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5.2 O SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA CHILENO

5.2.1 Antecedentes

Com a consolidação de Regime Comunista de Fidel Castro em Cuba, a intensificação da Guerra Fria e as ameaças constantes de levantes socialistas nas Américas, os militares latinos americanos se posicionaram mais fortemente contra qualquer iniciativa de orientação socialista e comunista no continente (CUNHA, 2009), o que levou a um cenário de incertezas em vários países do continente, entre ele o Chile, que no início do anos de 1970 elegeu o primeiro presidente de orientação socialista marxista eleito de forma democrática, o médico Salvador Allende Gossens pelo partido da Unidade Popular. Fato esse inédito no cenário político mundial, que pela primeira vez teríamos um presidente socialista que tinha como proposta o projeto de transição pacífica para o socialismo, que ficou conhecido como Via Chilena para o Socialismo.

A Via Chilena tinha por objetivo a implementação de um governo de orientação ideológica socialista através de meios pacíficos e de ampla participação popular, a partir das estruturas democráticas, assegurando a liberdade e respeitando a constituição. Os primeiros anos do governo de Allende foram chamados de mil

días de unidad popular – UP. Para Márquez (2006) essa fase foi marcada por um

processo de nacionalização das minas de cobre, que na época representavam cerca de 80% das exportações chilenas, sendo que essa base de exploração mineral se encontrava nas mãos de dois grandes monopólios norte-americanos (ERRÁZURIZ, 2009).

Além das minas de cobre, Fernandes (2009) acrescenta que o governo de Allende deu início a um amplo programa de estatização das indústrias do ferro, de salitre e petroquímicas, intervindo na Companhia de Telefones do Chile e iniciando

uma reforma agrária, que acabou por confrontar os interesses norte-americanos no país.

O projeto político socialista de Allende desagradou a classe média e setores da direita e extrema direita (FERNANDES, 2009) que viu uma aproximação do governo com o bloco socialista soviético e uma aproximação com a Cuba socialista de Fidel Castro, levando o governo norte-americano a organizar através de CIA que financiou a oposição a Allende e equipou grupos armados com a finalidade de desestabilizarem o governo através de atos terroristas e sabotagem (WEINER, 2008)

Para Pereira (2010) os primeiro sinais do golpe que derrubaria o presidente Allende em setembro de1973 teriam sido anunciados em 29 de junho do mesmo ano com um motim, mas o movimento ainda não era uma ação articulada com as Forças Armadas, os CarABINeros36 e a classe média chilena, tornando possível ao governo de Allende neutralizar a ação com a ajuda do general Prats37, mas que logo após sua atuação como mediado foi alvo de um plano feito por oficiais golpistas para desprestigiá-lo, o levando a renunciar seu cargo do Governo e promovendo o então general Augusto José Ramón Pinochet Ugarte ao cargo e comandante-chefe das Forças Armadas.

Para Weiner (2009) os acontecimentos que se deram após o motim foram orquestrados de forma de que com o golpe não fosse possível o governo se manter no poder, aliado a isso, devido à forte atuação do serviço de informação na identificação dos colaboradores do governo impossibilitou-se o surgimento de uma resistência, pois se promoveu logo de início uma forte repressão. Dito isso, Hobsbawn (2002, p.429) acrescenta que o governo de Allende foi “derrubado por um golpe militar fortemente apoiado, talvez mesmo organizado, pelos EUA, que introduziram o Chile nos traços característicos dos regimes militares da década de 1970” fortemente marcados por “execuções ou massacres, oficiais ou para-oficiais, torturas sistemáticas de prisioneiros e o exílio em massa de adversários políticos” (idem, 2002, p.249)

36 Lei 18.961- Orgánica Constitucional de CarABINeros de Chile, vinculados ao. Ministerio de Defensa

Nacional. 31 de diciembre de 2004. Estabelece que CarABINeros do Chile é uma polícia técnica e instituição militar, que integra a força pública e existe para dar eficácia à lei

37 Carlos Prats González, General de Exército e Comandante em chefe do Exército chileno meses

O golpe aconteceu em 11 setembro de 1973. Foi rápido e terrível. Enfrentando a captura no palácio presidencial, Allende se matou com um fuzil automático, presente de Fidel Castro. A ditadura militar do general Augusto Pinochet teve início naquela tarde, e a CIA rapidamente forjou um acordo com a junta do general. Pinochet reinou com crueldade, assassinando mais de 3.200 pessoas, prendendo e torturando dezenas de milhares na repressão chamada de Caravana da Morte. (WEINER, 2009, p 351)

Em seus dezessete anos à frente do regime militar, o general Pinochet impôs uma “política de ultraliberalismo econômico no Chile, assim demostrando, entre outras coisas, que liberalismo político e democracia não são parceiros naturais do liberalismo econômico” (HOBSBAWN, 2002, p.430) devido a brutalidade do sistema contra a oposição ao governo. Para Fernandes (2009) o novo regime tinha uma visão bastante clara em relação às transformações políticas pelas quais o país precisava passar e, dessa forma, dar início a um novo regime de poder que era necessário eliminar o anterior.

Weiner (2009) que a atuação conjunta da CIA com os serviços de informação dos militares chilenos foram de fundamental importância, não só para a implantação do golpe, mas para os anos que viriam inclusive com a organização da “Operação Condor”. O principal contato do governo norte-americano dentro no regime militar chileno era “o coronel Manual Contreras, chefe do serviço de inteligência chileno de Pinochet” (Ide, 2009, p.351), sendo esse considerado um dos regimes mais brutais das Américas devido sua natureza sistemática, criação de grandes campos de concentração, de tortura e assassinatos de pessoas com orientação ideológica ou política diferente.