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Introdução

A adolescência é uma fase de transformações biopsicossociais. No âmbito familiar compreende um período no qual o indivíduo não é mais visto ou tratado pelos pais como criança, mas também não é um adulto. Na escola, há mudanças do nível fundamental I para o fundamental II e ensino médio, com a relação aluno-pro- fessor anterior de 1 para 1 ou 2, para um novo padrão que envolve agora vários professores. Além disso, as exigências cognitivas e perspectivas profissionais também se modificam. No corpo adolescente ocorrem as mudanças físicas relacionadas ao início da puberdade, quando começa o amadurecimento sexual, quando, surgem as possibilidades para experimentar sensações antes não evidentes, como o orgasmo.

Certamente, estas grandes transformações ocorrendo em conjunto proporcionam alterações na forma de perceber o mundo e no manejo da própria vida, pois ele deverá, em certos momentos, tomar atitudes sem a necessidade de consulta aos pais, pois não é mais criança. Em outros, deverá ter o consentimento ou o conselho de um responsável, pois ainda não é adulto.

Para diversos autores (Marcelli & Braconnier, 2007), a adolescência é um momento de interrupção da tranquilidade do crescimento, pois, pequenos conflitos podem ocorrer na cons- trução da sua identidade. Os amigos, como coloca o teórico do

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desenvolvimento Erikson (1972), passam a ser mais importantes do que a família no que tange aos interesses e influências. Nesta fase, eles começam a consolidar o que vão ser quando crescer e de acordo com Piaget (1970), é o momento em que emerge a capacidade de pensar sobre o pensar. O raciocínio abstrato passa a fazer parte das funções cognitivas e a capacidade de elaborar hipóteses e fazer deduções ficam evidentes. Eles questionam mais, não só sobre o mundo, mas também sobre sua função no mundo. São capazes de avaliar seus talentos e dificuldades e muitas vezes não conseguem realizar atividades da melhor forma possível, e ainda avaliam ou são avaliados como não competentes.

Por se tratar de um período de transformações o mesmo merece especial atenção, pois podemos simplesmente deixar que o ritmo das transformações seja concluído e aguardarmos o adulto que surgirá, sem qualquer avaliação das suas condutas ou, no outro extremo, podemos valorizar os sinais e sintomas e estabelecermos uma psicopatologização desnecessária. Como alerta Marcelli e Braconnier (2007), a questão do normal e patológico na adolescência, mais do que em outra fase da vida, é colocado em xeque, e as transformações que possam provocar tumulto nas relações com os adultos não podem por si só serem caracterizadas como patologias.

Diversos modelos, de variadas correntes de compreensão sobre a adolescência, de acordo com Marcelli e Braconnier (2007), avaliam que nesta fase há um desejo de originalidade, de busca de ser alguém excepcional e único. Quando criança este desejo existe, porém sem a consciência real de necessidade de atingir este objetivo. Este desejo pode, muitas vezes, ir de encontro com as normas sociais (do país, da escola ou da família), como por exemplo, a revolta com a falta de independência que creditam à escola e à família, mas por outro lado esse pode ser um momento de construção positiva de sua identidade baseada em suas crenças e objetivos. Essa construção de identidade, de acordo com Erikson (1972), surge pela exposição das escolhas que podem e devem

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Anuska Irene de Alencar

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fazer, desde o simples conflito para saber com quem compartilhar suas experiências secretas, com quem realizar suas intimidades físicas, até as escolhas das profissões.

Dados epidemiológicos podem nos ajudar a tomar a decisão quando há ou não necessidade de preocupação com as “turbulên- cias” da adolescência, pois estas pesquisas nos permitem avaliar a prevalência, ou seja, o número de ocorrências em uma determinada população sem distinção entre casos novos e antigos; o número de casos novos, ou seja, a incidência; a morbidade, que diz respeito ao número de ocorrências no individuo; e a mortalidade, que se trata da relação entre o número de mortes e a população em que elas ocorrem.

Tomando como base os dados epidemiológicos em relação aos comportamentos de riscos dos adolescentes, esses nos instigam a manter uma atenção para possíveis alterações anormais ou peri- gosas. No entanto, é importante ter em mente, como coloca Stubbe (2008) que os elevados níveis de tensão e turbulência, não são a norma. Há indivíduos que podem requerer mais atenção que outros para evitarem envolvimentos com estes tipos de comportamento. Para iniciarmos as discussões das patologias na adolescência, tomemos como base as causas de mortes entre adolescentes.

As mais comuns nesta população são acidentes, suicídio, homicídios e aquelas em consequência do Vírus da Imunodeficiência Adquirida (Word Health Organization - WHO, 2014). Todas estas causas podem ter relação com o estado mental dos envolvidos. É comum, nesta fase que eles experimentem bebidas alcóolicas e outras drogas que aumentam a possibilidade de envolvimento em brigas, acidentes e comportamento sexual de risco (Scivoletto et

al., 1999). Além disso, é nesta fase que a prevalência de transtornos

emocionais como a ansiedade e a depressão aumenta consideravel- mente. Outros transtornos como o distúrbio bipolar, os transtornos alimentares (anorexia ou bulimia), o comportamento antissocial e a esquizofrenia também exibem maiores incidências de diagnósticos neste período (Stubbe, 2008).

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As crianças e adolescentes são avaliados nos transtornos acima de forma semelhante àquela dos adultos, ou seja, baseado em critérios do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - DSM V (American Psychiatry Association - APA, 2013) e da Classificação Internacional de Doenças – CID 10 (Organização Mundial de Saúde - OMS, 1998). No entanto, como alerta Stubbe (2008), é importante que o avaliador conheça os estágios de desen- volvimento do indivíduo (a ontogênese) e considere as áreas nas quais há um desenvolvimento adequado e as que necessitam de intervenção, e saiba diferenciar as variações normais de tempe- ramento e a fantasia dos sintomas psicopatológicos. Abaixo estão descritas as patologias mais comuns e de maior risco, de forma a facilitar a identificação dos sintomas e a busca de soluções mais adequadas.

Patologias