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Baseado no princípio da administração pública do Brasil, Meireles (2016) atesta que o controle é compreendido como a faculdade de vigilância, orientação e correção que um poder, órgão ou autoridade exerce sobre a conduta funcional do outro, podendo ser de natureza: a) interna, sendo exercido pela entidade ou órgão que é o responsável pela atividade controlada, utilizando sua própria estrutura. Desse modo, para Marinela (2010) e Meireles (2016) nesse desenho de controle, todo superior hierárquico poderá exercer controle administrativo nos atos de seus subalternos, sendo assim, responsável pelas práticas da administração pública sobre os servidores sob seu gerenciamento; já o controle externo é compreendido por Meireles (2016) como aquele realizado por órgão alheio à Administração pública, normalmente sendo exercido pelo Poder Legislativo e pelo Poder Judiciário e, finalmente, o controle externo popular é aquele relacionado ao direito individual do cidadão de fiscalizar as ações do Estado. (MEIRELES. 2016. p. 574)

Quanta ao momento do exercício do controle na Administração Pública, Meireles (2016) atesta que existem três momentos de ação, que são: a) o controle prévio ou preventivo, sendo aquele exercido antes do início ou da conclusão do ato

administrativo23, sendo considerado um elemento fundamental para a eficiência e validade do mesmo; b) o controle concomitante como aquele exercido durante o ato, acompanhando a sua realização, com o intento de verificar a regularidade de sua formação e o c) o controle subsequente ou corretivo, que é exercido após a conclusão do ato, tendo por objetivo principal corrigir eventuais defeitos, declarar nulidade ou dar-lhe eficácia.

Em relação ao aspecto controlado, pode-se compreendê-lo em duas categorias, que para Meireles (2016) são: a) controle de legalidade ou legitimidade como sendo aquele que objetiva verificar unicamente a conformação do ato ou do procedimento administrativo com as normas legais que o regem e b) o controle de mérito, que se destina à verificação da eficiência, da oportunidade, da conveniência e do resultado do ato controlado.

Quanto à sua amplitude, Meireles (2016) os divide em duas categorias, a saber: a) o controle hierárquico, que é resultado do escalonamento vertical dos órgãos do Poder Executivo, em que os inferiores estão subordinados aos superiores de acordo com a concepção da delegação de poderes apresentada por Zimmermann (2004) e pelo institucionalismo construtivista de Hay (2006) e b) o controle finalístico que é exercido pela administração direta sobre as pessoas jurídicas integradas a administração indireta24.

Com base nesse entendimento, podemos ter em mente um construção dessa tipologia de controle realizada no Estado brasileiro voltada ao controle e fiscalização da administração pública e, por conseguinte, a própria atividade de inteligência, uma vez que a mesma faz parte do aparato do Estado e está sobre a régia dos mesmos princípios legais da administração pública que tem por objetivo fortalecer o Estado democrático de direito e o fortalecimento de suas instituições baseadas nos princípios da legalidade e da transparência dos atos públicos.

23 Segundo Meireles (2016) O Ato administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da

Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria".

24 Para Meireles (2016) a administração indireta é compreendida como o conjunto dos entes

(entidades com personalidade jurídica) que vinculados a um órgão da Administração Direta, prestam serviço público ou de interesse público. Segundo o art. 4º, inciso II, do Decreto-Lei n. 200/67, a Administração Indireta compõe-se das: Autarquia, Empresa Pública, Sociedade de economia mista, Fundação Pública.

Quadro 02: Tipologia dos Sistemas de Controle do Estado

Tipo de Controle Definição Quem aplica

Interno

Exercido pela entidade ou órgão que é o responsável pela atividade controlada,

Controle hierárquico; Supervisão; Inspeção Auditória Controle da administração indireta Externo

Realizado por órgão alheio à Administração pública, normalmente sendo exercido pelo Poder Legislativo e o Poder Judiciário Parlamentar Tribunais de contas Ministério Público Judiciário Popular Controle relacionado ao direito individual do cidadão de fiscalizar as ações do Estado

Transparência e acesso a informação

Instancias participativas Fonte: Autor, 2017 baseado em Meireles (2016)

Esse entendimento do processo de controle na administração pública é de fundamental importância para a maturação de um sistema democrático realmente voltado para a defesa dos interesses públicos e sociais, rompendo a concepção patrimonial25 de Faoro (2008) e cordial26 de Holanda (2008) que durante muito tempo vem influenciando a administração pública.

Gonçalves (2010) acrescenta que:

Assim, tratando-se de democracia e controle da Administração Pública, é fundamental que se tenha clara ideia de que este é alicerce daquela. Em outras palavras, o poder/dever/necessidade de controle da administração pelos administrados é intrínseco ao modelo democrático; sem esse controle a Administração carece de legitimidade, o cidadão corre risco de sofrer

25Na concepção de Faoro (2008) o patrimonialismo é uma forma de organização social, distinta dos

modelos sociais e políticos do feudalismo e do próprio capitalismo, sendo caracterizado pela confusão dos limites entre os bens público e o privado, essa dificuldade de estabelece esses limites tem por consequência um processo de apropriação dos bens públicos pelo interesse privado, criando obstáculos à ascensão de uma sociedade civil independente, bem como de um setor privado e empreendedor autônomo, gerador de produção e riquezas.

26 O homem cordial descrito por Holanda (2008) não pode ser compreendido como sinônimo absoluto

de simpatia ou cortesia, mas sim como um processo infeliz de confusão de valores entre os mundos públicos e privados, onde esse homem busca os seus privilégios oriundos do cargo ocupado na Administração Pública brasileira.

arbitrariedades por parte de órgãos e agentes estatais, e o regime democrático deixa de existir. (GONÇALVES, 2010. p.23-24)

No que se refere ao controle da atividade de inteligência, principalmente em países com histórico recente de regimes autoritários e ditatoriais, como o Brasil, esses mecanismos de controle são essenciais para prevenir abusos de poder desses órgãos/agências, como a espionagem pessoal e políticas, mas também “modificar sua cultura organizacional e a percepção que a sociedade civil em geral tem dessas instituições, de seus agentes e da atividade exercida”. (GONÇALVES, 2010. p.41).

Tendo em vista que a matéria-prima de toda boa inteligência é a Informação, Todd; Bloch (2004) e Gonçalves (2009) defendem que o tratamento dispensado a ela é algo de relevância para uma boa qualidade da inteligência27, no caso