• Nenhum resultado encontrado

Ficar muito feliz ou muito triste ou ter variações de humor ao longo do dia, do mês ou do ano não é por si só uma patologia. Pequenas variações de humor são perfeitamente compreensíveis, seja por uma noite mal dormida ou por uma boa notícia, é possível que seu humor varie. No entanto, se manter por semanas ou meses em um estado depressivo (no mínimo 2 semanas) ou de extrema euforia (no mínimo 1 semana) pode ser sinal de uma psicopatologia.

Miolo Temas e práticas sobre saúde, sexualidade e interação social.indd 90

Anuska Irene de Alencar

91

Os transtornos de humor, de acordo com a OMS (1998) e APA (2013), são alterações nas quais a perturbação se dá princi- palmente no humor e no afeto, podendo ocorrer com a presença ou ausência de psicose. Ao longo da vida, os indivíduos podem ter: somente episódios depressivos, somente episódios de mania, ou variar com episódios maníacos e depressivos. Tais episódios não precisam ocorrer, necessariamente, um após o outro, ou seja, ele pode ter um episódio depressivo, passar meses saudável, apre- sentar outro episódio depressivo, e um maníaco, por exemplo. Em geral, tais perturbações têm início na adolescência e, de acordo com Stubbe (2008), em adolescentes o primeiro episódio é quase sempre depressivo.

Quando se coloca um depressivo grave em um extremo de uma reta imaginária e de outro o eufórico, podemos visualizar os polos extremos no qual podem variar estes transtornos. Imaginar as diferenças entre os polos pode ser fácil, mas como diferenciar a tristeza da depressão e a felicidade da mania? Não é tarefa fácil, mas elas podem ser avaliadas a partir de certos critérios que envolvem a quantidade de sintomas, sua duração e intensidade. Por exemplo, a depressão de acordo com a CID 10 e DSM V, é caracterizada pela presença dos seguintes sintomas: diminuição da capacidade de experimentar prazer; perda de interesse em qualquer atividade; diminuição da capacidade de concentração; fadiga, mesmo após um esforço mínimo; problemas com o sono que podem ser tanto insônia (dificuldade para adormecer e/ou acordar várias vezes durante a noite, e/ou acordar mais cedo do que o de costume), ou ficar com muito sono; redução de apetite; diminuição da autoestima e da autoconfiança; e frequentemente, ideias de culpabilidade e ou de indignidade.

Para ser caracterizada com uma depressão leve, o indivíduo deve apresentar de dois a três dos sintomas citados acima. A inten- sidade é leve, a ponto dele ser capaz de desempenhar a maior parte das atividades cotidianas, e em geral dura duas semanas, mesmo sem tratamento; com a presença de quatro ou mais sintomas, com

Miolo Temas e práticas sobre saúde, sexualidade e interação social.indd 91

92

perturbação no desempenho das atividades de rotina e duração mínima de duas semanas é considerado depressão moderada; e por fim a depressão profunda (ou grave ou maior), na qual a maioria dos sintomas serão verificados, com angústia acentuada e grande dificuldade de realização das atividades básicas. Duas semanas também é o tempo mínimo, mas se a intensidade dos sintomas for incapacitante pode-se diagnosticar antes de duas semanas.

A mania também pode se apresentar em diferentes graus:

hipomania, que consiste em alterações no estado de humor (seme-

lhante à mania, mas mais leve), com diminuição da concentração, impedimento da capacidade de fixar a atenção em tarefas e aumento no interesse por aventuras e gastos desnecessários, que em geral duram vários dias; a mania um estado de elevação que aumenta a atividade, pressão por falar, diminuição da necessidade de sono e autoestima elevada, que pode durar menos de uma semana, mas pode ser intenso o suficiente para dificultar as atividades sociais.

Observando a sintomatologia podemos inferir que um adolescente em qualquer dos quadros depressivos ou maníacos poderá diminuir consideravelmente seu desempenho escolar, especialmente pelo quadro de fadiga, pela perda do interesse pelas atividades e pela dificuldade de concentração característicos tanto da depressão quanto de um acentuado nível de hiperatividade.

É importante nestes casos uma consulta com especialis- tas para saber a conduta necessária e mesmo certificar-se do diagnóstico, pois como verificaram Resende, Santos, Santos e Ferrão (2013) houve uma redução do número de diagnósticos para depressão quando os adolescentes receberam consulta de especialistas em psicopatologia da adolescência, profissionais mais qualificados para entender as crises nesta fase. No entanto, alertam que é necessária atenção, tendo em vista a prevalência de casos positivos. O tratamento inclui tanto psicoterapia quanto intervenção farmacológica.

Miolo Temas e práticas sobre saúde, sexualidade e interação social.indd 92

Anuska Irene de Alencar

93

Esquizofrenia

As esquizofrenias são psicoses caracterizadas pelo apare- cimento de sintomas positivos como alucinações e delírios. Tal denominação não significa dizer que se tratam de algo bom, mas por serem sintomas adicionados ao repertório comportamental humano (positivos, no sentido que se somam), já que nos humanos sem psicose, eles não estão naturalmente presentes. Os sintomas negativos referem-se, nesta área, à subtração de comportamentos comuns entre nós como a sociabilidade e a afetividade. A afeti- vidade encontra-se embotada, ou seja, com dificuldade de ser expressa, podendo aparecer ambivalência afetiva (OMS, 1998; APA 2013).

Seu início, em geral, é do fim da adolescência até os 30 anos. É mais comum entre os homens, e estes quando afetados desenvolvem o transtorno em torno de cinco anos antes das mulhe- res. Embora o aparecimento seja mais comum na adolescência, é raro sua ocorrência antes dos 18 anos. A prevalência antes dos 18 anos é de cerca de um a dois por cada 1000. Quando ocorre precocemente, é comum o adolescente apresentar fracassos esco- lares, dificuldades sociais e de realização pessoal em função do surgimento do transtorno (Stubbe, 2008).

O tratamento deve ser realizado através de terapia medica- mentosa, especialmente para reduzir os sintomas positivos. Mas terapia familiar, socioeducação (explicação do transtorno para o paciente, familiares e porque não professores e colegas de escola), tratamento psicossocial (treinamento de habilidades sociais ou psicoterapia de apoio) e intervenção na escola (o adolescente pode ter necessidades especiais de aprendizagem) são fundamentais para assegurar um retorno seguro após a crise.

Ansiedade

Os transtornos de ansiedade também podem aparecer nesta fase do desenvolvimento como transtornos isolados ou comorbidade

Miolo Temas e práticas sobre saúde, sexualidade e interação social.indd 93

94

com os demais apresentados acima. Podem apresentar-se de forma

generalizada, ou seja, não é predominante ou restrita a uma situação

ou ambiente específico, ou pode se apresentar em forma de fobia na qual a ansiedade está presente apenas quando em contato, mesmo que visual, com um objeto ou situação específica (agora fobia, fobia social e específicas). Ainda, pode se apresentar como transtorno de

pânico, quando a ansiedade chega no nível máximo (paroxística)

e dura até 30 minutos, sem a presença de nada que justifique sua ocorrência; ou como transtorno obsessivo-compulsivo, quando a ansiedade está presente no pensamento e nos atos do indivíduo e reduz quando ele cede aos pensamentos e atos. O tratamento indicado é baseado em psicoterapias, e nos casos graves, medicação.

Conclusão

Embora devamos ficar atentos a esta fase da vida, é impor- tante ser cuidadoso ao atribuir rótulos patológicos aos adolescentes, especialmente porque patologias psiquiátricas não são de fácil diagnóstico nem na fase adulta, logo o mesmo torna-se um pouco mais complicado na adolescência. A confusão entre o normal e o patológico nesta idade pode impedir um desenvolvimento saudável no futuro. Porém, o encaminhamento a profissionais com maiores informações sobre estes quadros pode ser de grande importância.

Além disso, a manutenção do indivíduo na escola é de grande valia, tendo em vista que tal permanência apresenta uma correlação negativa com uso de álcool ou outras drogas, além da manutenção da rotina ser importante para a maioria dos tratamentos.

Sugestões de práticas