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5.1 O SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA ARGENTINO

5.1.1 antecedentes

O primeiro serviço secreto argentino civil surgiu em 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, durante a presidência de Roberto Marcelino Ortiz (1938-1942) e

recebeu o nome de Dirección General de Seguridad e Informaciones – DGSI (YOUNG, 2007) e era vinculado diretamente a Presidência da República.Para Ugarte (2009), basicamente se destinava ao acompanhamento dos meios de comunicações (cartas e telefonemas) e à atuação da oposição nacional.

Oliveira (2010) atesta que foi uma fase de grande instabilidade política, econômica e social na Argentina, em decorrência da política de aproximação ao regime Nazista de Hitler e o antissemitismo. Após o afastamento da presidência do Presidente Ortiz, por problemas de saúde, seu sucessor Ramón Castillo acabou sendo alvo de um Golpe de Estado das Forças Armadas em 1943. Entre os anos de 1943 a 1946, os três militares que passaram pelo poder (Arturo Rawson, Pedro Pablo Ramírez e Edelmiro Farrell) pouco modificaram as bases econômicas e sociais da nação, mas acabaram por favorecer a ascensão do Coronel Juan Domingos Perón, cuja gestão foi caracterizada por uma “intensa presença governamental” na gestão das relações socioeconômicas e pela subordinação do Estado à figura carismática do líder, eternizada sob o signo do ‘Partido Peronista’ posteriormente, Partido Justicialista” (OLIVEIRA, 2010. p. 63).

Com um forte apelo popular e nacionalista, o Presidente Juan Domingos Perón cria por meio de Decreto nº 337 em 17 de julho de 1946 a Coordinación de

Informaciones de La Presidencia de la Nación – CIPN, que iria substituir a DGSI e

estava ligada diretamente ao gabinete da Presidência da República como os objetivos de “proteger da ameaça expansionista do comunismo e fomentar o processo de disseminação do peronismo” (Brandão, 2011. p.55) dentro da sociedade e nas Forças Armadas Argentina.

Em 1950, 0 CIPN foi substituído pela Coordinación de Informaciones del

Ministrerio de Guerra – CIMG pelo decreto nº 24.201/50, que ampliava os poderes

desse órgão e acabava por direcionaram para a política Peronista do governo apoiando suas bases.

Para Brandão (2010, p 55) os anos de 1951 foram “extremamente tumultuados e marcados pela renúncia da candidatura de Eva Perón à vice- presidência e pela tentativa de golpe militar pelo general Manéndez” o que abriu caminho para o governo argentino decretar o Estado de Guerra Interna e a elaboração do Decreto nº 6.084/51 que servira das bases da Teoría de la

Información del Estado, que, segundo Estevez (1997), teria a incumbência de

tempos de paz e em tempo de guerra seria encarregado na coordenação de estratégia a ser desempenhada pelo Estado.

A estrutura do CIMG, argumenta Brandão (2010, p.56), na prática, “apoiava tanto financeiramente, quanto através do fornecimento de informações, as associações sindicais e políticas pró-Perón” mas em alguns casos poderia ir além desse suporte, chegando a atitudes mas extremas, tais como, segundo Boimvaser (2000, p. 72), “adoptar los métodos de violência contra la oposición, cuando se

creyese preciso hacerlo”. Essas atitudes acabam por ratificar que esses sistemas

servira mais aos grupos dominantes no poder do que a sociedade, ou seja, servindo muito mais de instrumentos de enfretamento a grupos de oposição política do que ao auxílio ao processo decisório do Estado.

Durante os eventos que levaram a reestruturação da Presidência da República de 1954, a CIMG foi substituída pela Coordinación de Informaciones del

Estado – CIDE pelo Decreto nº 14.062/51, que após La Revolución Libertadora

(Revolução Libertadora) que depuseram do poder o Presidente Perón e os embates entre o Estado e a Igreja Católica e a eleição do presidente Pedro Eugenio Aramburu Cilveti (1955-1958) e a dissolução do Partido Peronista, foi transformada em Secretaria de Informaciones del Estado – SIDE, pelo Decreto nº 776/56. A SIDE nasceu com os objetivos de ser o órgão de Estado encarregado de criar uma agência que organizasse o fluxo de informações existentes e que tivesse a capacidade de produzir informações estratégicas para o Estado. Mas conforme Brandão (2010) aponta:

Um dos objetivos imediatos do Decreto de 1966 era inverter a lógica política da estrutura, principalmente através de troca de profissionais, e de determinado grau de mudança na formação profissional dos agentes da SIDE, que a partir de então deveriam perseguir os peronistas, ministrando aos inimigos políticos o mesmo trato que lhe havia sido anteriormente dispensado durante os anos de 1946/1955. Ainda no contexto democrático do presidente Arturo Frondizi (1958-1962), a SIDE havia se tornado responsável por um grande número de prisões ilegais, assassinatos e pelo desaparecimento de várias pessoas, fazendo com que a simples menção de seu nome despertasse temor nas fileiras da nascente resistência peronista. (BRANDÃO, 2010. p. 56-57)

Essa estrutura ilustra que o SIDE acabou sendo usado para o enfretamento do inimigo interno da Argentina, o que estava alinhado ao momento histórico vigente, a Guerra Fria e o alinhamento aos EUA, assim a SIDE completava a atuação dos serviços de informações das Forças Armadas, ao estruturar uma linha

de enfretamento ao inimigo doméstico. No ano de 1961, pelo Decreto nº 2.985 de 13 de abril ficou estabelecido o papel estratégico desse órgão como o coordenador de informações que seriam utilizadas na luta contra o terrorismo e outras formas de extremismos.

Em 1963 temos uma nova mudança no sistema com o decreto nº 4.500/63 que reestruturou o SIDE.Assim para Brandão (2010) essa transformação se deu pela ampliação de sua estrutura e o enfoque a questão comunista. Em 1967 tivemos uma nova estruturação do SIDE através do decreto nº 9.318 que além de fortalecer ainda mais a secretária, definia as funções de serviço de inteligência dependente do Chefe da Casa Militar, ligado diretamente ao presidente e responsável pela sua segurança e suprir a presidência de todas as informações de interesse de Estado.

Brandão (2010) acrescenta que no dia 06 de Outubro de 1966, durante o governo militar de Juan Carlos Onganía (1966-1969), foi divulgada a Ley de Defensa

Nacional, que, entre outras medidas, criou o Central Nacional de Informaciones

CNI, que:

...Seguindo os preceitos teóricos-conceituais da Doctrina de Seguridad Nacional – DSN, essa lei foi regulamentou as bases jurídicas e orgânicas necessárias a la preparación y execución de la defensa nacional, com o objetivo de conquistar e manter a segurança nacional (art. 1º) Três organismos base tornariam a base da estrutura relacionada à Defesa Nacional: o Consejo Nacional de Seguridade; o Comitê Militar e a Central Nacional de Informaciones, sendo que todos os três ficariam vinculados direta e indiretamente à Presidência da República. (BRANDÃO, 2010. p. 58) Para Pereira (2010) e Brandão (2010) houve um aumento dos poderes CNI, pois cabia diretamente a ela a centralização da coleta de informações necessárias para o planejamento da Política de Seguridad Nacional e a formulação de suas bases doutrinárias, proporcionando informações ao Conselho de Segurança Nacional e a disseminação das informações aos organismos competentes.

Durante a fase final do governo do General Augustín Lanusse (1971-1973) a Lei nº 20.194 de 1973 estabeleceu uma nova estrutura e funções para a CNI. “Comporiam-na os organismos de inteligência do Estado, das Forças Armadas e da Polícia Federal, que permaneceriam vinculados funcionalmente de maneira permanente” (BRANDÃO, 2010. p. 58). A direção passaria agora a ser exercida por uma junta composta pelosdirigentes que a compunham e presidida por um oficial superior de indicação presidencial com status de Secretário de Estado. A CNI teria

como sua principal missão a realização da atividade de inteligência necessária ao assessoramento do planejamento da segurança interna.

Nesse mesmo ano, em 09 março foi promulgada a Lei nº 20.195. Norma Regulamentária nº 1.792/73 que regulamentaria e reformularia o funcionamento da Secretaria de Inteligência, instruindo-lhe como organismo responsável pela realização de atividades informativas e pela produção da inteligência de Estado para a Segurança Nacional (BRANDÃO, 2010. p. 58-59). Essa nova legislação estabelecia o SIDE como órgão superior da administração central do Estado, cuja responsabilidade era a coleta das informações, sua análise e disseminação da mesma para os órgãos competentes.

O CNI passou por uma estruturação em sua nomenclatura, deixando de ser

Central Nacional de Informaciones para ser o Central Nacional de Inteligencia, cuja

função agora seria disseminar inteligência em função dos interesses da segurança nacional, assim CNI faria a produção do conhecimento e a SIDE seria o órgão gestor superior, uma vez que a ele foi vetado a realização atividades repressivas policiais.

Uma nova reestruturação se deu no ano de 1973, com o regresso de Perón à Presidência da República e imediatamente após a sua posse foi promulgado o Decreto nº 162/73 que entre outras medidas, estabeleceu a unificação dos organismos de informação (OLIVEIRA, 2010), assim a SIDE passou a ser a responsável pelo CNI, com a finalidade de evitar distintos critérios em la conducción

y producción de la inteligencia nacional. A transformação mais importante apontada

por Brandão (2010) foi o fato que o CNI, “enquanto órgão responsável pela coordenação do sistema nacional de inteligência, não foram facultados os meios próprios para a obtenção da informação” (idem, 2010. p. 59), com essa discrepância na estrutura de gestão do sistema, o SIDE tornou-se o principal órgão da área, pois possuía o maior orçamento e a maior estrutura e o maior quadro de funcionários, assumindo o papel central.

Com a deposição de Isabel Perón por um golpe militar em 1976, houve uma nova reestruturação da SIDE, que deixou de ser a Secretaria de Informaciones del

Estado e passou a ser renomeada como Secretaria de Inteligencia del Estado pelo

decreto nº 416/76 de 13 de maio. Na medida em que o Regime Militar Argentino se consolidava mais no poder, mais a SIDE ia perdendo espaço para os serviços de inteligência das Forças Armadas, e mais a repressão aumentava contra o inimigo interno e qualquer um que se levantasse contra o regime.