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AN ANALYSIS ON THE PROTAGONISM OF THE JUDICIARY IN THE BRAZILIAN REPRESENTATIVE DEMOCRACY

Carla Sendon Ameijeiras Veloso1

Universidade Estácio de Sá

Hector Luiz Martins Figueira2

Universidade Estácio de Sá

Sumário: 1. Introdução; 2. O sistema democrático/representativo brasileiro e algumas reflexões; 3. O agigantamento do poder judiciário; Conclusão; Referências

1. Introdução

Durante todos os dias somos tomados por uma enxurrada de informações jornalísticas repleta de notícias onde nos informam a atuação da justiça e dos atores do poder judiciário. A mídia não se furta em demonstrar como as investigações criminosas ocorrem em minúcias, como as delações premiadas são feitas (recentemente), bem como se dá atuação magistral e quase artística dos ministros da Suprema Corte brasileira, de procuradores e advogados. Basta ligarmos a televisão e assistir.

Todas estas figuras, em maior ou menor escala, estão engendradas na lógica judiciária, e atuam sob o manto deste poder. O fato é que com a democratização do acesso à informação o poder judiciário começou a ser visualizado com outros olhos pela sociedade brasileira. A empatia pelo poder nasce em detrimento à ojeriza que se tem pelos demais – comumente marcados por escândalos de corrupção. É imperioso ressaltar, como os representantes do poder judiciário, que não são eleitos democraticamente, são bem mais quistos socialmente do que os membros do congresso nacional, por exemplo.

Não poderia ser diferente, vemos circulando pela internet e televisão, propostas para que ministros do STF se candidatem a cargos eletivos, vemos também ministros comparecendo a programas de entrevista e auditório de televisão. Vemos ainda, juízes sendo tema de bloco de carnaval para salvarem o Brasil da corrupção desmedida em que está mergulhado. Vejam as seguintes informações jornalísticas:

1 Doutoranda na Universidade Veiga de Almeida. Mestre em Direito na Universidade Católica de Petrópolis. Professora da Universidade Estácio de Sá.

2 Doutorando em Direito na Universidade Veiga de Almeida. Mestre em Direito na Universidade Veiga de Almeida. Professor da Universidade Estácio de Sá.

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Revista Exame: “O ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa deixou no ar a possibilidade de se candidatar à Presidência da República em 2018”.

Gshow.globo.com: “Pedro Bial recebe a Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na estreia do 'Conversa com Bial' Cármen Lúcia deixa recado para povo brasileiro: 'Eu continuo acreditando no Brasil'”.

O Globo.com: “Fantasia do juiz Sérgio Moro é a novidade do carnaval. O juiz federal Sérgio Moro ganhou notoriedade por sua atuação na Operação Lava Jato. Após estampar camisetas e perfis do Facebook, ele agora ganha o carnaval”.

Por óbvio, nos surge um questionamento: porque houve este protagonismo nos últimos anos de um dos poder da república brasileira? Este é, portanto, o ponto nevrálgico deste artigo, entre tantos temas correlatos, pretende-se aqui abordar as questões da democracia representativa usando como esteio a obra do professor Luís Roberto Barroso “A razão sem voto: a função representativa e majoritária das cortes

constitucionais”. Em seu texto, o referido autor, traz a seguinte colocação que nos

convida à reflexão:

Nos últimos anos, porém, e com especial expressão no Brasil, tem-se verificado uma expansão do Poder Judiciário e, notadamente, do Supremo Tribunal Federal. Em curioso paradoxo, o fato é que em muitas situações juízes e

tribunais se tornaram mais representativos dos anseios e demandas sociais do que as instâncias políticas tradicionais. É estranho, mas vivemos uma

quadra em que a sociedade se identifica mais com seus juízes do que com seus parlamentares. (BARROSO, 2016, p.527). Grifos Meus

Assim, com base nestas constatações empíricas, criamos a problemática do trabalho por ora abordado, onde urge discutir tais temáticas em prol de se verificar por que os atores do poder judiciário se tornaram mais representativos dos anseios sociais do que as instâncias políticas tradicionais.

Na primeira parte, demonstraremos a crise do sistema democrático representativo no Brasil, e como a questão da democracia é tratada e visualizada no nosso país. Já na segunda parte, demonstraremos o traço hiperbólico do poder judiciário, e sua crescente ascensão na contemporaneidade. Levando as questões do ativismo judicial e suas possíveis consequências. Sem dúvida alguma, é importante destacar o papel do judiciário e, em especial, da jurisdição constitucional na proteção de valores e direitos fundamentais que se buscam resguardar do processo político majoritário.

2. O sistema democrático/representativo brasileiro e algumas reflexões

A democracia já não mais flui exclusivamente pelas instâncias políticas tradicionais. Pensar em democracia olhando apenas para dentro das instituições é praticamente negar sua existência. A democracia entendida como regime de governo e regime político, precisa enfocar mais precisamente nos contornos que se dão nas relações

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entre aqueles que exercem o poder e os demais membros do grupo social. Por isso ela não pode se tornar um mecanismo de atuação de patrocínio de interesses particularistas apartados do bem comum. Colaboram com isso, veículos de comunicação, que muitas vezes, explicitam informações inverídicas e criam no imaginário popular “verdades” inexistente, sobre isto, preciosa lição de Sarmento:

Não obstante, os meios de comunicação de massa, cujo poder nas sociedades contemporâneas nem precisa ser enfatizado, permanecem fortemente oligopolizados, em que pese a expressa vedação constitucional (art. 220, § 5º, CF), o que gera evidentes distorções no funcionamento da nossa democracia. Ademais, os pobres e excluídos em geral continuam sem voz na esfera pública. (SARMENTO, 2007, p.03)

É fundamental, portanto, revisitarmos a expressão “democracia” neste momento, bem como sua origem – advém das palavras gregas demos (povo) e kratos (poder), significando em sua acepção mais genérica, “governo do povo”. Este conceito principiológico, parece estar perdido em algum lugar de nossa história na construção política e constitucional do estado brasileiro.

O processo histórico de construção da democracia ao redor do mundo, não ocorreu de forma contínua, muito pelo contrário, se deu em rupturas. A efetiva ascensão das ideias e práticas políticas relacionadas à participação popular nas decisões políticas dos Estados somente se reergueu no decorrer do século XVIII, conformando aquilo que denominamos a democracia representativa. Neste sentido, Bobbio conceitua democracia:

[...] por democracia entende-se uma das várias formas de governo, em particular aquelas em que o poder não está nas mãos de um só ou de poucos, mas de todos, ou melhor, da maior parte, como tal se contrapondo às formas autocráticas, como a monarquia e a oligarquia. (BOBBIO, 2005, p.7)

Por mais que o voto majoritário seja uma das premissas da democracia representativa, sabemos que tal ideia não tem o poder de sozinha conquistar igualdade política para todos. É importante, então, nos estados modernos, se fazer a proteção dos direitos das minorias, já que o voto majoritário simboliza os vencedores e não necessariamente o triunfo do bem comum. A democracia tem diversas formas de se apresentar, para Bobbio, a democracia representativa, chama-se democracia moderna, que contrasta com a democracia dos antigos.

Sobre esta temática, vale ressaltar que o filósofo suíço Benjamin Constant; apontou dois padrões básicos de organização do modelo político democrático. A denominada “democracia dos antigos” refere-se a um modelo que busca sua inspiração na Grécia Antiga, mais precisamente na democracia ateniense. Com participação direta dos cidadãos em escala reduzida. E do outro lado, temos a denominada “democracia dos modernos”, que se fundamenta em sistema de controle e limitação, com base na transmissão representativa do poder do povo a seus representantes, que passam a exercer mandatos políticos. A lição do autor:

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Devemos ser bem mais apegados que os antigos à nossa independência individual. Pois os antigos, quando sacrificavam essa independência aos direitos políticos, sacrificavam menos, para obter mais; enquanto fazendo o mesmo sacrifício, nos daríamos mais para obter menos. O objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre os cidadãos de uma mesma pátria. Era isso o que eles denominavam liberdade. O objetivo dos modernos é a segurança dos privilégios privados. E eles chamam liberdades às garantias concedidas pelas instituições a esses privilégios privados. (CONSTANT, 1964, p.3)

Enquanto na democracia dos antigos há uma clara subdivisão entre vencedores e vencidos. Na democracia dos modernos, as deliberações exprimem o quadro de luta e negociação política entre os diversos grupos. Em que pese toda a consideração descrita acima, hoje, o que se prestigia são modelos de democracias indiretas e semi-indiretas, ou seja, onde o povo confere mandatos aos seus representantes, para a defesa de seus interesses.

Embora haja a predominância do sistema de representação, quase todos os países ao redor do globo, adota um sistema misto em que, por vezes, o cidadão é convocado a expressar, pessoalmente, sua opinião sobre determinados temas. No Brasil, são exemplos de manifestações deste tipo: o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular para elaboração de leis.

De qualquer forma, há uma crescente demanda por um tipo de democracia mais participativa, com a descentralização das instâncias tradicionais de deliberação (parlamentos) com os cidadãos pleiteando, cada vez mais, serem consultados fora das datas de eleição. Algumas formas de consulta já vêm sendo institucionalizadas, tais como, a título de exemplo, as audiências públicas ou mesmo os amici curiae3.

Porém, a doutrina atual privilegia uma ideia de democracia em sentido material, substancial. Nesse sentido, a democracia não se esgota na garantia do princípio majoritário e um governo das maiorias, mas visa a garantir um governo para todos, em que as vontades das maiorias ocasionais encontrem limites nos direitos fundamentais das minorias de menor expressão política, étnica, cultural ou social. Tal ideia de democracia impõe ao Estado não apenas o respeito aos direitos individuais, mas também a promoção dos direitos fundamentais de segunda geração, por meio de prestações sociais positivas destinadas a promover patamares mínimos de dignidade em favor desses grupos de menor expressão.

Para muitos autores a democracia não se perfaz na busca pelo bem comum, como exaustivamente propomos até agora. Mas, então, o que vem a ser democracia? Para o cientista político britânico Roald Dahl uma boa forma de se explicar democracia é demonstrar que, “enquanto uma ditadura é um governo de uma minoria, uma

3Amici Curiae ou "Amigo da Corte". Intervenção assistencial em processos de controle de constitucionalidade por parte de entidades que tenham representatividade adequada para se manifestar nos autos sobre questão complexa que origina controvérsia constitucional, auxiliando os juízes a entender as diversas posições presentes nos chamados casos difíceis.

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