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No Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde ou BRATS (2014), o Metilfenidato é um estimulante moderado do sistema nervoso central (SNC)

indicado como coadjuvante às intervenções psicológicas, educacionais e sociais no tratamento do TDAH.

Acredita-se que o fármaco interfira com o metabolismo dos Neurotransmissores, possibilitando um aumento da quantidade e disponibilidade de dopamina e norepinefrina na fenda sináptica gerando efeito excitatório neuronal e consequentemente, aumento da atenção e diminuição da inquietação em crianças agitadas.

O Metilfenidato é comercializado no Brasil com os nomes: Ritalina®, Ritalina LA® e Concerta®, administrados por via oral e possuindo diferentes perfis de liberação, imediata ou prolongada.

O tratamento farmacológico é considerado a primeira linha de abordagem para o TDAH, segundo a literatura médica.

Os estimulantes do sistema nervoso central dentre os fármacos, são considerados a primeira escolha para o tratamento: a Dextroanfetamina para crianças a partir de 3 anos e o Metilfenidato, dos 6 anos em diante.

A ligação do Metilfenidato (Ritalina®) com o TDAH e a sua indissociabilidade, foi uma associação construída ao longo dos anos 1980 e 1990.

Assim como vem crescendo a quantidade de critérios para o diagnóstico do TDAH, cresce vertiginosamente o número de prescrições (ORTEGA et al., 2010). A Ritalina®, nome comercial do Metilfenidato ficou conhecida pela sua associação ao TDAH, mas é comercializada desde 1950 na Suíça, Alemanha e Estados Unidos, indicada para tratar fadiga em quadros psiquiátricos e cansaço crônico em adultos ou idosos, mesmo sem fundamentação diagnóstica. Nessa mesma época, o uso de tranquilizantes menores também começa a ser prescrito para o tratamento de crianças com problemas de comportamento (ORTEGA et al., 2010). Entretanto, logo foi percebido que os estimulantes ajudavam a aumentar a atenção e sustentá-la por um período de tempo maior; por isso começaram a ser prescritos para as síndromes hiperativas (LEGNANI & ALMEIDA, 2008). A Ritalina® está em

evidência recentemente, pela sua associação ao TDAH. Nos anos 50, era um medicamento que não tinha um diagnóstico como destino certo.

Mas a partir da década de 50, a psiquiatria expandiu seu horizonte de atuação, com a revolução psicofarmacológica. Descobertos há mais de meio século, os psicofármacos ganharam espaço no tratamento na saúde mental nos últimos trinta anos, renegando a psicanálise (um dos poucos resquícios de conversação entre áreas da psicologia e medicina), rompendo com o diálogo até então existente entres essas duas áreas. Esse rompimento se deve a vários fatores, entre eles o de que os psicofármacos vêm atender ao rigor metodológico científica, fundamentado na biologia e na farmacologia, com rapidez e eficácia, bem de acordo com as exigências do contexto atual, nesse sentido, a psicanálise diverge, pois não atende a tais demandas de velocidade da sociedade (SILVA et al., 2012, s/p.).

Hoje sua utilização se fundamenta no tratamento da hiperatividade, assim como seu uso e confiabilidade passaram a referenciar e legitimar o diagnóstico, que passou a ser identificado também em adolescentes e adultos.

As evidências sobre a eficácia e segurança do tratamento com o metilfenidato em crianças e adolescentes, em geral, têm baixa qualidade metodológica, curto período de seguimento e pouca capacidade de generalização. Além disso, a heterogeneidade entre os estudos foi um dos problemas mais frequentes nas revisões sistemáticas selecionadas (BRATS, 2014, p. 9).

No Brasil, o Metilfenidato (Ritalina®) foi introduzido comercialmente em 1998 e num curto espaço de tempo, teve um aumento drástico de sua produção, demandando cuidado e reflexão sobre as possíveis causas deste crescimento absurdo (ORTEGA et al., 2010).

No Brasil, o uso de metilfenidato também tem crescido ao longo dos anos. Tendo sua comercialização aprovada desde 1998 (ANVISA, 2012), o consumo nacional em 2000 era de 23 kg. Segundo documento da ONU, apenas seis anos depois, o Brasil fabricava 226 kg e importava outros 91 kg

do medicamento (LIMA, 2005). Mais recentemente, a ANVISA divulgou que em 2011 as vendas de metilfenidato chegaram a mais de 413 kg do produto (ANVISA 2012). O gasto estimado das famílias brasileiras com o produto, nesse mesmo ano, foi de R$ 28,5 milhões, o que equivale a um valor de R$ 778,75 por cada mil crianças com idade entre seis e 16 anos (CALIMAN e DOMITROVIC, 2013, p. 886).

Entre 2002 e 2003, a quantidade de Metilfenidato (Ritalina®) produzida duplicou e no período de 2002 a 2006, a produção deste medicamento cresceu mais de 400% (SILVA et al., 2012).

O Brasil figura como o segundo país de maior consumo deste psicotrópico largamente prescrito para tratamento do TDAH e discutem o fato de ter se intensificado por parte dos profissionais da educação, a demanda para a realização de diagnóstico médico e emissão de laudos que descrevam os problemas com os quais a escola tem que lidar.

Atualmente, há um consumo crescente do medicamento no país, que ainda não é comercializado, no mercado nacional, como similar ou genérico. Há evidências de que crianças que não possuem TDAH estariam sendo medicadas e casos da doença sendo tratados sem necessidade (BRATS, 2014, p.9).

Por todas essas questões e, considerando seu alto potencial de abuso e dependência, torna-se premente a adoção de debates que abordem a atual problemática do consumo indevido do metilfenidato, alertando a população para o mau uso, os efeitos adversos e as consequências jurídicas (BRATS, 2014, p. 9).

Em 1998, o Instituto Nacional de Saúde Americano (National Institutes of Health – NIH), publicou um documento nomeado Consensus DevelopmentStatement

on Diagnosis and Treatment of Attention Deficit Hyperactivity, demonstrando que as

possíveis causas do TDAH permanecem obscuras, criticando o excesso de critérios nas escalas de avaliação e de autoavaliação, concluindo que ainda existem muitas dúvidas quanto ao tema (ORTEGA et al., 2010).

Neste percurso, se alastram encaminhamentos por parte das escolas, para neurologistas e psiquiatras, baseados na crença de que um diagnóstico fornecerá elementos suficientes para a intervenção pedagógica, com o objetivo de superar as dificuldades do aprender (HECKERT e ROCHA, 2012).

Segundo os autores, a indissociabilidade TDAH-Ritalina®, construída principalmente nos anos 80 e 90, fez com que o número de critérios para o diagnóstico se ampliasse, produzindo também o aumento nas prescrições.

2.3 A Liquidez dos diagnósticos e a Patologização do