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Drogas perturbadoras da atividade mental

Neste grupo, concentram-se as substâncias cujos efeitos principais são os delírios e as alucinações. Por esse motivo, tais drogas receberam a denominação de alucinógenas. De maneira

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Elaine Cristina Gavioli

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resumida, as alucinações consistem na percepção de objetos ine- xistentes, acompanhados da convicção inabalável na existência dos mesmos, ou seja, na alucinação, o indivíduo vê, ouve ou sente algo que, de fato, não existe. Já o delírio consiste em alteração do juízo de realidade (capacidade de distinguir o falso do verdadeiro), ou seja, o indivíduo passa a atribuir significados anormais aos eventos que ocorrem à sua volta, por exemplo, no caso do delírio persecutório, percebe, em toda parte, indícios claros – embora irreais – de uma perseguição contra a sua pessoa.

a) Maconha

É o nome dado à planta Cannabis sativa, cujas folhas e inflorescências secas podem ser fumadas ou ingeridas. O tetrahi- drocanabinol (THC), uma das diversas substâncias produzidas pela planta, é responsável pelos seus efeitos psíquicos. Da maconha pode-se obter também o haxixe, que é uma pasta semissólida produzida a partir das inflorescências, com maiores concentrações de THC. Há grande variação na quantidade de THC encontrado na planta conforme as condições de solo, clima e tempo decorrido entre a colheita e o uso, bem como na sensibilidade dos usuários à sua ação, o que explica a capacidade da maconha em produzir efeitos mais ou menos intensos.

Dentre os efeitos psíquicos produzidos com o uso de maco- nha, destacam-se:

– Em alguns casos: sensação de bem-estar, acompanhada de calma e relaxamento, menor fadiga e hilaridade;

– Em outros casos: angústia, ansiedade e medo de perda do autocontrole, tremores e sudorese;

– Perturbação na capacidade de calcular o tempo e o espaço; – Prejuízo da memória e da atenção;

– Doses maiores podem provocar delírios e alucinações.

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Alguns efeitos físicos também são observados após o uso de maconha, tais como hiperemia conjuntival (olhos ficam aver- melhados), diminuição da produção da saliva (sensação de secura na boca) e taquicardia (a frequência cardíaca pode ser superior a 140 batimentos/min.).

Já o uso continuado de maconha interfere na capacidade de aprendizagem e memorização. Além disso, em longo prazo, o usuário frequente pode apresentar um estado de diminuição de motivação, ou seja, o indivíduo passa a sentir vontade de fazer nada, pois tudo parece perder a importância. Este estado prejudica significativamente o desempenho do usuário na escola e no tra- balho. Além dos prejuízos psíquicos, problemas respiratórios são comuns em usuários crônicos, uma vez que a fumaça produzida pela maconha é irritante, além de conter elevado teor de alcatrão (maior que no caso do tabaco), conhecido pela ação cancerígena. Outro efeito tóxico observado em usuários crônicos é a diminuição de até 50 % na produção de testosterona em homens, que como consequência pode causar infertilidade masculina.

b) LSD (dietilamida do ácido lisérgico)

É uma das substâncias mais potentes com ação psicotrópica que se conhece. O LSD é consumido normalmente por via oral. A droga se apresenta geralmente impregnada em papele para obter os efeitos psíquicos, o papel é ingerido ou simplesmente deixado embaixo da língua. Esta droga produz alteração no funcionamento psíquico em doses muito baixas (20 a 70 microgramas) e a duração da ação é de 4 a 12 horas. Os efeitos psíquicos dependem da sensibilidade do indivíduo às ações da droga, de seu estado de espírito no momento da utilização e também do ambiente em que ocorreu a experiência.

Efeitos psíquicos decorrentes do uso de LSD:

– Distorções perceptivas (cores, formas e contornos alterados); – Fusão de sentidos (por exemplo, a impressão de que os sons

adquirem forma ou cor);

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– Perda da discriminação de tempo e espaço (minutos parecem horas ou metros assemelham-se a quilômetros);

– Alucinações (visuais ou auditivas) podem ser vivenciadas como sensações agradáveis ou não;

– Sensações de extrema alegria e felicidade ou de muito medo e angústia (são popularmente denominadas de boas ou más “viagens”);

– Delírios, ou seja, em um fato qualquer, a pessoa delirante não é capaz de avaliar criticamente a respeito, a fim de discri- minar o que é verdade e o que não é. Exemplos de delírios: Grandiosidade – o indivíduo se julga com capacidades ou forças extraordinárias (por exemplo, acreditando que pode voar, o indivíduo pode atirar-se da janela); Persecutórios – o indivíduo acredita ver à sua volta indícios de uma conspi- ração contra si.

Ainda, existem descrições de pessoas que experimentam sensações de ansiedade intensa, depressão e até quadros psicóticos por longos períodos após um único consumo de LSD. Uma variante desse efeito é o flashback, quando após semanas ou meses depois de uma experiência com LSD, o indivíduo volta a apresentar repentinamente todos os efeitos psíquicos da experiência anterior, sem ter voltado a consumir a droga novamente. Esta experiência pode ser desastrosa e com consequências imprevisíveis, uma vez que tais efeitos não estavam sendo procurados ou esperados e podem surgir em ocasiões bastante impróprias.

O uso recorrente do LSD promove o desenvolvimento de tolerância aos efeitos psíquicos muito rapidamente, que desapa- rece prontamente com a interrupção do uso. Não há descrição de uma síndrome de abstinência após o cessamento do uso de LSD em usuários crônicos. Ainda assim pode ocorrer a dependência quando, por exemplo, as experiências com o LSD ou outras drogas perturbadoras do funcionamento cerebral são encaradas como ‘resposta aos problemas da vida’ ou ‘formas de encontrar-se’, que fazem com que a pessoa tenha dificuldades em deixar de consumir

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a droga, ficando frequentemente à deriva no dia a dia, sem destino ou objetivos que venham enriquecer sua vida pessoal.

c) Ecstasy (3,4-metileno-dioxi-

metanfetamina ou MDMA)

É uma droga alucinógena, mas que apresenta também pro- priedades estimulantes. Seu uso é frequentemente associado a certas culturas, como alguns grupos de jovens frequentadores de festas raves e danceterias. O ecstasy é utilizado por via oral, na forma de comprimidos contendo um logotipo sulcado, geralmente impresso com ícones populares. O uso de ecstasy pode desencadear uma série de manifestações clínicas, tais como euforia, bem-estar, desinibição, sudorese e alucinações, ainda o usuário apresenta melhora na percepção musical e um aumento na acuidade para cores. Porém, também pode provocar complicações potencialmente fatais, como hipertemia fulminante (ou seja, aumento excessivo da temperatura corporal), complicações cardiovasculares (tais como, taquicardia, arritmias e colapso cardíaco). Alguns problemas psiquiátricos também estão relacionados ao uso desta droga, a saber quadros psicóticos e síndrome do pânico, associados ao uso agudo, e depressão e fadiga, que é mais frequentemente observado em indivíduos que fazem uso crônico de ecstasy.