chances de uma possível reprovação.

Tabela 5.1: índices de não aprovação na primeira inspeção nos anos de 2010 e 2012. Frota veículo 2010 [94] 2012 [96]

Automóveis 24,80% 17,70%

Motocicletas 35,50% 24,50%

Ônibus 32,00% 30,70%

Diesel Leve 47,30% 41,40%

A inspeção ao longo do tempo tem um valor intrínseco, pois contribuiu em estabelecer uma rotina anual de revisões de veículos, principalmente aqueles que estão fora do período de garantia, criando valores de conscientização do motorista quanto à importância da manutenção preventiva do veículo.

Para os efetivos ganhos do Programa Inovar Auto e agora com o Programa Rota 2030 e Reno- vaBio, o Programa de I/M é fundamental para que os avanços tecnológicos se mantenham ao longo dos anos dentro das características originais e os esforços quanto à eficiência energética não sejam perdidos

por falta de manutenção adequada. A figura 5.8 mostra os avanços na redução da emissão de poluentes comparando com outros países [248].

Figura 5.8: avanços na emissão de poluentes automotivos pelo mundo e metas para 2025.

Apesar de todos estes ganhos e benefícios, a inspeção faz parte de um Programa de I/M, que está inserido em um contexto de mobilidade urbana, pois estabelece uma rotina para a população de manter os veículos dentro dos padrões originais. Consequentemente, com menos quebras em vias pú- blicas e redução da emissão de gases poluentes.

Porém, por decisões políticas, principalmente por ser uma ação restritiva atrelado ao licencia- mento do veículo, a inspeção veicular na cidade de São Paulo está suspensa desde janeiro de 2014, sem previsão de retorno.