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O desenvolvimento de consciências

Sem desconsiderar as diversas contribuições nos campos da Sociologia, da Psicologia e de diversos outros sobre as consci- ências sociais e/ou coletivas, será destacado um aspecto especial do conceito de consciência. Tomando por referência as noções do autor bielorrusso Lev Vygotsky, referentes à consciência e à relação constitutiva Eu-outro, é possível citar, a partir do artigo “Subjetividade e Constituição do Sujeito em Vygotsky”, de autoria da professora Susana Molon (2003) o excerto:

O sujeito é constituído pelas significações culturais, porém a significação é a própria ação, ela não existe em si, mas a partir do momento em que os sujeitos entram em relação e passam a significar, ou seja, só existe significação quando significa para o sujeito e o sujeito penetra no mundo das significações quando é reconhecido pelo outro. A relação do sujeito com o outro sujeito é mediada. Dois sujeitos só entram em relação por um terceiro elemento, que é o elemento semiótico. E mais, a relação social não é composta apenas de dois elementos, a relação social é uma relação dialética entre eu e o outro, ou seja, toda relação implica o terceiro – tríade. O elemento semiótico que é constituinte e constituído da relação é, portanto, mediação (p. 16).

A mediação então é um processo fundamental dentro do desenvolvimento da consciência de segurança pública. O policial militar em contato com a Comunidade Escolar é um mediador e agente mobilizador. Sua participação deve promover integração e exceder o âmbito da ocorrência a qual sua prestação de serviço está relacionada em primeira instância.

Considerando que sua interação é constante e fidelizada por uma frequência relativa de visitas aos estabelecimentos de ensino, a proposição de ações colaborativas pode ser reiterada sempre. Assim, a mediação se faz ferramenta indispensável por sua natureza como podemos observar a partir do conceito proposto por Tânia Almeida, citada pelas autoras Breitman e Porto (2001):

A mediação é um processo orientado a conferir às pessoas nele envolvidas a autoria de suas próprias decisões, convidando-as à

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reflexão e ampliando alternativas. É um processo não adversarial dirigido à desconstrução dos impasses que imobilizam a nego- ciação, transformando um contexto de confronto em contexto colaborativo. É um processo confidencial e voluntário no qual um terceiro imparcial facilita a negociação entre duas ou mais partes onde um acordo mutuamente aceitável pode ser um dos desfechos possíveis (pp. 46).

Sendo assim, uma referência primordial em Segurança Pública ganha uma aplicação direta e efetiva. Como consciência de segurança se entende a compreensão e aplicação de um princípio orientado no caput do artigo 144 de nossa Constituição Federal: “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio [...] (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988/2001)”.

Em sendo “direito e responsabilidade de todos”, alguns pontos primordiais precisam ser bem esclarecidos na relação que precisa ser fortalecida. O primeiro foi o conhecimento efetivo da competência de cada órgão e instituição por parte dos gestores dos estabelecimentos de ensino. Ainda que, dedicados e interes- sados no bem-estar e desenvolvimento de seus alunos, muitos desconheciam o teor e a aplicação das competências de órgão e instituições como a Polícia Militar, a Polícia Civil, os Conselhos Tutelares, a Vara da Infância e da Juventude e, em alguns casos, de seus Conselhos Escolares.

A interação com as ações da CIPRED, através do PROERD e da Ronda Escolar, colaborou para que esta lacuna fosse gradu- almente preenchida. Como iniciativa mobilizadora, a Companhia Independente de Prevenção ao Uso de Drogas se propôs e atuou como articuladora no fortalecimento das relações interinstitucio- nais. Os gestores que não tinham familiaridade com tais órgãos, instituições e suas competências passaram a conhecer e articular mais ativamente suas demandas.

O segundo ponto foi referente à atuação da unidade no tocante a compartilhar conhecimento e construir conjuntamente

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Romão Inácio da Silva Júnior

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novas possibilidades de resolução de problemas tendo a preven- ção como principal ferramenta. Nesse sentido, a CIPRED desde a sua criação, não manteve “intramuros” o conhecimento e a experiência desenvolvidos. É importante salientar que workshops para professores em diversos municípios do Estado tem sido rea- lizados anualmente, nos quais práticas dos instrutores PROERD são compartilhadas. Da mesma forma, são realizados Fóruns de Segurança Pública, nos quais profissionais convidados de diversas instituições e com reconhecida experiência, compartilham seu conhecimento com professores e servidores da segurança.

Como a abrangência de ações de prevenção está diretamente ligada à extensão das possibilidades de linguagens, ou seja, formas variadas de transmitir a mensagem de prevenção e valorização da vida para o público alvo, a CIPRED desenvolveu a linguagem da música como um dos seus referenciais estratégicos. A “Banda Geração PROERD” é formada por policiais militares instrutores do PROERD e é responsável por estender o alcance da mensagem de prevenção a um número ainda maior de crianças, adolescentes e adultos. Isso se deve ao seu repertório, o qual é composto essen- cialmente por paródias de canções populares com letras alusivas ao tema prevenção. Estas canções são compiladas em CDs que são distribuídos a instrutores e alunos de todo o Brasil.

O terceiro ponto foi pertinente à autoavaliação e ao plane- jamento. O Setor de Análise e Estatística foi estabelecido para a prática do registro de informação e compilação de dados diários de serviço, o que permitiu que aspectos particulares de onde, quando, como e por quem determinados problemas, ou propriamente ilícitos, aconteciam fossem melhor compreendidos, mapeados e, por conse- guinte, minimizados. Nesse contexto, também foi estabelecido um Encontro Anual com Gestores Escolares, quando os gestores têm a oportunidade de opinar, sugerir e tirar suas dúvidas com relação ao serviço prestado pela CIPRED. Assim, a unidade especializada também pode lhes apresentar o planejamento previsto para o ano

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seguinte, uma vez que, normalmente o encontro ocorre próximo ao final do ano letivo.

Um quarto ponto foi a colaboração direta por ações de intensificação do atendimento em escolas, nas quais a compilação estatística de informações tornou-se possível construir um “mapa” das áreas escolares mais vulneráveis. Dessa forma, surgiu um programa direcionado de colaboração denominado “Segurança Começa na Escola”. O programa atua uma vez por semana com policiais militares instrutores do PROERD, distribuídos em todas as turmas de uma escola selecionada por cada zona administrativa da capital (ou de outro município, de acordo com a demanda específica). Durante cinquenta minutos, em média, os policiais trabalham em sala um tema específico, previamente planejado com a Coordenação Pedagógica da escola e relacionado à prevenção da violência. Atividades lúdicas com o apoio da Banda Geração PROERD também são realizadas visando o fortalecimento da interação. Além disso, o Pelotão de Ronda Escolar intensifica seu patrulhamento nas imediações da escola com base nas informações recebidas pelo setor de estatística.

Finalmente, o quinto ponto foi propor as instituições de ensino que buscassem estreitar suas relações com as comunidades nas quais estão inseridas. Nesse sentido, nossa rotina de atendimen- tos mostra que aquelas escolas que têm uma relação aproximada com suas comunidades, tem um índice consideravelmente menor de violência, particularmente no que concerne ao vandalismo e as depredações em geral. O resultado positivo se deve à construção de um sentimento de pertencimento, que promove o respeito e a conservação de algo que é comum a todos.