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3 ± DOMÍNIO SN ± SUJEITO

6.1 ANÁLISE GERAL

6.2.7 Animacidade do sujeito

Na variável animacidade do sujeito, sétima variável significativa pelo programa, partimos do pressuposto de que sujeitos com traço [+humano] contribuem para a aplicação da CV e sujeitos com traço [-humano], sejam eles animados ou inanimados, favorecem o uso da variante não-padrão. A partir dos resultados apresentados, confirmamos nossa hipótese e resultados de pesquisas já realizadas com amostras do PB em diversos estados (Cf. SCHERRE; NARO, 1998, MONGUILHOTT, 2001, 2009, SILVA, 2003, PEREIRA, 2004, MONTE, 2012 e RUBIO, 2012) também vão na mesma direção. Na tabela 34 e no gráfico 8, a seguir, os fatores [-humano] [-animado] e [-humano] [+animado] desfavoreceram o uso da variante padrão.

Tabela 34 - Frequência e peso relativo das variantes padrão e não-padrão da fala,

segundo a variável animacidade do sujeito

Variável Fator Ocorrência Percentual Peso Variante padrão Variante não- padrão Variante padrão Variant e não- padrão Animacidade do sujeito 1.[+humano] [+animado] 1088/1422 334/1422 76.5% 23.5% .512 2.[-humano] [-animado] 16/48 32/48 33.3% 66.7% .274 3.[-humano] [+animado] 16/35 19/35 45.7% 54.3% .341 Fonte: Autora deste trabalho

Gráfico 8 - Frequência das variantes padrão e não-padrão da fala, segundo a

variável animacidade do sujeito

Fonte: Autora deste trabalho

Para Scherre e Naro (1998), na língua falada, sujeito [+humano] controla a concordância explícita de plural de forma mais acentuada do que sujeito com traço [- humano], visto que, no PB, um verbo com sujeito [+humano] plural apresenta maior probabilidade de concordar com seu sujeito do que um verbo com um sujeito [- humano]. Dessa forma, a hipótese é de que o traço [+humano] do sujeito favoreça a presença de aplicação de regra de CV, enquanto o traço [-humano] desfavoreça-a.

Controlamos esse grupo de fatores da mesma maneira que foi controlado por Monte (2012) e Rubio (2008). Para Monte (2012), sua hipótese foi, parcialmente, confirmada, pois, houve a influência do traço [+humano] em seus resultados, favorecendo a aplicação da regra de CV e o traço [-humano], inibindo a CV; no entanto, para os contextos com sujeito/SN [-humano] [+animada], o cancelamento da

76,50% 33,30% 45,70% 23,50% 66,70% 54,30% 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00%

1,[+humano] [+animado] 2,[-humano] [-animado] 3,[-humano] [+animado] Variante padrão Variante não-padrão

marca de plural foi categórico. Para Rubio (2012), os sujeitos que codificam referentes humanos tenderam a influenciar positivamente a variante padrão e em contextos em que figuram sujeitos inanimados tenderam a ser contextos em que há o refreamento da CV.

Nossos dados revelaram .512 de peso relativo para o fator [+humano]

[+animado], 341 de peso relativo para o fator [-humano/+animado] e.274 para o fator

[-humano/-animado]. Ao calcularmos a diferença entre o peso relativo mais alto (.512) e o mais baixo (.274) de nossos dados, vislumbramos um diferencial de .238. Isso mostra que nossos resultados foram bem semelhantes aos das pesquisas de Rubio (2012) e Monte (2012), ao alcançarem .272 e .260, respectivamente, de diferença entre esses pesos relativos.

Nossos resultados seguem a mesma direção dos referidos pesquisadores, uma vez que, nossos achados, em contextos com [+humano/+animado], se destacaram por favorecer a marca de plural nos verbos. Logo, acompanhamos Scherre e Naro (1998), já que, na língua falada, o sujeito [+humano] controlou a concordância explícita de plural de forma mais acentuada do que sujeito com traço [-humano]. Ainda assim, podemos afirmar que os sujeitos de traço [+humano] favorecem o emprego de verbos em 3PP e sujeitos de traço [-humano] favorecem o uso de verbo sem 3PS.

Realizamos o cruzamento das variáveis animacidade do sujeito e posição do

sujeito, a fim de verificarmos verificarmos sua atuação para a aplicação da regra de

CV. Vejamos a tabela 35.

Tabela 35 - Frequência de CV na fala de 1PP e 3PP, segundo o cruzamento entre

as variáveis animacidade do sujeito e posição do sujeito

posição do sujeito [+animado] [+humano] [+animado] [-humano] [-animado] [-humano] posição pré-verbal com núcleo

distante de 3 a 10 sílabas do

verbo 306/458=67% 7/31=23% 9/17=53%

posição pré-verbal com núcleo

distante de 0 a 2 sílabas do verbo 767/927=83% 7/11=64% 7/17=41% posição pré-verbal com núcleo

distante mais de 10 sílabas do

verbo 12/27=44% 2/4=50% ---

posição pós-verbal com núcleo distante de o até 5 sílabas do

verbo

2/8=25% --- 0/1=0%

posição pós-verbal com núcleo distante mais de 5 sílabas do

verbo 1/2=50% 0/2=0% ---

Total 1088/1120=77% 16/48=33% 16/35=46%

Como hipotetizado, no cruzamento da posição do sujeito com a animacidade

do sujeito, vemos que houve maiores chances de aplicação de concordância com [+humano] [+animado]. No entanto, temos de considerar que houve poucas

ocorrências em alguns contextos dessa categoria, como posição pós-verbal com

núcleo distante de 0 até 5 sílabas do verbo (2 ocorrências) e posição pós-verbal com núcleo distante mais de 5 sílabas do verbo (1 ocorrência).

Monguilhot (2001), também fez um cruzamento entre o grupo de fatores ordem do sujeito e traço humano e constatou a hierarquia entre eles: embora o traço [- humano] não favoreça a frequência e a probabilidade de concordância, a posposição do sujeito é que favorece, em maior grau, a não concordância para os dois grupos de fatores.

Sobre o fator [+humano] [+animado] e sujeito anteposto com núcleo distante de 0 a 2 sílabas do verbo, encontramos um índice percentual de concordância maior (83%) do que quando o fator [+humano] [+animado] vem posposto ao verbo (25%).

O fator [-humano] [+animado] e o fator [-humano] [-animado] apresentaram um comportamento desfavorecedor com sujeito anteposto ao verbo (23%, 64% e 50%, respectivamente e 53% e 41%, respectivamente). Pelos resultados, podemos dizer que o que está em discussão não é a animacidade mais o fato de não ser humano. Como o sujeito [-humano] é inibidor da variante padrão, a influência desse traço favoreceu o apagamento da aplicação da regra de CV, indo ao encontro do que afirma Rubio (2012).

Na tabela 36, segue o cruzamento da variável animacidade do sujeito com explicitude do sujeito.

Tabela 36 - Frequência de CV na fala de 1PP e 3PP, segundo o cruzamento entre

as variáveis animacidade do sujeito e explicitude do sujeito

Explicitude do sujeito [+animado] [+humano] [+animado] [-humano] [-animado] [-humano] sujeito pleno (oração independente) 814/1056=77% 11/34=32% 13/29=45%

sujeito pleno (oração matriz) 32/42=76% 2/2=100% 2/2=100% sujeito pleno (oração subordinada adverbial) 34/45=76% 0/1=0% 0/1=0%

sujeito pleno em contexto de relativa 57/89=64% 2/8=25% 1/3=33% Sujeito nulo (oração subordinada adverbial) 4/6=67% --- ---

sujeito nulo (oração independente) 133/165=81% 1/2=50% --- sujeito pleno (oração encaixada) 3/6=50% 0/1=0% ---

sujeito nulo (oração encaixada) 4/6=67% --- ---

Total 1081/1415=76% 16/48=33% 16/35=46%

Ao cruzamos essas duas variáveis, destacamos, mais uma vez, o fator

[+humano] [+animado], por apresentar maior representatividade de ocorrências, com

o sujeito pleno (oração independente), 77%, o sujeito pleno (oração matriz), 76%, o sujeito pleno (oração subordinada adverbial), 76%, e o sujeito nulo (oração independente), 81% e verificamos que nesses fatores os índices percentuais ficaram acima da média geral (74.4%), mostrando-se sensíveis à aplicação da regra de CV. Pelos resultados apresentados na tabela 36, seguimos a hierarquia de referencialidade de Kato, Duarte e Cyrino (2000), para defender que quanto [-humano] [-animado], maior a possibilidade de o sujeito ser nulo. Ou seja, elementos com traço [+humano] ocuparam o ponto mais alto da hierarquia, enquanto elementos não argumentais ocuparam o ponto mais baixo. Assim, os pronomes de primeira pessoa, inerentemente humanos, se encontram no ponto mais alto, enquanto a terceira pessoa, que pôde exibir o traço [+/-animado], [+/-específico] ficou num ponto mais abaixo.

6.2.8 Escolaridade

A escolaridade, oitava variável significativa, compõe um dos grupos de fatores importantes que podem condicionar ou influenciar a aplicação da regra de CV. Embora os resultados dos pesos dos 6º ano, 9º ano e 3º ano tenham se mostrado bem equilibrados, atestamos, parcialmente, nossa hipótese. O 3º ano, ao obter .568 de peso relativo, apresentou um resultado levemente mais condicionante ao isso da variante padrão. A tabela 37 e o gráfico 9 que se seguem nos mostram de modo evidente os resultados.

Tabela 37 - Frequência e peso relativo das variantes padrão e não-padrão da fala,

segundo a variável escolaridade

Variável Fator Ocorrência Percentual Peso Variante padrão Variante não- padrão Variante padrão Variante não- padrão Escolaridade 1. 6º ano do ensino fundamental II 340/502 162/502 67.7% 32.3% .406 2. 9º ano do ensino fundamental II 420/537 117/537 78.2% 21.8% .529

3. 3º ano do

ensino médio 360/466 106/466 77.3% 22.7% .568

Fonte: Autora deste trabalho

Gráfico 9 - Frequência das variantes padrão e não-padrão da fala, segundo a

variável escolaridade

Fonte: Autora desta pesquisa

Esses dados reafirmaram os resultados de outros autores, como Rodrigues (1997), Scherre e Naro (1997), Monguilhott (2001, 2007), que confirmam ser o maior grau de escolaridade favorecedor do uso da variante padrão.

Os resultados apontam que nossos informantes, de acordo com o nível de escolaridade, apresentaram um discreto crescimento gradativo do peso relativo (respectivamente, .406/6º ano, .529/9º ano e .568/3º ano), como já apresentado na tabela 37.

Segundo Rodrigues (1987), para a escola, a variante padrão é reconhecida, dentre outras regras, a partir da realização do padrão culto da língua e os alunos têm a propensão a assimilar a regra até o fim do ensino médio. No entanto, como podemos observar nos nossos resultados, os índices apresentados para o 6º ano e 9º ano obtiveram uma diferença de 10 pontos percentuais, mas do 9º ano para o 3º ano a diferença foi de menos 1 ponto percentual. Ou seja, praticamente, não atingimos esse salto no índice de CV nos informantes de nível de fim do ensino médio, conforme esperado. 67,70% 78,20% 77,30% 32,30% 21,80% 22,70% 0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00% 1, 6º ano do ensino fundamental II 2, 9º ano do ensino fundamental II

3, 3º ano do ensino médio