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Para Cepik (2001) existem dois usos principais do termo inteligência fora das questões envolvendo as ciências cognitivas. Na primeira, temos que Inteligência é “toda informação coletada, organizada ou analisada para atender as demandas de um tomador de decisão qualquer” (CEPIK, 2001, p 24) ou seja, ela auxilia o processo decisório, mas não tem o poder de decisão, a qual se destina ao chefe do Executivo7 já para a Ciência da Informação, inteligência pode ser compreendida como uma camada específica de agregação e tratamento analítico de uma pirâmide informacional, tendo sua base formada de dados brutos a serem analisados e no seu vértice o conhecimento sobre um determinado fato já produzido. Para Castells (2002) o avanço das tecnologias de comunicação tem proporcionado ao homem a possibilidade de acesso a diferentes fontes de informações em tempo real, sendo

7Brasil (1999) de acordo com a lei 9,883 art. 2º, Inteligência pode ser definida como a atividade que

objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos, dentro e fora do território nacional, sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado (Grifo nosso) esse conceito é corroborado por Cepik (2005); Brandão (2010) Gonçalves (2010) e Farias (2017), pois existe um consenso entre diferentes autores sobre a definição a atividade de inteligência.

um importante instrumento de comunicação e circulação de informações que juntadas formam um conhecimento específico sobre determinado fato ou situação, nesse mesmo entendimento, Sims (1995, p 04) define inteligência “como conhecimento ou informação analisada”, sendo está um importante elemento para o processo decisório e o planejamento estratégico de qualquer Estado Moderno.

Diante deste entendimento, é possível fazer uma reflexão sobre a natureza da informação, que é definida por Vaistsman (2001, p 22) como: “fenômeno conhecido, fato dado ou acontecimento, algo que está estritamente ligado ao passado e não ao futuro”. Sendo assim, a informação se torna a matéria-prima para uma boa análise de inteligência de valor estratégico, pois se baseia em fatos verídicos. Em Arrow (1984), percebermos seu impacto na vida econômica, na política de Estado e na vida social de um modo geral.

Shulsky (1995) compreende que a inteligência pode ser entendida como um conjunto mais delimitado de fluxo de informações, estruturadas e direcionadas para assuntos específicos, porém a coleta de informações é realizada sem o consentimento, a cooperação ou mesmo o conhecimento da outra parte alvo de ação. O que para Cepik (2001, p 25), pode ser entendido nessa concepção restrita como sinônimo de “segredo ou informação secreta” devido seu valor estratégico para pensar o desenvolvimento do Estado e para o processo decisório.

Para critérios de definição acadêmica, mantive ao longo da pesquisa realizada, uma definição de inteligência voltada à Atividade de Inteligência Governamental e seu caráter de assessoramento do poder decisório e a salvaguarda de informações de valor estratégico ao Estado, pois desfocar desse entendimento, poderia ter como consequência direta perder de vista o que a define como uma Atividade Estratégica para o desenvolvimento de qualquer nação que deseje um maior protagonismo na geopolítica internacional.

Para Cepik (2001) no mundo real, na visão do realismo político, as ações dos serviços de inteligência são mais amplas do que a espionagem em si, sendo que esta está contida naquela, criando um entendimento, muitas vezes, limitado dos objetivos dos serviços de inteligência, uma vez que o autor compreende que existem duas dimensões sobre o seu entendimento: a primeira de caráter operacional, compreende que os serviços de Inteligência são caracterizados por ações amplas e de caráter defensivo e ostensivo do Estado, não de caráter ofensivo, o que se caracteriza pelos seus diferentes meios de obtenção das informações, e a segunda

de dimensão analítica, que se diferencia da primeira pelo seu caráter analítico descritivo, “tendo uma capacidade explicativa e/ou preditiva” (Idem, p 28) dos diferentes cenários políticos, sociais e econômicos que possam influenciar sobre o Estado e seus interesses. Assim, a combinação dessas duas dimensões (Operacional e Analítica) fundamentam um conceito de Inteligência de Estado estabelecido em organizações especializadas na busca do dado negado de valor estratégico, o que Herman (1996) e Platt (1974)definem como organizações especializadas na coleta de informações, uso de diferentes meios e fontes próprios para a obtenção dos dados (single-sources collection), seguindo de “análise desses dados e sua comparação do outras fontes singulares e de outros fluxos não estruturados” (all-sources analysis).

Em Todd e Bloch (2003) temos que os serviços de Inteligência de Estado se apresentam como organizações de caráter permanente com a função de defensiva e preventiva dos interesses de Estado, o que pode ser aprofundado na leitura de Momengoh (2013) e Bruneau (2000) que as percebem como serviços imprescindíveis para ações estratégicas que possam garantir a proteção e a segurança dos Estados, em sua natureza econômica, política, social e da proteção do conhecimento sensível8 desenvolvido por suas redes de ensino, pesquisa e ciência.

Cepik (2001) acrescenta que apesar de haver uma tensão potencial entre as duas dimensões relacionadas ao conceito de inteligência (Operacional e Analítica), elas estão fortemente associadas com as dimensões de poder e controle no campo político, pois entre essa associação de inteligência e conflito repousa justamente o conceito anterior referente à produção do Conhecimento Estratégico de Estado. Assim, tanto os problemas advindos da prática da atividade (busca de informações para o auxílio ao processo decisório), quanto os critérios éticos e morais das

8 Para Santos (2008) o instrumento jurídico brasileiro apresenta uma única definição oficial sobre a

proteção ao conhecimento sensível, descrita na norma geral para o planejamento e a execução ao conhecimento – NG/08 do Decreto nº 4.553 de 27 de dezembro de 2002, que a definir como fundamental para a segurança e desenvolvimento da nação, dividindo-se em três naturezas distintas, a saber; o conhecimento sensível como aquele, que por sua natureza e potencial necessitam de medidas de proteção especial, devido seu importância estratégica para a defesa dos interesses nacionais; O conhecimento considerado sigiloso, como aqueles que coloquem em risco à segurança da sociedade e do Estado e o conhecimento estratégico como aqueles relacionados a temas e/ou setores considerados vitais para os objetivos fundamentais da nação. Já para Balué (2007) adefinição de Conhecimento Sensível é apresentada como aquele que, por sua importância para o desenvolvimento e para a segurança do Estado e da Sociedade, necessitam de medidas especiais de salvaguarda.

relações internacionais que regem uma boa diplomacia entre os países (a busca do respeito à soberania nacional e a confiança mútua), acabam por justificar as ações desse serviço em prol dos interesses dos Estados.

Kissinger (2012), Cepik (2001), Heuer Jr (1999), Johnson (1996, 1989) e Herman (1996) procuram demonstrar em seus diversos estudos que os serviços de Inteligência de Estado, produzem um conhecimento refinado que o difere dos outros campos do conhecimento prático das ciências humanas e ciências humanas aplicadas (como sociologia, economia, política, e etc.), pois são voltados para aumentar o grau de conhecimento sobre os concorrentes/adversários no campo da geopolítica e os problemas que afetam a segurança e a defesa nacional em seus vários entendimentos (situational awareness). Dessa maneira, os serviços de inteligência têm seu foco direcionado para a compreensão de relações adversas no campo geopolítico internacional, sendo uma área de poder muito sensível e sutil devido sua natureza de poder internacional. O que é definido em Cepik (2001, p 30) como “Inteligência lida com o estudo do ‘outro’ e que procura elucidar situações nas quais as informações mais relevantes são potencialmente manipuladas ou escondidas” onde o outro, através de seus próprios Serviços de inteligência, procura desinformar, tornar o conhecimento turvo e não disponível para o outro (concorrentes/adversário), o que leva a uma constante busca por informações e um aprimoramento dos sistemas de contra-inteligência.

Sims (1995) lembrar que nem todas as questões nacionais e internacionais de valor estratégico são tratadas pelos serviços de inteligência, muito mais por uma questão de estrutura e recursos desses serviços, mas mesmo que a lista de interesses de Estado tenha aumentado nas últimas década e meia9, indo desde assuntos domésticos como distúrbios sociais, aspectos culturais, econômicos,

9Nascimento & Miranda. (2014) Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados

Unidos da América e seus desdobramentos com a chamada “Guerra ao Terror” marcam um novo cenário político e estratégico mundial no campo do planejamento de Políticas de Defesa e Segurança dos Estados, e da própria ação dos serviços de inteligência em escala global. O modelo clássico de combate dos conflitos de Terceira Geração sede cada vez mais espaço para os conflitos de Quarta Geração que são caracterizados pelo caráter informal, dinâmico, flexível e mutável dos combates. Assim, forças de combates irregulares, grupos terroristas, guerrilheiros, ações de organizações criminosas e de narcotraficantes se multiplicam pelo mundo levando sua mensagem de medo, terror e intolerância, fazendo um número cada vez maior de vítimas em suas ações e em alguns casos, influenciado os processos decisórios e políticos de nações, como no caso dos atentados de 11 de março de 2004 de Madri, na Espanha, 07 de julho de 2005 em Londres,13 de novembro de 2015 em Paris e 22 de março de 2016 em Bruxelas. (Com adaptação do autor)

detalhamento de Novas Tecnologias – NT e seu uso dual ao Neoterrorismo10 Internacional. Para Cepik (2001 e 2003) essas demandas aumentaram de forma exponencial devido as mudanças rápidas dos cenários políticos e econômicos internacionais e a necessidade de dar respostas aos novos desafios. Além disso, o avanço de NT leva a uma necessidade de especialização cada vez mais crescente dessas agências para que possam “agregar valor” às informações que, em muitos casos, não são estão preparadas adequadamente com recursos humanos e tecnológicos para darem respostas em tempo hábil que possam auxiliar do processo de decisão pelos usuários civis e militares, quando for o caso.

Segundo os estudos de Bowden (2013), um dos maiores problemas para os Serviços de Inteligência da atualidade é manter quadros especializados e atualizados com as constantes evoluções tecnológicas e prontas para darem respostas imediatas. Todd e Bloch (2003) apontam essa mesma limitação que, além de dificultar a ações desses órgãos estratégicos para a obtenção e a proteção do conhecimento, ainda tem o problema do recrutamento de seus agentes especializados para atuarem na Inteligência de Empresas Privadas da sociedade.

Para McCurley e Maurer (2015), Bowden (2013), Todd e Bloch (2003) e Platt (1974) os serviços de inteligência governamentais estão muito mais especializados na obtenção de informações e no processamento dessas. Eles estão voltados à defesa dos interesses nacionais nos campos da defesa, econômica, política e ciência e tecnologia, possuem diferentes desafios numa ordem mundial globalizada11, onde o fluxo de informações e mudança de cenários econômicos e

10 Braga (2009) Neoterrorismo a nova fase do terrorismo internacional, posterior aos ataques

terroristas aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, é caracterizado pela emergência de organizações, grupos e redes não-estatais que por meio de ações violentas premeditadas, direcionados contra alvos não-combatentes, com o uso da mídia como um meio para potencializar a sensação de terror na população e a utilização de armamento não convencional, como aviões, barcos e mulheres bombas em algumas ações.

11 Para Hobsbawn (2007) a Globalização é um fenômeno ligado diretamente a necessidade de

crescimento econômico e político dos Estado Nacionais, tendo como consequência o crescimento dos mercados mundiais e a desigualdade social e como consequência disso, o aumento da violência em uma escala mundial. Em Ribeiro (2001) a difusão do termo globalização ocorreu por meio da imprensa financeira internacional, em meados da década de 1980. Depois disso, muitos intelectuais se dedicaram ao tema, associando-a à difusão de novas tecnologias na área de comunicação, como satélites artificiais, redes de fibra ótica que interligam pessoas por meio de computadores, entre outras, que permitiram acelerar a circulação de informações e de fluxos financeiros. Para Devid Held (2001) a Globalização pode ser entendida como um fenômeno que não só seria uma interação econômica, como também influenciaria os lados sociais. Assim toda e qualquer mudança no regional poderia transformar ou influenciar as relações entre os Estados e o mesmo poderia acontecer ao contrário. Outras definições usadas pelo autor e o fato de a globalização trazer efeitos de ações a distância, interdependência entre os Estados e encurtamento do espaço e tempo.

políticos são cada vez mais estáveis e necessitam de acompanhamento especializado capaz de analisar suas tendências e de certa forma “predizer” seus possíveis cenários futuros numa tentativa de diminuição dos risco para o Estado.