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A Caminhada das Políticas Educativas em Portugal até ao Presente

3. ANQ – A Massificação para Reflectir

O Decreto-Lei n.º 276-C/2007, de 31 de Julho, cria e aprova a estrutura orgânica da Agência Nacional para a Qualificação, I. P. (ANQ, I. P.), sob a tutela conjunta entre os Ministérios do Trabalho e da Solidariedade Social e da Educação. Neste decreto-lei, define-se que a missão da ANQ consiste na coordenação e execução das políticas de educação e formação profissional de jovens e adultos e na garantia do desenvolvimento e da gestão do sistema de reconhecimento, validação e certificação de competências, considerados ―pilares fundamentais‖ da estratégia de qualificação da população portuguesa. Acrescenta-se ainda o facto da Iniciativa Novas Oportunidades propor ―metas ambiciosas no domínio da certificação escolar e profissional da população e exige a mobilização alargada dos instrumentos, políticas e sistemas de qualificação‖. É também de salientar a menção à participação dos parceiros sociais e das organizações da sociedade civil, como ―condições fundamentais de afirmação desta estratégia‖.

Sendo um objectivo traçado para os vários países da União Europeia, a ANQ assumiu a estruturação do Sistema Nacional de Qualificações e a elaboração e gestão do Catálogo Nacional de Qualificações (cuja versão inicial foi aprovada pelo Despacho n.º 13456/2008), no âmbito do Quadro Nacional de Qualificações (aprovado pela Portaria n.º 782/2009), em articulação com o Quadro Europeu de Qualificações (QEQ) e nomeadamente com o Sistema Europeu de Créditos para a Educação e Formação Profissional (ECVET). Trata-se de uma acção que se reveste de extrema importância face à grande mobilidade das pessoas no espaço europeu.

O Despacho n.º 29176/2007 reveste-se para nós de um significado especial, pois regula o acesso de pessoas com deficiências ou incapacidade ao processo RVCC, bem como a outras ofertas de educação e formação de adultos.

A Portaria n.º 230/2008, de 7 de Março, vem introduzir ajustes no regime jurídico dos cursos EFA e na regulamentação das formações modulares, clarificando também a distinção entre percursos de educação e formação de adultos de nível básico e secundário, as componentes profissional e escolar consoante os percursos a efectuar e todos os aspectos relacionados com a organização, condições de acesso, gestão, funcionamento, avaliação e certificação das formações modulares de curta duração, sendo que estas últimas representam uma alternativa de qualificação profissional mais viável para os activos empregados.

A Portaria n.º 370/2008 vem regular a criação e o funcionamento dos Centros Novas Oportunidades, incluindo o encaminhamento para formação e reconhecimento, validação e certificação de competências. Nesta portaria contempla-se uma equipa constituída por um director, um coordenador, técnicos de diagnóstico e encaminhamento, profissionais de RVC, formadores e técnicos administrativos, os quais devem desenvolver a sua actividade de forma articulada e integrada. Sobre as funções do técnico de diagnóstico e encaminhamento, profissional de RVC e técnico administrativo, faremos uma reflexão mais adiante.

É de salientar que a ANQ tem vindo a lançar uma grande campanha publicitária de divulgação da Iniciativa Novas Oportunidades, junto dos jovens, dos adultos, das empresas, a ponto dos responsáveis máximos por grandes empresas como a Central de Cervejas e a Delta Cafés darem a cara em flyers promocionais, destacando a qualificação de todos como uma ambição e uma responsabilidade de todos. Por vezes, sentimos que a publicidade tem dado margem para interpretações algo facilitistas, relativamente ao acesso aos processos RVCC.

A ANQ também tem trabalhado afincadamente no incremento da oferta modular certificada e de dupla certificação, bem como nos referenciais de RVCC profissional, a qual se pode acompanhar através do Catálogo Nacional de Qualificações. Sem dúvida, um trabalho desafiador. É de louvar também a pertinência de várias publicações, que poderão ser instrumentos de trabalho muito úteis para as equipas dos CNO, como por exemplo:

Instrumentos de Apoio à Construção de um Projecto Vocacional nos Centros

Metodologia de Acolhimento, Diagnóstico e Encaminhamento de Adultos; A Sessão de Júri de Certificação: Momentos, Actores, Instrumentos – Roteiro Metodológico;

A Operacionalização de Processos de Reconhecimento, Validação e Certificação

de Competências Profissionais – Guia de Apoio;

Educação de Adultos: vida no currículo e currículo na vida;

Carta de Qualidade dos Centros Novas Oportunidades;

Cursos de Educação e Formação de Adultos – Nível Secundário: Orientações para a Acção;

Guia de Operacionalização de Cursos de Educação e Formação de Adultos

Consideramos muito importante o lançamento do Guia metodológico para o acesso das pessoas com deficiências e incapacidades ao processo de reconhecimento, validação e certificação de competências – nível básico. Para além destas publicações, a ANQ lançou também, em 2007, a Carta de Qualidade para os CNO, numa versão mais completa e com informações mais precisas, relativamente ao funcionamento dos Centros Novas Oportunidades.

Actualmente, o país tem uma rede constituída por aproximadamente 500 Centros Novas Oportunidades, na qual o percurso efectuado pelos jovens e adultos é de seguida ilustrado:

Fonte: Gomes e Simões (2007), in Simões e Freire (2008), Metodologia de Acolhimento, Diagnóstico e Encaminhamento de Adultos, p.11. Lisboa: ANQ.

Quando mencionamos que a massificação do processo serve para reflectir, é porque o percurso que acima mostrámos tem as suas vicissitudes, em muito se devendo às metas de certificação. Queremos pois, destacar três factores que carecem da atenção de todos os intervenientes na estratégia de qualificação empreendida até agora, e que em muito influenciam o trabalho desenvolvido no reconhecimento de adquiridos experienciais, mais concretamente a elaboração da Autobiografia Exploratória: o diagnóstico e encaminhamento, o adulto e o profissional de RVC.

O Papel do Diagnóstico e Encaminhamento

Como já havíamos expressado na problemática da introdução deste relatório, quer nas escolas, quer nos centros da rede IEFP, passou a existir a figura ―Técnico de Diagnóstico e Encaminhamento‖ (TDE), para a triagem dos adultos que ingressam num

CNO. O centro de formação profissional onde desempenhamos actualmente a nossa actividade é um dos centros da rede IEFP onde foi implementado o sistema front-office ou porta de entrada para diversas soluções formativas. Isto significa que os adultos são acolhidos e efectuam a sua inscrição com um técnico administrativo, ou fazem-no quando assistem a sessões de esclarecimento dinamizadas por TDE, se forem encaminhados pelo centro de emprego, como no caso dos activos desempregados.

Normalmente, é efectuada uma entrevista de diagnóstico para apurar-se o perfil e os

objectivos que o adulto tem e, mediante as informações que ele possa ter escrito em questionários previamente entregues nas sessões de esclarecimento e as respostas dadas na entrevista, decide-se de forma conjunta (TDE e adulto) qual o percurso que vai realizar (RVCC, EFA, formação modular, entre outras soluções). Este encaminhamento chegou a ser efectuado pelos centros de emprego anteriormente. Quando falamos que normalmente são efectuadas entrevistas, temos conhecimento que é dada prioridade aos activos desempregados, sendo que os activos empregados e até mesmo desempregados que planeiem frequentar o processo RVCC, em horário pós-laboral, podem não chegar a ser entrevistados. Acreditamos que o número insuficiente de recursos humanos possa contribuir para esta situação. Perguntamos: será que todos os activos empregados têm perfil para o processo RVCC?

E quanto aos activos desempregados, sobretudo aqueles que beneficiam de prestações de desemprego? As políticas mais recentes que regulam a manutenção de subsídios de emprego, subsídios sociais de desemprego e rendimentos sociais de inserção defendem uma negociação de um Plano Pessoal de Emprego (PPE) com os candidatos activos desempregados, tal como se pode constatar num documento do IEFP emitido em 2008:

NOTAS EXPLICATIVAS