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Segundo Oliveira (2009), a história e a memória de outros tempos são modelos imprescindíveis para a identificação do que existe hoje nas salas de aula. Portanto, faz-se necessário o embasamento histórico da educação. A educação é tão antiga quanto a experiência humana, contemporânea ao aparecimento da vida em grupo e do ser social; não foi inventada e ninguém nunca pôde apropriar-se dela.

A educação ocidental teve sua origem na Grécia antiga, em reação à crise cultural que se instaurou na época e propôs novos moldes através do racionalismo e do humanismo que fundamentam a verdade, na busca incessante pela compreensão da mente humana e do mundo à sua volta, assim como de suas leis (TARDIF, 2014).

A arte de educar tornou-se uma preocupação para os homens desde o mundo grego, quando se iniciaram as discussões sobre o sentido da educação. Educar era naquela época, um meio necessário para a purificação da alma e para o acesso a uma cultura ideal, capaz de elevar o homem ao conhecimento até então inteligível (PEGORARO, 2013).

Os sofistas dão início a estas reflexões, preparando os alunos e ensinando- os a pensarem por conta própria em todos os problemas da vida, questionando a tradição, a verdade, a justiça, a beleza, a política e a educação. O máximo a ser atingido seria a plenitude do conhecimento ou Paideia.

A História da Educação, com o sentido que tem a educação na contemporaneidade, começa na Grécia. A educação é ínsita a todo povo que atinge certo grau de desenvolvimento e permite a perpetuação de sua forma de existência social e espiritual através da vontade consciente e da razão. A educação, por essência, pertence à comunidade, que se une e a seus membros por meio de leis e normas escritas e não escritas (LIPOVETSKY e SILVA, 2010, p. 2898).

No entanto, os sofistas não se preocuparam com formas e métodos para a aquisição do saber. Assim, entre eles, não foi encontrado nenhum manual de pedagogia (GAUTHIER, 2014).

Mais adiante, Pegoraro (2013) nos remete a Platão (427 – 347 a.C.), grego considerado por muitos como o primeiro grande filósofo ocidental, espelhando-se em seu mestre Sócrates, cujo magistério questionou os saberes tradicionais de sua época, provocando uma crise de confiança em relação aos modelos do seu tempo (TARDIF, 2014).

Para os autores citados, Platão buscava a felicidade estável e idealizava a educação como um processo de esclarecimento da verdadeira sabedoria, ultrapassando falsas crenças e direcionando o homem para a virtude, a cultura e a erudição. Também acreditava que a felicidade deriva de uma vida dedicada à busca progressiva da bondade, partindo sempre do conhecimento. Para ele, a tríade, conhecimento, bondade e felicidade fora a estratégia perfeita e suficiente para o aprimoramento do ser humano (COTRIM e FERNANDES, 2010).

Na visão platônica, o discurso humano se fundamentava não só na inteligência da linguagem, mas também através do conhecimento dos fenômenos e da função das ideias, atingindo homens adultos e jamais as crianças. Portanto, ignorava-se o que poderia ser um sistema escolar, assim como a pedagogia infantil (TARDIF, 2014).

Como uma existência social é constituída por representações mentais dominantes para aquele momento e por aquelas produzidas por gerações passadas, a educação, crenças, regras e valores na antiguidade estavam voltadas para a elite adulta e não para os infantes (RODRIGUES, 2011).

Tardif (2014) contribui com a afirmação anterior, afirmando que toda sociedade humana ou grupo de indivíduos, inclusive as famílias baseiam-se em modelos de pensamento e conduta que vão sendo transmitidos aos descendentes. De modo geral, ser educado nos moldes de cada época é ter internalizado em si, os comportamentos e os valores dominantes.

Bourdieu apud Vasconcelos (2002) também acredita que a cultura dominante de cada época é a das elites e dos indivíduos que ocupam posições de destaque, priorizando o poder das características culturais superiores.

De forma que no tempo histórico de Platão, toda a sabedoria e todo o conhecimento conquistados, concentravam-se na plenitude e não apenas, nas normas técnicas, contemplando a elite de homens adultos, jamais crianças. Aristóteles, seu discípulo, também educou homens elitizados, prevalecendo o conceito da felicidade alinhada à expressão do pensamento cultural dominante. Para a plebe, a felicidade simplesmente consistia nos prazeres sensuais, o que soava para Aristóteles como uma existência medíocre, de escravos e animais (PEGORARO, 2013).

Como consequência, os sujeitos inferiorizados pelas classes soberanas, assimilavam os saberes vigentes e passavam automaticamente a praticar posturas incultas e pouco inteligentes.

Aristóteles, assim como Sócrates e Platão, defendeu um ideal centrado na sabedoria, nas virtudes e numa sociedade justa, estabelecendo um equilíbrio entre o trabalho, a vida social e os prazeres moderados.

Para Aristóteles, a felicidade humana depende da prática da virtude, e uma vida virtuosa depende de uma boa educação, isto é, de uma educação que, desde a mais tenra idade, habitue o ser humano a lidar bem com o prazer e a dor, particularmente, e com as paixões, em geral. Ora, a maneira como nos relacionamos com as paixões – prazer, dor, ira, medo, inveja, etc. –, o modo como elas afetam-nos, manifesta-se externamente nas nossas ações, naquilo que fazemos e no que dizemos. Sentir adequadamente cada paixão, no momento apropriado, pelas razões corretas e pelo tempo adequado constitui, para Aristóteles, a marca da virtude (LIMA, 2017, p. 6).

Seus estudos sobre ética e política sintetizaram o primeiro tratado sobre comportamento humano e sociedade, introduzindo a noção da importância do cultivo da sabedoria já na infância (PEGORARO, 2013).

Assim, através desses conceitos, Aristóteles educou Alexandre Magno, imperador grego, que tendo construído um vasto império, morre em 323 a.C. Tendo o seu imenso império fragmentado e aos poucos tomado por ideias humanistas, cultura, poesia e arte, somados ao conhecimento dos povos imigrantes e bárbaros helenizados, torna-se um verdadeiro caldeirão cultural.

Os historiadores da cultura convencionaram designar Helenismo as atividades culturais desenvolvidas no período transcorrido entre a morte de Alexandre Magno, em 323 a.C., e o fim da república romana, em 31 a.C., quando Augusto (vencedor da batalha de Actium, em 27 a.C.) se torna imperador de Roma. A designação refere-se à presença dominante da língua e da cultura gregas em todo o mundo conhecido, numa difusão sem precedentes cuja causa inicial foi a convicção de Alexandre, aluno de Aristóteles, de que por seu intermédio a Grécia devia cumprir uma missão civilizatória sobre todos os povos da terra. A língua grega transformou-se na koiné, dialeto comum em todas as terras conquistadas por Alexandre, e Alexandria, no Egito, tornou-se a capital cultural da Antiguidade, papel que conservou mesmo quando Roma ocupou o lugar de centro político e econômico de um império que se estendia do Próximo Oriente ao Sul da Europa, do Mediterrâneo ao Atlântico (CHAUÍ, 2010, p. 13, v. 2).

Esse é o cenário quando em 146 a.C., iniciada a conquista romana, a Grécia transforma-se em sua província.

Nessa época, Roma já se comporta de modo a unificar seu território através do modelo e do espírito próprios, possibilitando a formação de leis e de ideias, onde o Estado é uma autoridade fundamentada sobre a justiça. O Estado romano transcende a vida dos indivíduos, mas respeita a cultura dos povos conquistados, agregando os tesouros intelectuais, especialmente o pensamento grego, inteligente e refinado.

A educação na Roma antiga era muito diferente da educação grega. Mais atrasada e rudimentar, estava ligada à terra e aos costumes ancestrais dos camponeses, não havendo aspectos intelectuais; o jovem romano, só aprendia o que era útil e necessário como proprietário e defensor de suas terras (BRANDÃO, 1985). O autor enfatiza que em Roma, diferente do que ocorria em Atenas e Esparta, é a família que se responsabiliza em socializar o cidadão através de modelos

transmitidos às crianças já na primeira infância. O modelo ideal em Roma elenca a ancestralidade como princípio e, o saber da comunidade se mantem subordinado a este. Conforme a nobreza romana vai aos poucos conquistando riquezas, abandona o trabalho na agricultura para se dedicar à política. E o saber comunitário, antes possuído apenas pelos homens livres, agora é dividido com os escravos e servos, permitindo a heterogeneidade dos conteúdos que eram transmitidos aos descendentes (BRANDÃO, 1985).

A educação romana passa a adotar o ensino grego para seus filhos, mas só depois do advento do Cristianismo em IV d.C., é que surgem as escolas públicas (GAUTHIER, 2013).

Como exemplo, Marco Fábio Quintiliano, o mais importante pedagogo romano, reconheceu a visão psicológica do aluno e priorizou o valor humanístico e espiritual da educação. Construiu ideias para uma educação refinada e atribuiu grande importância ao educador. Marco Fábio fez o primeiro estudo de caráter psicológico sobre a figura do professor (LUZARIAGA, 1983, apud PALMA FILHO, 2010).

Nos estudos históricos não há uma linha divisória que separa a educação dos tempos antigos daquela que surge na Idade Média. O Império Romano conviveu com o Cristianismo por cinco séculos e as transformações educacionais foram ocorrendo naturalmente com o advento da Igreja Católica.

A Igreja Católica desenvolveu minuciosamente o conceito de valor das coisas como criação de Deus. Para os medievais, a verdade tem a forma de um triângulo, sendo que no vértice está a autoridade suprema e divina; nas outras pontas estão as verdades lógica e ontológica (PEGORARO, 2013).

No princípio não há escolas, mas aos poucos a Igreja institucionalizada promove a educação elementar e forma os primeiros educadores cristãos, padres, sacerdotes ou discípulos de Jesus, destacando-se Santo Agostinho, São Tomás de Aquino e São Paulo, cada qual em seu momento (PALMA FILHO, 2010).

Santo Agostinho valorizava a formação humanística e idealizava o ascetismo, desenvolvendo a consciência moral e a espiritualidade profunda que ilumina o homem e o faz reconhecer Deus.

São Tomás de Aquino torna-se o principal expoente da Escolástica, movimento preocupado com a elaboração de uma educação que sintetizasse o conhecimento greco-romano ao conhecimento cristão, possibilitando o desabrochar de todas as potencialidades do ser humano.

A Escolástica influenciou toda a pedagogia católica e tem seus conceitos trazidos ao Brasil, pelos padres jesuítas em 1549. Até hoje influencia as salas de aula tradicionais (PALMA FILHO, 2010).

Finalmente São Paulo, judeu e cidadão romano, converte-se ao Cristianismo pregando em grego e torna-se a sua personificação.

Karnal (2017) afirma ser difícil avaliar o grau de extensão da influência do apóstolo Paulo ao Cristianismo, às vezes parecendo ser maior que a do Próprio Jesus. Foi o primeiro homem a escrever textos inteiros sobre a experiência cristã, sendo que suas cartas antecedem aos Evangelhos. Seu domínio da língua grega, suas viagens e suas ideias acabaram sendo considerados como fundamentos valorosos para o Cristianismo.

O Cristianismo foi um dos principais fatores para a unificação do Império Romano, suscitando em princípio, certa reserva por parte da elite, intelectuais, filósofos e oradores, mas que agora passam a ter a opção de dedicarem-se também à teologia. A Igreja transmitia aos fiéis, um conjunto de reflexões, doutrinas e conteúdo, solidamente construídos e inspirados nas fontes judaicas, romanas e gregas. A religião cristã considerada dona de um grande saber teórico, passou a exigir o mesmo do cristão letrado, abrindo escolas que mantém até hoje, uma relação muito próxima com a Igreja (GAUTHIER, 2013).

A educação escolar a serviço da fé e da Igreja, passa a escolher minuciosamente todos os textos educacionais segundo a ortodoxia cristã e o monoteísmo triunfante (SIMARD, 2014).

Oliveira (2009) dedica-se ao estudo de dois textos nesta época, relativos à vida dos intelectuais da Idade média, apresentando aspectos importantes da organização dos estudantes, assim como alguns aspectos em defesa dos mestres do saber; trata-se da Authentica (1155/58), documento editado pelo imperador Frederico

Barbaroxa (1122/1190), apresentando sua preocupação em proteger professores e estudantes quando eles ainda não tinham seus papéis definidos na sociedade.

O segundo documento elencado pela autora como expoente para a história da educação e para a legitimação dos intelectuais medievais é o Estatuto de

Sourbonne.

Ambos os textos são importantes instrumentos de conhecimento e devem servir para a produção de reflexões e considerações comparativas aos conceitos de hoje. O passado e suas memórias, absorvidos e introjetados em cada tempo histórico constroem os alicerces para novas vivências sociais e intelectuais.