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Capítulo II A ANÁLISE EXEGÉTICA DE JEREMIAS 22,13-19

2.3 CRÍTICA TEXTUAL

2.3.1 Aparato Crítico

O aparato crítico da BHS tem por objetivo informar a situação do texto bíblico ao longo de sua transmissão, desde o período da antiguidade até o final da Idade Média. Evidenciando as diferenças entre o texto hebraico de tradição massorética e as antigas versões bíblicas clássicas, também as emendas tanto de natureza textual quanto literária188. Vejamos as notas apresentadas no texto de Jr 22,13-19189, editadas por W. Rudolph:

Verso 14

: A instrução do aparato crítico nos informa que a primeira parte do versículo foi inserida da LXX a-a (wv|kodo, mhsaj seautw/|), “construirei190 ti mesmo191”,

que consiste num verbo indicativo aoristo 2º pessoa singular. Porém, o aparato nos

186 Cf. SIMIAN-YOFRE, Horácio (Org). Metodologia do Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: Loyola,

2011, p.39-40.

187 Cf. SCHNELLE, Udo. Introdução à Exegese do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 2004, p.30-34.

In: EGGER, Wilhelm. Metodologia do Novo Testamento – Introdução aos métodos linguísticos e históricos-críticos. 2º ed. São Paulo: Loyola, 2005, p.43.

188 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica: Introdução ao texto massorético

Guia Introdutório para a Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 3º ed. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 69.

189 As notas do aparato crítico do livro de Jeremias da Biblia Hebraica Stuttgartensia foram produzidas

por W. Rudolph; A interpretação das notas do Aparato crítico da BHS foi feita através de consultas à obra de FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica: Introdução ao Texto Massorético. 3º ed. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 21-100.

190 Cf. RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. 3º ed. São Paulo: Paulus, 2009, p.

328. “arquiteto, engenheiro, construir (irei), edificar, reedificar, reeconstruir”.

sugere em retraduzir a expressão (

^l. t'ynIB'

), “construíste para ti”, nos apresentando uma tradução mais próxima do “original”.

Algumas traduções, inclusive a Septuaginta (LXX), optam pela variante ao invés do texto proposto pela BHS, assim, o termo (

^l. t'ynIB'

), é um verbo Qal perfeito que está na 1º pessoa singular.

O vocábulo b (

~yxi_W"rUm.

), “espaçoso”, exibe a seguinte nota: [prp] (propõe uma forma construída),

~yxi_W"r>m,

uma expressão proposta pelo aparato “amplo ou vasto”, que pode ser traduzido “tornando largo para ele”, indicando assim a pessoa do rei Jeoaquim. O vocábulo c

yn"ëALx;

, optamos traduzir por “janelas”. O aparato nos sugere (

!ALx;

), “buraco na parede, (muro)para ar e luz, ou abertura de janelas ”, que literalmente é uma abertura na possível construção do rei Jeoaquim.

O vocábulo d

!Wpås'w>

, que escolhemos pela tradução “e forrada”, no aparato a apresentação da nota: [1

!wOpås'w>

], “forro ou revestimento”, mas conforme o dicionário da editora sinodal192 este vocábulo proposto pela BHS é uma conjectura.

Verso 15

: O vocábulo

%l{êm.ti(h]

, “acaso reinarás”, apresenta a seguinte nota [

a prp

%lem;t.th

e a interpretação propõe o verbo

%l;m'

no imperfeito hitpael.

Conforme o manuscrito da LXX o vocábulo hebraico

zr<a'_b'

, no cedro, apresenta a seguinte nota: [ b evn Acaz , LXX A evn Acaab]. Em seguida a interpretação: A LXX traduz o vocábulo

zr<a'_b'

, no cedro, por evn Acaz193, (em Acaz); portanto, o códice

Alexandrino (século V) traduz o mesmo vocábulo por evn Acaab (em Acabe) conforme o targum de Ônquelos194.

Se realmente a sugestão do códice alexandrino (em Acaz) ou o targum de

ônquelos (em Acabe) estiver correto o texto de Jeremias 22,15 ficaria assim: “Acaso reinarás, Eis! tu concorrente (competindo) em Acaz (em Acabe)”, porém, a hipótese

192 Cf. KIRST, Nelson. et. al. Dicionário Hebraico – Português & Aramaico – Português. 22º ed. São

Leopoldo: Sinodal/Vozes, 2009, p. 169.

193 Cf. RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. 3º ed. São Paulo: Paulus, 2009, p.

90.

levantada por W. Rudolph é impróprio no período que viveu tanto (Acabe 874-853, quanto Acaz – 736-716 a.C).

O vocábulo

` Al* bAjï za'

, “então bom para ele”, exibe a seguinte nota: [ c – c 1

prb

wl bwççjw>

et tr sec 15 b. 16 a alit], logo a interpretação é de que o vocábulo deve ser lido provavelmente

wl bwjw>

“ e bom para ele”, sendo assim transpõe de acordo com a LXX depois de

ht"v"w>

, “e bebeu”,entretanto, o aparato crítico sugere que a expressão “ e bom para ele” e deve ser lida depois da expressão

ht"v"w>

,”e bebeu”, Isto

mudaria então de lugar a frase.

Enfim, a descrição do aparato crítico [ 15 b. 16 a alit] e a interpretação à LXX informam que o verso 15 b e 16 a deveria ser lido de outro modo.

Adiante vemos:

Verso 16

: O vocábulo

bAj+ za’,

“então bom” exibe a seguinte nota: [a – a ex 15,

dl], entende-se que a interpretação é estas duas palavras por indicação do aparato crítico195 que foi extraído do verso 15, e nos informa a apagar esta nota.

E no vocábulo (

ayhi,

“aquela”, pronome feminino) nos exibe a seguinte nota: [b K or

awh

] e a interpretação de acordo com os massoretas orientais deve ser lida não como pronome feminino (

ayhi

), mas como pronome masculino (

aWh

), “aquele”.

Verso 17

: O vocábulo (

yqiN"h;

), “inocente”, exibe a seguinte nota: [ a

C “

N

], mas, na interpretação vemos algumas traduções inclusive os fragmentos de códices hebraicos da Guenizá da Sinagoga Bem Ezra, do Cairo do século V ao IX d. C que optam pela consoante sem a vogal ao invés do texto proposto pela BHS.

O vocábulo b (

hc'ÞWrM.h;

), “extorsão”, exibe a seguinte nota: [ b a

#cr

cf

fo,non ; a , s , dro,mon a

#Wx

; a

hc'r'

]. Ademais, a interpretação: O aparato crítico sugere que seja lido

hc"Wrm

196

>

, “opressão” comparando assim com a LXX (fo,non197),

195 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica – Introdução ao Texto Massorético

Guia Introdutório para a Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 3º ed. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 30 – 32.

196 Cf. KIRST, Nelson. et. al. Dicionário Hebraico – Português & Aramaico – Português. 22º ed. São

Leopoldo: Sinodal/Vozes, 2009, p. 141.

197 Cf. GINGRICH, F. Wilbur & DANKER, W. Frederick. Léxico do Novo Testamento. São Paulo: Vida

Nova, 2007, p. 219. In: RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. 3º ed. São Paulo: Paulus, 2009, p. 485 - 486.

“assassinato ou homicidio”, tomando assim a divisão maior para separar partes da

nota198.

O aparato ainda nos relata que estes símbolos (a , s ,), nos indicam duas versões: o primeiro indica a versão grega de Áquila (a ,) e o segundo (s ,) indica a versão grega de Símaco199 e o vocábulo (

hc'ÞWrM.h

), “extorsão”, é de procedência do verbo (

#Wx

200),

“correr ou apressar-se (Naum 2,5)”. Para o targum de Ôngelos é de procedência a

palavra (

hc'r'

), “estar satisfeito com”.

Verso 18

: [ a * + ouvai. evpi. to.n a;ndra tou/ton ins

hZ<h; vyaih'-l[: yAh

] – O

vocábulo: a

hd"êWhy>

(Judá) nos explica a seguinte nota: O asterisco ( * ) indica leitura ou texto original201 da versão em contraste com revisões e correções tardias feitas por escribas; e nos aponta também a forma textual da versão não revisada pelas recensões posteriores (texto grego original da LXX (séc. III/I a.C.). Acrescentando assim o texto

Ai! Minha irmã (LXX) e foi inserido o texto massorético “Ai! sobre este homem”.

[b * O (

) a;delfe ,  L ku´´,rie ] – Vocábulo: b (

yxiÞa'

), “meu irmão” – Tem como

explicação da nota o texto grego original202 da Septuaginta (LXX) do século III/I a.C (a;delfe203) - irmão e da vulgata. E também o texto grego da Septuaginta (LXX), que

segundo a recensão de Luciano de Antioquia (séc. III) utiliza a palavra “senhor,

dono204”.

[ c – c > *

] – Vocábulo: b (

hdo)ho yAhïw>

), “Ai sua majestade” - Na explicação da

nota conseguimos compreender que mediante o aparato crítico esta expressão omite a versão do texto grego original da Septuaginta (LXX), do século III/I a.C205.

[ d  O L a;delfe ’hj ; prp

Atw'x]a;

] – Vocábulo: d (

tAx+a'

), “irmãs” – Uma

explicação da nota se dá mediante o aparato a palavra é de tradição do texto grego da LXX, exceto para os manuscritos206 da recensão de Orígenes de Alexandria e exceto também para os da recensão de Luciano de Antioquia (a;delfe), “irmão”, mas é também

198 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria, 2008, p. 65. 199 Cf. Ibid., 2008, p. 73.

200 Cf. KIRST, 2009, p. 225; Holladay, 2010, p. 478-491. 201 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria, 2008, p. 70-76. 202 Cf. Ibid., 2008, p. 76-81.

203 Cf. RUSCONI, 2009, p. 22. 204 Cf. Ibid., 2009, p. 279. 205 Cf. Ibid., 2009, p. 64-76. 206 Cf. Ibid., 2009, p. 79.

de origem da versão Síria Peshitta do século II que segundo as versões A e W

, e de

Hipólito de Roma/Talmude Hierosolimitano do século III-V.

[e  klau,sontai cf D ] – Vocábulo: e (

WdåP.s.yI-al{

), “não lamentarão” – A

explicação da nota nos mostra o texto grego original da Septuaginta (LXX), séc. III/I a.C, (klau,sontai), “chorar, sobre alguém, luto, lamentar207”, significando conferir ou

comparar com o códice Additional 14442 (séc. VI) da Biblioteca Britânica de Londres e o Códice Wadi Natrun (séc. VII), contendo: 1Sm 1,1; 2,19; 1Sm 17,57; 20,34; 1Sm 3,1- 15; 15,28, conferir 1Sm 1,17.

[ f OL a;delfe , mr’ =

!wODa

; prp *

td'a'

vel

dAD

] – Vocábulo: f (

hdo)ho

), “sua majestade” – A explicação desta nota está mediante o aparato e a palavra é de

tradição do texto grego da LXX, exceto para os manuscritos da recensão de Orígenes de Alexandria e também os da recensão de Luciano de Antioquia (a;delfe), “irmão”. Por conseguinte a nota é de divisão menor usada para separar partes de uma nota “menor”208.

Logo, o aparato nos sugere em retraduzir o termo (

!wODa'

209), “senhor, dono, chefe”, nos apresentando uma tradução mais “original” da expressão, contendo uma

divisão maior da nota para separa-la, e propondo de forma reconstruída a palavra (

td'a'

), ou (

dAD

210), “amado, amante”.

2.3.2 Massora Parva (Mp)

211

A “Massora Parva” é uma expressão latina que significa “massora menor”. A mesma expressão em hebraico é  (Massora qetannah, Massorá pequena) e a sua abreviatura é “Mp”. A Massora Parva é na verdade um conjunto de notas massoréticas escritas nas margens laterais das páginas dos códices e entre as colunas do texto bíblico hebraico. Tais notas podem ser observadas nos códices massoréticos da Bíblia Hebraica de tradição tiberiense.

207 Cf. RUSCONI, 2009, p. 266; In. GINGRICH, 2007, p. 117. 208 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria, 2009, p. 64-65.

209 Cf. Holladay, 2010, p. 4. In: Kirst, 2009, p. 3. 210 Cf. Holladay., 2010, p. 95.

211 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica – Introdução ao Texto Massorético

Guia Introdutório para a Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 3º ed. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 118 – 159.

O objetivo da “Massora Parva” é observar todos os aspectos do texto bíblico hebraico, número de ocorrência, de palavras e expressões, de detalhes gramaticais, de casos de hapax legomenon, ketiv, qerê e sevirin entre outros casos.212

Contudo, em Jeremias 22,13-19 temos um total de dezesseis anotações massoréticas em sete versículos. Tais anotações massoréticas trazem as informações listadas no parágrafo anterior. Vejamos as notas da MP e sua interpretação:

Verso 13: O termo (e seu salário) apresenta uma nota na Massora

bO

indicando que a palavra ocorre duas vezes na Bíblia Hebraica, sendo uma nesta perícope e a outra em Isáias 1,31213.

Verso 14: A expressão (casa espaçosa) apresenta uma nota

lO

e esta expressão ocorre uma única vez na Bíblia Hebraica: Jr 22,14.

A expressão verbal (e aposentos aqueles que são largos) apresenta uma nota (

lO

) e ocorre uma única vez na Bíblia Hebraica: Jr 22,14.

A expressão verbal (e abriu) apresenta uma nota na Massora (

bO

) e ocorre duas vezes na Bíblia Hebraica: Lv 13,56 e Jr 22,14.

A enunciação (janelas) apresenta uma anotação na Massora (), sendo assim a palavra ocorre uma única vez na Bíblia Hebraica, sendo acentuada com o acento disjuntivo zaqef qatan214 e vocalizada com o sinal vocálico qamets: Jr 22,14.

A palavra hebraica (em vermelhidão) apresenta uma nota na Massora (

bO

) e esta palavra ocorre duas vezes na Bíblia Hebraica: Jr 22,14 e Ez 23,14.

Verso 16: A expressão verbal (julgou) expõe uma nota na Massora (

gO

) indicando que este termo ocorre três vezes na Bíblia Hebraica: Gn 15,14; Jr 22,16 e 30,13.

A expressão (e aquela não / pronome feminino) o autor nos apresenta uma nota da Massora (

O

) indicando que sua ocorrência na Bíblia Hebraica é de apenas três vezes: Dt 3,11; Js 10,13 e Jr 22,16.

212 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria., 2008, p. 118. 213 Cf. Ibid., 2008, p. 119.

Verso 17: A palavra hebraica (e para o teu coração) apresenta-nos uma nota na Massora (

hO

) indicando que sua ocorrência na Bíblia Hebraica é de apenas cinco vezes. Encontra-se nesta perícope Jr 22,17 e Jz 16,15; Pv 22,17; Pv 23,33 e Ec 5,1.

O adjetivo masculino (sangue inocente) apresenta uma nota na Massora (

gO

) e esta palavra ocorre apenas três vezes na Bíblia Hebraica: Dt 19,13; 2Rs 24,4 e Jr 22,17.

A expressão verbal  (para derramar) expõe uma nota na Massora () indicando que este termo ocorre duas vezes como escrita pela [palavra que é escrita com o sinal vocálico holem-waw] na Bíblia Hebraica, com esta forma ortográfica {a palavra sendo escrita com holem-waw}: Jz 6,20 e Jr 22,17. Obs: Em Jz 6,20 a palavra é imperativa: derrama e em Jr 22,17 é infinitivo (para derramar).

Verso 18: A expressão verbal (por essa razão assim disse

YHWH) o autor expõe uma nota na Massora (

kO

) explicando que há apenas vinte ocorrências na Bíblia Hebraica, sendo elas: 2Rs 19,32; Is 37,33; 29,22; Jr 6,11; 11,11; 11,21; 14,15; 15,19; 18,13; 22,18; 23,38; 28,16; 29,32; 32,28; 34,17; 36,30; 51,36; Am 7,17; Mq 2,3 e Zc 1,16.

A expressão (para Jeoaquim) exibe uma nota na Massora (

lO

) e esta expressão ocorre uma única vez na bíblia hebraica: Jr 22,18.

A palavra hebraica (irmãs) apresenta uma nota na Massora (

lOmw gO

) a palavra ocorre três vezes na Bíblia Hebraica e tendo ortografia plena [palavra que é escrita com o sinal vocálico holem-waw]: 2Sm 13,1; Jr 22,18 e Ct 8,8.

A expressão (sua majestade) tem como referência a uma nota na Massora

(), (o qerê [a forma da palavra que deve ser lida] é

Adho

(com o final holem-waw), e esta em uma das cinco ocorrências desta palavra na Bíblia Hebraica; apenas uma única vez a mesma palavra é escrita com a letra hê com este significado [com o significado de o esplendor dele]. Todavia, as cinco ocorrências da

palavra são: Jr 22,18; Os 14,7; Hb 3,3; Zc 10,3 e Sl 148,13 são também a única ocorrência da mesma palavra, mas escrita com a letra hê, é em Jr 22,18.

Verso 19: A expressão



(sepultamento) apresenta uma nota na Massora (

gO

) indicando que este termo ocorre três vezes na Bíblia Hebraica: Gn 35,20; 1Sm 102 e Jr 22,19.

As notas apresentadas pela Massora Parva215 nos direcionam que a perícope permite notar alguns termos que são raros na Bíblia Hebraica, incluindo uma hapax

legomenon.

Desse modo todas as dezesseis notas massoréticas da MP, sendo elas quatro: que são hapax legomenon (Jr 22, 14 {neste verso aparecem três ocorrências que apresentam uma única vez na Bíblia Hebraica}, em Jr 22,18 e a quarta ocorrência ocorre uma única vez na Bíblia Hebraica).

Por outro lado, um fato que nos chama a atenção no aparato crítico e o tópico que antecede a Massora Parva e que nos permite questionar a razão pela qual o profeta Jeremias em sua crítica social utiliza a expressão (

^l. t'ynIB'

), “construíste para ti”. Por sua vez, seria então uma afirmação de construções palacianas no reino do Sul?

Todavia, tanto a Massora Parva quanto o aparato crítico utiliza vários termos tardios, o que corrobora para a datação no pré-exilio na perícope em estudo. Visto que esses termos começam a ser utilizados antes do exílio babilônico.

Enfim, as notas apresentadas pela Massora parva indicam algumas características literárias216 da crítica social dos profetas no pré-exílio, principalmente os profetas Jeremias, Habacuque, Naum e Sofonias.

2.4 CARACTERÍSTICAS FORMAIS

A análise das características formais de um texto217 é uma das bases para a análise de conteúdos. Trata-se de uma etapa fundamental para reunirmos informações a respeito de suas características literárias. Para a análise, desenvolveremos os seguintes passos: delimitação, estrutura, coesão, estilo literário e gênero literário.

215 Cf. FRANCISCO, Edson de Faria, 2008, p. 101-104.

216 Cf. YOFRE, Simian Horácio (Org). Metodologia do Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: Loyola,

2011, p. 15.

2.4.1. Delimitação

Assim como na literatura moderna218, pode-se observar o início e o fim de um livro (narrativa) e ou de uma perícope, isto porque algumas perícopes foram inseridas durante o processo redacional ou funcionam dentro da narrativa de contextos maiores.

Podemos entender que a delimitação219 de um texto é a peça chave (fundamental) para estabelecermos os limites iniciais e finais a fim de reconhecermos a mensagem do texto. É claro que, quando se estabelece os limites é necessário, pois observar a unidade da perícope para uma melhor compreensão do texto.

Observamos que o contexto literário de (Jr 21-24) apresenta-se como composição independente. Estes capítulos contêm palavras de ameaça contra os reis de Judá (os assuntos são os reis e os profetas) 220.

Dois subtítulos mostram a integralização feita às coleções antigas, como: Jr 21,11, “Sobre a casa dos reis de Judá”, e 23,8. Estes capítulos contêm palavras contra

diferentes reis e encerram com uma composição de ditos messiânicos (Jr 23,1-8); 23,9,

“Sobre os profetas”, abrindo assim a coleção de palavras contra os profetas em Jr 23,9-

40.

Rendtorff221 nos sugere que o capítulo de Jr 21,1-10, serve como moldura (ainda que não esteja em forma de oráculo), colocando assim o destino do último rei de Judá, Zedequias, no contexto da conquista iminente de Jerusalém 587 a.C.

Em Jr 22,1-9 temos a continuação dos oráculos222 à casa dos reis de Judá. Tomando como referência deste texto as portas (v.2), este oráculo nos remete a Jr 7,1-3. No mesmo livro, porém, no capítulo 22,10-12 acontece o relato da morte de Josias e a subida de seu filho Joacaz (

zx'äa'Ahy>

) ao trono.

218 Cf. Ibid., 2011, p. 79.

219 Delimitação: A delimitação de textos torna-se necessária para saber qual é a mensagem de um texto.

Em oráculos proféticos de condenação jamais tivessem fundamento, poder-se-ia pensar que a condenação é mero capricho divino, e que, sendo assim, a imagem de Deus que têm os profetas é simplesmente inaceitável.

220 Cf. SCHWANTES, Milton. Grito violência e opressão (Jr 20, 7-18). São Paulo: UMESP, 2011, p.4. 221 Cf. RENDTORFF, Rolf. Antigo Testamento – Uma Introdução. Santo André: Academia Cristã, 2009,

p.293.

222 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Isáias e Jeremias – Profetas I Grande

Em seguida em Jr 22,13, inicia-se um novo oráculo223 contendo a primeira

crítica social a um rei de Judá (Jeoaquim) com a expressão

qd<c,ê-al{B.( ‘Atybe hn<ÜBo yAhå

“Ai daquele que constrói a sua casa sem justiça”. No início do verso (v.13) podemos observar uma crítica contendo “ameaça” contra o rei. Há uma interrupção com o que foi dito anteriormente e trata-se de um novo momento (o início de nova perícope).

A expressão

yAhå

(hoy, ai!), no verso 13, indica uma mudança de tempo (a crítica social e o grito contra o rei Jeoaquim) com o conteúdo da ameaça, e isto evidencia que a culpa, saiu um tanto quanto extensa: “v. 13-14, 15-16, 17, 18-19”.

Obviamente que na crítica social está presente a prática da justiça

qd<c,,

(tsedeq). O rei não cumpria esta prática na sociedade de Judá. Desta forma, após Jeremias desmoralizar a atividade de construção junto ao palácio (casa) como antissocial (v.13), o profeta continuava descrevendo a ambição que este rei tinha em relação ao luxo (v.14).

De um modo geral, os exegetas concordam com essa delimitação. Duhm224, Dias225, Westermann226, Schwantes227 e Sicre228, por exemplo, assumem-na. Os biblistas enfatizam o uso da expressão

yAhå

(hoy, “ai!”) “ameaça” e “denúncia” marca inicio e fim da crítica social, caracterizando a continuidade e descontinuidade da perícope anterior (22,10-12), e esta continuidade estão diretamente relacionadas com o texto anterior, principalmente devido o uso da expressão

hw"hy>û-rm;a'( hkoå yKiä

“Eis! Assim disse YHWH” (v.6,11); e descontinuidade, pois há uma mudança de assunto e de linguagem.

Em relação ao encerramento da perícope no v.19, os autores enfatizam a repetição da expressão hebraica no v.18

yAhå

(hoy, “ai!”), mas com outra conotação, a de lamento fúnebre.

Sendo assim, em Jr. 22,20, inicia-se uma nova perícope com uma mudança de assunto. Porém, ainda que tenha mudança na temática a partir do v.20, para Diaz229 o

223 Neste verso 13, levanta-se a hipótese que o dito tenha sido dirigido aos destinatários olho no olho... in:

(WESTERMANN, Claus, 1980, p.90-91).

224 Duhm, 1901, p.174-179. 225 Diaz, 1988, p.535-537. 226 Westermann, 1980, p.93-94. 227 Schwantes, 2013, p.141-144.

228 SICRE, José Luiz Diaz, 2011, p.460-471.

229 ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. L. Isaías e Jeremias – Profetas I. São Paulo:

oráculo de 22,20-23 pode ser lido como uma continuação ou variação do oráculo anterior contra Jerusalém (21,13).

Contudo, está evidente que a partir de 22,20 temos uma mudança de linguagem e de conteúdo. Os temas centrais da perícope (22,20-23) são: o Líbano, os cedros e os amantes.

Harrison230 e House231 seguem a mesma delimitação dos outros autores acima citados, com o enquadramento da perícope como uma das subunidades literárias do bloco 21-24, a saber, 22,13-19.

Assumimos, portanto, a proposta de Duhm, Westermann, Sicre e Schwantes para a delimitação da perícope, tendo como ponto fundamental a expressão hebraica

yAhå

(hoy, “ai!”) “ameaça e denuncia” no v.13; e sua repetição no v.18

yAhå

(hoy, “ai!”), ainda que aqui denote um lamento fúnebre.

Subtende-se que o texto de Jr 22,13-19 está bem delimitado e literariamente conectado com as perícopes ao seu redor, mostrando que forma um todo com a unidade maior (Jr 21-24). Esta unidade de sentido, delimitada de 22,13-19, apresenta repetições de vários termos e sinônimos que mantém coesa a perícope.

Na expressão hebraica

yAhå

(hoy, “ai!”) “ameaça”, “denuncia” e “lamentação”, (vv.13-18), notamos cinco ocorrências, e elas não indicam duas críticas sociais diferentes, mas ressaltam a relevância das palavras proferidas. Isso se deve aos conteúdos decorrentes da crítica social

yAhå

(hoy, “ai!”) “daquele que edifica a sua casa sem justiça”.

Os versículos 13a-14 tratam de acusação do profeta em apontar que o rei estava tratando os trabalhadores como escravos particulares,

~N"ëxi dboå[]y:

“trabalham sem pagamento”.

Em seguida os versículos 15-16, apresentam uma inserção feita pelos deuteronomistas, e segundo Westermann232, para deturpar totalmente a crítica social de Jeremias, mas, mesmo assim existem algumas palavras que dão sentido à crítica de

230 Cf. HARRISON, K. R. Jeremiah and Lamentations, an Introduction and Commentarary. Londres:

Tyndale, 1990, p.92.

231 Cf. HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 2005, p.398. 232 WESTERMANN., 1980, p.94

Jeremias, como por exemplo:

%l{êm.ti(h]

“reinarás”;

hr<äx]t;m

“competes”;

ht'ªv'w> lk;äa'

aAlôh] ^ybiøa'

“teu pai não comeu e bebeu”;

ynIï['-!yDI !D"±

“julgou o julgamento do oprimido/pobre” (as cinco ocorrências que resulta na crítica social

yAh

nos vv.13-18), ainda que a primeira resulte em ameaça e a última em lamento, ambas ressaltam a crítica social, porém, cada uma em um aspecto.

Neste sentido, o fio condutor da perícope é a crítica social (22,13-19). Para isso temos no v.13a

‘Atybe hn<ÜBo yAhå

“Ai do que constrói sua casa”;

qd<c,ê-al{B.

“em não justiça”;

jP'_v.mi al{åB.

“em não direito”; v.14

‘yLi-hn<b.a,

“construirei para mim”; v.15

%l{êm.ti(h]

“acaso reinarás”,

hT'Þa;

“tu”; v.16

ä !Ayàb.a,w> ynIï['-!yDI !D"±

“julgou o julgamento do oprimido e pobre”; v.17

yKiä

“Eis!”,

‘^yn<’y[e

“teus olhos”,

^êB.liw>

“teu coração”,

^[<+c.Bi-l[;-~ai yKi

“Eis! somente sobre teu lucro ilícito”,

‘yqiN"h;-~D:(

“sangue do inocente”,

%APêv.li

“para derramar”; v.18

hw"©hy> rm:åa'-hKo) !keúl'

“por essa razão assim disse YHWH”; v.19

rbE+Q'yI rAmàx] tr:îWbq.

“como sepulta o jumento será sepultado”.