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Sou filha de mãe natural de Angola e pai português. Nasci em 1976, em Angola (Luanda), e da minha vida em África nada me lembro, uma vez que vim para Portugal com seis meses de idade. Ainda assim, posso dizer que sinto que a cultura africana ficou ―nas minhas veias‖, pela forma como ando, danço, canto, rio, contemplo um pôr- do-sol. Pela sensibilidade, afabilidade, simplicidade e à vontade com que sempre lidei com o meu semelhante. O ritmo e a melodia sempre contaram mais para mim do que as palavras…Quando contacto com o povo africano sinto-me em casa, muito embora as diferentes linguagens e certos hábitos sejam diferentes daqueles que interiorizei no meu processo de endoculturação em Portugal. Assumo-me como uma afro-europeia portanto.

Explica-se assim a facilidade em lidar com pessoas de várias etnias, nomeadamente africanas e da Europa de leste, que há mais tempo ou recentemente imigraram para Portugal, e com as quais é importante saber comunicar de forma calibrada e

sincronizada, clara e empática, no âmbito de um processo RVCC. Por vezes, é preciso

descortinar o que está por detrás de uma expressão facial, uma postura corporal, um gesto típico da etnia e/ou da pessoa, uma crença ou ideologia, de forma compreensiva e respeitadora. Isso demonstra-se através da nossa própria postura, expressão facial e entoação de voz, muito para além das palavras que expressamos. ―O nosso canto é meio caminho andado para o embalo.‖ Daqui se infere a importância de ferramentas como a calibragem e a sincronização da linguagem não verbal (postura física,

expressão facial e entoação da voz) com a dos adultos, que são orientados por nós na fase do reconhecimento de adquiridos.

Para se compreender melhor o meu percurso de vida, há que fazer um breve retrato dos meus pais. Não é nossa missão explicar o que se herda pela genética ou pela educação. A verdade é que a influência do saber-ser, saber-estar dos nossos progenitores e/ou das pessoas que nos educam desde o berço, tem muito peso na formação da nossa personalidade.

Sou filha de um pai-herói e excelente ser humano, que conta agora cinquenta e nove anos. É um técnico oficial de contas por profissão, com a escolaridade mínima obrigatória e, neste momento a frequentar o curso superior de contabilidade no ISCAL (tendo tido resultados muito positivos nas provas de acesso). Tem um carácter metódico, racional, mas ao mesmo tempo extremamente sensível (dependendo das situações), empreendedor, curioso e empenhado por obter mais conhecimento, com talento para a poesia e para o desenho geométrico.

Durante toda a minha infância e puberdade, o meu pai trabalhou no atendimento de uma loja da EDP. Habituei-me a visitá-lo ou a permanecer com ele no balcão de atendimento, fingindo que escrevia documentos importantes, conhecendo alguns equipamentos de trabalho (que hoje são considerados obsoletos), trepando os balcões de atendimento e falando com os colegas do meu pai. Isto tudo para dizer que observei a forma como o meu pai lidava com diversas situações de utentes, dava resposta a determinadas questões mais delicadas ou até mesmo a reclamações. Por vezes, a nossa casa era uma ―extensão‖ da loja da EDP, o que significa que me habituei a observar a disponibilidade e afabilidade que o meu pai tinha ao atender pessoas no seu domicílio, ao final de um dia de trabalho que começava na EDP e terminava no seu escritório caseiro, para tratar da contabilidade de alguns clientes que tinha por conta própria (cuja grande maioria ainda usufrui dos serviços do gabinete de contabilidade que hoje tem). Sempre foi incansável.

Mais do que um técnico oficial de contas, o meu pai é consultor em questões jurídicas laborais pelo conhecimento que tem por iniciativa própria e tem conseguido ―resgatar‖ várias empresas de autênticos ―assassinatos‖ contabilísticos, fiscais e jurídicos. Trata- se de uma pessoa extremamente ponderada, no que toca a questões de gestão

financeira, inclusivamente no que toca à sua economia familiar. Não tem medo de arriscar, tendo feito os devidos cálculos que suportem as suas decisões. Sempre foi batalhador para atingir os objectivos a que se propôs, na sequência de uma saída de casa precoce (aos dezasseis anos) para a vida independente.

Tem um perfil assertivo (o que fica patente na sua argumentação convincente e bem fundamentada) e, por vezes, impulsivo. Relativamente à impulsividade, sempre demonstrou ter a humildade necessária para pedir desculpa, quando tem a consciência de ter agido de forma menos adequada com quem quer que seja. É trabalhador, empenhado, seguro de si e um verdadeiro ―pai-galinha‖. É, acima de tudo, protector. Do meu pai herdei o carácter metódico e rigoroso, o gosto pelo conhecimento acrescido para além dos conhecimentos directamente relacionados com as minhas actividades, o gosto pela poesia e pelo desenho (muito embora aprecie mais o desenho livre do que o desenho com régua e esquadro). A assertividade também caracteriza o meu perfil comunicacional (comprovado mais tarde através de exercícios no curso de Formação Pedagógica de Formadores). A impulsividade que faz parte do meu temperamento, fruto do não conformismo com situações injustas, tem sido atenuada ao longo do tempo. Muito pelo balanço que faço entre o perfeccionismo do meu pai e a maior serenidade da minha mãe, face a situações de vida difíceis.

Com o meu pai também aprendi a ser flexível (capacidade de improviso) perante situações imprevistas (nomeadamente em situações que exijam uma apresentação de conteúdos perante uma determinada audiência) e a não recear comunicar com qualquer pessoa ou entidade organizacional, para resolver problemas ou simplesmente atingir objectivos de maior ou menor complexidade (desde situações laborais e contactos com pessoas em níveis hierárquicos mais elevados, a situações simples do dia-a-dia como o pagamento de serviços/despesas mensais, reclamações escritas, entre outras situações). De forma natural e não imposta, normalmente demonstro disponibilidade e afabilidade para ajudar a resolver situações de outrem, mesmo que isso signifique sacrificar os meus interesses e descanso. Penso que o papel activo exercido como cidadã (com os seus deveres e direitos) em muito se deve ao papel que o meu pai representou na minha vida, desde que me conheço.

Como profissional de RVC tenho que obedecer a uma metodologia própria de trabalho (abordagem autobiográfica e balanço de competências), a qual deve ser seguida com uma boa dose de rigor, a fim de garantir a credibilidade do processo RVCC. Neste sentido, o perfeccionismo ajuda a focar o que realmente é importante para a qualidade do processo. Para além disso, a organização é fundamental face aos muitos documento de trabalho, nomeadamente aqueles que constituem um processo técnico- pedagógico dos grupos em reconhecimento (fichas de inscrição, documentos de identificação, certificados de habilitações académicas, currículos, actas de reuniões, actas de sessão de validação de competências, actas de sessão de júri de certificação, questionários de avaliação do processo, cronogramas, fichas de presença, entre outros documentos), ao número de adultos em reconhecimento cujas situações têm que ser devidamente planeadas e trabalhadas, ao planeamento de sessões de reconhecimento, acompanhamento, formação complementar, modular, equipamentos e materiais necessários para as sessões de grupo, entre muitas outras tarefas.

É fundamental que tenha interesse em ler diversos conteúdos relacionados com o processo de reconhecimento e validação de adquiridos, publicações, legislação e orientações técnicas emanadas pela ANQ e pelo IEFP, directrizes do próprio Centro Novas Oportunidades onde exerço a minha actividade, mas mais ainda, que tenha a possibilidade de explorar temáticas relacionadas com as áreas de competência-chave do processo RVCC (seja académico, seja profissional), não para dominá-las em termos de validação, mas para mais facilmente orientar os adultos, na exploração das experiências de vida, em função dos referenciais de competências. Lembro-me constantemente das palavras de Josso numa entrevista que lhe fizeram para a revista Aprender ao Longo da Vida:

(...) na minha própria formação, não é suficiente eu ser socióloga para fazer este trabalho, pois, se sou apenas socióloga, vou propor referenciais unicamente sociológicos. Enquanto acompanhante de um grupo de ―histórias de vida‖, tenho de ter uma cultura científica muito mais vasta que a minha disciplina de origem. Ter conhecimentos em psicologia, em antropologia, em história, em saúde (dimensão psicossomática). O meu trabalho é alargar em cada caso o campo das interpretações possíveis. (...) temos de ter outras leituras que enriquecem a interpretação, de maneira a restituir à pessoa todas as dimensões do seu ser no mundo. Há uma dimensão psicológica, sociológica, antropológica, histórica, etc.

Inclusivamente, por que não saber mais sobre algumas profissões, se trabalharmos na vertente profissional do processo RVCC? Por que não estar mais atento às ofertas formativas existentes na zona onde se encontra implantado o CNO onde trabalhamos? Por que não saber mais sobre algumas iniciativas de índole cultural, projectos de trabalho e parcerias possíveis, ofertas de trabalho não divulgadas pelos centros de emprego e outras actividades associativas e comunitárias, que possam beneficiar os adultos que frequentam o processo RVCC?

A assertividade e a serenidade de espírito são fundamentais para trabalhar com os adultos no âmbito do processo RVCC, quer para clarificar o papel do adulto no mesmo, quer para equilibrar o pessimismo e o optimismo na concretização dos objectivos propostos, dentro dos timings de processo e face à diversidade de situações problemáticas que podem afectar os adultos (despesas, vida familiar, horários de trabalho, dificuldades advindas da formação base, entre outros). A assertividade é fundamental também nos tratos com os membros da equipa técnico-pedagógica, sobretudo porque os profissionais de RVC saíram de uma relação paritária com os formadores das áreas de competência-chave, para uma relação hierárquica bem definida: coordenadores de equipa.

A capacidade de não recear comunicar com qualquer pessoa ou entidade organizacional prende-se, quer com os adultos que frequentam o processo (os quais poderão ser provenientes de diversas grupos socioeconómicos), quer com os colegas de níveis hierárquicos superiores (por exemplo falando sobre constrangimentos de diversos tipos que dificultam o trabalho no CNO, com o coordenador ou o director do CNO) e ainda com outras entidades para a divulgação do processo RVCC. Esta última situação é comum, sobretudo nos processos RVCC-PRO e em processos da vertente académica em itinerância.

A flexibilidade sob a forma de improviso também é vital para um profissional que queira dar uma resposta, em termos de procedimentos, a um adulto numa situação imprevista (em caso de doença, mudança de residência, portefólio reflexivo de aprendizagens já elaborado num processo anterior – passagem do nível básico ao nível secundário, entre outras situações), ou em situações de apresentação de conteúdos como formador de temáticas relacionadas com o RVCC, sessões de reconhecimento face a públicos com comportamentos desviantes, ou visitas inesperadas de grupos de

trabalho nacionais ou internacionais, no âmbito dos projectos ligados à aprendizagem ao longo da vida. São apenas alguns exemplos.

A disponibilidade e a afabilidade são basilares para um atendimento e relacionamento bem sucedidos com os adultos que frequentam o CNO. O profissional de RVC é visto como a primeira face da equipa técnico-pedagógica, alguém formado em ciências sociais e sensível para escutar e ajudar o adulto a dirimir quaisquer dificuldades que surjam. O profissional de RVC é como que um mediador entre o adulto, a equipa formativa de reconhecimento e formação modular, o avaliador externo, técnicos de serviços sociais, e outros colaboradores que intervenham directa ou indirectamente no processo (técnicos administrativos, técnicos de diagnóstico e encaminhamento, coordenador e director do CNO).

O papel activo exercido como cidadã, consciente dos seus deveres e direitos, tem sido um alicerce para o estabelecimento de relações interpessoais bem sucedidas no CNO (com colegas e adultos participantes no processo RVCC), bem como para a exploração e discussão mais enriquecedora de experiências da vida dos adultos, que se coadunem com os temas propostos nos referenciais de competências-chave, sobretudo nas áreas da Cidadania e Empregabilidade (RVCC – NB) e Cidadania e Profissionalidade (RVCC- NS).

A minha mãe tem a escolaridade mínima obrigatória e viveu na casa parental até ao casamento (aos vinte anos), tendo sido educada familiarmente e através da escola em Angola, sob os princípios do regime político português, bem como convivendo igualmente com angolanos e portugueses. Tem agora cinquenta e seis anos.

Dedicou-se à educação da sua única filha (durante dezanove anos) e a tudo o que diz respeito a um lar, tendo tido, enquanto solteira, experiências tão diferentes como ser cantora (tendo realizado e participado em diversos espectáculos em Angola com vários artistas, nomeadamente portugueses e gravado discos), locutora de rádio, estudante de enfermagem até ao início da guerra, e jogadora de basquetebol no clube do Sporting. Ao longo da sua vida, enquanto casada, veio a explorar a sua vertente artística como pintora, primeiro como autodidacta e, numa segunda fase, com os conhecimentos e a formação adquiridos num curso de pintura e outras artes plásticas. O sucesso já era muito enquanto autodidacta, porém, depois da formação intensiva e

longa da qual usufruiu, teve a oportunidade de ir mais longe, transmitindo o seu saber e talento a outras pessoas através de aulas de pintura. Não obstante, a música sempre foi uma constante em casa. Desde pequena que fui habituada a ter serões com amigos, nos quais a minha mãe toca acordeão ou viola e cantamos as duas (a duas vozes). A música está ―impregnada‖ na minha família materna, pois o meu avô era músico e o irmão da minha mãe também.

A minha mãe tem uma personalidade muito forte, mais sensível e emotiva, do que racional, sendo uma confidente para muitas pessoas, muito derivado à empatia que estabelece com elas. É menos empreendedora e metódica, contudo é enérgica e uma excelente coordenadora de actividades (domésticas ou outras). É paciente, na medida do possível, sobretudo quando ensina aquilo que mais gosta: artes plásticas.

Da minha mãe herdei o gosto e a vocação para as artes plásticas, muito embora seja menos paciente do que ela para algumas vertentes das mesmas (o pormenor na pintura a óleo, as diversas fases da pintura pelo tipo de secagem mais lento). Gosto de ver rapidamente os resultados do meu trabalho e, se sou muito semelhante à minha mãe no que toca à criatividade permanente (o cérebro não pára, as ideias surgem), a repetição de procedimentos, movimentos, conteúdos, entre outros aspectos da vida quotidiana tornam-se maçadores para a minha forma de estar e ser. Não lido muito bem com a repetição e as rotinas. Sinto necessidade de experimentar coisas novas e métodos novos de as conceber. Por alguma razão sempre me inclinei mais para o desenho livre – retrato, vestuário, peças de joalharia, mobiliário e interiores (lado materno), do que para o desenho com régua e esquadro (lado paterno).

Penso que a empatia, o lado mais emotivo e a paciência no ensino de conteúdos que me apaixonam, me foram transmitidos pela figura materna. Se do meu pai herdei a flexibilidade (capacidade de resposta a situações imprevistas), da minha mãe herdei uma outra dimensão da flexibilidade: a capacidade de adaptar-me a pessoas diferentes e a hábitos ou planos que tenham, aparentemente diferentes dos meus.

Sinto que tenho tendência para transferir a minha criatividade para diversos contextos, sendo que o RVCC não é excepção. O gosto pela poesia, desenho e pintura facilitam a compreensão do abstracto na apresentação de conteúdos num portefólio, permitem perceber linguagens figurativas para a transmissão de saberes e conceber pontos de

partida (de acordo com os órgãos sensoriais de percepção e processamento de informação mais privilegiados – sentido visual, auditivo, cinestésico), que possam facilitar a escrita da Autobiografia Exploratória. Este factor está intimamente ligado à flexibilidade (capacidade de improviso) de que já falámos, para dar respostas em função das características diferentes dos adultos, com vista à concretização de um único objectivo: a elaboração de uma Autobiografia Exploratória que viabilize a validação de adquiridos experienciais.

A criatividade também se faz sentir na forma como dinamizo as sessões de RVCC, sendo que nenhuma sessão é igual. Tento sempre aplicar exercícios dinâmicos e diferentes para quebrar o gelo, para apresentação dos adultos, para dar a conhecer o estilo de escrita às formadoras da equipa. Constantemente reflicto sobre a aplicação eficiente e eficaz da metodologia, a ordem dos instrumentos de trabalho utilizados, ou até sobre a pertinência da informação que queremos transmitir nestes últimos.

A empatia é o alicerce do entendimento entre os povos e as pessoas num plano mais micro. Esta qualidade torna-se ainda mais importante no RVCC, dado o tempo e a profundidade da ―entrega‖ dos adultos à equipa técnico-pedagógica. Os adultos têm que expor de alguma forma parte da sua história de vida e a forma como o devem fazer, por si só, traz desafios (os quais iremos aprofundar no nosso trabalho empírico) que implicam a sua formação base, a literacia, as recordações, traços culturais e de personalidade. É a capacidade de olhar a realidade com os olhos do outro, compreendendo o seu mapa mental e não o julgando à priori, que devidamente demonstrada através do nosso olhar atento, expressão facial concordante com a do adulto e postura corporal sincronizada com a dele, nos permite ser confidentes.

No acompanhamento dos adultos, é importante não esquecer o papel importante da escuta activa e dinâmica, que nos permite questionar, ouvir com atenção (demonstrando-o através da expressão facial atenta e de expressões verbais como ―compreendo‖, ―estou a ver‖, ―hum hum‖, ―pois‖, ―claro‖, ―exactamente‖, entre outras), reformular alguma questão menos clara para nós à espera de um novo esclarecimento do adulto. Da mesma forma, devemos estar empenhados em explicar como elaborar a Autobiografia Exploratória ou o que está envolvido no processo RVCC, tendo sempre a preocupação de controlar se estamos a ser esclarecedores. Desta

forma, demonstramos preocupação pelas necessidades e situação dos adultos e a paciência que é fundamental na arte de ensino.

Quanto à flexibilidade, enquanto capacidade de adaptar-me a pessoas diferentes e a hábitos ou planos que tenham, aparentemente diferentes dos meus, entendo que também é necessária no exercício de funções como profissional de RVC. Aliás, esta vertente da flexibilidade está intrinsecamente aliada à empatia. Há que saber lidar com diferentes perspectivas e conceitos sobre como planear e elaborar uma Autobiografia Exploratória, por exemplo. As soluções para a compatibilização entre a vida pessoal, profissional e o processo RVCC são diversas e não necessariamente têm que ser as propostas pelo profissional de RVC. Isto não necessariamente coloca em causa o cumprimento de timings de trabalho ou outros princípios do processo delineados, desde o início do mesmo. Neste ponto, podemos ainda mencionar diferentes perspectivas relativamente à organização e concepção do portefólio reflexivo de aprendizagens ou outras situações no contexto de RVCC.

Sinto-me privilegiada por ter tido contacto com vários traços da cultura geral através dos meus pais, quer pelas conversas que sempre tivemos, pelas experiências que ambos tiveram, pela riqueza do convívio de dois seres provenientes de países diferentes (Portugal e Angola), com alguns hábitos e formas de estar e pensar diferentes (muito embora sempre fossem muito compatíveis, quer do ponto de vista da formação base, quer de outras experiências de vida muito pessoais).

De ambos os meus pais, vem o gosto e a facilidade em comunicar, quer oralmente, quer por escrito. Também deles herdei o bom sentido de humor (o pensamento lateral/segundo sentido com o pai e a comicidade na plasticidade das expressões faciais e postura corporal da mãe).

A comunicação fluente e clara, quer oral, quer escrita é parte integrante das exigências do dia-a-dia de um profissional RVC. Há que comunicar oralmente em sessões de grupo, sessões de acompanhamento individuais, em reuniões de equipa ou do CNO, em apresentações para outros CNO ou grupos de trabalho nacionais e internacionais (no âmbito da Aprendizagem ao Longo da Vida). A comunicação escrita está patente em vários documentos do dossier técnico-pedagógico, com particular relevo para as actas de reunião da equipa técnico-pedagógica e de sessão de júri de certificação, bem

como relatórios de análise de PRA, documentos com orientações para adultos, ofícios, registos em bases de dados (da equipa, do CNO, SGFOR, SIGO), emails para adultos e colegas, entre outros.

A plasticidade facial e o sentido de humor são armas muito úteis para lidar com públicos mais resistentes e pessimistas, ou até mesmo para fazer passar a mensagem de uma forma mais clara e mais agradável. Desta forma, conseguimos motivar grupos e adultos de forma individual provando que, tarefas aparentemente difíceis ou impossíveis de realizar podem ser realizadas com gosto.