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A natureza da Ciência Política, assim como suas co-irmãs das ciências sociais, está na análise das motivações que velam a ação dos diferentes atores e seu papel nas áreas decisórias de poder. Para Raposo (2015, p 28) essas ações de natureza política ou decorrentes dela estão relacionadas “as ponderações sobre os determinantes de que resultariam, a saber, as preferências individuais ou as instituições, sociais e políticas”.

Com esse entendimento, as ações dos diferentes atores sociais podem ser motivadas por duas grandes motivações superiores, as individuais, que podem ser subdivididas entre as que estão voltadas aos interesses pessoais ou por ações coletivas, voltadas aos grupos de interesses de natureza endógena e a segunda, voltada aos quadros institucionais onde se desenvolvem, sendo de forte influência exógena quanto ao seu poder de influência.

As motivações e as ações dos Estados e seus atores vem sendo foco de análise das Ciências Sociais, pois suas observações estão voltadas ao comportamento entre o indivíduo e a sociedade, enfocando as relações de interesses e conflitos sobre as estruturas que darão base à construção dos processos decisórios de poder e da natureza dos sistemas de controle sociais, que

possuem por finalidade o desenvolvimento das ações de Estado quanto a sua natureza e ao processo de construção de poder na sociedade.

Para Lima et al (2015, p 181) “embora trabalhos clássicos da teoria política tendessem a destacar a importância das instituições políticas para o entendimento de fenômenos e comportamentos sociais” como os analisados nas obras de Hobbes (1983, 2003), Locke (1998), Tocqueville (1998) e Max Weber (1991) sobre o processo de formação e estruturação do Estado enquanto organização política e social completa e, mais contemporaneamente nos estudos de Bonavides (2015), Jouvenel (1998) e Acemoglu e Robinson (2012) sobre as relações de poder na formação dos Estados e o papel das instituições, pode-se observar uma centralização de seus estudos no campo das Ciências Políticas de influência dos Estados Unidos, mas não sendo uma exclusividade desta escola e muito menos algo recente nesse campo, uma vez que, segundo March e Olsen (2008), os ideais dos estudos institucionais estão presentes em diferentes campos de estudo, desde a filosofia até as diferentes correntes teóricas europeias sobre o Estado; sendo que essa construção histórica marcou positivamente o nascimento e a consolidação desse campo do saber. Aliado a isso, os estudos de Simmel (1977) sobre as formas de socialização, contribuem por analisarem os processos de construção das ações e relações sociais de poder nas sociedades de seu tempo, lidando com a questão da ‘estrutura-ação’, cada qual a sua maneira atribuindo um peso específico às ações dos indivíduos, mas nunca negligenciando sua importância no processo de poder.

Segundo Marques (1997), o principal marco de diferença entre o neoinstitucionalismo para o institucionalismo clássico é o fato que esse ser fortemente caracterizado pela ênfase dada à descrição e comparação estática de estruturas administrativas, legais e políticas feitas em diferentes países, ou seja, muito mais um estudo comparativo sobre o funcionamento das diferentes instituições, sem levar em consideração outras variáveis, como a construção cultural e o nível de amadurecimento das instituições.

Para Rocha (2005), Raposo (2015) e Lima et al (2015), o enfoque behaviorista nos estudos da Ciência Política foi bastante influente entre nas décadas de 1950 ao início dos anos de 1960 e é visto como uma alternativa ao institucionalismo clássico, pois demonstra que apenas os estudos das regras formais não seriam capaz de explicar o comportamento político e nem o sistema de freios da

política. Mesmo entendimento defendido por Thelen e Steinmo (1992) que compreendem o modelo behaviorista como um sistema de entendimento das crenças e atitudes de um grupo ou indivíduo para além das estruturas formais das instituições analisadas pela antiga forma de pensar do institucionalismo, indo além do contexto histórico e das estruturas econômicas capitalistas defendidas nos estudos de influência marxista.

Partindo dessa análise, deve-se ter por concepção que essas teorias “não se mostraram suficientes para a interpretação da diversidade de situações históricas presentes durante os processos de reforma e reestruturação dos países centrais a partir da crise econômica dos anos 1970” Lima et al (2015, p 182). Diante desse cenário, Théret (2003) e Marques (1997) argumentam que as mudanças políticas e econômicas e o despontar de novas teorias sobre o entendimento das instituições levaram a um processo de renovação da produção acadêmica desse período e os processos de sua utilização nos campos do entendimento do Estado.

Diante desse cenário de mudanças, havia a necessidade de explicar algumas questões fundamentais, como 1 – analisar as diferentes respostas às crises dada por países em diferentes estágios de desenvolvimento econômico, político e social e como as suas instituições se comportaram a esse processo de modernização do capitalismo e 2 – considerando os diferentes contextos nacionais, analisar a construção de como se deram as organizações das instituições nacionais e 3 – que fatores contribuíram para a reconstrução dessas agências diante das novas estruturações do Estado e de seus atores nesse novo cenário político.

Lima et al (2015, p 183) argumentam que diante desse cenário, havia como escopo e tema central do trabalho dos primeiros neoinstitucionalistas “identificar as razões para a persistência de diferenças entre nações apesar dos desafios e pressões comuns” o que teve por consequência uma mudança de foco em nível teórico e empírico no entendimento das tendências até então hegemônicas na metodologia. Para Thelen e Steinmo (1992) foi uma fase de grande questionamento em relação a abordagem tradicional que era compreendida como uma teoria descontextualizada do jogo de poder e interesses dos agentes políticos, assim como também uma tendência ao esgotamento dos modelos marxista e funcionalista, vistos como limitados diante das novas estruturas do Estado. Assim Raposo (2015), Lima et al (2015) e Lourau (2014) apontam que ao analisar os interesses de classes, seria possível constatar que suas manifestações são distintas

em contextos socioeconômicos e políticos diferentes, sendo influenciados por diferentes grupos de interesses (partidos, organizações profissionais, sociedade organizada, setores da defesa, etc.) influenciando as estruturas das instituições do Estado de acordo com as tendências políticas específicas do seu tempo.

Para Evans (1993) esse momento de crise possibilitou a busca por novos fatores que pudessem explicar as transformações nas instituições e seu modelo teórico baseado nas novas teorias sociais que estavam surgindo nas novas estruturas sociais nacionais e institucionais, velando um novo entendimento sobre as diferentes dinâmicas do Estado e seus agentes no processo de construção das novas agendas políticas nacionais.

Para Lima et al (2015) e Raposo (2015) uma das respostas para essa situação estava na investigação nas estruturas intermediárias que mediam as relações de poder entre os interesses do Estado e sua aplicação na sociedade, buscando compreender as diferentes motivações e as componentes que a compõem, tanto dos pontos de vistas político, econômico, cultural, social, histórico, assim como as dinâmicas dos grupos de interesses e o comportamento individual como elementos modeladores dos processos políticos e sociais das diferentes estruturas sociais dos países.

Dessa maneira, pode-se constatar que as próprias origens e reformulações ao longo das últimas décadas do século XX, o neoinstitucionalismo tem sido considerado como “uma corrente não unitária das Ciências Sociais, para onde convergem teóricos de origens disciplinares e matrizes diversos” (LIMA et al (2015, p 184), sendo assim de natureza interdisciplinar, de acordo com Marques (1997) sua natureza veio evoluindo ao longo dos anos, desde as matrizes baseadas nos sistemas econômicos clássicos aos postulados marxistas e as transformações socioeconômicas na sociedades moderna. Nesse sentindo, Hall e Taylor (2003) e Pierson (2004) consideram que seus estudos têm como foco principal a ênfase no papel central que as instituições ocupam, considerando seus papeis nas estratégias dos diferentes grupos de poder e as trajetórias políticas distintas dos atores políticos e sociais envolvidos.

Para Arretche (2007, p 148) “não são todas os fenômenos políticos que podem ser explicados por estas teorias, mas apenas aqueles cujas características se ajustem as suas premissas” uma vez que o neoinstitucionalismo não se caracteriza pela criação de teorias gerais normalmente associadas a períodos

históricos longos, seu foco está nas análises das situações políticas de um momento histórico específico, levando em consideração suas conjunturas socioeconômica e política, criando teorias, testando e buscando explicações para o comportamentos dos diferentes atores a partir da análise de casos concretos baseados nos seus comportamentos.

Partindo dos estudos de Marques (1997), Hall e Taylor (2003), Hay (2006), Arretche (2007), Lima et al (2015) e Raposo (2015) a própria construção do conceito de instituições utilizada nos diferentes estudos para compreensão de sua natureza é bastante vasta, passando pelas compreensão de suas regras formais (Leis, normas, procedimentos internos, regimentos, doutrinas, etc.) a relações de poder informais baseadas em diferentes códigos de condutas, costumes, tradições, convenções e procedimentos de ações, assim como os diferentes atores que as compõem e seus interesses que acabam por moldar suas ações, assim, é possível compreender esse conceito como conjunto de:

...regras ou forma de constrangimentos que moldam as interações humanas; e, por organizações, os grupos e agentes políticos (partidos, governos, senado, prefeitura), econômicos (sindicatos, cooperativas), sociais (igreja, clubes) e educacionais (escolas, universidades). (LIMA et al. 2015, p 184)

Como Hall e Taylor (2003) apontam, as instituições “impõem” mudanças no comportamento de seus atores por meio de mecanismos externo que influenciam as decisões de poder e se mantém por um determinado período de tempo até que haja novas mudanças na sua balança de poder, atuando com base no cálculo racional das escolhas que impactam nas suas diferentes estruturas, pode-se revelar o sistema de valores de uma instituição de um lado para o outro de acordo com os interesses dominantes. Assim, Peres (2008) acrescenta que as instituições não podem ser consideradas como o próprio ato de formação das preferências, mas como o quadro de partida do qual se tomam das decisões de poder.

Para Rothstein (1998) as instituições devem possuir quatro características centrais que as definem, devem ter: 1 - sistemas de regras ou regulamentos entre os membros que as compõem ou que possuem interesses em comum; 2 – capacidade de aplicação de suas regras; 3 – capacidade de julgar se as regras devem, ou não serem aplicadas para os seus integrantes; 4 – a punição das infrações cometidas que firam os princípios da instituição. Para fins de estudos, partiu-se de uma

definição apresentada por Steinmo (2001) e Raposo (2015) que estabelecem as instituições como uma estrutura política por definição que determinam o que está apto a participar das arenas decisórias, possuindo capacidade de moldar seus atores de acordo com seus interesses estratégicos e influenciam suas preferências.

Para Raposo (2015, p 13) “as instituições seriam, portanto, importantes para garantir decisões minimamente estáveis” numa tentativa de construção de um cenário político de incertezas políticas, econômicas e sociais que marcaram, de forma particular, cada modelo social existente. No caso da América Latina, essa tentativa de entender esses processos de construção de modelos institucionais estáveis se deu de forma mais ampla com a derrocada dos modelos autoritários e a redemocratização do continente, de certa maneira tardia em relação a construção do neoinstitucionalismo Europeu e Norte Americano que se deu pós Segunda Guerra. Nesses dois momentos específicos, foi possível observar um processo de reconstrução de estruturas institucionais que levaram a modelagens de suas estruturas democráticas e poder de seu aparelho institucional.

Com esse entendimento Raposo (2015, p 31) afirma “pressupor uma racionalidade nos indivíduos, portanto, não implica isolá-la do contorno social e institucional” uma vez que partindo desse entendimento, as instituições conferem uniformidade de suas ações, na mesma razão que o indivíduo a confere uma identidade, o que acaba por influenciar a natureza das suas ações voltadas para teoria da escolha racional como vista por Hall e Taylor (2003), March e Olen (1989) e Przeworski (2004) na qual os ganhos estariam relacionados a padrões compartilhados de comportamentos, sustentados por aprovação ou reprovação, por meios externos e de sentido internalizado.

Segundo Lima et al (2015, p 184) “os partidários da perspectiva ‘calculadora’ dão ênfase aos aspectos do comportamento humano que são instrumentais e orientados no sentido de um cálculo estratégico”. Assim, os indivíduos buscam atingir seus objetivos, tanto individuais quanto coletivos, buscando maximizar seu rendimento em função de uma dada preferência baseada em um comportamento estratégico. Para isso, as instituições influenciam e são influenciadas pelas expectativas dos indivíduos, quanto ao comportamento presente e futuro dos outros atores no jogo político.

Para os partidários de uma perspectiva cultural, deve-se priorizar a interpretação, pois entendem que jamais o comportamento humano será

inteiramente estratégico ou racional, uma vez que a variável humana é definida pelo seu conjunto de crenças e valores de mundo individual. Dessa forma, a importância dos protocolos e modelos de comportamentos influenciam a sua objetividade nas escolhas, assim as instituições são as fornecedoras desse modelo de ação que permite ao indivíduo a sua leitura das arenas de disputa e seus interesses coletivos e individuais.

Essas duas perspectivas acabam por fornecer explicações diferenciadas para um mesmo fato de que os modelos normativos construídos, tanto pelo forma racional calculadora ou cultural associado ao processo de criação das instituições fornecem uma vantagem estratégica para o estado de continuidade de suas ações no tempo, se pela perspectiva racional pode-se buscar um ordenamento baseado no princípio de “equilíbrio de Nash” (HALL e TAYLOR, 2003) na qual os indivíduos aderem a determinados comportamentos para maximizar suas vantagens, pela perspectiva cultural buscar enfatizar as instituições enquanto elementos centrais das quais a ação coletiva é planejada.